Às quatro da manhã, em uma fábrica abandonada próxima a Serra Encantada, o ambiente era sombrio, iluminado apenas por uma lâmpada pendurada que mal funcionava.Dr. Arthur estava no chão, sendo espancado por um grupo de seguranças. Eles o chutavam como se fosse um saco de pancadas, e cada golpe fazia seu corpo doer mais. Seus dentes estavam misturados com o sangue que escorria pela boca.Sílvio, sentado em uma cadeira, fumava tranquilamente. Seus olhos, frios como gelo, observavam a cena com indiferença.Leopoldo, um de seus homens de confiança, pisou com força sobre a mão de Dr. Arthur, torcendo-a sem piedade.— Dr. Arthur, vai continuar mentindo? A paciência do Sr. Sílvio tem limites!— Eu... Eu não sei o que você quer que eu diga! Ah! Eu juro, não sabia que a Sra. Lúcia estava com câncer de fígado em estágio avançado. Se eu soubesse, jamais teria mentido! O Sr. Sílvio sempre foi bom comigo... Sem ele, eu não estaria onde estou hoje. Como eu poderia esconder uma coisa dessas? — Dr. Ar
— Eu não tenho nada contra a Sra. Lúcia. Não tenho motivos para fazer mal a ela! Sr. Sílvio, eu prometo que vou resolver isso. Pode me bater, pode me xingar, eu aceito. Só não quero que o senhor se prejudique por causa do meu erro.Sílvio estreitou os olhos, avaliando se o que ele dizia era verdade ou não.— Então? Antes não queria falar, e agora decidiu abrir a boca? — Ironizou Leopoldo.Dr. Arthur tremia de medo.— Eu estava com medo de deixar o Sr. Sílvio ainda mais furioso. Por favor, senhor, eu imploro. Me dê uma chance de consertar as coisas.Sílvio o olhou com desprezo.— Eu vou investigar o que você disse. E você sabe o que acontece se estiver mentindo.— Obrigado pela confiança, Sr. Sílvio. Obrigado por poupar minha vida. — Dr. Arthur suspirou aliviado, batendo a cabeça no chão em sinal de gratidão.Sílvio respondeu com frieza:— Você não me deve desculpas.— Eu vou pedir perdão pessoalmente à Sra. Lúcia! Estou disposto a me humilhar diante dela. A Sra. Lúcia é uma pessoa boa,
Lúcia apertou os lábios, desviando o olhar dele. Com uma voz fria e distante, disse:— Tem alguma coisa pra falar?Sílvio sentiu como se uma muralha tivesse se erguido em seu peito. Se fosse antes, quando Lúcia tinha algum mal-entendido com ele, ela correria para se desculpar, preocupada se ele estava machucado.A Lúcia de antigamente jamais o atacaria sem ouvir sua explicação, muito menos o olharia com tanta frieza e desprezo.Engolindo o nó na garganta, Sílvio olhou para trás e gritou:— E você aí, parado por quê?— Vai logo pedir perdão pra Sra. Lúcia! — Leopoldo deu um empurrão violento, e Dr. Arthur tropeçou desajeitadamente e caiu aos pés de Lúcia, coberto de sangue. Ao bater a cabeça no chão, fez uma reverência forçada, como se estivesse implorando por misericórdia.Lúcia olhou para ele sem nenhuma emoção.Dr. Arthur, parecendo um peixe fora de água lutando para respirar, demorou alguns instantes para levantar a cabeça. Sua testa estava ensanguentada, e o braço pendia inutilment
Dr. Arthur continuava a bater a cabeça no chão, o som surdo ecoando pelo quarto. O cheiro metálico do sangue invadia o ar, e Lúcia sentiu uma náusea profunda.Para ela, tudo aquilo não passava de mais um teatro armado por Sílvio. E o pior é que ela sabia, mas não tinha mais forças para desmascarar. Estava exausta.— Chega. Se já terminaram de falar, podem sair. Estou cansada, quero descansar. — Disse Lúcia, com uma voz fria e cansada.Leopoldo olhou para Dr. Arthur e fez sinal para ele sair. Murmurando agradecimentos, Dr. Arthur se levantou e saiu mancando do quarto, ainda coberto de sangue.Leopoldo o seguiu logo em seguida, e a porta do quarto se fechou.Quando se virou, Lúcia viu Sílvio ainda parado ali, a dois metros de distância, com uma expressão sombria.— Sr. Sílvio, os atores já foram embora. E o diretor, não vai? Ou você tem uma segunda parte da peça para encenar? Mas, olha, mesmo que tenha, eu não quero assistir. — Disse Lúcia, com um sorriso irônico nos lábios.Aquela provo
Sílvio virou-se, com o rosto contorcido de raiva, e olhou para Lúcia:— Lúcia, você só fala de morte, morte, morte! Não tem mais nada para dizer?— Pensando bem, acho que você não merece nem cuidar do meu corpo. Da próxima vez, nem apareça na minha frente. — Lúcia segurou o corrimão da cama, sentindo o frio metálico que não chegava nem perto da frieza dentro de seu coração.— Eu não mereço cuidar do seu corpo? E quem merece? O Basílio?— Isso não é da sua conta, Sr. Sílvio. — Lúcia sabia como irritá-lo. Sua voz era calma, mas cada palavra atingia Sílvio como uma faca. E ela ainda sorria enquanto falava.Sílvio, furioso, saiu batendo a porta. No corredor, acendeu um cigarro atrás do outro. Não conseguia encontrar alívio, por mais que fumasse.O vice-diretor do hospital se aproximou, franzindo a testa ao vê-lo fumando:— Sr. Sílvio, o senhor anda fumando demais ultimamente. Isso vai acabar com a sua saúde. Sabe, a Sra. Lúcia foi diagnosticada com câncer. Ela já está emocionalmente abalad
O carro atravessou os arbustos e começou a capotar descontroladamente. Ao fim, uma árvore perfurou o vidro da janela do carro, e o sangue começou a escorrer pelos estilhaços, manchando tudo ao redor.Na mente de Dr. Arthur, a imagem que se repetia era o sorriso malicioso de Giovana:— Dirigir o carro que te dei vai ser como se eu estivesse com você o tempo todo. Arthur, quando você voltar, eu caso com você!Aquela víbora! Era esse o plano dela o tempo todo. Ela queria que ele nunca mais voltasse....No quarto do hospital, apesar da limpeza impecável, Lúcia ainda sentia o cheiro de sangue no ar.A náusea tomou conta dela, e ela correu para o banheiro, onde começou a vomitar violentamente.Era irônico. O bebê no ventre dela já era praticamente uma aberração, e ainda assim, ela continuava a ter enjôos matinais.De repente, sentiu um gosto metálico na boca. Quando abriu a boca, uma golfada de sangue manchou a pia de vermelho.Ela ligou a torneira e lavou o sangue, tentando manter a calma.
Giovana já tinha a consciência pesada e, ao ver Arthur ensanguentado parado ao lado da sua cama, seu coração quase parou.Naquele momento, um trovão estrondoso explodiu no céu, seguido por um raio violeta que iluminou o quarto, revelando com clareza o buraco na testa de Arthur.Giovana recuava sem parar, mas suas pernas estavam tão fracas que mal conseguia se mover. Engolia em seco, em pânico:— Não... Não chega perto... Não chega perto...Dr. Arthur agarrou seu cabelo de repente, puxando-a para junto dele, e com uma das mãos apertou seu pescoço, sorrindo com os olhos semicerrados:— Querida... O que você fez de tão errado para estar tão apavorada?— Arthur, você já está morto! Vai para o lugar que te espera! Eu vou cuidar da sua família, prometo! O filho que estou esperando... Logo vai te fazer companhia. Você nunca vai se sentir sozinho! O que você quiser, me diz agora que eu realizo! Eu vou chamar um padre, fazer uma missa pra você, tudo o que precisar! Mas, por favor, para de me as
Arthur continuou batendo a cabeça de Giovana contra a parede, selvagemente. Ela estava tonta, tentando afastá-lo, mas mesmo sem um braço, Arthur era muito mais forte que ela.— Não fui eu... Não fui eu... Eu estava fora de mim... — Giovana balbuciava, tentando se livrar do aperto.— Eu ainda queria me casar com você! Queria dar um lar para nosso filho! Mas Giovana, você não merece nada disso! — Gritou Arthur, jogando-a com força para o lado.Giovana bateu com o abdômen no canto da mesa de cabeceira. Uma dor aguda tomou conta de seu corpo, e ela olhou para baixo, vendo o sangue escorrendo por suas pernas pálidas.— O bebê... O bebê se foi... — Sussurrou ela, em choque.— Se foi, se foi. E você acha que eu ainda vou me casar com você? — Arthur respondeu friamente, sem demonstrar nenhuma compaixão.— Você vai pagar por isso! Eu vou contar tudo para o Sílvio! — Giovana ameaçou, com os dentes cerrados de ódio.Ao ouvir o nome de Sílvio, Arthur agarrou seu pescoço e sorriu de maneira assusta