Sílvio achou que tinha ouvido errado. Tentou escutar novamente, mas o que saía dos lábios de Lúcia era sempre o mesmo: “Pequeno mudo, corra!”Ele, que estava inclinado, lentamente se endireitou. Seus olhos, aos poucos, ficaram vermelhos de raiva, misturados com uma tempestade de emoções que ele não conseguia descrever. Lúcia estava ali, hospitalizada, com câncer, e ainda assim, pensava naquele “pequeno mudo”?Sílvio realmente queria entender. Das palavras que saíam da boca de Lúcia, quais eram verdadeiras? Ou será que tudo que ela dizia era uma mentira bem elaborada?Ela já havia explicado a ele, uma vez, que o “pequeno mudo” era apenas um garoto que ela, por bondade, havia ajudado financeiramente. Disse que só o tinha visto uma vez na vida e que já nem se lembrava da aparência dele. Garantiu que não havia nada entre eles. Nada inadequado.Mas agora, alguém que ela só havia encontrado uma vez, estava na mente dela... A ponto de ser chamado até em seus sonhos! Como isso era possível?El
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co
Lúcia ouviu um zumbido nos ouvidos e sua visão ficou turva por um momento. Antes que pudesse reagir, sentiu suor frio na testa.Sandra, ainda furiosa, deu mais um tapa na filha.Lúcia quase caiu, mas uma enfermeira bondosa a segurou.Com a visão gradualmente recuperada, ela viu a mãe, furiosa, olhando para ela e gritando:- Sua ingrata! Eu te avisei para não fazer isso, mas você insistiu! Eu sempre disse que Sílvio não era bom para você, que ele tinha segundas intenções! Eu escolhi para você um bom partido, alguém do nosso nível, mas você preferiu um órfão, um segurança! E agora? Como ele te trata? Como ele nos trata? A família Baptista, que sempre foi tão respeitada, está arruinada por sua causa, tudo por sua culpa!Sandra, com o rosto vermelho de raiva, levantou a mão para bater de novo, mas foi contida pelos profissionais de saúde.Lúcia, com o rosto dolorido, tentou falar, mas não conseguiu emitir uma palavra. Tudo o que podia fazer era chorar de arrependimento.Na maca, o pai come
A enfermeira falava com um tom de ironia e desdém:- Se você não pretende fazer a cirurgia do seu pai, então leve-o daqui. Deixá-lo no hospital à toa é um desperdício de recursos públicos.Essa mesma enfermeira que, havia apenas quatro horas, tinha um sorriso largo no rosto enquanto recebia o pagamento, agora mostrava seu lado indiferente. A hipocrisia das pessoas era impressionante.No entanto, ela não tinha tempo para culpar ninguém. Sabia que ninguém ajudaria um estranho sem esperar algo em troca. Para evitar que sua mãe passasse por constrangimentos, ela mentiu com tranquilidade: - O dinheiro estará na conta antes da noite.- É mesmo? - A enfermeira parecia surpresa e esperançosa.- Espere até o dinheiro estar na conta. - Disse Lúcia.Desligando o telefone, ela ligou para Sílvio, pedindo que ele voltasse para casa para discutirem o divórcio. A única carta que ainda tinha na manga era negociar os termos do divórcio com Sílvio. O fato de cinco milhões de reais ser a última gota d
- Sra. Lúcia, é assim que você pede ajuda? - Ele desligou o computador com frieza e se levantou para sair. - Agora não quero mais me divorciar. Por favor, vá embora.Lúcia agarrou o pulso dele, sua voz finalmente suavizando: - Sílvio, eu realmente não tenho outra opção.Ela não chorou, apenas mordeu o lábio, implorando: - Eu aceito o divórcio, não vou mais te incomodar, por favor, me ajude…Foi a primeira vez que Lúcia se mostrou tão vulnerável diante dele.Mesmo assim, ele afastou a mão dela: - Mas eu quero mais do que ninguém que ele morra.- Sílvio, você está enganado sobre ele, ele é seu sogro. Ou então, diga suas condições, o que você quer para me ajudar?Sua voz, antes firme, agora tremia levemente.Ele não olhou para trás, carregando o paletó claro no braço.Ao ouvir o som, Sílvio se virou.Lúcia, a orgulhosa filha de Abelardo, a quem ele sempre tratou como uma princesa, agora estava ajoelhada diante dele.Seus olhos mostravam surpresa. Nem quando ele estava com Giovana, nem