Cap. 4: enfim casados.
Hanna se posicionou ao lado de Morgan, mantendo uma distância que nenhum dos dois se encostasse. O clima era tenso e silencioso entre as pessoas, parecia mais um funeral do que um casamento. A única coisa que quebrava o silêncio era o barulho dos flashes da câmera que tiravam fotos como provas para poderem ser registradas e comprovar o cumprimento das exigências no testamento.
Assim que o discurso padrão do juiz de paz terminou, ambos confirmaram o desejo de se casar e assinaram os papeis, unidos matrimonialmente.
— Está satisfeito, senhor rabugento? — perguntou Hanna sem o encarar.
— Por enquanto, senhora Ortiz. Aproveite o buffet. Ninguém vai te incomodar até a hora de partir.
— Claro! — resmungou ela com rispidez, dando-lhe as costas e seguindo para uma mesa distante no salão de festas.
Isso permitiu que a ex-sogra de Morgan se aproximasse dele.
— Ela é mesmo tão feia assim? — perguntou ela, agora com deboche.
— Deve estar se divertindo vendo minha vida virar um inferno, não é? — perguntou ele, mantendo um sorriso falso no rosto.
— Sabe que eu nunca cogitei a ideia de você se casar de novo, mas vendo você tão infeliz, me sinto até bem! — respondeu ela com um sorriso perverso, se divertindo com a situação de Morgan.
Hanna, por sua vez, estava sentada de forma que conseguia ver todos os convidados.
— Bom... é a regra: nunca se sente de costas para seus inimigos. — murmurou ela, dando uma garfada na fatia do bolo que o garçom lhe trouxe. — E nunca coma nada oferecido, mas... com certeza eles não querem que eu morra de forma tão óbvia. — comentou para si mesma, comendo um pedaço do bolo e afastando um pouco o véu.
Ainda assim, sentindo dificuldade em se alimentar, ela o afastou um pouco mais, deixando seus lábios livres. Foi então que viu um homem alto vindo ferozmente em sua direção. Ela abaixou rapidamente a cabeça e o encarou de cima abaixo até alcançar seu rosto, ficando sem reação.
— Eu te disse, é uma das regras: não se atreva a tirar esse véu. Caso contrário, se estiver te incomodando, apenas vá embora. O motorista está à sua disposição, senhora Ortiz.
— Você não quer dizer... senhora Farrugia? — perguntou ela, mordendo o canto dos lábios e encarando Morgan, contendo o riso ao perceber sua cara enraivada.
Aquilo não era nem um pouco ruim para Hanna. Ela passou meses pensando sobre esse casamento, além do fato de ter que se envolver com um homem que não amava, até mesmo cogitando a ideia de que poderia ser um homem sem limites que a obrigaria a ser sua mulher.
Mas ver o quanto Morgan a desprezava lhe dava um pouco de alívio, mas também não entendia o porquê desse sentimento tão bruto por ela, se eles nem mesmo se viram antes. Ele não parecia nada além de uma pessoa amarga, tratada como o líder da família por ser o homem mais velho.
Ela se levantou repentinamente, encarando-o enquanto ele desviava o rosto.
— Parece que não me acha tão velho assim agora, não é?
— Não, pensei que tinha cinquenta anos. Não sei... Afinal, você tem um filho de vinte e seis anos. Como pode parecer não passar de trinta anos? — perguntou ela com a voz um pouco receosa ao perceber que ele não estava muito a fim de conversar.
— Não é da sua conta, mas posso lhe contar. Davis não é um filho legítimo. Seu pai faleceu e eu o criei como meu filho.
— Ah... isso explica muita coisa. — comentou ela, indiferente.
— E para seu governo, eu fiz 32 anos, não cinquenta! — resmungou ele em seguida, se afastando.
— Quem diria... o cara é um figurão. — murmurou ela, balançando a cabeça de um lado para outro, brincando com o véu. "Ainda assim, não passa de um homem que faria de tudo com seu poder para obter o que quer. Afinal, me pagou facilmente para me casar com ele." Pensou com desprezo.
Hanna não se atreveu a ir a nenhum lugar além daquele salão. Sabia que não era bem-vinda e todos ali a estavam evitando. Ela até mesmo aproveitou o buffet e bebeu sozinha, mantendo aquele véu incômodo em sua cabeça. Mal tinha ideia de que eles tinham repulsa de sua aparência.
De repente, ela se viu com poucas pessoas ali. Todos estavam se despedindo. Morgan foi chamado pelo advogado do testamento e, assim, chamou alguns dos mais velhos para conversar sobre a situação de Hanna e como deveriam prosseguir.
— Como sabem, o casamento deve durar pelo menos três anos, a menos que ela queira o divórcio antes. Se a noiva decidir se divorciar antes, ela perderá todos os seus direitos na herança. — explicou o advogado.
— E se eu quiser desistir?
— Se o noivo desistir do casamento, ela perde os direitos? — perguntou Morgan ansioso.
— Não, muito pelo contrário. Ela pode escolher o quanto pode querer de tudo que vocês tenham, e quando falo tudo isso, inclui todas as partes. — contava ele enquanto Liara, ex-sogra de Morgan, prestava atenção na conversa com um sorriso leviano.
— Ela pode viver em sua própria casa? — perguntou Morgan.
— Seria adequado que ela estivesse em um lugar mais seguro. Sabendo que agora ela é de uma família influente e rica, isso pode trazer problemas para ela, até mesmo sequestros e pedidos de resgate. E no contrato está bem claro sobre acontecimentos que podem causar a morte precoce da noiva, então... pense na melhor forma de agir agora, em três anos..., ou antes, se você ou ela decidir desistir. Mas espero que vocês possam seguir conforme o pedido de sua avó. — sugeriu ele, recolhendo sua pasta e os papeis que estavam sobre a mesa. — Ah... e Hanna não pode saber sobre nenhuma dessas cláusulas para não influenciar em suas decisões. Afinal... Tudo que ela decidir tem que ser por sua conta e vontade. — avisou ele com seriedade.
— O que vai fazer com Hanna? — perguntou Liara assim que o advogado saiu.
— Queria deixá-la no mesmo lugar onde vive. Sua identidade seria preservada, mas se algo acontecer, estaríamos perdendo muita coisa.
— Bom... — suspirou sua mãe, que estava o tempo todo analisando a situação. — Temos o anexo separado na mansão. Nenhum de nós nunca vai lá, mas está tão bem conservado quanto essa parte. Poderíamos organizar tudo para que ela viva lá. Assim, não teríamos que vê-la e nem necessidade dela sair. — sugeriu ela.
— Vou pensar sobre isso. Vou tomar todas as decisões cabíveis. Em dois dias, podem mandar alguns seguranças buscá-la e trazê-la sem que ninguém veja e a levar para o anexo que estava selado. Mas... Davis deve voltar, eu sou apenas o noivo temporário. Vou entregar essa oportunista nas mãos dele. Não quero saber e nem lidar com ela. — asseverou ele sem seguida, deixando a sala.
Contudo Liara o seguiu feroz para mais uma vez destilar seu veneno, antes que Morgan entrasse em seu quarto ela o impediu, ele apenas parou impaciente esperando mais um maldito sermão.