Basílio percebeu que, ao mencionar Sílvio, os olhos de Lúcia brilhavam como nunca. Não era mais segredo para ninguém que ela gostava de Sílvio, mas ainda assim, o coração de Basílio parecia ser perfurado por agulhas de dor.Nenhum homem gosta de ver a mulher que ama com outro na cabeça. E Basílio não era diferente. Contudo, ele sabia que não tinha o direito de sentir ciúmes. Ele era consciente de sua posição: entre ele e Lúcia, havia apenas a amizade.— Como eu faço para testar? — Lúcia perguntou animada, ao perceber que ele estava distraído.Ele abriu um sorriso melancólico e, observando uma foto no álbum em que os dois estavam mais próximos do que nunca, respondeu com um tom amargo:— Simples. Faz o que eu digo. Sorria e olhe para a câmera.Lúcia não entendeu qual era o plano dele, mas estava disposta a descobrir os sentimentos de Sílvio. Então, colaborou, exibindo um sorriso radiante, embora fosse impossível esconder a tristeza que pairava em seus olhos.Depois disso, os dois contin
— Vou te avisar uma coisa. Só te dou uma semana para resolver isso. Se dentro de uma semana eu não ouvir a notícia de que o Sílvio teve uma morte súbita no trabalho, as provas de que você é uma impostora vão aparecer bem diante dele. — Ameaçou Arthur, com um sorriso perverso. — Vamos ver... quantos segredos seus eu tenho nas mãos? Você contratou Olga para matar Lúcia, forçou a morte de Olga, tomou o lugar da Lúcia e fingiu ser a benfeitora dele. Ah, e não podemos esquecer que você fez questão de acabar com o primeiro filho da Lúcia, destruiu o casamento deles e ainda enviou as fotos do seu casamento com o Sílvio para provocar o suicídio dela. Sem falar na cirurgia para ficar com o rosto idêntico ao da Lúcia.O rosto de Giovana perdeu toda a cor enquanto cada palavra de Arthur cortava como uma lâmina. Nervosa, ela engoliu seco e gritou, desesperada:— Para! Pelo amor de Deus, para de falar!Arthur ignorou o pedido, com a voz ainda mais afiada:— Ah, e quase esqueci da melhor parte. Ante
Na fazenda da família Araújo, Lúcia encarava a mesa cheia de pratos deliciosos. Tudo havia sido preparado por Basílio, que fizera questão de cozinhar pessoalmente. Apesar disso, ela não sentia o menor apetite.A imagem de Sílvio posando para fotos de casamento com outra mulher, recebendo um beijo no rosto, continuava a assombrar sua mente, como se estivesse gravada ali para sempre.Basílio, com um garfo na mão, começou a servir os pratos favoritos dela. Em pouco tempo, o prato de Lúcia parecia uma montanha de comida. No entanto, ela não demonstrava qualquer vontade de pegar no garfo ou na faca.— Assim que você terminar de comer, eu te digo como testar os sentimentos de Sílvio. — Disse Basílio, quebrando o silêncio.Ao ouvir isso, os olhos de Lúcia brilharam por um instante. No fundo, ela sempre acreditou que Sílvio tinha algum motivo oculto para tudo o que estava acontecendo. Ela não se conformava com o abandono dele e precisava descobrir a verdade.Determinada, Lúcia pegou os talhere
Basílio, envergonhado, murmurou seu nome:— Meu nome é Basílio.Lúcia sorriu radiante, aquele sorriso que parecia iluminar o mundo, e deu dois tapinhas nas roupas sujas dele:— Certo, Basílio. Vou lembrar do seu nome. A partir de agora, somos amigos, ok?Mas, na verdade, assim que virou as costas, Lúcia o esqueceu completamente.Basílio, por outro lado, nunca conseguiu esquecer aquele dia. Incontáveis vezes quis agradecer a Lúcia. Se não fosse por ela, ele jamais teria conseguido estudar em paz na sala de aula iluminada, protegido de todos os valentões, e ainda por cima com uma bolsa de estudos. Bastava dizer que ele era "amigo da Lúcia", e ninguém mais ousava encostar nele.Muitas vezes ele tentou criar coragem para se aproximar dela e dizer um simples "obrigado". Mas ela estava sempre rodeada de amigos ricos, vestindo aqueles vestidos de princesa, feitos sob medida, tão bonitos e caros que pareciam tirados de um conto de fadas.Basílio sentia-se pequeno demais. Ele era um filho ilegí
— Sr. Basílio, o que aconteceu? — Perguntou Lúcia, olhando para Basílio com curiosidade.Ele saiu de seus pensamentos e ficou apenas olhando para ela, sem responder.Ela insistiu:— O senhor estava pensando na pessoa que gosta?— Sim. — Respondeu ele com um sorriso amargo.Lúcia, intrigada, perguntou:— Vocês terminaram?— Nós nunca estivemos juntos.— Você gosta dela em segredo?— Exato.— Então por que não contou para ela? — Lúcia questionou, franzindo a testa, sem entender.Basílio, em vez de responder, devolveu a pergunta:— E se fosse você? No meu lugar, você contaria?Ela pensou por um instante antes de responder:— Sim, contaria.— Mesmo correndo o risco de ser rejeitada?— Claro! Se fosse eu, eu seria direta. Como você vai saber se tem chance se não tentar? Mesmo que não dê certo, é melhor do que viver com o arrependimento de nunca ter tentado. Olha só, eu e o Sílvio somos assim. Eu gostava dele sozinha, mas se eu tivesse sido mais reservada, talvez nunca tivesse corrido atrás
Talvez, se Basílio dissesse o que sentia, nem como amigo conseguiria ficar ao lado dela."Basílio, não alimente esperanças. Lúcia não é alguém que você deveria desejar."Com esse pensamento, Basílio mudou de assunto e lançou um olhar rápido para as roupas já organizadas dentro da mala:— Está tudo pronto?— Sim, já arrumei tudo. — Respondeu Lúcia.— Ele entrou em contato com você? — Basílio perguntou, observando-a com atenção.Lúcia pegou o celular que estava sobre a cama. Suas mãos estavam um pouco trêmulas enquanto desbloqueava a tela. Abriu o WhatsApp, ansiosa. Mas não havia nenhuma resposta de Sílvio. Nem uma mensagem. Nem uma ligação."Isso é estranho", pensou. Em outras épocas, quando ela provocava Sílvio saindo com algum pretendente para ir ao cinema, ele ficava tão furioso que a esperava no dormitório, apenas para dar uma bronca nela e ameaçar: "Se você não manter distância de outros homens, eu vou te fazer ficar na cama por dois meses!"E agora? Agora ele estava tão calmo, tão
— Chega. — Disse Basílio, lançando um olhar frio para Enzo, que imediatamente entendeu o recado e engoliu as palavras que já estavam na ponta da língua.O olhar de Basílio para Enzo era gélido, mas, ao se virar para Lúcia, seus olhos suavizaram. Ele manteve a postura impecável, com um tom gentil e quase distante, sempre extremamente cortês:— Lúcia, eu te acompanho até a saída.— Tio Enzo, estou indo. Muito obrigada por tudo nesses dias. — Disse Lúcia, sorrindo de forma grata antes de sair pela porta do casarão.Basílio, carregando a mala, seguiu logo atrás dela.Na Mansão do Baptista, Giovana subiu as escadas em silêncio, os pensamentos longe. Quando passou pela porta do banheiro, ouviu o som da água correndo.Curiosa, ela se virou e viu, através do vidro fosco embaçado pela água quente, a silhueta de um homem. Forte, imponente. O quarto estava com a porta aberta, e Giovana deu alguns passos em direção ao cômodo. Era o antigo quarto de Lúcia, que agora ela ocupava.Dormir na cama de L
Sílvio caminhava na direção da Giovana, calçando chinelos de algodão. Conforme ele se aproximava, o aroma fresco do sabonete líquido preencheu o ar, chegando aos sentidos de Giovana.Ao vê-lo, seus olhos instantaneamente se encheram de lágrimas. Um aperto tomou conta de seu peito. Depois de tudo o que havia passado naquele dia nas mãos de Arthur, seu coração parecia ainda mais frágil. Mesmo assim, ela disfarçou a dor e forçou um sorriso na direção dele.— Onde você estava agora há pouco? — Perguntou Sílvio, olhando para ela com preocupação.— Sílvio, você estava... preocupado comigo? — Giovana ficou surpresa, quase sem acreditar no que ouvia.Ele franziu as sobrancelhas:— Você é minha esposa. Não é normal eu me preocupar?"Esposa." Ele a chamou de esposa. Depois de tantos anos, ela finalmente ouviu essa palavra sair da boca dele. "Valeu a pena tudo o que eu fiz, valeu a pena cada sacrifício", pensou Giovana.Ao perceber que os olhos dela estavam vermelhos e que lágrimas começavam a es