Leopoldo trabalhava com o Sílvio há muitos anos, e a ligação entre eles era profunda.— O Sílvio se machucou? Está em perigo? — Perguntou Lúcia, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas, que logo caíram, pingando na tigela de comida que ela segurava.Ver Lúcia chorar partia o coração de Leopoldo. Ele ainda nem tinha conseguido responder quando ela continuou:— Leopoldo, se algo aconteceu com o Sílvio, você não pode esconder isso de mim! Somos marido e mulher! Precisamos enfrentar tudo juntos!— Sra. Lúcia, o Sr. Sílvio está bem. Realmente, ele só está ocupado com o trabalho. Está levando mais tempo do que o esperado, mas ele está muito feliz por saber que a sua cirurgia foi um sucesso. — Disse Leopoldo, abaixando os olhos com respeito, tentando esconder a dor que sentia e evitar que as emoções o traíssem. — Por favor, coma. Se a senhora não comer, eu não saberei o que dizer ao Sr. Sílvio.Lúcia confiava em Leopoldo. Ele era o assistente mais próximo de Sílvio. Se Leopoldo dizia que e
A segunda ligação também foi rejeitada. A mágoa de Lúcia foi se acumulando, camada por camada. Ela mordeu o lábio e estava prestes a fazer a terceira chamada quando uma mensagem apareceu na tela.[Lúcia, estou muito ocupado agora. Não posso atender. Leopoldo me contou que sua cirurgia foi um sucesso. Seja boazinha e espere eu voltar.]Ao ler a mensagem, Lúcia sentiu uma pontada de emoção no peito, e as lágrimas começaram a rolar, grandes e pesadas, caindo sobre a tela do celular. Ele pediu para ela esperar por ele, e ela sempre foi tão obediente. Como poderia não fazer o que ele pedisse? Finalmente uma notícia dele! Mesmo que fosse apenas uma mensagem, já era o suficiente. Significava que ele estava bem, que estava a salvo.Com os dedos tremendo, Lúcia começou a digitar, cheia de saudade, e escreveu um monte de coisas.[Sílvio, o Dr. Daulo disse que estou me recuperando muito bem. Já posso andar! Fui muito obediente, como você pediu. E você? Como estão as coisas aí? Ouvi dizer que sua
Aquela mensagem de Sílvio dissipou todas as preocupações de Lúcia. Ela estava radiante.Não era uma mensagem longa, nem dizia nada de extraordinário, mas o jeito como ele se expressava, o tom da mensagem — tudo isso ela leu e releu centenas de vezes. E cada vez que lia, um sorriso surgia em seu rosto.Lúcia só queria que o tempo passasse rápido, que ele resolvesse logo os problemas no exterior e voltasse correndo para ela, para o futuro que os aguardava.O que Lúcia não sabia, naquele momento de pura alegria, era que Sílvio estava deitado na UTI, bem ali no mesmo andar que ela. Apenas uma parede os separava. Uma parede que separava também todos os seus sonhos.A porta do quarto se abriu, e Lúcia viu Basílio entrar, carregando uma sacola de frutas. Ele as colocou na mesa e pegou uma faca para descascar uma maçã.— Sra. Lúcia está com boas notícias? — Perguntou Basílio, sorrindo enquanto a olhava.Lúcia ficou um pouco surpresa. Era tão óbvio assim? Será que ela nem conseguia esconder?Co
Lúcia abriu o celular cheio de expectativa. Seu coração estava na garganta, batendo tão forte que parecia que iria sair do peito. Ela queria ver logo a mensagem, mas ao mesmo tempo tinha medo de que não fosse de Sílvio. Aquela mistura de ansiedade e esperança embaralhava seus pensamentos.Desbloqueou a tela e, de repente, uma mensagem apareceu.[Vídeo e ligação agora não são possíveis. Espere por mim, estou voltando o quanto antes.]Era uma mensagem de Sílvio! Lúcia segurou o celular com força, os olhos se enchendo de lágrimas. Embora ele tivesse recusado a chamada e o vídeo, só de saber que ele estava bem já era o suficiente.Era de se esperar que, depois de receber aquela mensagem tranquilizadora, ela teria uma noite de sono sossegada. No entanto, naquela noite, Lúcia teve um pesadelo terrível. No sonho, ela e Sílvio estavam prestes a se casar. Ela vestia um lindo vestido de noiva branco e caminhava sorridente e radiante em direção a ele. Mas ele estava de costas, e não queria virar
— Nem me fale. Ele é tão bonito, tão jovem, só tem trinta anos. É uma pena.— Como é o nome dele mesmo?— Nossa, você já esqueceu? O nome dele é fácil de lembrar. É Sílvio.Assim que Lúcia ouviu o nome “Sílvio”, seus passos pararam de repente. Ela ficou paralisada, olhando fixamente para as duas enfermeiras. Sem hesitar, perguntou:— Quem vocês acabaram de mencionar?— Ué, você também conhece ele? — Perguntou uma das enfermeiras, sem perceber que tinham dito mais do que deveriam.A voz de Lúcia se tornou mais tensa:— Quem vocês disseram que está à beira da morte? Repitam!— É o paciente da UTI! — Respondeu a outra enfermeira, sem entender a gravidade da situação.— Eu perguntei o nome dele! — Insistiu Lúcia, quase gritando.As enfermeiras, finalmente notando a seriedade, hesitaram por um momento. Até que uma delas, com a voz cautelosa, respondeu:— Ela disse que o nome dele é... Sílvio.Lúcia sentiu como se tivesse sido atingida por um raio. Seu corpo balançou, e ela deu alguns passos
A enfermeira-chefe lançou um olhar severo para as duas jovens enfermeiras. Ao perceber que a situação estava se complicando, temeu que Lúcia acabasse descontrolada. Sem perder tempo, pegou o celular e ligou para Basílio:— Sr. Basílio, a Sra. Lúcia está em um estado muito delicado. O senhor poderia vir imediatamente?Naquele momento, a enfermeira-chefe nem ousava aconselhar ou dizer qualquer coisa a Lúcia. Limitava-se a ficar por perto, observando-a com cautela.Através do vidro da UTI, Lúcia fitava Sílvio, que mal respirava, e soltou um grito desesperado, como se seu coração tivesse sido esmagado por um martelo, despedaçando-se em mil pedaços que jamais poderiam ser reunidos.Ela havia perdido os pais. Agora, só restava Sílvio, que estava do outro lado da parede, naquela mesma sala fria de terapia intensiva. Apenas uma parede os separava. E mesmo assim, ela não percebeu nada. Não sabia de nada.Quando a dor era profunda demais, as lágrimas simplesmente se recusavam a cair. Ou talvez,
— Ele quer que Basílio cuide do Grupo Baptista por mim? — Lúcia perguntou, confusa.— Exatamente. O Sr. Sílvio sabia que esse acidente foi grave, temia... Enfim, ele queria que o Sr. Basílio tomasse conta da senhora. — Leopold explicou, com um ar sério.Ele continuou, quase sem pausa para respirar:— Além disso, a senhora tem resistido ao tratamento, sempre brigando com o Sr. Sílvio por causa da sua doença. Ele se desdobrou para convencer o Dr. Daulo a tratá-la, viajando de um lado para o outro. Antes, o Sr. Sílvio era um workaholic, mas depois que a senhora adoeceu, ele deixou tudo de lado para se dedicar exclusivamente a você.— Por que ele queria me juntar com o Basílio? — Lúcia não conseguia entender o motivo.Leopoldo mordeu os lábios, hesitando em continuar.— Pode falar, eu aguento. — Lúcia insistiu, determinada a descobrir a verdade.— Porque, antes de perder a memória, a senhora estava muito próxima do Sr. Basílio. Você até queria se divorciar do Sr. Sílvio por causa dele.Lúc
Lúcia pegou um táxi até o sopé da Serra Encantada. No topo da montanha havia uma capela, justamente aquela que ela tinha visto na publicação online.Ela decidiu ir até lá após ler os comentários dos internautas, que diziam que, embora o local não fosse muito visitado, bastava uma confissão sincera para que seus pedidos fossem atendidos. Era tudo o que ela podia fazer agora. Sem mais opções, ela agarrou-se à última esperança, pedindo que alguma força divina protegesse Sílvio, mesmo sendo uma ateia convicta que nunca acreditara em nada disso. Mas, naquele momento, ela implorava por um milagre.Pagou a corrida, abriu a porta e saiu do carro. O táxi arrancou em alta velocidade, deixando-a sozinha.Uma rajada gelada atingiu seu rosto, bagunçando seu cabelo, que grudou em suas bochechas pálidas. Ela respirava com dificuldade. Na pressa de sair, esqueceu de vestir um casaco mais quente. Vestia apenas um fino pijama listrado de hospital, frouxo, que pouco a protegia do frio cortante que atrave