— Para te proteger, ele me usou para matar Arthur. Tudo o que eu te fiz de mal, ele devolveu para mim, na mesma moeda. Lúcia, você não acha que isso é o que chamam de karma? — Continuou Giovana.Lúcia a encarou friamente, com os olhos arregalados, como se não conseguisse acreditar no que ouvia:— Só porque sua vida foi uma desgraça, só porque teve inveja, você achou que podia fazer essas coisas monstruosas?— Lúcia, não subestime o poder da inveja entre mulheres. Ela pode matar. — Giovana sorriu, mas as lágrimas corriam por seu rosto marcado, como lágrimas de crocodilo. — A única pessoa em quem confiei na vida foi Sílvio. O tempo que passei com ele foi o único momento em que senti algo parecido com felicidade. Mesmo que esses momentos tenham sido roubados com o seu nome, ainda assim, quando penso nisso, meu coração acelera. Foi o mais perto que cheguei da felicidade. Achei que depois daquela noite, com Arthur morto, Sílvio finalmente me escolheria. Que ele se casaria comigo.Giovana so
Lúcia desligou o telefone, calçando sandálias, caminhando sob a cortina de chuva. A roupa encharcada colava ao corpo, enquanto os longos cabelos negros, desordenados, grudavam no rosto pálido.Os cantos dos olhos estavam avermelhados, e o olhar perdido, enevoado. De repente, o salto da sandália quebrou. Lúcia tirou o calçado e continuou andando descalça pelo chão molhado. Um pedaço de vidro se enfiou na sola do pé. O sangue vermelho-vivo brotou, mas foi rapidamente lavado e levado pela chuva. Com dores, Lúcia mancava, tentando avançar. Leopoldo, que observava a cena de dentro do carro, teve o impulso de parar e oferecer ajuda, mas sabia muito bem como era o temperamento da senhora. Lúcia preferiria quebrar o pé do que aceitar qualquer gesto vindo de alguém ligado ao Sr. Sílvio.Ele a seguiu até o pequeno apartamento alugado. Assim que Lúcia entrou, Leopoldo ligou para o Sr. Sílvio para relatar a situação. Além disso, mencionou o ferimento no pé dela e enviou algumas fotos tiradas d
Basílio viu quando ela se sentou no banco do passageiro. Seus lábios se curvaram levemente em um sorriso discreto, enquanto ele assumia o volante.O carro seguia pelo trajeto de forma tranquila. O silêncio tomou conta do ambiente e, com uma das mãos no volante, Basílio batucava com os dedos, distraído, enquanto quebrava o gelo:— Lúcia e o Sr. Sílvio terminaram mesmo?— Terminar, tem como fingir? — Lúcia respondeu com os lábios comprimidos, sem demonstrar emoções.Basílio deu um sorriso de canto:— Vocês dois já terminaram e voltaram tantas vezes que eu nem sei mais se devo levar isso a sério.— Desta vez é pra valer. Não tem volta. — Lúcia abaixou os olhos, fixando-os nas pernas cruzadas sobre o vestido. Um sorriso amargo escapou.— Lúcia, teoricamente isso é um assunto só de vocês dois, e eu sou apenas um espectador. Mas, como seu amigo, sinto que deveria aconselhá-la. Se o motivo desse rompimento foi porque o Sr. Sílvio fez algo precipitado para enfrentar um inimigo, talvez valha a
Os olhos de Lúcia estavam tão frios e distantes. Antes de ontem, eles eram como brasas, ardentes e cheios de paixão. Agora, seu olhar era estranho, quase hostil, carregado de rancor.Era algo que Sílvio já esperava, mas isso não impediu seu coração de apertar de forma incontrolável. Só então ele percebeu o quão doloroso era ser encarado de forma tão fria por alguém que se ama.Ele se lembrou da noite anterior, quando ela cortou o pé nos cacos de vidro. Seus olhos recaíram sobre os sapatos de couro preto que ela usava agora:— Mal se machucou e já está usando sapatos tão fechados? Não tem medo de infeccionar?Se fosse antes de recuperar a memória, ouvir a preocupação dele a teria deixado feliz. Mas agora, aquelas palavras a deixavam nauseada.Lúcia ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha e soltou uma risada gelada:— Cuide de você mesmo, Sílvio. Nós estamos divorciados. Você não tem mais o direito de se preocupar comigo.Os advogados presentes na sala, assim como Leopoldo, ficaram s
Sílvio continuava falando, mas Lúcia, já impaciente, não queria ouvir mais nada. Interrompeu-o sem cerimônia:— Sílvio, você tá louco, não é? Eu já disse, nós não temos mais nada. Você não tem o direito de se preocupar comigo.— É, eu sou mesmo louco. — Sílvio soltou uma risada vaga, quase perdida.Aquela troca de palavras o fez lembrar de quando ela tentou lhe contar que estava gravemente doente. Naquela época, ele também respondeu de forma impaciente, perguntando se ela não era "louca". Agora, o destino parecia cobrar sua conta, como facas afiadas perfurando os pontos mais vulneráveis de seu coração.Os olhos de Sílvio começaram a ficar vermelhos, marejados:— Eu sei que você está cansada de mim, mas, mesmo assim, quero que você cuide de si mesma.Ele sabia que o tempo dele estava acabando e que ela precisaria ser forte. Mesmo sem ele, precisava viver bem, com coragem.Lúcia respondeu com frieza cortante:— Meu único desejo agora é que você morra logo. Sílvio, se houver uma próxima v
O carro saiu do hospital e entrou na estrada asfaltada.Basílio segurava o volante com firmeza, mas desviou o olhar para ela por um instante. Sua voz era cálida, e o sorriso, sereno e impecável:— Conseguiu resolver tudo?Lúcia assentiu, apertando a alça da bolsa. Hesitou por alguns segundos antes de levantar o olhar e encará-lo com gratidão:— Obrigada, Sr. Basílio.— Foi só uma carona, Lúcia. Não precisa agradecer tanto. — Ele tentou desviar da importância que ela dava, mas, no fundo, não era apenas uma carona. Ele não tinha nenhum cliente no hospital. Na verdade, tinha ido até lá só para ajudá-la, só para estar mais perto de quem gostava.Claro, ele não tinha a menor intenção de revelar esses detalhes.Lúcia mexeu sutilmente os lábios, como se buscasse palavras:— Não é só isso. O senhor já me ajudou tantas vezes... Se não fosse pela sua generosidade, eu provavelmente já estaria morta. Não sei como agradecer.Era a primeira vez que ela sentia que as palavras eram insuficientes. Um s
Então, Basílio a estava ajudando apenas para que ela fosse ver as rosas?Lúcia ficou confusa. Um pensamento passou rapidamente pela sua mente: será que Basílio gostava dela? Será que o "pagamento" que ele queria era ela mesma?Sem entender de onde vinha essa sensação, ela começou a enxergar as coisas de outro jeito. Um homem não ajudaria tanto uma mulher sem algum tipo de intenção. Não fazia sentido, não havia lógica nisso.Basílio, percebendo claramente o rumo dos pensamentos dela, riu e explicou com calma:— Eu já tenho alguém que gosto. Pedi para você ir porque a garota que eu gosto também ama rosas. Vocês são mulheres, o que você gostar, provavelmente ela também vai gostar.Duas simples frases foram suficientes para dissipar completamente as dúvidas de Lúcia. Claro, ele já tinha alguém. O que ela estava imaginando? Basílio gostar dela? Isso era impossível. Ele era um homem tão bom, tão perfeito, e ela... ela, marcada por tantas feridas, mal era capaz de acreditar em algo como o amo
As luzes do escritório se acenderam de repente.Lúcia levantou os olhos e viu Basílio entrando com uma marmita nas mãos. Ele estava mais casual do que de costume. Nada de terno e gravata. Vestia uma camisa branca impecável, de corte estruturado, e uma calça jeans comprida, desgastada e com alguns rasgos. Os ombros largos e a cintura fina destacavam sua silhueta, que exalava uma tensão irresistível.A camisa estava parcialmente aberta, revelando uma clavícula bem delineada.Lúcia raramente o via vestido assim. Por um breve momento, se perdeu em pensamentos.— Srta. Lúcia, não me reconhece mais? — Ele brincou, balançando uma das mãos grandes diante do rosto dela.Ela rapidamente desviou o olhar e notou o relógio preto em seu pulso. A pele de sua mão era impecável, elegante.— Sr. Basílio, o que faz aqui?— Vim trazer comida para você. — Basílio respondeu com um sorriso fácil, enquanto colocava a marmita sobre a mesa.Com dedos longos e ágeis, ele abriu o recipiente, revelando quatro prat