Lúcia estava sarcástica ao extremo. A pressão dentro da casa estava muito baixa, tão baixa que Sílvio se sentia sufocado. Aquele sorriso no canto dos lábios dela era especialmente irritante. Sílvio deu uma tragada no cigarro, apagou-o entre os dedos e falou com frieza: - Pare de provocar a Giovana. Caso contrário, não vou ser gentil.Como se tivesse ouvido uma piada colossal, Lúcia riu de raiva, tremendo da cabeça aos pés. Os dedos que seguravam o celular estavam brancos de tanto apertar.- Foi ela quem me provocou!- Uma briga não acontece sozinha. Ainda pensa que você é a herdeira da família Baptista, que todo mundo tem que te tratar com deferência e te agradar?Sílvio puxou a gravata com impaciência, sua voz carregada de irritação. Uma sensação de opressão crescia no peito de Lúcia, como ondas que se avolumavam e se espalhavam por todo o seu corpo. Claramente, era Giovana quem a provocava, mas ele dizia que uma briga não aconteceria sozinha. Seus olhos estavam secos e doíam,
O cinzeiro caiu aos pés de Sílvio, que riu friamente ao ver que, apesar de ter rolado um pouco, não havia se quebrado.- Você virou as costas para sua família inteira só para casar comigo. Agora está me chamando de monstro? E você, é o quê? - Disse ele, com sarcasmo, enquanto descia as escadas com suas longas pernas vestidas em calças pretas.- Sílvio, seu desgraçado! Volta aqui! - Lúcia gritou, visivelmente abalada, correndo atrás dele de chinelos.Sílvio continuou a descer as escadas, até que um grito de dor ecoou pela casa.- Meu pé! - A voz de Lúcia, misturada com lágrimas, parou Sílvio no meio do degrau.- Sílvio, torci o pé! - Ela choramingou, e pela sua voz, dava para perceber que a queda tinha sido séria. Lúcia sempre foi forte, nunca reclamava por pequenos machucados.Os olhos de Sílvio mostraram um relance de preocupação. Ele se virou, pronto para subir as escadas, pegá-la nos braços e chamar um médico.- Eu realmente torci, não consigo levantar. Me ajuda, por favor. - Lúcia
Leopoldo não conseguia entender como o humor do chefe mudava tão rápido.- Eu já disse, vá buscar minha gravata agora. Se não me entregar em meia hora, pode esquecer o emprego amanhã. - Sílvio disse friamente antes de desligar o telefone.Leopoldo não ousou perder tempo e dirigiu rapidamente até a Mansão Baptista. Demorou cerca de dez minutos para chegar lá.Assim que entrou na mansão, ouviu um choro vindo do andar de cima. Seria a Sra. Lúcia chorando?Leopoldo acelerou o passo e subiu as escadas. Ele encontrou Lúcia sentada no degrau, vestindo um suéter e jeans justos. Um dos seus chinelos rosa estava caído perto da entrada.Leopoldo pegou o chinelo e correu até ela: - Sra. Lúcia, o que aconteceu?- Torci o pé e não consigo me levantar. - Lúcia respondeu, surpresa ao ver Leopoldo.Ele colocou o chinelo rosa de volta em seu pé e disse: - Com licença, Sra. Lúcia, vou levá-la para o sofá.Leopoldo a pegou no colo e a carregou até a sala, colocando-a suavemente no sofá. Lúcia tirou
- Senhora, a senhora... Leopoldo olhou profundamente nos olhos dela, querendo dizer algo, mas engoliu as palavras.- Eu sei, você quer que a gente se reconcilie, mas se Sílvio e eu pudéssemos voltar ao que éramos antes, já teríamos feito isso. Se eu escolher uma gravata para você levar, pode acabar sendo pior. - Lúcia deu um sorriso amargo. - Você deveria pedir ajuda à Giovana.Leopoldo queria muito dizer que o Presidente Sílvio e Giovana não eram como ela pensava. Giovana até deu algumas gravatas para Sílvio, mas ele nunca usou nenhuma. O Presidente Sílvio se importava muito mais com o casamento deles do que Lúcia imaginava. Ele fez muitas coisas em segredo, como demitir Olga para defender Lúcia e usar suas conexões para que a polícia de Cidade A protegesse Lúcia em Bairro das Árvores. Ele até investigou secretamente o responsável pelo acidente de carro de Abelardo. Mas Sílvio tinha sido claro: Lúcia nunca deveria saber dessas coisas. Ele queria ser discreto em suas boas ações.
Sílvio não disse nada, apenas ficou olhando fixamente para Leopoldo.- Presidente Sílvio, fui eu que pedi para a Sra. Lúcia comprar uma nova gravata para o senhor. Se tiver que punir alguém, que seja eu... - Disse Leopoldo.- Todo o seu salário e bônus deste mês serão descontados. Não permita que isso se repita. - Sílvio falou friamente.Leopoldo respondeu em voz baixa: - Sim, senhor.- Saia.- Sim, senhor.Após Leopoldo sair, Sílvio abriu novamente a sacola, tirou a gravata com uma expressão impassível e a observou por um longo tempo com um olhar complexo. Depois, jogou a gravata de volta na sacola e massageou as têmporas com cansaço....Marina preparou uma canja de galinha, o prato preferido de Lúcia, que comeu várias tigelas. Marina mencionou que foi Leopoldo quem a chamou para cuidar dela. Leopoldo era o assistente de Sílvio, então, isso significava que foi Sílvio quem deu a ordem? Provavelmente sim, pois Leopoldo não tomava decisões por conta própria. Se fosse em outra época
Lúcia rapidamente respondeu à mensagem, explicando: [Sei que você não precisa desses 500 reais, mas é uma forma de demonstrar minha gratidão. Você mesmo disse que não poderia pegar carona de graça.]Meia hora depois, ele respondeu de forma breve:[Ajudar você faz parte do meu trabalho. Eu faria o mesmo por qualquer outra pessoa.]A tentativa de transferência foi recusada, e o dinheiro voltou para a conta de Lúcia. Ela agradeceu pelo WhatsApp, mas ele não respondeu mais.À noite, Lúcia recebeu uma ligação de Sandra. Sua mãe disse ao telefone:- Filha, venha ao hospital amanhã. Preciso falar com você sobre o estado de saúde do seu pai.- Papai está acordando? - Lúcia perguntou ansiosa, apertando o celular.Sandra suspirou:- Melhor você vir aqui para conversarmos pessoalmente. Pelo telefone é difícil explicar. Estou dando banho no seu pai agora, então preciso desligar.O telefone foi desligado, deixando Lúcia inquieta com a atitude da mãe. Será que seu pai teve uma piora? A situação
Lúcia baixou a cabeça, olhando para os dedos sobre os joelhos. Sua garganta estava apertada, dificultando a respiração. Arrepender-se? Claro que ela se arrependia, mas as pessoas eram assim, só aprendiam quando batiam de frente com a realidade. Lições de vida não eram ensinadas por palavras, mas por experiências duras. Agora, arrependida ou não, já era tarde demais, o que estava feito, estava feito. O que mais ela poderia fazer?Lúcia forçou as lágrimas de volta e levantou os olhos, sorrindo para a mãe:- Mãe, estou realmente bem. O médico disse que em uma semana estarei recuperada.Sandra foi até o armário e o abriu. Tirou sua bolsa, de onde pegou um pequeno amuleto quadrado. Ela entregou a Lúcia:- Isso aqui é um amuleto de proteção que eu e seu pai pedimos a uma famosa benzedeira. Com a correria do acidente do seu pai, acabei esquecendo de te dar. Cuide bem dele e use-o como um enfeite.- Mãe, você ainda acredita nessas coisas?Lúcia olhou para o amuleto na mão, pequeno, mas de
Lúcia sorriu de forma despreocupada, tentando parecer relaxada. Sandra, no entanto, ficou subitamente séria, interrompendo-a:- Que bobagem é essa? Como assim você não vai estar aqui? Filha, não fale coisas desagradáveis.- Mãe, não leve tão a sério. Estou só brincando. A gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã. - Lúcia continuou sorrindo, mas ao ver os cabelos brancos que apareceram na cabeça de Sandra, sentiu uma dor no coração. - Mãe, eu só quero que, aconteça o que acontecer, você e papai vivam bem.- Minha filha, você está escondendo alguma coisa de mim?Sandra estreitou os olhos, examinando a filha na cadeira de rodas. De repente, ela cobriu a boca com a mão, e seus olhos se encheram de lágrimas. Virou o rosto, tentando secar as lágrimas, mas elas continuavam a cair.- O que eu poderia estar escondendo? - Lúcia sorria, mas estava exausta de tanto fingir. Diante da mãe, no entanto, só podia sorrir, para que ela se tranquilizasse.Sandra voltou a olhar para Lúcia, com o rost