Cap. 3: minha noiva desfigurada
Morgan saiu do quarto deparando-se com toda a família reunida, aguardando ansiosamente por notícias. Assim que ele mencionou o acordo com Hanna, que ele seria o noivo temporário até que seu filho voltasse, um silêncio sepulcral se abateu sobre o ambiente. Sua ex-sogra, com o rosto contorcido em desaprovação, foi a primeira a se manifestar.
— Você me fez uma promessa, Morgan! Não pode simplesmente quebrá-la agora. Não ouse se envolver em um novo relacionamento, ainda mais um desse porte, depois de tudo que fez no passado! – ela resmungou, repreendendo-o com veemência. – William Morgan! – asseverou de repente, segurando a gola do terno dele. – Não se atreva a renegar sua promessa! Você não merece nada além da vida que tem! – rosnou, soltando-o com força.
Morgan se afastou, massageando a região da garganta.
— Não estou fazendo isso por vontade própria. Desde que minha avó firmou esse maldito acordo de casamento, estamos todos presos nesse inferno, esperando ansiosamente por este dia. Que pena que eu me sinto feliz? Que me sinto bem em me casar com uma mulher desconhecida e desfigurada? Acha mesmo que estou realizando o sonho que você tanto tenta evitar? Não! Esse casamento não é por amor e nem sequer pela esperança de qualquer felicidade. Seria impossível! – ele retrucou, irritado.
— Líara! – interveio uma mulher, aparentando ser a mais velha entre os presentes. Assim que Líara a viu, calou-se imediatamente. – Você não precisa perseguir meu filho dessa maneira. Além disso, todos conhecem a mãe dessa menina e sabem o quanto era repugnante conviver com ela. No entanto, minha mãe apreciava aquela mulher, independentemente de sua situação. E com certeza a filha dela também sofre com o mesmo problema. Se for esse o caso, meu filho jamais será feliz com ela.
— Assim espero. Caso contrário, toda a família Farrugia pagará caro por ele quebrar sua promessa.
— Eu não estou quebrando nenhuma promessa! – Morgan asseverou, retirando-se para seu escritório.
Sua mãe o seguiu.
— Mantenha a calma – ela pediu, entrando no escritório e encontrando-o de pé próximo à janela, observando o exterior com receio.
— Como? Estou prestes a me casar com uma mulher... – ele sorriu amargamente. – E você nem imagina... Se ela fosse apenas desfigurada e tivesse ao menos um bom caráter, talvez pudéssemos tentar conviver bem com ela. Mas ela é uma oportunista. Parece até mesmo que será pior do que descumprir esse contrato.
— Isso não pode ser pior.
— Mas sinto que é, essa Hanna... Parece ser a personificação da vilania, mas... Encontrei sua fraqueza. — sorriu ele com um ar de deboche.
— O que quer dizer?
— Ela é ambiciosa, uma mulher que pode facilmente comprada. Aparentemente precisa de dinheiro e fará de tudo para obtê-lo, não importa o preço.
— Bem... Eu não esperava menos que isso. Hoje em dia é raro encontrar moças decentes. Mas sinceramente pensei que, sendo filha daquela mulher tão caridosa, ela pudesse ser uma pessoa boa. — sugeriu sua mãe, pensativa.
— Longe disso! Hanna Ortiz não passa de uma vigarista. Então prepare todos que estarão nesse casamento de aparências. Não quero que ninguém da nossa família se aproxime dela. E também pedi que ela nem pensasse em tirar aquele véu. Isso não é um casamento real não precisamos cumprir tudo.
— Você parece odiá-la. — comentou sua mãe, pensativa.
— Mãe... Você não tem ideia do que ela fez, ainda mais para que eu cumprisse esse acordo. Afinal, você sabe que se esse casamento não acontecer seria muito benéfico para ela. Acredito que ela nem deve saber disso. — comentou Morgan pensativo.
— Ela não pode saber, para não influenciar na sua decisão e prejudicar nossa família. Hanna teria que rejeitar esse casamento por conta própria, sem saber quais seriam os benefícios ou punições.
— Sim... mas isso nem é o mais ridículo. Uma mulher como ela, mesmo após sugerir que se casasse comigo, pediu que eu pagasse a ela para que ela se casasse. — comentou ele com desprezo. Sua mãe então sorriu. — Está achando isso divertido? O que acha? Ela me chamou de velho rabugento. — sua risada sonora e sem graça ecoou pela sala.
— Relaxa, ela nem te conhece e muito menos sabe o que há por trás da sua história mais obscura, além disso... Ela só tem dezenove anos, é óbvio que você não é um homem ideal para ela. — comentou ela segurando o riso.
Morgan encarou o relógio de pulso com preocupação e, em seguida, encarou sua mãe.
— Ela já vai chegar, tenho que descer para recebê-la no altar. É um inferno ter que passar por tudo isso por culpa de Davis!
— Tenha dó, infelizmente Davis é jovem e cheio de expectativas quanto ao seu futuro. Eu sabia que seria complicado para seu filho aceitar que teria que se casar para livrar a família da forca e sei que ele só fugiu porque sabia que você também tinha a mesma idade que ele para se casar. Além disso, é mais fácil para você aguentar três anos nesse casamento do que para um homem que vive a vida pernoitando. — ela tentava o consolar, mas só estava piorando.
Finalmente Hanna tinha chegado. Estavam todos no salão a esperando, pelo menos quinze convidados, todos que estavam com seus nomes no testamento. Estavam ali apenas para ver que estavam cumprindo o que tinha sido pre-exigido.
Morgan estava tão mal-humorado que nem mesmo encarou Hanna quando ela apareceu na entrada. Ninguém a foi buscar para levá-la ao altar. Ela apenas encheu o peito de ar e decidiu seguir por conta própria. Enquanto por baixo do véu, seu rosto sufocado e escondido, observava os olhares de reprovação a encarando. Mas ela apenas esboçou um sorriso maldoso e seguiu em direção a Morgan que a esperava de costas. O advogado do testamento esperou ao lado do juiz de paz observando tudo com desaprovação, mas nada falava sobre isso no testamento.