As luzes do escritório se acenderam de repente.Lúcia levantou os olhos e viu Basílio entrando com uma marmita nas mãos. Ele estava mais casual do que de costume. Nada de terno e gravata. Vestia uma camisa branca impecável, de corte estruturado, e uma calça jeans comprida, desgastada e com alguns rasgos. Os ombros largos e a cintura fina destacavam sua silhueta, que exalava uma tensão irresistível.A camisa estava parcialmente aberta, revelando uma clavícula bem delineada.Lúcia raramente o via vestido assim. Por um breve momento, se perdeu em pensamentos.— Srta. Lúcia, não me reconhece mais? — Ele brincou, balançando uma das mãos grandes diante do rosto dela.Ela rapidamente desviou o olhar e notou o relógio preto em seu pulso. A pele de sua mão era impecável, elegante.— Sr. Basílio, o que faz aqui?— Vim trazer comida para você. — Basílio respondeu com um sorriso fácil, enquanto colocava a marmita sobre a mesa.Com dedos longos e ágeis, ele abriu o recipiente, revelando quatro prat
Desse jeito, a Lúcia com certeza acabaria fugindo com Basílio.Leopoldo sentia um impulso crescente de contar para a Sra. Lúcia que Sílvio estava à beira da morte, que ele não duraria mais do que alguns dias. Queria pedir que ela fosse ao hospital tentar um teste de compatibilidade de medula. E se, por acaso, o dela fosse compatível com a de Sílvio?Mas ele sabia que Sílvio havia deixado ordens claras: não interferir no relacionamento que ela poderia vir a construir com Basílio.Sílvio já tinha cortado todas as possibilidades de reconciliação para forçar Lúcia a seguir em frente. Agora que ela havia recuperado as lembranças, mesmo que ele contasse tudo, não faria diferença.Era triste. Sílvio, tão jovem, havia sacrificado sua saúde e sua vida pelo Grupo Baptista. Agora, não tinha mais nada. Nem dinheiro, nem bens, nem futuro.Nesse momento, o telefone de Leopoldo tocou. Temendo que Lúcia pudesse vê-lo, ele rapidamente se virou e entrou no elevador. Precisava ir ao hospital para verific
Na sala da presidência do Grupo Baptista, Basílio finalmente terminou de revisar a pilha de documentos que Lúcia havia deixado para ele. Quando levantou os olhos, percebeu que ela tinha adormecido sobre a mesa, exausta.A janela de vidro do chão ao teto estava aberta, e uma brisa suave da noite entrava, balançando levemente os papéis sobre a mesa. Embora fosse primavera e o frio do inverno já tivesse diminuído, Basílio franziu o cenho, preocupado que ela pudesse pegar um resfriado.Levantou-se do sofá com passos leves, foi até ela e pegou o trench coat bege que estava pendurado no encosto da cadeira. Cuidadosamente, sem acordá-la, cobriu seus ombros com o casaco.Em seguida, pegou o notebook que estava na frente dela e voltou ao sofá para continuar as anotações e finalizar os trabalhos pendentes. Quando concluiu tudo, olhou para Lúcia, ainda profundamente adormecida, e decidiu carregá-la para fora do Grupo Baptista.A noite estava clara, com poucas estrelas no céu e uma brisa amena que
Lúcia, longe do solo que era Sílvio, murcharia rapidamente. A forma mais simples e eficaz de preservar uma flor é não cortá-la, não separá-la de seu caule.No quarto do hospital, Basílio falava muito. Mas Sílvio, como de costume, permanecia em silêncio, sem dar qualquer sinal de que se importava. Sua expressão fria e apática começava a irritar Basílio.— Você é homem ou não é? — Disparou Basílio, incapaz de se conter. — Lúcia chora por você, sofre por você, e você não acha que deveria fazer alguma coisa?Fazer alguma coisa. Um homem à beira da morte, o que ainda poderia fazer? Sílvio esboçou um sorriso frio, quase zombeteiro:— Acho que as coisas estão boas do jeito que estão.— Sílvio, ouvi dizer que você está procurando um doador de medula. — Basílio se aproximou, o olhar fixo no homem que parecia cada vez mais distante da vida. — Você não tem muito tempo, não é? Se está fazendo isso só para não ser um peso para Lúcia, preciso te dizer: você está sendo arrogante demais. Como pode ter
Basílio saiu batendo a porta com força.Sílvio não tinha forças nem para se levantar. Precisou da ajuda de Leopoldo para se apoiar e ficar de pé. Seus olhos estavam vermelhos, encarando o corredor vazio do hospital, mas, de repente, ele sorriu.— Apanhou e ainda consegue sorrir? — Resmungou Leopoldo, indignado.— Você não entende. — Disse Sílvio.— Não, eu realmente não entendo, e nem quero entender. Você não faz ideia de como eu fiquei furioso ao vê-lo trocando olhares com a senhora lá no Grupo Baptista. Se não fosse por respeito a você, eu já teria contado toda a verdade para ela.O coração de Sílvio estava apertado, esmagado por uma tristeza sufocante. Ele sabia que não tinha muito tempo de vida. Pensar em Lúcia sendo cortejada por outro homem, nos braços de seu rival, o atormentava. Eles se casariam, teriam filhos, envelheceriam juntos.E ele, Sílvio, esse homem, esse nome, seria apagado, pouco a pouco, da memória de Lúcia, até desaparecer por completo. Mas, ainda assim, ele sentia
Sílvio chorava e ria descontroladamente. Dr. Bruno e os outros o empurraram às pressas para a sala de emergência, onde tentariam salvá-lo.Antes que a porta se fechasse, Dr. Bruno virou-se para Leopoldo e disse:— Entre em contato com a Sra. Lúcia imediatamente. Se conseguirmos salvar Sr. Sílvio e ele não a vir, ficará muito decepcionado. E, caso ele não resista, ela ao menos deveria, por respeito ao que já compartilharam, vir se despedir dele.As luzes da sala de emergência se acenderam de repente, e a porta se fechou com um som pesado.Leopoldo pegou o celular e tentou ligar para Lúcia. O telefone estava desligado.Enquanto isso, Lúcia, já em repouso na mansão da família Baptista, dormia profundamente.Ela teve um pesadelo. No sonho, Sílvio apareceu coberto de sangue, despedindo-se dela. Ele a pediu perdão, mas disse que, mesmo que ela não o perdoasse, já não fazia diferença: ele estava à beira da morte.Antes que Lúcia pudesse reagir, o corpo de Sílvio começou a se despedaçar, fragm
Lúcia apertava firmemente a caneta em sua mão. Então, era isso? Sílvio havia se tornado um frequentador assíduo da sala de emergência. Seu corpo já estava tão debilitado assim? A doença havia chegado a um ponto tão crítico?Mas, afinal, que direito ela tinha de sentir pena dele? Já estavam divorciados. Aos olhos da lei, eram apenas dois estranhos. E foi por causa dela que a família Baptista se desintegrou, virou pó. Não podia mais se deixar levar pela emoção. Não dessa vez.Lúcia ergueu os olhos e esboçou um sorriso frio:— O que isso tem a ver comigo?— Srta. Lúcia, não fale assim. Se não fosse por Sílvio, que arriscou a própria vida para doar parte do fígado a você, a senhora não estaria aqui hoje. Ele já perdeu tudo. Não tem mais nada, nem ninguém. Pelo menos vá vê-lo, mesmo que não queira fazer o teste de compatibilidade. — Disse Leopoldo.Leopoldo franziu o cenho, irritado:— Você realmente consegue separar o que sente? Amor ou ódio? Sem amor, nunca existiria ódio. Srta. Lúcia, a
Leopoldo olhava para ele, confuso. Sílvio descansou por alguns instantes, antes de continuar. Sua voz era fraca, e o olhar, vazio, parecia não encontrar mais luz:— Não a incomode. Eu não quero que ela me veja assim, tão... miserável.Sílvio já não fazia a barba há semanas e suas roupas estavam longe de parecerem apresentáveis. Ele desejava que, quando ela se lembrasse dele, fosse da imagem de um homem elegante e confiante, não desse farrapo humano que ele havia se tornado. Não tinha mais coragem de alimentar a esperança de vê-la novamente.Na verdade, Lúcia queria que ele morresse. Esse era o único desejo dela, e ele não podia negar-lhe isso. Morto, ele acreditava, ela poderia finalmente ser feliz... ao lado de Basílio.— Volte para o Grupo Baptista. Vá para o lado de Lúcia. — Sílvio olhou para Leopoldo, sua voz carregada de autoridade.Mesmo naquele estado deplorável, Sílvio ainda se preocupava com Lúcia, como se sua própria vida não fosse mais relevante. Leopoldo sentiu um aperto no