O papagaio piscou os olhos negros e brilhantes, encarando Lúcia.Ela passou a mão suavemente pelas penas escuras e macias da ave, sorrindo quase sem perceber. Gostava dele. O canto dos lábios se curvou ainda mais enquanto ela dizia:— Sílvio gosta da Lúcia.O papagaio permaneceu em silêncio.— Vamos, diga! Se você falar, eu compro mais ração para você. Quem sabe até te levo para casa comigo. — Lúcia abaixou-se um pouco mais, a voz agora doce e persuasiva, toda a sua atenção focada nele.Mas o papagaio continuava mudo, como se estivesse deliberadamente ignorando o pedido.De repente, o som de pneus rangendo contra o asfalto quebrou o silêncio. Lúcia virou a cabeça rapidamente e viu um Rolls-Royce Cullinan preto estacionando em frente à Mansão do Baptista. Seu coração disparou. Ela reconhecia aquele carro. Era o de Sílvio!Ela se levantou de um salto, os olhos fixos na porta que começava a se abrir. Leopoldo foi o primeiro a descer. Ele abriu um grande guarda-chuva preto com um gesto fir
— Sílvio, eu te amo. Descobri que te amo tanto, tanto... mais do que eu podia imaginar. Quando vi que você ficou de cabelos brancos por minha causa, eu fiquei tão emocionada, tão culpada... Prometo que, daqui pra frente, eu vou te amar ainda mais.Lúcia falava com uma intensidade que crescia a cada palavra. Sua voz embargada começava a falhar, enquanto o nó em sua garganta apertava ainda mais. Lágrimas quentes escorriam sem controle, molhando seu rosto e caindo sobre os ombros do casaco preto de Sílvio, desaparecendo imediatamente no tecido.Mas ele não a abraçou de volta. Ficou parado, rígido, como se fosse uma estátua. Permaneceu imóvel, deixando que ela o segurasse, mas sem retribuir.Lúcia estranhou. Antes que pudesse dizer algo, sentiu as mãos de Sílvio em seus ombros, afastando-a com firmeza. Ele a empurrou suavemente, mas com determinação.Ela o olhou, confusa. Ele não apenas não havia correspondido ao abraço, como também a afastara. E o olhar dele... tão frio, tão distante.Ain
— Sílvio...Uma voz feminina ecoou de dentro do carro.Lúcia franziu o cenho. Aquela voz... era estranhamente familiar. Tão parecida com a dela própria que, se não estivesse ali, poderia jurar que era sua própria voz ressoando. Intrigada, ela acompanhou com o olhar Sílvio, que, com uma expressão serena, voltou sua atenção para o Rolls-Royce Cullinan parado ali perto.A neve caía sem trégua, borrando a visão de Lúcia. Sob o véu branco que cobria tudo ao redor, uma jovem de casaco branco desceu lentamente do carro. Seus cabelos longos e negros caíam em cascata sobre os ombros, destacando-se contra o cenário gélido.Sílvio estendeu a mão para a garota, que, com um gesto tímido, colocou sua mão pequena na dele. Ela tossiu levemente, e, sem hesitar, Sílvio tirou o pesado sobretudo negro que usava e o colocou gentilmente sobre os ombros dela.Lúcia ficou atônita. Como aquilo era possível? Em apenas um mês, Sílvio havia... esquecido dela? Encontrado outra mulher? Não, aquilo não fazia sentido
Sílvio empurrou Lúcia com força. Ela não conseguiu se manter de pé e caiu desajeitadamente na neve. A pulseira que usava também caiu junto, batendo pesadamente no chão.— Não me importa quem você é, mas, se ousar fingir ser minha esposa novamente, você vai se arrepender! — Sílvio disse friamente, permanecendo parado, olhando-a de cima com desprezo. Um sorriso irônico apareceu no canto de seus lábios.Aquele Sílvio era alguém que ela nunca havia visto antes.Sílvio virou-se, pronto para entrar na Mansão Baptista com aquela garota. Aquela era a casa de Lúcia! Como ele podia levar outra mulher para sua casa? Ela não permitiria isso!Lúcia levantou-se do chão, bloqueando o caminho de Sílvio e da garota:— Sílvio, com que direito você a leva para dentro? Eu ainda estou viva, e você já quer trazer outra mulher para casa? Você já pensou no que eu sentiria?— Pelo simples fato de que ela é a herdeira da família Baptista! — Sílvio respondeu com firmeza.Lúcia riu de incredulidade, a neve caindo
O coração de Lúcia estava apertado. Sob a luz amarelada dos postes, ela viu uma sombra longa, muito longa, que se projetava no chão. A sombra parecia a de Sílvio. As duas sombras, a dela e a dele, se sobrepunham, como se estivessem ligadas. Ele não continuou andando para frente.— Não adianta tentar me convencer. Não importa o que você diga, desta vez não vou te perdoar. Vá embora. Eu não quero te ver. — Lúcia ainda estava com raiva, sua voz carregada de ressentimento.A sombra permanecia ao alcance de sua visão, imóvel. Não avançava, nem recuava. Isso só a irritava ainda mais.— Ei, eu disse que não quero que você me convença, mas você levou isso a sério, é? Não sabe interpretar o que eu digo? Não entende que “não” de uma mulher muitas vezes significa “sim”? Que “não quero que você me convença” quer dizer exatamente o oposto? Sílvio, você é um idiota? Não está vendo que estou sentada aqui, no meio da neve, congelando? E você ainda não veio me levantar? — Disse Lúcia.Era patético, um
— Foi o Sílvio que mandou você me dizer isso? Então peça para ele vir aqui e me dizer pessoalmente. — Os olhos de Lúcia ficaram ainda mais vermelhos. Ela segurava o choro, apertando os lábios e rangendo os dentes.Leopoldo olhou para ela, achando sua insistência completamente sem sentido:— Você acha que tem alguma moral para exigir ver o Sr. Sílvio? Não está exagerando? Pegue o dinheiro e vá embora. Não me force a ser mais direto.— Vou repetir mais uma vez: eu sou a verdadeira Lúcia! Eu sou a Sra. Lúcia da família Baptista! O que eu preciso fazer para vocês acreditarem em mim? — Lúcia piscava repetidamente, tentando afastar as lágrimas que ardiam em seus olhos, enquanto sua voz ficava mais trêmula e cheia de desespero.Leopoldo continuava sem acreditar. Seu rosto permanecia frio e inabalável.Tomada pela raiva, Lúcia arrancou o dinheiro das mãos dele e o jogou diretamente em sua cara:— Diga a ele que eu não preciso disso. Esse dinheiro não me interessa.Sem esperar qualquer resposta
— Foi o Sílvio que mandou você me dizer isso? Então peça para ele vir aqui e me dizer pessoalmente. — Os olhos de Lúcia ficaram ainda mais vermelhos. Ela segurava o choro, apertando os lábios e rangendo os dentes.Leopoldo olhou para ela, achando sua insistência completamente sem sentido:— Você acha que tem alguma moral para exigir ver o Sr. Sílvio? Não está exagerando? Pegue o dinheiro e vá embora. Não me force a ser mais direto.— Vou repetir mais uma vez: eu sou a verdadeira Lúcia! Eu sou a Sra. Lúcia da família Baptista! O que eu preciso fazer para vocês acreditarem em mim? — Lúcia piscava repetidamente, tentando afastar as lágrimas que ardiam em seus olhos, enquanto sua voz ficava mais trêmula e cheia de desespero.Leopoldo continuava sem acreditar. Seu rosto permanecia frio e inabalável.Tomada pela raiva, Lúcia arrancou o dinheiro das mãos dele e o jogou diretamente em sua cara:— Diga a ele que eu não preciso disso. Esse dinheiro não me interessa.Sem esperar qualquer resposta
A garota mordeu os lábios, o olhar carregado de desapontamento. Ao notar o pulso vazio de Sílvio, franziu as sobrancelhas:— Cadê o relógio que eu te dei?O relógio tinha sido o presente que ela trouxe para ele quando voltou.Sílvio vinha usando o presente nos últimos dias, mas, por dentro, estava tomado por uma inquietação inexplicável. Era como se algo o deixasse à beira de explodir. Mesmo assim, ele sabia que Lúcia se tornara órfã por causa dele. Por ela, Sílvio misturava amor e culpa, um sentimento que o consumia mais do que gostaria de admitir.Reprimindo o incômodo que martelava em sua mente, Sílvio caminhou até a mesa de centro, pegou o relógio que estava ali e voltou para perto da garota. Ela o recebeu com um sorriso suave e, delicadamente, colocou o relógio de volta em seu pulso.— Você é a Lúcia? — Sílvio deixou a pergunta escapar, quase sem perceber. Era uma dúvida absurda, mas que vinha incomodando-o há dias. Algo parecia fora do lugar.Ele viu com clareza o leve tremor na