— Sílvio, você não é um ser humano, você é um monstro! Não, você é pior do que um monstro! Até um animal sabe retribuir carinho balançando o rabo! Mas e você? E você? Você me enganou, me machucou, destruiu minha família, matou meus pais! Para quê você me salvou? — Lúcia gritava com os olhos vermelhos de tanta raiva, enquanto lágrimas grossas escorriam sem parar por seu rosto.Ela apertava os dentes com força e continuava a estapear o rosto de Sílvio, cada golpe mais forte que o anterior. O rosto dele já estava dormente com tantas pancadas, mas ele não revidou, nem tentou se explicar. Ele sabia que, independentemente do que dissesse, Lúcia não acreditaria. A cada tapa, o rosto de Sílvio inchava mais. Já as mãos de Lúcia começaram a ficar dormentes. Mesmo assim, ela agarrou o colarinho do roupão dele com força, encarando-o com fúria: — Você acha que não reagir vai fazer com que eu te perdoe? Está sonhando! Sílvio, a pessoa que deveria estar morta é você! Desde o começo, quem deveri
— Sr. Sílvio, a Sra. Lúcia recuperou a memória porque a gerente daquela cliente que a sequestrou da última vez injetou nela um medicamento para recuperação de memória. — Disse Leopoldo.Os olhos de Sílvio brilharam com uma frieza gélida enquanto ele apertava o cigarro entre os dentes: — Elimine-a.Leopoldo hesitou por meio segundo antes de responder: — Já foi feito. Ela aparentemente sabia que não tinha saída. Há cerca de meia hora, enforcou-se numa fábrica abandonada. Antes de morrer, chamou a polícia e deixou uma carta de despedida. Na carta, explicou o motivo do sequestro da Sra. Lúcia: vingança, vingança... — Continue. — Era vingança contra o senhor. — E quem era essa gerente? — O senhor lembra que ela já trabalhou com o Grupo Baptista. Porém, desentendeu-se com a Sra. Lúcia, e o senhor, para defendê-la, cancelou a parceria com a empresa dela. Isso resultou em sua demissão e numa cobrança milionária por danos. Ela perdeu o marido, que pediu o divórcio, e também a guarda
Sílvio realmente mandou verificar os medicamentos que Arthur havia receitado para Lúcia. O relatório de Leopoldo indicava que não havia qualquer irregularidade. Aliviado, Sílvio concluiu que ainda podia confiar no Arthur.— Sr. Sílvio, o senhor andou se esforçando demais ultimamente? — Leopoldo perguntou, visivelmente preocupado. Sílvio lançou-lhe um olhar inquisitivo, e ele prosseguiu:— O senhor parece exausto. Que tal fazer um check-up no hospital? "Exausto." A palavra ecoou em sua mente. Lembrou-se de que, recentemente, havia tido vários episódios de sangramento nasal. — Cancele a reunião de amanhã e agende um exame completo para mim. — Sílvio concordou, finalmente. Haveria algo errado com sua saúde? Não deveria...Na manhã seguinte, Lúcia foi despertada pelo som de pássaros na janela. Ao baixar os olhos, percebeu que a palma da mão estava coberta por uma faixa de gaze. Bastou movê-la levemente para sentir uma dor aguda. Era óbvio quem havia providenciado o curativo, mas,
— Sílvio sabe disso? — Lúcia perguntou, com a voz tremendo.— No começo, não sabia. Mas depois que o Sr. Abelardo sofreu o acidente e ficou em estado vegetativo, o Sr. Sílvio descobriu a verdade. Ele nunca quis aceitar os fatos e insiste em acreditar que o incêndio foi ordenado pelo seu pai. Quando o Sr. Abelardo faleceu, ele ainda me pressionou para incriminá-lo. Mas como eu poderia fazer isso com alguém que tanto me ajudou? — Paulo respondeu, sua voz carregada de ressentimento.Atordoada, Lúcia saiu da prisão. Nem lembrava como tinha conseguido colocar um pé fora dali. Cada passo parecia afundar num chão de algodão, um mais leve, o outro mais pesado. O mundo à sua volta se tornava uma névoa densa.Ela sequer percebeu a entrada de Giovana na prisão. Com um olhar frio e calculista, Giovana pegou o celular para falar com Paulo:— Está tudo resolvido?— Sim, contei tudo como você me pediu. — Respondeu Paulo, resignado.Giovana sorriu, vitoriosa:— Muito bem, tio. Não se preocupe, cuidare
O celular tocou por um longo tempo. Sessenta segundos inteiros. Os dedos de Sílvio, firmes no volante, apertaram-se instintivamente. O som do seu coração parecia ecoar no mesmo ritmo insistente do toque. Por fim, a ligação foi interrompida, substituída por uma voz mecânica e fria: a pessoa chamada não pode atender no momento, por favor, tente mais tarde. Seria porque ela ainda estava com raiva dele? Por isso não quis atender? Ou talvez estivesse dormindo. Quem sabe, ocupada com outra coisa. Mas, hoje em dia, quem não olha para o celular o tempo todo? Sílvio sabia a verdade. Sabia que Lúcia não queria falar com ele. A Lúcia de agora não era mais a Lúcia de ontem. Eles tinham voltado àquela tensão sufocante, à distância carregada de mágoas. Ainda assim, ele se permitia enganar, acreditando que talvez ela simplesmente não tivesse visto a ligação. Não queria aceitar que ela o estava ignorando de propósito. A chuva caía pesada, martelando sem piedade o para-brisa do Cullinan. Os l
O que Lúcia faria ao saber da doença de Sílvio? Sentiria pena dele? O perdoaria? Ela ficaria ao lado dele durante o tratamento, como ele fez por ela no passado?Essas perguntas ecoavam incessantemente na cabeça de Sílvio. Sem comer o dia inteiro, ele já não sentia mais fome. Seu estômago, há muito tempo castigado por uma rotina desregrada, cigarro constante, trabalho exaustivo e refeições irregulares, estava longe de ser saudável. Bastava comer um pouco mais, e já se sentia inchado e desconfortável. Enquanto isso, Lúcia andava pela chuva, com passos mecânicos e o rosto vazio de qualquer expressão. Ela sentia o coração apertado, tão apertado que parecia que ia explodir. Estava exausta, emocionalmente devastada. As lágrimas misturavam-se com as gotas de chuva que desciam pelo rosto. As palavras de Paulo ecoavam sem parar nos ouvidos dela:— O Sr. Abelardo nunca fez nada de errado em vida, mas pessoas boas não têm sorte. O Sr. Sílvio descobriu a verdade sobre o incêndio logo depoi
Morrer assim não seria tão ruim. Talvez pudesse finalmente se redimir com os pais. Lúcia fechou os olhos. Já fazia tempo que ela desejava morrer. Muito tempo. Ninguém nunca soube o quanto ela ansiava pelo fim, o quanto desejava que a morte a levasse embora. Mas a dor que ela esperava sentir não veio. Em vez disso, uma poça de lama e água suja foi lançada com força contra seu rosto e suas roupas. — Ei, de qual hospício você escapou, sua maluca? Quer morrer, beleza, mas não me leva junto! — Gritou alguém, sua voz cortando a cortina de chuva e o vento gelado, entrando direto nos ouvidos dela como uma lâmina. Lúcia abriu os olhos a tempo de ver o carro desaparecer à distância, deixando para trás apenas um rastro de sujeira e amargura. Ela desabou em um grito desesperado. As lágrimas, já secas há muito tempo, deixavam apenas a ardência nos olhos, tornando cada piscada um sofrimento. Sentia como se uma rocha enorme pressionasse seu peito, tornando a respiração quase impossível. P
Mesmo sendo marido e mulher, por que se tratavam com palavras tão frias e cruéis? Ele nunca tinha feito nada de errado, absolutamente nada.Sílvio se lembrava de tudo. Abelardo matou seus pais, e mesmo assim, ele pagou todas as despesas médicas e ainda assumiu a administração do Grupo Baptista. Até aquele momento, nem sequer tinha mudado o nome da empresa para Medeiros.Ele sabia que sua consciência estava limpa.— Fez ou não, você sabe muito bem. — Lúcia riu friamente, virando-se para sair.Antes que pudesse dar o primeiro passo, Sílvio agarrou seu pulso, puxando-a de volta com firmeza: — Fale claramente. O que você está insinuando? O que eu fiz de errado?— Sílvio, aquele incêndio... foi mesmo o meu pai que mandou o Paulo provocá-lo?— O culpado foi o Paulo. Ele era o capanga do seu pai, o motorista. Isso é um fato incontestável — Respondeu ele, em um tom firme.Lúcia soltou um riso cínico:— É mesmo?— Não é? — Sílvio rebateu, encarando-a.Algo estava diferente nela. Desde que Lúci