Sílvio continuou caminhando até chegar a um pequeno e charmoso quiosque de estilo antigo. Ao redor, árvores de cerejeiras floresciam exuberantes. Suas pétalas, brancas com um delicado toque rosado, caíam suavemente com o vento, como uma chuva de flores que flutuavam pelo ar.Ele estendeu a mão, pálida e trêmula, e uma pétala pousou suavemente na palma. Por um instante, sua mente o levou de volta ao tempo da universidade. As cerejeiras também estavam lá, enfeitando as alamedas do campus.Lembrou-se de estar pedalando sua bicicleta por entre a chuva de pétalas. Lúcia estava sentada na garupa, rindo alto, enquanto gritava cheia de alegria:— Sílvio e Lúcia, juntos hoje, amanhã e para sempre!— Aqui é o campus, Lúcia. Fala baixo. — Sílvio respondeu, um pouco constrangido na época.Mas ela, com um sorriso radiante, replicou:— Por que eu deveria falar baixo? Quando a gente gosta, tem que gritar para o mundo ouvir! Agora todo mundo sabe que você é meu, Sílvio. Acabei de marcar meu território
— Lúcia, eu não estou fazendo drama — disse Sílvio, com a voz calma e um olhar repleto de ternura.Ela soltou uma risada seca, cheia de ironia:— Então por que você saiu correndo? Você é um paciente, sabia disso? Nem terminou o soro e já saiu do hospital? Você não tem ideia do quanto ficamos preocupados, né? Sílvio, você não é mais uma criança. Será que dá para pensar antes de agir? Ou você faz isso de propósito, só para deixar todo mundo aflito?Ele não respondeu. Saiu porque o quarto estava sufocante, e as verdades que descobriu naquele dia ainda estavam pesando demais em sua mente. Mas, com tantas coisas na cabeça, Sílvio não tentou se justificar. Apenas seguiu Lúcia de volta em direção ao prédio do hospital.Ela caminhava à frente, ainda irritada. Seus passos eram rápidos e decididos. Ele a observava de longe, sentindo o coração apertar. Seus olhos ficaram vermelhos novamente. Ele sabia que tinha errado. Deveria ter priorizado cuidar da saúde e descoberto a gravidade da situação an
Lúcia não conseguiu esperar pela resposta de Sílvio. O silêncio foi interrompido pelo som repentino das portas do elevador se abrindo.Vestindo a roupa de paciente, Sílvio passou por ela sem sequer olhar em sua direção. Ao esbarrar no ombro dela, Lúcia quase perdeu o equilíbrio e por pouco não caiu.Ele, no entanto, não se deteve nem por um instante, como se ela fosse invisível. Com uma frieza cortante, ele saiu do elevador e seguiu seu caminho.Lúcia segurou-se no corrimão, respirou fundo e tentou recompor-se. A sensação de um nó na garganta a incomodava, mas, mesmo assim, ela o seguiu até o quarto. Assim que chegou, procurou uma enfermeira para avisar que o paciente havia retornado.No quartoA enfermeira reconectou o soro na veia de Sílvio, que ele havia interrompido ao sair, e então virou-se para Lúcia com um aviso:— Vocês precisam ficar de olho nele. Não podem deixá-lo sair sozinho assim. É muito perigoso.— Tudo bem, eu entendi. Muito obrigada, Srta. enfermeira. — Respondeu Lúci
O sol brilhava forte lá fora, mas, para Lúcia, parecia que nevava em seu mundo.— Eu ainda não te perdoei, então não começa com isso. — Disse Lúcia.Sílvio ouviu essas palavras e sentiu o nariz arder. Seus olhos, ligeiramente marejados, deixavam transparecer a dor que ele tentava esconder. Ele sabia, mais do que ninguém, que palavras podiam matar. Se pudesse, dedicaria sua vida inteira ao Grupo Baptista. Mas o tempo não estava mais ao seu lado.Se não a afastasse agora, ela sofreria pelo resto da vida quando ele fosse embora. Ele conhecia Lúcia como ninguém. Sabia que, depois da sua morte, ela provavelmente passaria o resto da vida sozinha, consumida pelo vazio.O mundo era tão lindo... As flores da primavera tinham um perfume inebriante, a chuva de verão era quente e úmida, a neve do inverno era incrivelmente poética. E as folhas vermelhas do outono? Pareciam tingidas com sangue. Lúcia não podia passar por tudo isso de maneira tão amarga, tão dolorosa.Com o temperamento que ela tinha
— Sílvio, você está dizendo essas coisas porque sua doença piorou, não é? Você quer me afastar de propósito? — Lúcia perguntou, como se tivesse finalmente entendido o que estava acontecendo. Até alguns dias atrás, o olhar dele ainda transbordava amor por ela.Quando alguém ama, não consegue esconder. O amor está nos olhos, nas palavras, nos gestos. Ela sabia disso. A única explicação era que ele estava, mais uma vez, tentando afastá-la porque tinha medo de ser um peso para ela.Lúcia percebeu a mudança sutil no olhar de Sílvio e teve mais certeza de sua dedução. Decidida a confortá-lo, ela segurou a mão dele. Era uma mão quente e forte, e o simples ato de segurá-la lhe dava uma sensação de segurança.— Sílvio, se você está dizendo essas coisas horríveis por causa da sua saúde, isso não é necessário, entende? — Disse ela, com a voz trêmula, como se a tristeza fosse um peso que apertava sua garganta.Sílvio a observou, com um olhar cheio de contradições. Os olhos dela estavam vermelhos,
— Esses dias, você ficou na chuva, implorando pelo meu perdão, e se recusava a ir embora. — Lúcia ainda tentou insistir, buscando uma explicação.Mal terminou de falar, Sílvio rapidamente negou:— Isso foi mentira.— Você fez isso para me proteger, fingindo que não me reconhecia.— Também mentira. Se eu não dissesse aquilo, você teria se comovido? Lúcia, para ser honesto, eu nem te reconheci. Se a Giovana não tivesse se entregado sozinha lá em Viana, eu e ela estaríamos noivos agora. Você nem faria parte da história.— Nós ficamos tanto tempo juntos, e você quer me dizer que nem sequer foi capaz de me reconhecer? Qualquer pessoa que passar por uma cirurgia plástica pode, assim, me substituir? Sílvio, me explica... Por quê? — Lúcia perguntou, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.Ela já sabia a resposta, mas precisava ouvir da boca dele.— Quer saber por quê? — Sílvio respondeu, com um sorriso frio.“É claro que foi para te proteger.”Mas ele estreitou os olhos e riu com desdém:—
— Sr. Sílvio, não precisa ser tão extremo, precisa? O senhor sabe que a senhora passou por um transplante de fígado e, quando recuperou a memória, ficou completamente desestabilizada. — Disse Leopoldo, franzindo a testa. Ele sabia que não deveria interferir, mas não conseguiu se conter. — Se a senhora descobrir toda a verdade, acho que vocês dois nunca mais terão chance.Sílvio sentiu a garganta apertar, o peso das palavras sufocando-o. Lágrimas escaldantes deslizavam por seu rosto, caindo sobre o lençol e formando pequenas manchas, como flores desbotadas:— Se o ódio for o que a faz crescer e viver melhor, então eu posso morrer em paz.— Sr. Sílvio, eu entendo que sua intenção seja boa, mas o senhor precisa pensar melhor no que está fazendo. Vocês passaram por tantas dificuldades juntos. E se, por acaso, o senhor sobreviver? E se, quando isso acontecer, ela já tiver ido embora? Você vai se arrepender, e não terá ninguém ao seu lado. Eu ainda acho que o melhor seria ela ficar com você,
O sangue escorria, vermelho vivo, como uma ferida aberta para o mundo. Lúcia se ajoelhava sem parar diante de Sílvio, batendo a cabeça contra o chão, implorando que ele salvasse seu pai. Mas nada adiantou. Seu pai morreu. E morreu na noite de Natal.A mãe da Lúcia, tomada por uma fúria cega, a chamou de ingrata, uma verdadeira traidora que havia levado o pai à morte e arrastado junto toda a família Baptista para o abismo.Naquela noite, que deveria ser de união e alegria, a tragédia tomou conta. Enquanto os fogos de artifício iluminavam o céu e as famílias brindavam em harmonia, a casa dela se desmoronava.No dia seguinte, sua mãe faleceu no caminho de volta do enterro. O fígado da Lúcia havia sido removido à força por Sílvio, mas, mesmo assim, a mulher parecia ter perdido a vontade de viver. Ele a manteve presa, cercada por grades invisíveis de manipulação e controle, até que, num ato de desespero, ela se jogou da sacada da mansão dele. Mas nem isso funcionou. Ela não morreu.Ela foi