Basílio olhava para a mulher deitada na cama, seu rosto pálido como cera. O longo cabelo de Lúcia estava espalhado pelo travesseiro. Ele não pôde evitar sentir uma pontada de tristeza. Eles haviam sido colegas na escola primária. Sua mãe o forçou a estudar em uma escola de elite, mas seu passado foi rapidamente descoberto.Ele era um filho ilegítimo, um segredo vergonhoso. Sua mãe havia destruído um lar, e por isso ele foi ridicularizado e isolado.Lúcia foi a única a ajudá-lo. Declarou que ele era seu amigo e que qualquer um que o maltratasse estaria se metendo com ela. Naquele momento, olhando para Lúcia, com seu vestido de princesa e seu jeito adorável, Basílio a viu como uma verdadeira heroína, uma Mulher Maravilha encantadora.— Qual é o seu nome? — Lúcia perguntou um dia.— Basílio. — Respondeu ele.Mas ela não se lembrou do nome dele por muito tempo. Logo o esqueceu, e mesmo quando se cruzavam pelos corredores, ela não o reconhecia. Ele imaginava que Lúcia devia ter ajudado tant
O nariz de Lúcia começou a arder, e ela não conseguiu conter as lágrimas ao pensar em todas as dificuldades que atravessou até ali. Ela havia acordado, finalmente acordado. Não tinha morrido! Afinal, ela não tinha voltado a ser a noiva do Sílvio, não tinha ido ao café com o Sílvio para ler os postais um do outro e envelhecido com ele para a eternidade.Desta vez, eles não se perderiam!Lúcia sentia no fundo do coração que seus pais, lá do céu, haviam abençoado sua recuperação, o que tornara a cirurgia um sucesso. Talvez pela emoção ou pela alegria, sua mão estendida tremia sem controle. Ela quase tocou as pontas dos cabelos do homem adormecido à sua frente. Teria ele voltado correndo do exterior para vê-la? Como havia sido a negociação?Os olhos de Lúcia estavam vermelhos, o nariz também, e sua garganta estava seca e dolorida. Quando finalmente tocou o cabelo dele, o homem despertou, levantando a cabeça e olhando para ela.A mão de Lúcia congelou no ar, e a alegria que tinha nos olhos
Os olhos de Lúcia brilharam por um instante, mas uma pontada de decepção logo tomou conta. Ela só poderia vê-lo depois que conseguisse andar? O que, afinal, Sílvio estava fazendo para não poder aparecer por tanto tempo?— Se concorda, balance a cabeça. — Basílio insistiu.Lúcia sabia que não tinha outra escolha. Lúcia acreditava que Sílvio jamais faria algo para machucá-la. Se ele estava ausente, devia ter um bom motivo. Ela precisava ser paciente, seguir as orientações médicas e se recuperar logo para vê-lo.Com o coração apertado, Lúcia assentiu, chorando.— Você precisa se alimentar bem e tomar todos os remédios. Sílvio me disse que, se você fizer manha outra vez, ele nunca mais vai querer te ver. — Mentiu Basílio, sem hesitar.Ao ouvir isso, Lúcia ficou agitada e logo balançou a cabeça, prometendo que se comportaria. Ela iria comer direitinho, tomar todos os remédios e se cuidar para se recuperar o mais rápido possível.Nesse momento, a porta do quarto se abriu. Leopoldo entrou car
Basílio ficou paralisado por um momento. Esse tipo de oportunidade, ele não queria de forma alguma. Aproveitar-se da doença de alguém para interferir em um relacionamento não era do seu feitio. Se pudesse escolher, desejaria que aquele arrogante Sílvio acordasse, porque sabia que, mesmo que Lúcia perdesse a memória, ele nunca poderia ocupar o lugar de Sílvio no coração dela.O homem que ocupava a mente e o coração de Lúcia sempre seria Sílvio, não ele.Uma sensação amarga apertou a garganta de Basílio, seu pomo de adão subiu e desceu enquanto tentava falar algo, mas as palavras simplesmente não saíam. O que ele poderia dizer? Afinal, Daulo já havia dado o veredito, e nada do que ele dissesse mudaria a situação.Ao voltar para o quarto, Lúcia, que o viu entrar, imediatamente se levantou da cama.— Por que você se levantou? — Perguntou Basílio, preocupado.Lúcia balançou a cabeça e sorriu radiante:— O médico disse que estou me recuperando muito bem e que já posso andar. Basílio, você me
Leopoldo trabalhava com o Sílvio há muitos anos, e a ligação entre eles era profunda.— O Sílvio se machucou? Está em perigo? — Perguntou Lúcia, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas, que logo caíram, pingando na tigela de comida que ela segurava.Ver Lúcia chorar partia o coração de Leopoldo. Ele ainda nem tinha conseguido responder quando ela continuou:— Leopoldo, se algo aconteceu com o Sílvio, você não pode esconder isso de mim! Somos marido e mulher! Precisamos enfrentar tudo juntos!— Sra. Lúcia, o Sr. Sílvio está bem. Realmente, ele só está ocupado com o trabalho. Está levando mais tempo do que o esperado, mas ele está muito feliz por saber que a sua cirurgia foi um sucesso. — Disse Leopoldo, abaixando os olhos com respeito, tentando esconder a dor que sentia e evitar que as emoções o traíssem. — Por favor, coma. Se a senhora não comer, eu não saberei o que dizer ao Sr. Sílvio.Lúcia confiava em Leopoldo. Ele era o assistente mais próximo de Sílvio. Se Leopoldo dizia que e
A segunda ligação também foi rejeitada. A mágoa de Lúcia foi se acumulando, camada por camada. Ela mordeu o lábio e estava prestes a fazer a terceira chamada quando uma mensagem apareceu na tela.[Lúcia, estou muito ocupado agora. Não posso atender. Leopoldo me contou que sua cirurgia foi um sucesso. Seja boazinha e espere eu voltar.]Ao ler a mensagem, Lúcia sentiu uma pontada de emoção no peito, e as lágrimas começaram a rolar, grandes e pesadas, caindo sobre a tela do celular. Ele pediu para ela esperar por ele, e ela sempre foi tão obediente. Como poderia não fazer o que ele pedisse? Finalmente uma notícia dele! Mesmo que fosse apenas uma mensagem, já era o suficiente. Significava que ele estava bem, que estava a salvo.Com os dedos tremendo, Lúcia começou a digitar, cheia de saudade, e escreveu um monte de coisas.[Sílvio, o Dr. Daulo disse que estou me recuperando muito bem. Já posso andar! Fui muito obediente, como você pediu. E você? Como estão as coisas aí? Ouvi dizer que sua
Aquela mensagem de Sílvio dissipou todas as preocupações de Lúcia. Ela estava radiante.Não era uma mensagem longa, nem dizia nada de extraordinário, mas o jeito como ele se expressava, o tom da mensagem — tudo isso ela leu e releu centenas de vezes. E cada vez que lia, um sorriso surgia em seu rosto.Lúcia só queria que o tempo passasse rápido, que ele resolvesse logo os problemas no exterior e voltasse correndo para ela, para o futuro que os aguardava.O que Lúcia não sabia, naquele momento de pura alegria, era que Sílvio estava deitado na UTI, bem ali no mesmo andar que ela. Apenas uma parede os separava. Uma parede que separava também todos os seus sonhos.A porta do quarto se abriu, e Lúcia viu Basílio entrar, carregando uma sacola de frutas. Ele as colocou na mesa e pegou uma faca para descascar uma maçã.— Sra. Lúcia está com boas notícias? — Perguntou Basílio, sorrindo enquanto a olhava.Lúcia ficou um pouco surpresa. Era tão óbvio assim? Será que ela nem conseguia esconder?Co
Lúcia abriu o celular cheio de expectativa. Seu coração estava na garganta, batendo tão forte que parecia que iria sair do peito. Ela queria ver logo a mensagem, mas ao mesmo tempo tinha medo de que não fosse de Sílvio. Aquela mistura de ansiedade e esperança embaralhava seus pensamentos.Desbloqueou a tela e, de repente, uma mensagem apareceu.[Vídeo e ligação agora não são possíveis. Espere por mim, estou voltando o quanto antes.]Era uma mensagem de Sílvio! Lúcia segurou o celular com força, os olhos se enchendo de lágrimas. Embora ele tivesse recusado a chamada e o vídeo, só de saber que ele estava bem já era o suficiente.Era de se esperar que, depois de receber aquela mensagem tranquilizadora, ela teria uma noite de sono sossegada. No entanto, naquela noite, Lúcia teve um pesadelo terrível. No sonho, ela e Sílvio estavam prestes a se casar. Ela vestia um lindo vestido de noiva branco e caminhava sorridente e radiante em direção a ele. Mas ele estava de costas, e não queria virar