Após a saída de Leopoldo, Lúcia ficou indecisa por muito tempo. Ela realmente não sabia se deveria ir ver Sílvio.Será que ele realmente queria vê-la? Ou talvez, ao vê-la, ele ficaria ainda mais mal-humorado? Mas a verdade é que, naquele dia, ele havia salvado a vida dela e de seus pais.De repente, o som de uma notificação quebrou o silêncio. O celular vibrava. Ela o pegou e viu uma mensagem de Leopoldo:[Sra. Lúcia, o Presidente Sílvio acordou no hospital. Acho que seria bom se a senhora fosse vê-lo. Não fique com raiva, o Natal já está chegando. Não deixe que pequenas desavenças estraguem o relacionamento de vocês.]Leopoldo percebeu que Sílvio estava um pouco abatido por não ter visto Lúcia, então, por conta própria, decidiu entrar em contato com ela.Lúcia apertou o celular entre os dedos:[Está bem. Vou preparar algo para ele comer e levarei pessoalmente.]Ela não queria ficar devendo favores, especialmente a Sílvio.Foi ao supermercado comprar os ingredientes e preparou com suas
Lúcia pegou o elevador e subiu até o prédio de internação do hospital.Esse hospital era particular, de propriedade de Sílvio, e o andar onde ele estava internado era exclusivo, com apenas dois pacientes, ambos em suítes VIP.Sem saber qual era o número do quarto de Sílvio, Lúcia perguntou à equipe de enfermagem e, após obter a informação, dirigiu-se ao quarto indicado.Ela bateu na porta, mas ninguém respondeu. Decidiu então abrir a porta por conta própria.O quarto estava vazio, Sílvio não estava lá.Para onde ele foi?Com a marmita nas mãos, caminhou pelo corredor, enquanto a luz branca refletia em seu rosto, deixando-a ainda mais pálida, quase com uma beleza frágil e doentia.Lúcia pegou o celular e, ao abrir a lista de contatos, seus olhos pousaram sobre o nome de Sílvio. Será que ele atenderia o telefone? Hoje mesmo eles tinham se desentendido, e ele havia dito, com desgosto, que nem se ela estivesse nua ele se interessaria por ela.Depois de muito hesitar, ela decidiu ligar para
Sílvio não fazia ideia de que Lúcia tinha estado ali, pois estava de costas para a porta do quarto.Ele também não esperava que Giovana fosse tão ousada a ponto de beijá-lo de surpresa. Em menos de meio segundo, a expressão de Sílvio mudou para algo sombrio, e ele a empurrou com força, franzindo as sobrancelhas:— Esqueceu o que eu te avisei antes?Ele parecia realmente furioso. A força com que empurrou Giovana foi tão grande que ela bateu contra a barra da cama.Giovana, vendo todo o esforço que fez para conquistar Sílvio ser inútil diante da insistência dele em não deixar Lúcia, sentiu as lágrimas escorrerem de pura raiva.Sem contar aquele velho Abelardo, que havia escapado de suas armadilhas duas vezes! Como ele teve tanta sorte?Apesar de tudo, seu rosto parecia inocente, e as lágrimas continuavam a rolar enquanto ela dizia com tristeza:— Eu sei, você já me disse que só quer ser meu amigo, que nunca vai se casar comigo. Eu não estou com amnésia, sei muito bem disso, Sílvio. O err
— Não se preocupe. — Sílvio respondeu, sem pensar muito.Dr. Arthur, no entanto, o alertou novamente:— Presidente Sílvio, embora não tenha sido nada grave desta vez, seus ferimentos ainda exigem cuidados. É importante que se recupere bem.Os olhos de Dr. Arthur estavam fixos nas bandagens enroladas na testa de Sílvio.Sílvio assentiu e, em seguida, partiu de carro.Dr. Arthur voltou para a frente do quarto de Giovana, dispensou as enfermeiras que estavam no posto e fechou a porta do quarto. Ele também puxou as cortinas, deixando o ambiente mais isolado, e se aproximou de Giovana. Sua mão subiu pela camisa frouxa do pijama hospitalar da mulher, deslizando sem escrúpulos.Giovana abriu os olhos num sobressalto:— O que você está fazendo?— Querida, você deu a sorte da sua vida. Não conseguiu matar Abelardo, mas acabou se tornando a salvadora de Sílvio. Sua encenação de depressão foi ótima, embora um pouco exagerada. Você realmente tem coragem de ferir a si mesma. — Dr. Arthur disse, en
Ridículo. Ele ainda tinha a ilusão de que ela poderia ter ligado e ele simplesmente não viu a ligação.Se alguém tinha um coração frio, esse alguém era Lúcia.A velocidade do carro de Sílvio aumentava perigosamente enquanto ele voltava para o apartamento.De repente, ele avistou Lúcia caminhando pela rua. Ela parecia estar em um estado de espírito muito ruim. Como ela estava segurando a marmita com a mão direita, ele não percebeu o que ela carregava.Por dentro, Sílvio zombava. Ele, o marido, estava no hospital por salvar a vida dela e de sua família, e lá estava ela, perdida em devaneios.Ela não se importava com ele. Por que ele deveria se importar com ela? Que congelasse, então.Sílvio acelerou ainda mais, temendo que, se diminuísse a velocidade, acabaria cedendo e voltaria para pegá-la.Lúcia, por sua vez, estava completamente imersa na cena que acabara de testemunhar. As palavras de Giovana ecoavam em sua mente:“Sílvio, quando vai cumprir sua promessa de casar comigo? Vai? Quero
As lágrimas rodavam nos olhos de Lúcia, até que finalmente caíram sobre a comida no prato.Ela enxugou os olhos e, com determinação, terminou de comer todo o bacalhau com creme que estava no prato.Quando ela estava dando a última garfada, Sandra apareceu, com um casaco jogado sobre os ombros. Ao ver os olhos vermelhos da filha, logo entendeu o que estava acontecendo:— Você levou o jantar para ele, e ele nem agradeceu, né?— Mãe, por que ainda está acordada tão tarde? — Lúcia piscou rapidamente e, com o prato nas mãos, foi até a cozinha para lavá-lo.Sandra, com o coração apertado, tomou o prato das mãos da filha:— Deixa que eu lavo. Eu e seu pai estávamos preocupados com você. Você não voltava, como a gente podia ficar tranquilo? Esse Sílvio... Ele não presta. Você foi com tanto carinho levar o jantar para ele, e olha como ele te trata? E com esse frio todo, por que não pegou um táxi? Você sempre foi sensível ao frio, e se pegar uma gripe?Lúcia observava sua mãe lavando o prato com
Lúcia abraçou Sandra com toda a força, agarrando a roupa da mãe enquanto as lágrimas caíam como uma enxurrada, sem nenhum controle.— Minha filha, o que foi? — Sandra, percebendo algo errado, afastou Lúcia um pouco e segurou seus ombros, olhando-a com preocupação. — Para de chorar, o que aconteceu?— Mãe... — Lúcia começou a chorar ainda mais alto.Sandra tentou enxugar suas lágrimas:— Aconteceu alguma coisa? Foi o desgraçado do Sílvio que te fez mal de novo? Me conta, filha.Mas contar à mãe, adiantaria o quê?Sua mãe já estava envelhecida, sofrendo com tudo que a filha passava. Se soubesse que Lúcia tinha pouco tempo de vida, com certeza desmaiaria de tristeza.Lúcia não podia ser tão egoísta. Como poderia compartilhar com a família o peso terrível de seu diagnóstico de câncer?Durante mais de vinte anos, seus pais a trataram como uma joia preciosa, protegendo-a com todo o amor do mundo. Ela nunca havia contribuído com nada para essa pequena família.Lúcia soluçava enquanto Sandra e
— Abelardo, você acha que a gente errou com a Lúcia? Mimamos ela demais, e agora estamos pagando o preço. Se naquela época tivéssemos sido mais firmes e insistido para ela casar com um homem que aprovássemos, nada disso teria acontecido. Esses homens que vêm de famílias pobres... Acabam se tornando ingratos e perturbados. — As lágrimas que Sandra tentava segurar escorreram novamente.Abelardo, com dificuldade, limpou as lágrimas da esposa, emitindo sons abafados enquanto tentava falar.Sandra assentiu:— Eu sei, você quer que eu não fique triste. Mas é difícil não me sentir assim vendo nossa filha sofrer tanto e eu sem poder fazer nada. Me sinto tão inútil.A expressão de Abelardo ficou ainda mais sombria. Ele também se sentia um inútil. Não conseguia proteger sua filha querida e nem tinha palavras de conforto para oferecer.Por dentro, Abelardo estava sufocado, angustiado. Como Sandra disse, talvez eles realmente tivessem errado ao mimar Lúcia tanto. Agora, só podiam lamentar, mas já