Lúcia ficou momentaneamente perdida em pensamentos, lembrando-se de como era no começo, quando ainda estavam juntos. Ele acordava cedo todos os dias, preparava as refeições para ela, sempre variando os pratos com carinho.Então, seu pai sofreu um acidente, e, depois que ele propôs o divórcio de maneira fria e distante, as refeições preparadas por ele se tornaram raras.Nas poucas vezes em que ele ainda cozinhava, era só para pressioná-la a ter um filho, e o gesto já não tinha o mesmo significado.A comida que ele preparava era rica em nutrientes, com uma apresentação impecável e atraente. Parecia deliciosa, mas, ao colocá-la na boca, ela não conseguia sentir nenhum sabor.Durante essa gravidez, Lúcia mal conseguia comer. Enjoava o tempo todo. Depois de duas colheradas, correu para o banheiro para vomitar.Quando voltou para a mesa de jantar, sentou-se novamente e ele insistiu:— É normal na gravidez. Quando o bebê nascer, você vai se sentir melhor.Lúcia só queria rir. Ele sempre falav
Ele finalmente conseguiu usar Lúcia para subir na vida, alcançar poder e status, e conquistar sua liberdade financeira. Como ele poderia estar disposto a ter um fim trágico?— Lúcia, você precisa mesmo me amaldiçoar logo de manhã? — Sílvio estreitou os olhos, encarando-a com um olhar afiado, frio como uma camada de gelo milenar, impossível de quebrar. Como alguém podia ser tão ingrato?Lúcia, no entanto, não sentia que havia dito nada de errado. Ela sorriu, com o canto dos lábios arqueado:— Parece que você está mesmo planejando voltar atrás, né? Falei algo que te incomodou e agora está bravo?— Onde você viu que eu fiquei bravo? — Sílvio bateu a tigela na mesa com força, olhando-a com irritação, o tom claramente tenso.Lúcia deu uma risadinha:— E essa sua reação não é exatamente o que eu disse, Sílvio? Ficar bravo porque falei a verdade?Ele não respondeu. Saiu para a varanda, fumou alguns cigarros e deixou o vento frio bater no rosto, tentando esfriar a cabeça. Só depois voltou para
— Você realmente sabe qual é o meu desejo? — Sílvio perguntou com os olhos semicerrados, observando Lúcia no sofá com um olhar enigmático.Seu maior desejo era que Lúcia tivesse um filho deles. Ele queria tentar deixar o ódio para trás e voltar ao que tinham no passado.Desde o começo, esse era seu único desejo. Na última vez em que levou Lúcia ao campus da universidade, eles viram uma estrela cadente, e seu pedido foi o mesmo.Até quando visitava o túmulo dos pais, ele pedia que eles abençoassem mais duas pessoas: o filho que ele sonhava e Lúcia.Se ela realmente soubesse disso, ele ficaria contente.Quando seus olhares se encontraram, Lúcia sentiu uma tristeza profunda invadir seu peito.O desejo dele não era vê-la morrer logo para poder se casar oficialmente com sua melhor amiga, Giovana?Essa intenção estava tão clara, por que ele continuava reforçando? Ele tinha tanto medo de que ela se esquecesse? Até onde ia o ódio de Sílvio por ela?Talvez ela já estivesse acostumada com sua fr
— Eu não me sinto à vontade em te deixar sozinha...— Sílvio, eu não quero te ver agora. Na verdade, você me irrita. Você realmente não percebe isso ou está fingindo? Por favor, vai embora. Eu te imploro. Só de te olhar, já sinto dor de cabeça. — Lúcia falou, franzindo a testa, impaciente.É claro que Sílvio sabia o quanto ela o rejeitava. Ela não suportava estar com ele, e o pouco de preocupação que ele ainda demonstrava não era mais bem-vindo. Mas o que mais ele poderia fazer além de fingir que não via?Sílvio também estava começando a se irritar. Sabia que, se ficasse ali por mais tempo, eles acabariam discutindo de novo.— Qualquer coisa, me liga. A Marina virá à noite para fazer o jantar e cuidar de você. — Disse Sílvio, virando-se em direção à escada.Lúcia o observou se afastar, sentindo um nó na garganta. Lágrimas começaram a se formar, mas ela as segurou.— Sílvio, se você não cumprir sua promessa, eu vou te atormentar mesmo depois de morta! Juro que você e Giovana nunca terão
Os dedos de Lúcia apertavam com força a borda de seu casaco sobre o colo, amassando o tecido.— Você está completamente fora de si! Srta. Lúcia, você é a paciente mais teimosa que já vi! Eu já te disse inúmeras vezes que sua condição é grave. Pacientes com câncer não podem engravidar! A gravidez só piora a propagação da doença. Por que você nunca me escuta? Na primeira vez que engravidou, você adiou o aborto, e depois que perdeu o bebê, seu corpo ficou ainda mais fraco. Agora está grávida de novo. Por que não me consultou antes de tentar engravidar? Eu realmente não sei mais o que dizer. Você está brincando com a própria vida? — O médico falou, indignado, pegando seu copo na mesa e tomando um gole de água para tentar se acalmar.Lúcia não se importou com o tom ríspido. Na verdade, ela sabia que ele estava certo.— Doutor, não adianta me convencer a interromper a gravidez. Vou deixar as coisas seguirem seu curso. — Disse ela suavemente, depois de um longo silêncio.O médico soltou uma r
Ela não tinha levado guarda-chuva, e a chuva fina e constante caía sobre seu rosto, cabelo e roupas. Sem chamar um táxi, Lúcia decidiu voltar para casa a pé.No poste de luz, um pardal solitário resistia ao vento e à chuva, sendo impiedosamente açoitado pelo clima. Lúcia soltou uma risada amarga. Ela se sentia como aquele pardal: parada, impotente, esperando que o destino lhe alcançasse.Suspirou, sem ter outra escolha.Lúcia lembrou-se de sua pergunta ao médico: “Doutor, eu consigo aguentar até o Natal?” O médico respondeu com um tom grave: “Srta. Lúcia, com o seu estado atual, sua vida pode acabar a qualquer momento. Tem algum desejo que ainda não realizou?”Lúcia refletiu. Seus desejos inacabados pareciam incontáveis.Por exemplo, envelhecer ao lado de Sílvio, tornando-se um casal feliz, daqueles que fazem inveja aos contos de amor eterno.Ou ter um filho adorável, um menino que fosse parecido com Sílvio, ou uma menina, com sua pele clara e beleza. O nome oficial, ela escolheria; o
— Você vai me ajudar com o transplante de fígado? — Lúcia olhou para ele com surpresa.Ele sorriu e respondeu: — Por que não poderia?— Mas nós nos conhecemos há pouco tempo. Isso não é apropriado. — Lúcia deixou os braços caídos ao longo do corpo e observou suas mãos pálidas, que se juntaram um pouco.Sílvio olhou em seus olhos e disse com seriedade: — Mesmo que tenhamos nos conhecido há um dia, se você precisa de ajuda, eu vou ajudar. Srta. Lúcia, servir às pessoas foi a primeira lição que aprendi quando entrei para a polícia. Mesmo que não esteja mais nesse cargo, não mudei.Lúcia sabia que Basílio era um policial muito respeitado, sempre à frente nas situações críticas, salvando aqueles que precisavam de ajuda.Ele foi quem veio ao socorro de Olga quando ela estava à beira da morte. Foi também ele quem resgatou Lúcia quando estava ajoelhada na tempestade de neve, sendo exposta e ridicularizada pela mídia sensacionalista.Mais tarde, quando ela denunciou Giovana por enviar fotos í
Ela pensou que seria cada vez mais raro se encontrar com ele, e achou que não haveria mal em lhe contar.Lúcia suspirou e forçou um sorriso: — Sr. Basílio, neste mundo não há amor absoluto, nem ódio absoluto. E Sílvio é assim também.— O que você quer dizer com isso? — Perguntou Basílio, sem entender.Lúcia sorriu e questionou: — Se seus pais morressem indiretamente por causa do seu sogro, você culparia sua esposa?Basílio não respondeu, nem dizendo que sim, nem que não.— A aversão de Sílvio por mim vem justamente disso. Portanto, eu não o culpo, eu é quem lhe devo. — Explicou Lúcia— Você já considerou a possibilidade de que o acidente com o Sr. Abelardo tenha sido causado por ele? — Perguntou Basílio novamente.Lúcia vacilou por um momento. Sílvio queria colocar seu pai na prisão, mas, sem provas, ele não fez nada. Apenas mandou o motorista do pai, Paulo, para a cadeia.Mas Paulo realmente havia cometido um crime, e por isso foi preso.Com a influência de Sílvio hoje em dia, seria