Lúcia abraçou Sandra com toda a força, agarrando a roupa da mãe enquanto as lágrimas caíam como uma enxurrada, sem nenhum controle.— Minha filha, o que foi? — Sandra, percebendo algo errado, afastou Lúcia um pouco e segurou seus ombros, olhando-a com preocupação. — Para de chorar, o que aconteceu?— Mãe... — Lúcia começou a chorar ainda mais alto.Sandra tentou enxugar suas lágrimas:— Aconteceu alguma coisa? Foi o desgraçado do Sílvio que te fez mal de novo? Me conta, filha.Mas contar à mãe, adiantaria o quê?Sua mãe já estava envelhecida, sofrendo com tudo que a filha passava. Se soubesse que Lúcia tinha pouco tempo de vida, com certeza desmaiaria de tristeza.Lúcia não podia ser tão egoísta. Como poderia compartilhar com a família o peso terrível de seu diagnóstico de câncer?Durante mais de vinte anos, seus pais a trataram como uma joia preciosa, protegendo-a com todo o amor do mundo. Ela nunca havia contribuído com nada para essa pequena família.Lúcia soluçava enquanto Sandra e
— Abelardo, você acha que a gente errou com a Lúcia? Mimamos ela demais, e agora estamos pagando o preço. Se naquela época tivéssemos sido mais firmes e insistido para ela casar com um homem que aprovássemos, nada disso teria acontecido. Esses homens que vêm de famílias pobres... Acabam se tornando ingratos e perturbados. — As lágrimas que Sandra tentava segurar escorreram novamente.Abelardo, com dificuldade, limpou as lágrimas da esposa, emitindo sons abafados enquanto tentava falar.Sandra assentiu:— Eu sei, você quer que eu não fique triste. Mas é difícil não me sentir assim vendo nossa filha sofrer tanto e eu sem poder fazer nada. Me sinto tão inútil.A expressão de Abelardo ficou ainda mais sombria. Ele também se sentia um inútil. Não conseguia proteger sua filha querida e nem tinha palavras de conforto para oferecer.Por dentro, Abelardo estava sufocado, angustiado. Como Sandra disse, talvez eles realmente tivessem errado ao mimar Lúcia tanto. Agora, só podiam lamentar, mas já
Lúcia segurou o telefone com os dedos trêmulos, e logo a ligação foi atendida. A voz respeitosa de Leopoldo ecoou do outro lado:— Sra. Lúcia, a senhora me ligou? Desculpe, eu estava ocupado com umas coisas quando recebi sua chamada.— Sim. — Murmurou Lúcia.Leopoldo insistiu:— Senhora, aconteceu alguma coisa? A senhora precisava falar comigo sobre algo?Ela havia ligado para Leopoldo enquanto ia ao hospital levar o jantar para Sílvio. Naquele momento, ela descobriu que ele não estava no quarto, por isso fez a ligação.Como ele não atendeu na hora, Lúcia acabou vendo Sílvio no quarto de Giovana, testemunhando Giovana pedindo a Sílvio o status de esposa e, em seguida, o beijo que ela mesma tomou a iniciativa de dar...Lúcia tentou a todo custo não pensar mais naquela cena dolorosa, mas, com o comentário de Leopoldo, tudo voltou à sua mente como um soco no estômago. Era como se uma mão invisível apertasse seu coração com força, provocando uma dor insuportável.— Sra. Lúcia, a senhora ai
Lúcia mordia os lábios, seus ombros tremiam enquanto ela se esforçava para não deixar o choro escapar. Tinha medo de que seus pais ouvissem e ficassem preocupados.Uma pessoa triste já era o suficiente, não havia necessidade de arrastar os outros para o sofrimento.De repente, sentiu uma dor aguda no fígado, como se inúmeras serpentes venenosas o estivessem dilacerando.O gosto de sangue já chegava à sua garganta, mas ela engoliu de volta, segurando-se.Com muito esforço, rastejou até onde guardava o remédio para dor, sentindo dores por todo o corpo, tão intensas que sequer conseguia se levantar.Naquele momento, se seu marido estivesse ao seu lado, como isso seria bom.Mas não havia "se". Mesmo que ele estivesse, tudo o que faria seria observar com frieza e zombar dela.Ele sabia muito bem que ela estava doente.Lúcia caiu da cama, batendo a testa e ficando tonta com o impacto.Ela conseguiu pegar a bolsa e, com os dedos tremendo descontroladamente, abriu o frasco de remédios. Desespe
— Sílvio, não dá pra deixar pra amanhã? — Lúcia perguntou, imaginando que ele viera para brigar.Sempre que ele a procurava, parecia ser só para isso. Não tinha atendido as ligações dele, nem respondido às mensagens. Ele devia estar ali para cobrar satisfações.Só de pensar nisso, Lúcia sentia um cansaço enorme. Como a vida podia ser tão exaustiva? A primavera já devia ter chegado, mas a neve continuava a cair, e cair forte, a ponto de embaçar sua visão. Ela olhava para longe, mas não conseguia enxergar nada com clareza.O Natal estava logo ali. Por que as coisas não podiam ser mais leves, mais felizes?Lúcia suspirou, exausta:— Estou muito cansada hoje. Podemos conversar amanhã?O tom dela só fez o rosto de Sílvio ficar ainda mais sombrio.Afinal, ele tinha salvado a vida dela e de sua família naquele dia. Se ele não tivesse jogado o carro para cima, a van desgovernada teria atingido o carro em que Lúcia estava.Agora, ele estava ali, com a testa enfaixada, tendo saído às pressas do
Lúcia mal teve tempo de reagir antes de ser erguida nos braços de Sílvio, que, com o semblante frio, caminhava em direção à casa.— Sílvio, o que você tá fazendo? — Lúcia se desesperou de imediato.A tempestade de neve lá fora só piorava, o vento açoitando as abas do casaco de Sílvio e sua echarpe cinza, enquanto os longos cabelos negros de Lúcia se grudavam no rosto dele, que continuava impenetrável, sem revelar nenhuma emoção.— Vou te levar lá pra cima. — Sílvio disse, com a mesma frieza.Ao ouvir isso, Lúcia entrou em pânico. Seus pais tinham acabado de dormir. O que Sílvio estava fazendo ali? Seu pai ainda era inimigo declarado dele. E se algo desse errado?— Não precisa! O que você tiver pra dizer, pode dizer aqui mesmo. — Lúcia começou a se debater, tentando escapar dos braços dele.Mas Sílvio, como se já esperasse essa reação, a apertou ainda mais forte, imobilizando-a por completo.Quando ele finalmente subiu as escadas, Lúcia já estava à beira das lágrimas.Sílvio a carregou
Mas Lúcia... Não dava para saber se ela era realmente ingênua ou se fingia ser. As coisas que saíam da boca dela eram, sem dúvida, as mais irritantes possíveis!— Vai atrás da Giovana. Ou eu posso ligar pra ela, se você quiser, e pedir que venha te buscar. — Lúcia ficou um tempo encarando Sílvio, antes de falar, com um tom distante.Ela achava que não tinha dito nada de errado, afinal, tinha visto com seus próprios olhos os dois se abraçando e se beijando no hospital, sem a menor cerimônia.Sílvio não precisava mais dela, precisava de Giovana, certo?Assim que terminou de falar, sentiu o queixo ser agarrado com força pela mão enluvada de Sílvio. Ele apertava com tanta intensidade que ela não conseguia se soltar. O olhar dele parecia perfurá-la, cheio de raiva, como se pudesse enxergar cada um dos seus pensamentos. A fúria irradiava de cada poro daquele rosto lindo.Ela realmente não entendia por que ele estava tão bravo. O que ela tinha dito de tão errado? A raiva dele parecia explodir
Assim que Lúcia terminou de falar, os lábios de Sílvio se colaram aos dela. Foi um beijo dominador, avassalador, impossível de resistir.Na mesma hora, Lúcia se lembrou de Giovana beijando aqueles mesmos lábios mais cedo naquele dia.Que nojo! Algo que outra pessoa já tinha tocado, ela não queria.Sílvio realmente tinha ido longe demais. Para torturá-la, ele estava usando os mesmos lábios que Giovana havia beijado.Era para humilhá-la? Ele achava que ela era uma idiota, que não sabia de nada?Sentindo-se ultrajada, Lúcia reagiu imediatamente, empurrando com força o peito sólido dele:— Mmm! — Tentou protestar.Sílvio já estava irritado com o fato de ela não ter ido ao hospital, de não ter se preocupado com ele. E agora, quando ele a beijava, ela reagia daquela forma.Com um movimento brusco, Sílvio agarrou seus pulsos, prendendo-os firmemente atrás das costas dela, enquanto a beijava com ainda mais intensidade. Lúcia, impotente, foi forçada a se deitar na cama.Ela não queria os beijos