Sílvio virou-se, com o rosto contorcido de raiva, e olhou para Lúcia:— Lúcia, você só fala de morte, morte, morte! Não tem mais nada para dizer?— Pensando bem, acho que você não merece nem cuidar do meu corpo. Da próxima vez, nem apareça na minha frente. — Lúcia segurou o corrimão da cama, sentindo o frio metálico que não chegava nem perto da frieza dentro de seu coração.— Eu não mereço cuidar do seu corpo? E quem merece? O Basílio?— Isso não é da sua conta, Sr. Sílvio. — Lúcia sabia como irritá-lo. Sua voz era calma, mas cada palavra atingia Sílvio como uma faca. E ela ainda sorria enquanto falava.Sílvio, furioso, saiu batendo a porta. No corredor, acendeu um cigarro atrás do outro. Não conseguia encontrar alívio, por mais que fumasse.O vice-diretor do hospital se aproximou, franzindo a testa ao vê-lo fumando:— Sr. Sílvio, o senhor anda fumando demais ultimamente. Isso vai acabar com a sua saúde. Sabe, a Sra. Lúcia foi diagnosticada com câncer. Ela já está emocionalmente abalad
O carro atravessou os arbustos e começou a capotar descontroladamente. Ao fim, uma árvore perfurou o vidro da janela do carro, e o sangue começou a escorrer pelos estilhaços, manchando tudo ao redor.Na mente de Dr. Arthur, a imagem que se repetia era o sorriso malicioso de Giovana:— Dirigir o carro que te dei vai ser como se eu estivesse com você o tempo todo. Arthur, quando você voltar, eu caso com você!Aquela víbora! Era esse o plano dela o tempo todo. Ela queria que ele nunca mais voltasse....No quarto do hospital, apesar da limpeza impecável, Lúcia ainda sentia o cheiro de sangue no ar.A náusea tomou conta dela, e ela correu para o banheiro, onde começou a vomitar violentamente.Era irônico. O bebê no ventre dela já era praticamente uma aberração, e ainda assim, ela continuava a ter enjôos matinais.De repente, sentiu um gosto metálico na boca. Quando abriu a boca, uma golfada de sangue manchou a pia de vermelho.Ela ligou a torneira e lavou o sangue, tentando manter a calma.
Giovana já tinha a consciência pesada e, ao ver Arthur ensanguentado parado ao lado da sua cama, seu coração quase parou.Naquele momento, um trovão estrondoso explodiu no céu, seguido por um raio violeta que iluminou o quarto, revelando com clareza o buraco na testa de Arthur.Giovana recuava sem parar, mas suas pernas estavam tão fracas que mal conseguia se mover. Engolia em seco, em pânico:— Não... Não chega perto... Não chega perto...Dr. Arthur agarrou seu cabelo de repente, puxando-a para junto dele, e com uma das mãos apertou seu pescoço, sorrindo com os olhos semicerrados:— Querida... O que você fez de tão errado para estar tão apavorada?— Arthur, você já está morto! Vai para o lugar que te espera! Eu vou cuidar da sua família, prometo! O filho que estou esperando... Logo vai te fazer companhia. Você nunca vai se sentir sozinho! O que você quiser, me diz agora que eu realizo! Eu vou chamar um padre, fazer uma missa pra você, tudo o que precisar! Mas, por favor, para de me as
Arthur continuou batendo a cabeça de Giovana contra a parede, selvagemente. Ela estava tonta, tentando afastá-lo, mas mesmo sem um braço, Arthur era muito mais forte que ela.— Não fui eu... Não fui eu... Eu estava fora de mim... — Giovana balbuciava, tentando se livrar do aperto.— Eu ainda queria me casar com você! Queria dar um lar para nosso filho! Mas Giovana, você não merece nada disso! — Gritou Arthur, jogando-a com força para o lado.Giovana bateu com o abdômen no canto da mesa de cabeceira. Uma dor aguda tomou conta de seu corpo, e ela olhou para baixo, vendo o sangue escorrendo por suas pernas pálidas.— O bebê... O bebê se foi... — Sussurrou ela, em choque.— Se foi, se foi. E você acha que eu ainda vou me casar com você? — Arthur respondeu friamente, sem demonstrar nenhuma compaixão.— Você vai pagar por isso! Eu vou contar tudo para o Sílvio! — Giovana ameaçou, com os dentes cerrados de ódio.Ao ouvir o nome de Sílvio, Arthur agarrou seu pescoço e sorriu de maneira assusta
— Dinheiro não é problema.A mansão estava imersa na escuridão. Sílvio apoiava-se na mesa, com os dedos longos segurando o celular. Sua voz soava rouca.Do outro lado da linha, Ilídio riu suavemente:— Sr. Sílvio, não se trata de dinheiro. Meu pai já passou dos setenta e há muito tempo deixou de se importar com fama ou fortuna. O que ele valoriza agora é o destino, a sorte de cruzar com as pessoas certas.— Sr. Ilídio, soube que você está interessado naquele terreno no sul da cidade? — Sílvio comentou, sua voz carregada de intenções.Ilídio riu mais uma vez:— Haha, Sr. Sílvio, vejo que está muito bem informado sobre nossos negócios. Mas, mesmo que o senhor me concedesse aquele terreno, eu não teria coragem de aceitá-lo. — Ele continuou, ainda com um tom descontraído. — Meu pai já assumiu um novo caso. O paciente deve consultá-lo a qualquer momento. A verdade é que ele está com as mãos cheias, Sr. Sílvio. Acho melhor o senhor procurar outro especialista.Sílvio percebeu que aquilo era
Lúcia sempre amou as cerejeiras brancas, que floresciam em cachos. Nos anos anteriores, nessa época, essas árvores já estariam cobertas de flores. Mas, naquele ano, as flores ainda não haviam desabrochado.Tudo naquele ano parecia fora do lugar, cheio de estranheza e tristeza.Sílvio pensava que, uma vez curada, levaria Lúcia para morar em algum lugar cercado por cerejeiras. Longe de tudo, longe do caos.Ele não queria mais trabalhar dia e noite, nem se afundar em ódio e vingança. Esse sentimento já havia se dispersado há tempos.Agora, Sílvio só desejava viver uma vida tranquila ao lado de Lúcia.— Sr. Sílvio, chegamos. — A voz de Leopoldo o trouxe de volta à realidade.Sílvio levantou os olhos e viu que o carro estava estacionado em frente a uma grande mansão na encosta de uma colina.Ele abriu a porta e desceu.A mansão era imponente, com uma arquitetura típica de castelo europeu. Um vasto gramado verde se estendia à frente, com uma fonte decorativa e magnólias cujos botões estavam
Sílvio era um homem esperto. O mordomo havia deixado as coisas bem claras. Insistir mais seria falta de tato.O mordomo, mantendo sua postura educada e cortês, acompanhou Sílvio e Leopoldo até a saída. Embora fosse extremamente atencioso, não revelou nenhuma informação útil.De volta ao Maserati, Sílvio abaixou o vidro e acendeu um cigarro, tragando fundo. Ele estava irritado, muito irritado. Era a primeira vez que alguém não lhe dava a devida consideração.— Sr. Sílvio, e agora? O que faremos? — Leopoldo perguntou, cauteloso.Sílvio estava prestes a responder quando, de repente, o som de uma notificação interrompeu seus pensamentos. O celular vibrava ao lado.Ao pegar o aparelho e dar uma olhada, Sílvio congelou por um instante. Era Lúcia. Ela estava lhe ligando?Lúcia, que no dia anterior havia dito para ele nunca mais aparecer. Lúcia, que dissera que ele nem era digno de cuidar de seu corpo após a morte. E agora, ela ligava? O que poderia querer?Leopoldo percebeu o choque no sembla
— Sr. Sílvio, o senhor acha que o Dr. Daulo realmente está doente?— Enquanto eu não convencer o Dr. Daulo a tratar Lúcia, não vou a lugar nenhum. — Sílvio murmurou. E precisava ser rápido, porque ele podia esperar, mas Lúcia não.A saúde dela piorava a cada dia. Embora os medicamentos a mantivessem estável, aquilo era apenas uma solução temporária. E, como todos sabem, remédio em excesso é veneno. Continuar assim não era uma solução duradoura.Ele precisava convencer o Dr. Daulo a tratá-la.Às cinco da tarde, Leopoldo exclamou:— Sr. Sílvio, olhe! O Dr. Daulo saiu! Ele não parece nada doente. E aquele homem que ele está acompanhando... Ele me parece familiar!Ao ouvir isso, Sílvio ergueu os olhos. Lá estava Daulo, junto com o mordomo, despedindo-se de um homem alto, vestindo um moletom verde militar e um boné de beisebol. Seu estilo era casual. Ao lado dele, uma moto preta estava estacionada.Sílvio reconheceu o homem de costas imediatamente:— Basílio?— Não pode ser. Basílio é só um