Sílvio não fazia ideia de que Lúcia tinha estado ali, pois estava de costas para a porta do quarto.Ele também não esperava que Giovana fosse tão ousada a ponto de beijá-lo de surpresa. Em menos de meio segundo, a expressão de Sílvio mudou para algo sombrio, e ele a empurrou com força, franzindo as sobrancelhas:— Esqueceu o que eu te avisei antes?Ele parecia realmente furioso. A força com que empurrou Giovana foi tão grande que ela bateu contra a barra da cama.Giovana, vendo todo o esforço que fez para conquistar Sílvio ser inútil diante da insistência dele em não deixar Lúcia, sentiu as lágrimas escorrerem de pura raiva.Sem contar aquele velho Abelardo, que havia escapado de suas armadilhas duas vezes! Como ele teve tanta sorte?Apesar de tudo, seu rosto parecia inocente, e as lágrimas continuavam a rolar enquanto ela dizia com tristeza:— Eu sei, você já me disse que só quer ser meu amigo, que nunca vai se casar comigo. Eu não estou com amnésia, sei muito bem disso, Sílvio. O err
— Não se preocupe. — Sílvio respondeu, sem pensar muito.Dr. Arthur, no entanto, o alertou novamente:— Presidente Sílvio, embora não tenha sido nada grave desta vez, seus ferimentos ainda exigem cuidados. É importante que se recupere bem.Os olhos de Dr. Arthur estavam fixos nas bandagens enroladas na testa de Sílvio.Sílvio assentiu e, em seguida, partiu de carro.Dr. Arthur voltou para a frente do quarto de Giovana, dispensou as enfermeiras que estavam no posto e fechou a porta do quarto. Ele também puxou as cortinas, deixando o ambiente mais isolado, e se aproximou de Giovana. Sua mão subiu pela camisa frouxa do pijama hospitalar da mulher, deslizando sem escrúpulos.Giovana abriu os olhos num sobressalto:— O que você está fazendo?— Querida, você deu a sorte da sua vida. Não conseguiu matar Abelardo, mas acabou se tornando a salvadora de Sílvio. Sua encenação de depressão foi ótima, embora um pouco exagerada. Você realmente tem coragem de ferir a si mesma. — Dr. Arthur disse, en
Ridículo. Ele ainda tinha a ilusão de que ela poderia ter ligado e ele simplesmente não viu a ligação.Se alguém tinha um coração frio, esse alguém era Lúcia.A velocidade do carro de Sílvio aumentava perigosamente enquanto ele voltava para o apartamento.De repente, ele avistou Lúcia caminhando pela rua. Ela parecia estar em um estado de espírito muito ruim. Como ela estava segurando a marmita com a mão direita, ele não percebeu o que ela carregava.Por dentro, Sílvio zombava. Ele, o marido, estava no hospital por salvar a vida dela e de sua família, e lá estava ela, perdida em devaneios.Ela não se importava com ele. Por que ele deveria se importar com ela? Que congelasse, então.Sílvio acelerou ainda mais, temendo que, se diminuísse a velocidade, acabaria cedendo e voltaria para pegá-la.Lúcia, por sua vez, estava completamente imersa na cena que acabara de testemunhar. As palavras de Giovana ecoavam em sua mente:“Sílvio, quando vai cumprir sua promessa de casar comigo? Vai? Quero
As lágrimas rodavam nos olhos de Lúcia, até que finalmente caíram sobre a comida no prato.Ela enxugou os olhos e, com determinação, terminou de comer todo o bacalhau com creme que estava no prato.Quando ela estava dando a última garfada, Sandra apareceu, com um casaco jogado sobre os ombros. Ao ver os olhos vermelhos da filha, logo entendeu o que estava acontecendo:— Você levou o jantar para ele, e ele nem agradeceu, né?— Mãe, por que ainda está acordada tão tarde? — Lúcia piscou rapidamente e, com o prato nas mãos, foi até a cozinha para lavá-lo.Sandra, com o coração apertado, tomou o prato das mãos da filha:— Deixa que eu lavo. Eu e seu pai estávamos preocupados com você. Você não voltava, como a gente podia ficar tranquilo? Esse Sílvio... Ele não presta. Você foi com tanto carinho levar o jantar para ele, e olha como ele te trata? E com esse frio todo, por que não pegou um táxi? Você sempre foi sensível ao frio, e se pegar uma gripe?Lúcia observava sua mãe lavando o prato com
Lúcia abraçou Sandra com toda a força, agarrando a roupa da mãe enquanto as lágrimas caíam como uma enxurrada, sem nenhum controle.— Minha filha, o que foi? — Sandra, percebendo algo errado, afastou Lúcia um pouco e segurou seus ombros, olhando-a com preocupação. — Para de chorar, o que aconteceu?— Mãe... — Lúcia começou a chorar ainda mais alto.Sandra tentou enxugar suas lágrimas:— Aconteceu alguma coisa? Foi o desgraçado do Sílvio que te fez mal de novo? Me conta, filha.Mas contar à mãe, adiantaria o quê?Sua mãe já estava envelhecida, sofrendo com tudo que a filha passava. Se soubesse que Lúcia tinha pouco tempo de vida, com certeza desmaiaria de tristeza.Lúcia não podia ser tão egoísta. Como poderia compartilhar com a família o peso terrível de seu diagnóstico de câncer?Durante mais de vinte anos, seus pais a trataram como uma joia preciosa, protegendo-a com todo o amor do mundo. Ela nunca havia contribuído com nada para essa pequena família.Lúcia soluçava enquanto Sandra e
— Abelardo, você acha que a gente errou com a Lúcia? Mimamos ela demais, e agora estamos pagando o preço. Se naquela época tivéssemos sido mais firmes e insistido para ela casar com um homem que aprovássemos, nada disso teria acontecido. Esses homens que vêm de famílias pobres... Acabam se tornando ingratos e perturbados. — As lágrimas que Sandra tentava segurar escorreram novamente.Abelardo, com dificuldade, limpou as lágrimas da esposa, emitindo sons abafados enquanto tentava falar.Sandra assentiu:— Eu sei, você quer que eu não fique triste. Mas é difícil não me sentir assim vendo nossa filha sofrer tanto e eu sem poder fazer nada. Me sinto tão inútil.A expressão de Abelardo ficou ainda mais sombria. Ele também se sentia um inútil. Não conseguia proteger sua filha querida e nem tinha palavras de conforto para oferecer.Por dentro, Abelardo estava sufocado, angustiado. Como Sandra disse, talvez eles realmente tivessem errado ao mimar Lúcia tanto. Agora, só podiam lamentar, mas já
Lúcia segurou o telefone com os dedos trêmulos, e logo a ligação foi atendida. A voz respeitosa de Leopoldo ecoou do outro lado:— Sra. Lúcia, a senhora me ligou? Desculpe, eu estava ocupado com umas coisas quando recebi sua chamada.— Sim. — Murmurou Lúcia.Leopoldo insistiu:— Senhora, aconteceu alguma coisa? A senhora precisava falar comigo sobre algo?Ela havia ligado para Leopoldo enquanto ia ao hospital levar o jantar para Sílvio. Naquele momento, ela descobriu que ele não estava no quarto, por isso fez a ligação.Como ele não atendeu na hora, Lúcia acabou vendo Sílvio no quarto de Giovana, testemunhando Giovana pedindo a Sílvio o status de esposa e, em seguida, o beijo que ela mesma tomou a iniciativa de dar...Lúcia tentou a todo custo não pensar mais naquela cena dolorosa, mas, com o comentário de Leopoldo, tudo voltou à sua mente como um soco no estômago. Era como se uma mão invisível apertasse seu coração com força, provocando uma dor insuportável.— Sra. Lúcia, a senhora ai
Lúcia mordia os lábios, seus ombros tremiam enquanto ela se esforçava para não deixar o choro escapar. Tinha medo de que seus pais ouvissem e ficassem preocupados.Uma pessoa triste já era o suficiente, não havia necessidade de arrastar os outros para o sofrimento.De repente, sentiu uma dor aguda no fígado, como se inúmeras serpentes venenosas o estivessem dilacerando.O gosto de sangue já chegava à sua garganta, mas ela engoliu de volta, segurando-se.Com muito esforço, rastejou até onde guardava o remédio para dor, sentindo dores por todo o corpo, tão intensas que sequer conseguia se levantar.Naquele momento, se seu marido estivesse ao seu lado, como isso seria bom.Mas não havia "se". Mesmo que ele estivesse, tudo o que faria seria observar com frieza e zombar dela.Ele sabia muito bem que ela estava doente.Lúcia caiu da cama, batendo a testa e ficando tonta com o impacto.Ela conseguiu pegar a bolsa e, com os dedos tremendo descontroladamente, abriu o frasco de remédios. Desespe