Mas o caminho era longo, e ela temia que imprevistos pudessem acontecer. Decidiu abandonar essa ideia.Diziam que, antes de morrer, os parentes já falecidos vinham buscar a pessoa. Lúcia se perguntava se seus pais ainda estavam zangados com ela por todas as decisões erradas que tomara. Será que eles viriam?Ela não sabia.Lúcia caminhou até a varanda, estendeu os dedos pálidos e começou a deslizar o vidro da porta para abri-la. O vento gelado entrou com força, espalhando neve pelo apartamento.Os flocos de neve dançavam com o vento, caindo em sua pele. Alguns pousaram em suas bochechas, outros em seus cabelos e nos ombros do vestido branco. Até os cílios dela estavam cobertos por uma camada fina e gelada.Quando a neve começou a cair, ela não sabia. Seus pés, protegidos por botas de neve, afundaram na grossa camada branca que cobria o chão.De repente, lembrou-se de quando conheceu Sílvio. Foi em um dia como aquele, com neve caindo por todos os lados. Era o primeiro dia de aula na univ
— Lúcia, diga que você vai amar o Sílvio para sempre.O calor da respiração dele roçava em seu ouvido, enquanto ele a persuadia com palavras sussurradas.Talvez para agradá-lo, ou talvez porque ele sabia exatamente como satisfazê-la na cama, Lúcia não percebeu o verdadeiro tom por trás das palavras dele.Ela nem imaginava que ele já estava planejando sua vingança, que aconteceria em breve.Lúcia era forçada a suportar as investidas dele, uma após a outra, intensas e dominadoras. Com o rosto corado, ela entrelaçou os braços em volta do pescoço dele e prometeu:— Lúcia vai amar o Sílvio para sempre.— Não importa o que aconteça.— Não importa o que aconteça.— Nunca vou mudar.— Nunca vou mudar.— Nunca vou desistir.Essas palavras eram tão cheias de emoção, tão tocantes. Para Lúcia, eram raros os momentos em que ele parecia verdadeiramente entregue ao sentimento. O olhar dele, carregado de desejo, transbordava uma possessividade que ela aceitava sem questionar. Afinal, sem amor, como po
— Sílvio, eu estou doente! Tenho câncer de fígado em estágio terminal! Está claramente escrito no relatório médico, eu não estou mentindo!Mas o olhar frio de Sílvio não demonstrou nenhum traço de compaixão. Ele a forçou a engravidar, a ter um filho, a assinar contratos abusivos, a ajoelhar-se na entrada da sede do Grupo Baptista, sabendo muito bem o quanto ela detestava o frio.Obrigou-a a trabalhar como faxineira no Grupo Baptista, a se transformar em uma empregada doméstica à mercê de suas vontades. Obrigou-a a tomar medicamentos enquanto confiscava o dinheiro que deveria pagar as despesas médicas de seu pai. Ele a pressionava, impiedosamente, sem descanso.Lúcia acreditava, inocentemente, que sua submissão, sua abdicação e até mesmo sua saúde poderiam comprar a paz e o bem-estar de sua família. Ela estava disposta a usar sua própria vida para garantir que a família Baptista permanecesse intacta e para expiar os pecados de seus sogros já falecidos. Mas isso não o impediu de levar se
Lúcia lembrava com clareza das palavras de seu pai: o dia em que ela nasceu, nevava intensamente. Sua mãe adorava a neve. O mesmo céu branco que a trouxe ao mundo agora testemunhava sua partida. Talvez fosse o destino, pensou ela, em um suspiro melancólico.Ela estendeu a palma da mão. Os flocos de neve pousaram delicadamente em sua pele, gelados como o vazio que ela sentia dentro de si. O frio parecia ter se infiltrado em sua alma, mergulhando-a em um abismo glacial.O vento cortava seu rosto como lâminas afiadas, deixando a pele ardida e dormente. Seus pés, aquecidos apenas pelas botas de neve, já estavam insensíveis, congelados. Todo o corpo parecia desligado, como se ela não fosse mais dona de si. Mesmo assim, ela continuava a dar passos lentos, mecânicos, em direção ao inevitável.Lúcia abaixou o olhar e observou o chão coberto pela neve branca, lá embaixo. Do segundo andar, a altura não era impressionante, mas o suficiente para causar estragos irreversíveis. Se não morresse, prov
O segurança, com a voz trêmula, resumiu rapidamente o que havia presenciado para Leopoldo:— Sr. Leopoldo, eu já chamei a ambulância, mas ela ainda não chegou. O que a gente faz? É melhor avisar o Sr. Sílvio logo!— Certo, eu entendi.Leopoldo encerrou a ligação e foi direto para a porta da sala de reuniões. Através do vidro, ele viu Sílvio ainda irritado, dando ordens ríspidas aos subordinados.Em situações normais, Leopoldo jamais ousaria interromper uma reunião como aquela. Mas Lúcia estava em perigo. E, além disso, ela sempre o tratou com respeito. Com esse pensamento, ele respirou fundo e empurrou a maçaneta da porta de vidro, entrando na sala.A intrusão repentina fez Sílvio, sentado na cadeira de chefe, lançar-lhe um olhar gelado e ainda mais irritado. Todos os presentes perceberam a mudança de humor e ficaram ainda mais tensos, como se o ar tivesse congelado.— Quem te deu permissão para entrar? Saia! — Ordenou Sílvio, com a voz firme e cortante.Leopoldo, ignorando o tom ameaç
Capítulo 789A cabeça de Sílvio parecia prestes a explodir. Ele avançou a passos largos, como se o tempo tivesse parado ao seu redor.— Lúcia! Lúcia! — Sílvio se ajoelhou no chão coberto de neve e sangue, envolvendo o corpo dela em seus braços.Lúcia vestia um casaco vermelho, sua maquiagem ainda estava intacta, mas toda a beleza de seu rosto havia sido coberta pelo vermelho intenso do sangue. O corte na parte de trás de sua cabeça continuava a sangrar incessantemente, tingindo as mãos de Sílvio com o calor que escapava dela. Seus olhos estavam cerrados, sua boca fechada, mas o sangue não parava de escorrer, como se o próprio corpo dela estivesse desistindo.— Lúcia... Lúcia... — Sílvio balançava o corpo dela suavemente, como se tentasse trazê-la de volta à vida. Mas ela não reagia. Ela não se movia.— Onde está a ambulância? Cadê a ambulância?! — Rugiu Sílvio, sua voz carregada de desespero e raiva, enquanto encarava as pessoas que se aglomeravam ao redor.Era raro ver Sílvio perder o
Leopoldo já havia levado o carro à máxima velocidade permitida e além disso. Mesmo assim, ele entendia perfeitamente a urgência e o desespero do Sr. Sílvio. Ninguém conhecia tão bem quanto ele o quanto Sílvio se importava e sofria por Lúcia.O carro freou bruscamente na entrada do hospital. Assim que pararam, enfermeiros já estavam a postos com uma maca, prontos para levar Lúcia diretamente à sala de cirurgia.Arthur, com seu jaleco branco impecável, os aguardava na entrada do bloco cirúrgico. Ele inspecionou rapidamente o estado de Lúcia, mas sua expressão ficou sombria.— A situação da Sra. Lúcia é extremamente crítica. Precisamos iniciar os procedimentos de emergência agora mesmo.— Não importa o custo, Arthur. Faça o que for necessário, mas salve a vida dela. — Ordenou Sílvio, com um olhar firme, que não admitia contrariedade.Arthur assentiu com seriedade:— Não se preocupe, Sr. Sílvio. A Sra. Lúcia é uma pessoa muito importante para o senhor. Vamos fazer tudo o que estiver ao nos
Sílvio estava parado junto à janela do corredor, observando os flocos de neve que caíam sem parar lá fora. Sua alma parecia afundar em um abismo sem fim. Ele se lembrava do dia em que a conheceu pela primeira vez, no início do curso universitário, durante a recepção dos calouros.Lúcia era a presidente do grêmio estudantil, usando o mesmo casaco vermelho de plumas que vestia hoje, no fatídico dia em que tudo mudou. Os cabelos presos em um coque casual, a maquiagem impecável. Talvez fosse o reflexo de uma vida cercada de requinte e influências, mas bastava sua simples presença para que ela se destacasse na multidão. Era impossível não notá-la. Entre centenas de rostos anônimos, ela era como uma estrela que brilhava mais forte.Sílvio seguia Giovana de perto, enquanto ela sussurrava, com um meio sorriso no rosto:— Aquela é a Sra. Lúcia, da família Baptista. Super esnobe. Não gosta de homens que correm atrás dela. Se quiser impressioná-la, seja frio, distante. Vai por mim, funciona.Não