— Sílvio, você pode parar de ser tão descarado? Eu já disse, eu não sou sua esposa. Nós só namoramos, nem sequer tiramos fotos de casamento. Como eu poderia ser sua esposa? — O nariz de Lúcia ficou instantaneamente vermelho, os olhos marejados, enquanto empurrava ele com força.Mas Sílvio foi rápido e a puxou de volta, envolvendo-a em seus braços:— Se você me perdoar, tiramos as fotos, registramos o casamento... e você será minha esposa de verdade.— Sílvio, você acha que eu sou idiota? — Lúcia respondeu, a voz carregada de frustração, os olhos cada vez mais vermelhos. — Eu não vou perder meu tempo discutindo com você. Sai daqui!As lágrimas começaram a se acumular nos olhos dela, ameaçando cair."Por que ele faz isso comigo? Por que acha que pode me tratar assim?", pensou ela.Para ele, parecia tão simples. Ele escolhia quando machucá-la e, agora, quando era conveniente, queria consertar tudo. Mas ela não era um objeto. Ela tinha sentimentos. Ela merecia respeito, confiança.Ele nunc
Depois de um turbilhão de sensações e tontura, Lúcia se deu conta de que, de alguma forma, havia sido levada para a cama.A respiração quente de Sílvio tocava de leve o pescoço delicado dela, enquanto seus dedos estavam entrelaçados com os dele, presos de forma tão firme que ela não conseguia se soltar. O quarto estava escuro, e a única luz vinha do brilho suave da noite, que entrava pela fresta da janela mal fechada. O vento fresco da noite agitava os cabelos negros de Lúcia, que se espalhavam sobre o travesseiro como um véu.Os beijos de Sílvio eram incrivelmente suaves, quase reverentes. Nos olhos dele parecia haver um universo inteiro, e no reflexo de suas pupilas, ela só enxergava a si mesma.Lúcia, com as bochechas coradas, conseguiu soltar as mãos das dele. Seus braços pálidos e graciosos se ergueram lentamente até o pescoço de Sílvio, puxando-o mais para perto. Esse gesto foi tudo o que ele precisava. A resposta dela lhe deu uma coragem que ele não sabia que tinha, uma força qu
Depois de muito tempo juntos, Lúcia, completamente exausta, não conseguiu mais resistir ao sono. Quando Sílvio finalmente olhou para ela, percebeu que ela já havia adormecido profundamente, os olhos fechados, a respiração suave. Mesmo que ela não tivesse dado nenhuma resposta definitiva, apenas poder estar ao lado dela, compartilhar momentos tão íntimos, já era mais do que ele ousava pedir.Com cuidado, ele se virou e saiu da cama. Lúcia tinha o sono leve, então Sílvio, com toda a delicadeza, a pegou nos braços, envolvendo-a como se fosse uma preciosidade frágil, e a levou até o banheiro.O banheiro era pequeno, apertado, e Sílvio não conseguia esconder o descontentamento. Ele odiava vê-la vivendo em um lugar tão simples, tão distante do conforto e da segurança que merecia. Ela, que antes vivia como uma princesa, agora estava ali, em condições que ele considerava inaceitáveis. Tudo aquilo era culpa dele. Se ela havia caído tão baixo, era por sua causa. E ele se odiava por isso.Sentind
A atuação de Sílvio era digna de um prêmio. Ele transitava com facilidade entre o papel de um homem frio e implacável e o de alguém injustiçado e vulnerável.Lúcia deixou escapar um sorriso irônico, curvando os lábios com desdém:— Sílvio, para de jogar com os sentimentos dos outros. Olhando para você agora, só consigo pensar que isso é pura retribuição.— Amor, todo mundo erra. Você não vai nem me dar a chance de corrigir os meus erros? — Sílvio respondeu, com aquele tom suplicante que sabia usar tão bem. — Eu sou um doente, preciso que você me acompanhe ao hospital. — Enquanto falava, ele segurou os braços dela, como se buscasse apoio.Lúcia se desvencilhou bruscamente:— Pode esquecer, eu não vou.— Então eu também não vou.— Sílvio, dá para parar com essa infantilidade? Você tem leucemia e ainda se recusa a ir ao hospital? — Ela já estava perdendo a paciência com ele.Ele, por outro lado, parecia completamente tranquilo:— É que não faz sentido ir. Você não se importa comigo. Qual
— Amor, você tá preocupada comigo? — Sílvio perguntou, sentado no sofá como uma criança obediente. O nariz e os olhos estavam levemente avermelhados, mas os lábios traziam um sorriso contido. Embora a frase fosse uma pergunta, o tom dele era cheio de certeza, como se tivesse acabado de ganhar uma batalha. Sua voz, carregada de orgulho, quase ressoava no ambiente.Lúcia sentiu um aperto na garganta. Ele estava fazendo de propósito. Vê-la preocupada com ele provavelmente era motivo de vaidade, algo que ele usaria para provar que ela ainda era dependente dele, que ainda era fraca. "Ele deve estar achando que sou uma idiota", pensou.— Eu já disse que não estou preocupada com você. Só não quero que você morra aqui e acabe me metendo em problemas. — Respondeu ela, com frieza, mesmo sabendo que mentia.Assim que terminou de falar, viu claramente o brilho nos olhos de Sílvio desaparecer. Aquele olhar que antes parecia brilhar como um céu estrelado tornou-se vazio, como um poço seco. O sorriso
Isso fazia parte da dinâmica peculiar entre eles.Lúcia foi se trocar. Quando voltou, encontrou Sílvio na cozinha, lavando a louça. O canto de sua boca se curvou em um sorriso involuntário. Aquele Sílvio, tão diferente, parecia quase irreal, como se não fosse o mesmo homem que ela conhecia.De repente, ouviram batidas na porta.— Amor, vai lá atender. — Disse Sílvio, sem sequer olhar para trás.Lúcia abriu a porta e viu que era Leopoldo, trazendo as roupas que ela havia pedido.Leopoldo entrou, e seu olhar foi direto para a figura na cozinha. O homem de costas, usando uma camisola feminina, parecia alguém completamente diferente. Ele não conseguiu conter o comentário ao se virar para Lúcia:— Senhora, essa é a nova empregada que o Sr. Sílvio contratou para você? Ele parece meio... peculiar.Sílvio, ao ouvir aquilo, girou a cabeça devagar, lançando um olhar gélido na direção de Leopoldo:— Você tá chamando quem de empregada?A voz dele soou baixa e ameaçadora.Quando Leopoldo finalmente
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L