Lúcia estava tão pálida que sua pele parecia translúcida, seu corpo tremia como se estivesse em plena febre. O sangue continuava a jorrar de sua boca, nariz, ouvidos e até de seus olhos, sem parar.Sílvio havia saído há pouco, e ela já estava em pleno ataque, sem nem mesmo esperar até a cirurgia marcada para o dia seguinte. Ela teria forças para ver Sílvio voltar da viagem? Seria possível?Lúcia lutava contra a dor, com os dedos brancos como cera agarrados nas grades da cama, tentando se levantar, mas seu corpo não obedecia. Sua mão estava sem forças, ela mordeu os lábios com tanta força que o sangue escorreu para a boca. As lágrimas desciam sem controle, uma após a outra, e seu rosto estava todo manchado de vermelho, assim como seu pijama hospitalar.Ela usou toda sua energia para se erguer. A dor era intensa, e seu corpo mal se sustentava. Aos poucos, com dificuldade, conseguiu se apoiar novamente na cama. Estendeu a mão, e finalmente conseguiu apertar o botão de emergência. Mas, ass
Sílvio havia acabado de voltar ao hotel. Seus dedos batiam no teclado do notebook, enquanto ele escrevia sua carta de despedida, organizando seus últimos desejos.O Dr. Daulo tinha sido bem claro: a cirurgia dele apresentava mais riscos do que a de Lúcia. Ele não tinha nenhuma garantia de que a sorte estaria ao seu lado e que sairia vivo da mesa de operações.O Grupo Baptista, fundado por Abelardo, era agora sua maior preocupação. Se ele morresse, Lúcia, uma mulher sem experiência no mercado e sem uma habilidade que garantisse sua independência financeira, não teria condições de gerir o império. Por isso, Sílvio decidiu devolver a empresa a ela, mas de forma planejada.Sabendo que Lúcia nunca havia administrado a companhia e que o ambiente era cheio de pessoas inescrupulosas, ele incluiu uma cláusula no testamento: 10% das ações do Grupo seriam transferidos para Basílio, enquanto Lúcia herdaria todo o restante das ações, além de seus bens e propriedades.Basílio, que sempre fora apaixo
— Sr. Sílvio, pare de falar besteira. A Sra. Lúcia ainda está esperando para se tornar sua esposa. — Disse Leopoldo, franzindo a testa. Ele acompanhou de perto toda a jornada da Sra. Lúcia e do Sr. Sílvio até ali. Desde os momentos de amor até os de dor, ele foi testemunha de tudo. Chegaram tão longe juntos... como poderiam simplesmente desistir agora?Ao ouvir essas palavras, Sílvio apertou o cigarro com mais força. Casar-se com ela... que sonho lindo, quase irreal.— A Sra. Lúcia não é uma mulher interesseira. Ela só quer que você esteja ao lado dela. —Continuou Leopoldo.Sílvio abriu a boca para responder, mas foi interrompido pelo toque insistente de seu celular. Ele atendeu e, do outro lado da linha, alguém falava de forma urgente. O rosto dele mudou drasticamente de expressão:— Estou indo para o hospital agora mesmo!Desligou o telefone, vestiu o paletó às pressas e saiu correndo da suíte do hotel.Leopoldo, ao ver o semblante preocupado de Sílvio, não ousou fazer perguntas e ap
Afinal, a vida só se vivia uma vez.— Dr. Daulo, eu tenho um pedido. — Disse Sílvio.Dr. Daulo não respondeu de imediato. A luz cirúrgica acima de Sílvio era tão intensa que ele precisou apertar os olhos. Mesmo assim, sua voz permaneceu firme:— Priorize a cirurgia da Lúcia. Não se preocupe com a minha segurança. Se algo der errado comigo na mesa de cirurgia, não será sua responsabilidade. O transplante de fígado dela precisa ser um sucesso. — Continuou Sílvio.Daulo, segurando a seringa, parou por um instante, lançando um olhar curioso a Sílvio, mas não respondeu diretamente:— Não posso prometer que ela vai sair dessa. Se, por acaso, vocês dois não sobreviverem... bom, pode acontecer. Tudo depende do destino.A agulha penetrou o couro cabeludo de Sílvio. Primeiro, ele sentiu dor, depois uma dormência que se espalhou por todo o corpo. Assim que a anestesia geral fez efeito, ele mergulhou em um sono profundo, alheio a tudo ao seu redor.Do lado de fora da sala de cirurgia, Basílio perm
Basílio segurava o celular, os olhos frios como gelo. Soltou uma risada sarcástica e, em seguida, desligou o telefone sem hesitar, voltando para fora da sala de cirurgia.A luz da sala de operações permanecia acesa, e a porta, fechada. Ele não saiu de lá por um segundo sequer. Mesmo após seu pai lhe dar um ultimato pelo telefone, Basílio não se importou. Lúcia já o havia ajudado uma vez, e ele nunca encontrou a oportunidade certa para retribuir.Ou talvez, até então, ele não tivesse como cuidar dela abertamente. Lúcia era uma mulher casada, e os dois sempre se desencontravam. Agora, porém, ele tinha uma desculpa legítima para estar ao lado dela, para se preocupar com ela.A cirurgia de Lúcia durou exatos seis longos e intermináveis horas. Para Basílio, parecia que aqueles seis horas haviam se arrastado por seis séculos.Quando a cirurgia finalmente terminou, as luzes da sala de operações se apagaram abruptamente, e a porta se abriu de repente. Lúcia foi empurrada para fora da sala em u
Basílio olhava para a mulher deitada na cama, seu rosto pálido como cera. O longo cabelo de Lúcia estava espalhado pelo travesseiro. Ele não pôde evitar sentir uma pontada de tristeza. Eles haviam sido colegas na escola primária. Sua mãe o forçou a estudar em uma escola de elite, mas seu passado foi rapidamente descoberto.Ele era um filho ilegítimo, um segredo vergonhoso. Sua mãe havia destruído um lar, e por isso ele foi ridicularizado e isolado.Lúcia foi a única a ajudá-lo. Declarou que ele era seu amigo e que qualquer um que o maltratasse estaria se metendo com ela. Naquele momento, olhando para Lúcia, com seu vestido de princesa e seu jeito adorável, Basílio a viu como uma verdadeira heroína, uma Mulher Maravilha encantadora.— Qual é o seu nome? — Lúcia perguntou um dia.— Basílio. — Respondeu ele.Mas ela não se lembrou do nome dele por muito tempo. Logo o esqueceu, e mesmo quando se cruzavam pelos corredores, ela não o reconhecia. Ele imaginava que Lúcia devia ter ajudado tant
O nariz de Lúcia começou a arder, e ela não conseguiu conter as lágrimas ao pensar em todas as dificuldades que atravessou até ali. Ela havia acordado, finalmente acordado. Não tinha morrido! Afinal, ela não tinha voltado a ser a noiva do Sílvio, não tinha ido ao café com o Sílvio para ler os postais um do outro e envelhecido com ele para a eternidade.Desta vez, eles não se perderiam!Lúcia sentia no fundo do coração que seus pais, lá do céu, haviam abençoado sua recuperação, o que tornara a cirurgia um sucesso. Talvez pela emoção ou pela alegria, sua mão estendida tremia sem controle. Ela quase tocou as pontas dos cabelos do homem adormecido à sua frente. Teria ele voltado correndo do exterior para vê-la? Como havia sido a negociação?Os olhos de Lúcia estavam vermelhos, o nariz também, e sua garganta estava seca e dolorida. Quando finalmente tocou o cabelo dele, o homem despertou, levantando a cabeça e olhando para ela.A mão de Lúcia congelou no ar, e a alegria que tinha nos olhos
Os olhos de Lúcia brilharam por um instante, mas uma pontada de decepção logo tomou conta. Ela só poderia vê-lo depois que conseguisse andar? O que, afinal, Sílvio estava fazendo para não poder aparecer por tanto tempo?— Se concorda, balance a cabeça. — Basílio insistiu.Lúcia sabia que não tinha outra escolha. Lúcia acreditava que Sílvio jamais faria algo para machucá-la. Se ele estava ausente, devia ter um bom motivo. Ela precisava ser paciente, seguir as orientações médicas e se recuperar logo para vê-lo.Com o coração apertado, Lúcia assentiu, chorando.— Você precisa se alimentar bem e tomar todos os remédios. Sílvio me disse que, se você fizer manha outra vez, ele nunca mais vai querer te ver. — Mentiu Basílio, sem hesitar.Ao ouvir isso, Lúcia ficou agitada e logo balançou a cabeça, prometendo que se comportaria. Ela iria comer direitinho, tomar todos os remédios e se cuidar para se recuperar o mais rápido possível.Nesse momento, a porta do quarto se abriu. Leopoldo entrou car