Aos olhos de Leopoldo, Sílvio tinha sentimentos por Lúcia. Caso contrário, ele não se daria ao trabalho de pedir que Leopoldo a protegesse em segredo o tempo todo.Sílvio era apenas reservado, não sabia como expressar seus sentimentos. Tinha uma boca dura, mas um coração mole.Assim que ele disse isso, o quarto ficou em silêncio total.O rosto de Sandra mudou de expressão, como se não quisesse mencionar Sílvio.Lúcia apertou os lábios, sem responder.Na cadeira de rodas, Abelardo olhava para Lúcia com um olhar complexo, cheio de dor e preocupação.O ar parecia ter ficado pesado, e Leopoldo percebeu que talvez tivesse falado demais. Um certo desconforto tomou conta dele.— Eu falei alguma besteira? — Ele riu sem graça, tentando quebrar o clima.Lúcia levantou o olhar e, com um sorriso gentil, disse:— Não, você não disse nada de errado. Quem errou fui eu. Somos, sim, uma família de quatro.Ela ainda não havia se divorciado, então, tecnicamente, eles ainda eram uma família de quatro pess
Lúcia estava nervosa, seus dedos se contraíram instintivamente, apertando a borda do casaco branco de plumas em seu colo.O que Sílvio queria ao ligar de repente? Será que ele tinha mudado de ideia e não permitiria que o pai voltasse para a Mansão Baptista?Seu coração batia acelerado, martelando em seu peito.Se Sílvio não concordasse, como ela explicaria isso ao pai? Ele ficaria tão decepcionado...Talvez Abelardo, sentado ao lado dela, tivesse percebido seu desconforto. Sua mão grande pousou sobre a de Lúcia, dando-lhe um leve tapinha de conforto.Lúcia sentiu o toque e, confusa, levantou o olhar. Viu Abelardo acenando para ela com um sorriso suave no rosto, que parecia mais inchado por causa dos remédios.Com aquele simples gesto, o coração de Lúcia se acalmou um pouco.Leopoldo ainda estava ao telefone. O que diziam do outro lado, Lúcia não conseguia ouvir, pois ele não havia colocado no viva-voz. Ela apenas podia observar os contornos de seu rosto, que ora se tensionavam, ora rel
Seu coração parecia estar sendo apertado com força, dificultando a respiração, um desconforto insuportável.Lúcia olhou distraidamente pela janela, pensando em abrir um pouco para respirar, mas logo avistou um carro todo pintado de forma extravagante, um daqueles carros montados e barulhentos, com um motorista que parecia bêbado, cambaleando pela estrada sem qualquer noção das regras de trânsito!O pior era que aquele carro estava vindo diretamente na direção deles!Lúcia sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao se lembrar do acidente de Olga — também foi um carro batido, também foi uma tragédia. Suas mãos e pés começaram a gelar.— Leopoldo, desvia daquele carro! Aquele motorista deve estar bêbado! — Lúcia bateu desesperadamente no encosto do banco do motorista, aumentando o tom de voz para alertá-lo.Só então Leopoldo percebeu a situação. Ele levantou a cabeça rapidamente e, de fato, viu o carro montado cruzando a pista, dirigindo em zigue-zague. — De onde saiu esse lunático? — Ex
Leopoldo falou enquanto abria a porta do carro e descia rapidamente.Lúcia também saiu do carro logo atrás dele.A fumaça espessa subia, e metade do carro montado já estava em chamas.Lúcia demorou alguns segundos para processar o que estava acontecendo.Ela não podia acreditar que aquele carro capotado era o de Sílvio! Sílvio, que sempre desejou vê-la morta, como poderia ter aparecido para salvá-la dessa tragédia?Será que tudo o que havia acontecido era realmente um acidente? Não era Sílvio tentando matá-las?Lúcia correu até o Cullinan virado de cabeça para baixo, que ainda rolava no chão.Olhando para o banco do motorista, ela viu os airbags inflados, e o homem, preso pelo cinto de segurança, estava desacordado, os olhos bem fechados.O sangue vermelho escorria pelo rosto marcante do homem, pingando sobre o terno escuro, que agora estava encharcado, tornando-se ainda mais opaco com as manchas de sangue.O nariz alto e elegante dele sustentava um par de óculos, cujas lentes estavam
Giovana, com o rosto gravemente queimado, foi colocada na ambulância.— Esses dois são realmente apaixonados. — Comentou um dos paramédicos apressado. — Ouvi dizer que ela queimou o rosto para salvar o marido. Como vai encarar as pessoas agora?Lúcia ficou parada, olhando fixamente para a ambulância que se afastava.Ela era uma completa estranha naquela história.Não era de se admirar que Sílvio valorizasse tanto Giovana, afinal, ela estava disposta a morrer por ele.Mas Lúcia não. Lúcia nunca morreria por homem nenhum.Leopoldo observava Lúcia, perdida em seus pensamentos, olhando na direção da ambulância por um longo tempo. Achando que ela estava chateada, ele tentou consolá-la:— Sra. Lúcia, não importa o que os outros pensem. O que realmente importa é como o Presidente Sílvio vê a senhora.Como Sílvio a via...Ela pensou, sentindo um aperto no coração.— Leopoldo, por favor, leve meus pais para casa primeiro.Leopoldo assentiu, e os dois voltaram para o carro.Sandra olhou preocupad
Após a saída de Leopoldo, Lúcia ficou indecisa por muito tempo. Ela realmente não sabia se deveria ir ver Sílvio.Será que ele realmente queria vê-la? Ou talvez, ao vê-la, ele ficaria ainda mais mal-humorado? Mas a verdade é que, naquele dia, ele havia salvado a vida dela e de seus pais.De repente, o som de uma notificação quebrou o silêncio. O celular vibrava. Ela o pegou e viu uma mensagem de Leopoldo:[Sra. Lúcia, o Presidente Sílvio acordou no hospital. Acho que seria bom se a senhora fosse vê-lo. Não fique com raiva, o Natal já está chegando. Não deixe que pequenas desavenças estraguem o relacionamento de vocês.]Leopoldo percebeu que Sílvio estava um pouco abatido por não ter visto Lúcia, então, por conta própria, decidiu entrar em contato com ela.Lúcia apertou o celular entre os dedos:[Está bem. Vou preparar algo para ele comer e levarei pessoalmente.]Ela não queria ficar devendo favores, especialmente a Sílvio.Foi ao supermercado comprar os ingredientes e preparou com suas
Lúcia pegou o elevador e subiu até o prédio de internação do hospital.Esse hospital era particular, de propriedade de Sílvio, e o andar onde ele estava internado era exclusivo, com apenas dois pacientes, ambos em suítes VIP.Sem saber qual era o número do quarto de Sílvio, Lúcia perguntou à equipe de enfermagem e, após obter a informação, dirigiu-se ao quarto indicado.Ela bateu na porta, mas ninguém respondeu. Decidiu então abrir a porta por conta própria.O quarto estava vazio, Sílvio não estava lá.Para onde ele foi?Com a marmita nas mãos, caminhou pelo corredor, enquanto a luz branca refletia em seu rosto, deixando-a ainda mais pálida, quase com uma beleza frágil e doentia.Lúcia pegou o celular e, ao abrir a lista de contatos, seus olhos pousaram sobre o nome de Sílvio. Será que ele atenderia o telefone? Hoje mesmo eles tinham se desentendido, e ele havia dito, com desgosto, que nem se ela estivesse nua ele se interessaria por ela.Depois de muito hesitar, ela decidiu ligar para
Sílvio não fazia ideia de que Lúcia tinha estado ali, pois estava de costas para a porta do quarto.Ele também não esperava que Giovana fosse tão ousada a ponto de beijá-lo de surpresa. Em menos de meio segundo, a expressão de Sílvio mudou para algo sombrio, e ele a empurrou com força, franzindo as sobrancelhas:— Esqueceu o que eu te avisei antes?Ele parecia realmente furioso. A força com que empurrou Giovana foi tão grande que ela bateu contra a barra da cama.Giovana, vendo todo o esforço que fez para conquistar Sílvio ser inútil diante da insistência dele em não deixar Lúcia, sentiu as lágrimas escorrerem de pura raiva.Sem contar aquele velho Abelardo, que havia escapado de suas armadilhas duas vezes! Como ele teve tanta sorte?Apesar de tudo, seu rosto parecia inocente, e as lágrimas continuavam a rolar enquanto ela dizia com tristeza:— Eu sei, você já me disse que só quer ser meu amigo, que nunca vai se casar comigo. Eu não estou com amnésia, sei muito bem disso, Sílvio. O err