Então, Giovana tomou a iniciativa de beijar os lábios dele. Sílvio não a afastou.Lúcia sentia a mente completamente confusa, como se um raio tivesse partido seu mundo ao meio. Na sua imaginação, um relâmpago púrpura cortava o céu negro enquanto uma tempestade desabava com força.Ela abriu os olhos de repente. Estavam vermelhos, muito vermelhos, e os cantos também ardiam em tom escarlate. Gotas de chuva, grossas e pesadas, batiam sem piedade em seu rosto e corpo. Ela não havia morrido. Mesmo com aquele líquido vermelho injetado em suas veias, havia sobrevivido.Mas tudo voltou à sua mente. Cada detalhe. Cada dor esquecida. Afinal, fazer com que ela recuperasse as memórias e continuasse viva, mergulhada no sofrimento, era o verdadeiro inferno.Cruel. Impiedoso.Com esforço, Lúcia começou a se levantar do chão, pouco a pouco. Suas mãos doíam intensamente, os dedos latejavam, as palmas estavam inchadas, e a pele dos braços havia sido quase toda esfolada.Seu rosto também ardia muito. Ao t
Então, afinal, Sílvio saiu correndo de casa hoje não para procurá-la, mas para buscar Giovana no bar e se divertir com ela. Lúcia tremia de raiva, sentindo os dedos quase esmagarem o celular em sua mão, como se fosse explodir em pedaços. Uma fúria ardente brotava de seu peito, subindo como labaredas incontroláveis. Ela jogou o celular no chão com força. O aparelho caiu na água da chuva, que só aumentava de intensidade, chicoteando seu rosto sem piedade. Seus olhos, lavados pela enxurrada, mal conseguiam se manter abertos. O caminho de volta para casa parecia infinito. Apenas alguns postes de luz amarela e solitária, espalhados pelas laterais da estrada, assistiam em silêncio enquanto ela caminhava, devagar e com dificuldade. A chuva, misturada às lágrimas, escorria pelo rosto machucado, que ela tentava secar com a mão ferida e já em carne viva. De repente, flashes invadiram sua mente. No hospital Serra Encantada, ela se via sem memória, sendo manipulada por Sílvio como um brinq
As bochechas de Lúcia estavam inchadas, o canto de sua boca tinha vestígios de sangue, e a água escorria continuamente de seus cílios e rosto. Ela não se aproximou. Ficou parada, olhando friamente para o homem no sofá. Sílvio levantou-se apressado, com os olhos cheios de preocupação:— Você não estava no quarto dormindo? Ele realmente achava que ela estava no quarto. Pelo visto, Giovana tinha razão. Ele saiu às pressas de carro, mas não para procurá-la. Até agora, ele sequer sabia o que tinha acontecido com ela ou pelo que ela havia passado. — Lúcia, o que aconteceu? — Sílvio caminhou rápido em sua direção, com um misto de preocupação e ansiedade. Lúcia achava que ele era um grande fingido. O que aconteceu naquela noite não era parte do plano dele? Ele queria que ela recuperasse a memória para mudar o "roteiro" e continuar a torturá-la? — O que aconteceu comigo, o Sr. Sílvio não sabe? — Lúcia zombou, com um sorriso frio. Ao ouvir o tom formal dela e perceber a mudança no
— Sílvio, você não é um ser humano, você é um monstro! Não, você é pior do que um monstro! Até um animal sabe retribuir carinho balançando o rabo! Mas e você? E você? Você me enganou, me machucou, destruiu minha família, matou meus pais! Para quê você me salvou? — Lúcia gritava com os olhos vermelhos de tanta raiva, enquanto lágrimas grossas escorriam sem parar por seu rosto.Ela apertava os dentes com força e continuava a estapear o rosto de Sílvio, cada golpe mais forte que o anterior. O rosto dele já estava dormente com tantas pancadas, mas ele não revidou, nem tentou se explicar. Ele sabia que, independentemente do que dissesse, Lúcia não acreditaria. A cada tapa, o rosto de Sílvio inchava mais. Já as mãos de Lúcia começaram a ficar dormentes. Mesmo assim, ela agarrou o colarinho do roupão dele com força, encarando-o com fúria: — Você acha que não reagir vai fazer com que eu te perdoe? Está sonhando! Sílvio, a pessoa que deveria estar morta é você! Desde o começo, quem deveri
— Sr. Sílvio, a Sra. Lúcia recuperou a memória porque a gerente daquela cliente que a sequestrou da última vez injetou nela um medicamento para recuperação de memória. — Disse Leopoldo.Os olhos de Sílvio brilharam com uma frieza gélida enquanto ele apertava o cigarro entre os dentes: — Elimine-a.Leopoldo hesitou por meio segundo antes de responder: — Já foi feito. Ela aparentemente sabia que não tinha saída. Há cerca de meia hora, enforcou-se numa fábrica abandonada. Antes de morrer, chamou a polícia e deixou uma carta de despedida. Na carta, explicou o motivo do sequestro da Sra. Lúcia: vingança, vingança... — Continue. — Era vingança contra o senhor. — E quem era essa gerente? — O senhor lembra que ela já trabalhou com o Grupo Baptista. Porém, desentendeu-se com a Sra. Lúcia, e o senhor, para defendê-la, cancelou a parceria com a empresa dela. Isso resultou em sua demissão e numa cobrança milionária por danos. Ela perdeu o marido, que pediu o divórcio, e também a guarda
Sílvio realmente mandou verificar os medicamentos que Arthur havia receitado para Lúcia. O relatório de Leopoldo indicava que não havia qualquer irregularidade. Aliviado, Sílvio concluiu que ainda podia confiar no Arthur.— Sr. Sílvio, o senhor andou se esforçando demais ultimamente? — Leopoldo perguntou, visivelmente preocupado. Sílvio lançou-lhe um olhar inquisitivo, e ele prosseguiu:— O senhor parece exausto. Que tal fazer um check-up no hospital? "Exausto." A palavra ecoou em sua mente. Lembrou-se de que, recentemente, havia tido vários episódios de sangramento nasal. — Cancele a reunião de amanhã e agende um exame completo para mim. — Sílvio concordou, finalmente. Haveria algo errado com sua saúde? Não deveria...Na manhã seguinte, Lúcia foi despertada pelo som de pássaros na janela. Ao baixar os olhos, percebeu que a palma da mão estava coberta por uma faixa de gaze. Bastou movê-la levemente para sentir uma dor aguda. Era óbvio quem havia providenciado o curativo, mas,
— Sílvio sabe disso? — Lúcia perguntou, com a voz tremendo.— No começo, não sabia. Mas depois que o Sr. Abelardo sofreu o acidente e ficou em estado vegetativo, o Sr. Sílvio descobriu a verdade. Ele nunca quis aceitar os fatos e insiste em acreditar que o incêndio foi ordenado pelo seu pai. Quando o Sr. Abelardo faleceu, ele ainda me pressionou para incriminá-lo. Mas como eu poderia fazer isso com alguém que tanto me ajudou? — Paulo respondeu, sua voz carregada de ressentimento.Atordoada, Lúcia saiu da prisão. Nem lembrava como tinha conseguido colocar um pé fora dali. Cada passo parecia afundar num chão de algodão, um mais leve, o outro mais pesado. O mundo à sua volta se tornava uma névoa densa.Ela sequer percebeu a entrada de Giovana na prisão. Com um olhar frio e calculista, Giovana pegou o celular para falar com Paulo:— Está tudo resolvido?— Sim, contei tudo como você me pediu. — Respondeu Paulo, resignado.Giovana sorriu, vitoriosa:— Muito bem, tio. Não se preocupe, cuidare
O celular tocou por um longo tempo. Sessenta segundos inteiros. Os dedos de Sílvio, firmes no volante, apertaram-se instintivamente. O som do seu coração parecia ecoar no mesmo ritmo insistente do toque. Por fim, a ligação foi interrompida, substituída por uma voz mecânica e fria: a pessoa chamada não pode atender no momento, por favor, tente mais tarde. Seria porque ela ainda estava com raiva dele? Por isso não quis atender? Ou talvez estivesse dormindo. Quem sabe, ocupada com outra coisa. Mas, hoje em dia, quem não olha para o celular o tempo todo? Sílvio sabia a verdade. Sabia que Lúcia não queria falar com ele. A Lúcia de agora não era mais a Lúcia de ontem. Eles tinham voltado àquela tensão sufocante, à distância carregada de mágoas. Ainda assim, ele se permitia enganar, acreditando que talvez ela simplesmente não tivesse visto a ligação. Não queria aceitar que ela o estava ignorando de propósito. A chuva caía pesada, martelando sem piedade o para-brisa do Cullinan. Os l