Arthur voltou a falar:— Tenho uma ideia que pode aumentar suas chances.— Ah, é? — Giovana ergueu uma sobrancelha, curiosa.— Eu posso te ajudar a fazer uma cirurgia plástica para ficar igual à Lúcia. Depois, você se aproxima do Sílvio. Espere ele beber demais, tire a roupa e suba na cama dele. Um homem bêbado, ao ver um rosto idêntico ao da mulher que ele mais amou… Não tem como resistir. — Arthur explicou com frieza. — Quando ele acordar no dia seguinte e perceber que você não é a Lúcia, já será tarde demais. Além disso, ele vai achar que foi você quem financiou a recuperação dele, e não vai ter escolha a não ser te dar o título de esposa.— E se ele acordar, colocar as calças e fingir que nada aconteceu? — Giovana hesitou, mordendo o lábio.Arthur soltou uma risada sarcástica:— Você não entende nada de homens. Quando o amor da vida de um homem vai embora, todas as outras mulheres se tornam iguais. Além disso, você é a "benfeitora" dele. Ele vai encarar isso como uma forma de retri
Nos últimos dias, Basílio não saiu de perto da cama de Lúcia. Ele sequer fechou os olhos para descansar. Apesar de a cirurgia ter sido um sucesso, ela ainda não havia despertado.Daulo explicou que, quando ela acordasse, era muito provável que perdesse todas as memórias. Disse também que era a oportunidade perfeita para Basílio. Lúcia estava divorciada. Seria esse o momento dele?Basílio não sabia. Só sabia que, se Lúcia o escolhesse, ele faria de tudo para protegê-la e afastá-la de todo o caos que a cercava. Ele conhecia Lúcia antes mesmo de Sílvio. Mas, na época, sua insegurança o impedia de se aproximar. O rótulo de “filho ilegítimo” pesava demais, e ele nunca teve coragem de falar com a garota que tanto admirava. Suas interações limitavam-se a encontros casuais no campus, olhares furtivos e momentos que, para ela, não passavam de coincidências.Quando Lúcia e Sílvio se casaram logo após a formatura, em uma cerimônia grandiosa, Basílio mergulhou no trabalho. Tornou-se policial e, co
Basílio, atento ao fato de que ela havia acabado de acordar, foi direto ao ponto:— Você sofreu um acidente, e eu te salvei. Só aqui, com os recursos médicos disponíveis, foi possível cuidar de você.— Basílio... eu posso confiar em você? — Lúcia perguntou, encostada no travesseiro. Depois de um longo silêncio, finalmente falou, hesitante.Basílio assentiu com firmeza:— Claro que pode.— Você pode me levar de volta? Preciso encontrar uma pessoa.— Encontrar alguém?— Isso. Ele é muito importante pra mim. Se não me encontrar, ele vai ficar bravo.— Quem é essa pessoa?— Sílvio!— Sílvio? Você ainda se lembra de Sílvio?Os olhos de Basílio brilharam com uma surpresa desconfortável, enquanto um turbilhão de emoções invadia seu coração."Amnésia seletiva. Ela esqueceu tudo e todos, menos o Sílvio?" A mente dele fervilhava. "Será que Sílvio é mesmo tão importante pra ela? Isso não é Deus me dando uma chance. É Deus me mostrando que, depois de tudo, aquilo que nunca foi meu, continuará não
O quarto de hospital estava silencioso. Lúcia pegou o controle remoto ao lado da cama e ligou a TV presa à parede. Na tela, uma apresentadora relatava a notícia do funeral da esposa falecida de Sílvio, presidente do Grupo Baptista. Logo em seguida, a imagem de Sílvio ajoelhado diante de um altar, os cabelos completamente brancos, apareceu no monitor.A moldura da foto dela era rosa. As flores ao redor também eram cor-de-rosa. "Por que o cabelo dele está branco desse jeito?", ela se perguntou. "Será que ele pensou que eu estava morta e ficou tão triste assim? Nosso casamento virou um funeral?"Lúcia observava a expressão de Sílvio na tela. As linhas do rosto dele estavam rígidas, a postura fria e sombria como nunca antes. Ele vestia um terno preto impecável e estava na linha de frente da multidão, com os olhos fixos no altar. "Então ele me amava mais do que eu imaginava", pensou ela. "Caso contrário, como poderia estar tão acabado, com os cabelos brancos?""Sílvio não é frio. Ele só apa
Lúcia disse que não aguentava mais esperar e que queria voltar para casa imediatamente.Basílio franziu a testa, os olhos fixos nos dela:— Não tem conversa. Se você não aceitar as minhas condições, eu não vou te ajudar. O Sílvio não vai morrer. Ele é um homem adulto, aguenta sentir a dor de te perder por um tempo. Quando você voltar, ele vai te valorizar mais. Se ele não passar por essa provação, você acha que ele vai aprender alguma coisa? Se você não consegue nem fazer ele sofrer um pouco, então faça as malas sozinha, porque eu não vou te levar.Lúcia parou para pensar. Ela estava em um lugar desconhecido, sem documentos, sem nada. A única pessoa em quem podia confiar era Basílio. Depois de um momento de hesitação, ela assentiu:— Tudo bem, eu aceito. Mas você tem que prometer que não vai voltar atrás.— Não se preocupe. Eu nunca fiz nada para te prejudicar.Basílio a pegou no colo, colocando-a de volta na cama. Em seguida, colocou a comida que havia trazido na mesinha ao lado. Apes
Talvez fosse porque uma boa notícia trazia mesmo um espírito renovado. O estado de saúde de Lúcia melhorava a olhos vistos.Basílio sentia-se dividido: por um lado, estava feliz; por outro, uma sensação de vazio o consumia. Seus sentimentos eram um turbilhão.Três meses passaram rápido. Logo chegaria o dia em que Lúcia teria alta e ele a entregaria novamente para Sílvio. Essa data se aproximava cada vez mais.Lúcia estava sentada na cama do hospital, um sorriso leve iluminando seu rosto. Do lado de fora do quarto, Basílio a observava pela pequena janela de vidro enquanto segurava o telefone no ouvido.— Vai mesmo mandá-la de volta? — Questionou Daulo do outro lado da linha, com a voz carregada de reprovação.— E o que mais eu poderia fazer? — Basílio respondeu com um sorriso amargo.— Se eu soubesse que ela tinha esquecido todo mundo, menos o Sílvio, nem teria me dado ao trabalho de ajudar a salvá-la! Olha só, todo o esforço para ela voltar pra ele de bandeja. — Daulo reclamava, irrita
Ainda não era o momento certo para falar o que sentia. Ele temia ser brusco demais, assustá-la. Precisava esperar a oportunidade certa, uma chance para prender Lúcia ao seu lado. Quando conseguisse, seria para a vida toda. Ela não teria como escapar, nem se quisesse.— Certo. — Lúcia, completamente imersa na empolgação de reencontrar Sílvio, nem sequer desconfiava dos planos silenciosos de Basílio.Na véspera da viagem de retorno, Lúcia estava tão ansiosa que simplesmente não conseguiu pregar os olhos. Sentia como se quisesse criar asas e voar direto para os braços de Sílvio, abraçá-lo com toda a força.Na manhã seguinte, Basílio percebeu que ela tinha olheiras profundas. Era evidente que não tinha dormido. Durante o café da manhã, Lúcia quase não tocou na comida, reclamando sem parar sobre como o tempo parecia se arrastar. Basílio, no entanto, insistiu para que ela comesse tanto o café quanto o almoço antes de saírem. Só então chamou um táxi para levá-los ao aeroporto. Por precaução,
— O quê?A mão de Lúcia, que estava prestes a soltar o cinto de segurança, ficou imóvel no ar. Ela levantou os olhos, confusa, e encarou Basílio no banco ao lado.Basílio, com um sorriso tranquilo, repetiu:— Você disse que cumpriria qualquer pedido meu, sem condições.— Sim, eu disse.— Pois bem, Lúcia. Eu levei a sério. Quando eu souber o que quero, vou cobrar a sua promessa. — As palavras de Basílio pareciam simples, mas Lúcia, alheia ao tom sutil que escondia algo mais profundo, apenas agradeceu novamente e abriu a porta do carro.O vento gelado e cortante soprou direto em seu rosto enquanto grandes flocos de neve caíam do céu cinzento, cobrindo tudo ao redor. Sua respiração ficou curta com o impacto da friagem. Sem olhar para trás, ela fechou a porta do carro.Basílio deu um leve aceno ao motorista, que arrancou o carro e saiu da Mansão Baptista. No silêncio do carro, o assistente, visivelmente incomodado, deu uma olhada no espelho retrovisor e não conseguiu segurar o desabafo:—