Depois de desligar o telefone, Sílvio ficou com uma sensação incômoda de que algo estava errado, mas não conseguia apontar exatamente o quê.Afinal, o Dr. Arthur era alguém de sua confiança, que o servia há tantos anos. Não se atreveria a falsificar relatórios médicos, certo?Será que era Lúcia quem estava mentindo? No fim das contas, ela já não se importava com ele há muito tempo. Vivia trocando olhares com Basílio. E as palavras de Basílio? Quanta verdade poderia haver nelas?Com o rosto fechado, Sílvio atravessou a rua, caminhou até o Bentley preto estacionado e abriu a porta.Lúcia estava aproveitando o aquecimento do carro, mas assim que a porta se abriu, uma rajada de vento forte invadiu o interior, bagunçando seus longos cabelos. As mechas se grudaram em seu rosto, e sua respiração ficou descompassada.Ela ainda estava preocupada, pensando se Sílvio tinha feito algo contra Basílio. E, de repente, lá estava ele, de volta.Sílvio lançou um olhar rápido para o rosto pálido e sem vi
Lúcia estava prestes a colocar os sapatos no armário quando ouviu aquelas palavras. Seus dedos se apertaram em volta dos sapatos de couro, suas pestanas tremeram, e as pálpebras baixas ocultaram qualquer emoção em seu olhar.Por que ele de repente estava lhe perguntando isso? Se ela tinha ou não câncer, ele sabia muito bem. Os outros podiam duvidar, mas ele?De repente, Lúcia sentiu um cansaço enorme. Não queria mais participar desse jogo de faz de conta. Era desgastante e sem sentido.Colocou os sapatos no armário, trocou-os por chinelos de algodão e ignorou Sílvio, como se ele fosse invisível. Em seguida, virou-se e subiu a escada em espiral.Os degraus eram feitos de mármore branco, cada um deles custando uma fortuna. Ao pisar neles, Lúcia sentiu um frio que, mesmo através dos chinelos, parecia subir por seu corpo inteiro.Quando estava prestes a entrar no closet para se trocar, o homem a segurou pelo pulso com uma força excessiva. Ela franziu o cenho e o encarou.Ele usava um sobre
— Agora nem o direito de fazer amigos eu tenho? — Lúcia apertou o celular com tanta força que os dedos ficaram brancos, seus olhos fixos nele.— Ele não quer nada de bom pra você. Fique longe dele. — Sílvio deu uma risada sarcástica.— E desde quando você lê mentes?— Sou homem, Lúcia. Acha que eu não sei o que se passa na cabeça dele? — Sílvio a encarou com raiva crescente.Que mulher tola! Como podia ser tão ingênua? Nenhum homem se daria ao trabalho de ser tão atencioso sem algum interesse por trás. Basílio claramente se aproveitava do desgaste no casamento deles para se aproximar e tentar afastá-la.Mas, mesmo com a tentativa de alerta de Sílvio, Lúcia não mostrou nenhum sinal de gratidão. Pelo contrário, retrucou:— Você é só um oportunista. Ficou rico às minhas custas. E ainda tem coragem de se chamar de homem?Oportunista. Enriquecer às custas dela.Essas palavras atingiram Sílvio em cheio, como punhaladas. Eram tão amargas quanto verdadeiras.Cheio de raiva, ele estava prestes
Lúcia ficou momentaneamente perdida em pensamentos, lembrando-se de como era no começo, quando ainda estavam juntos. Ele acordava cedo todos os dias, preparava as refeições para ela, sempre variando os pratos com carinho.Então, seu pai sofreu um acidente, e, depois que ele propôs o divórcio de maneira fria e distante, as refeições preparadas por ele se tornaram raras.Nas poucas vezes em que ele ainda cozinhava, era só para pressioná-la a ter um filho, e o gesto já não tinha o mesmo significado.A comida que ele preparava era rica em nutrientes, com uma apresentação impecável e atraente. Parecia deliciosa, mas, ao colocá-la na boca, ela não conseguia sentir nenhum sabor.Durante essa gravidez, Lúcia mal conseguia comer. Enjoava o tempo todo. Depois de duas colheradas, correu para o banheiro para vomitar.Quando voltou para a mesa de jantar, sentou-se novamente e ele insistiu:— É normal na gravidez. Quando o bebê nascer, você vai se sentir melhor.Lúcia só queria rir. Ele sempre falav
Ele finalmente conseguiu usar Lúcia para subir na vida, alcançar poder e status, e conquistar sua liberdade financeira. Como ele poderia estar disposto a ter um fim trágico?— Lúcia, você precisa mesmo me amaldiçoar logo de manhã? — Sílvio estreitou os olhos, encarando-a com um olhar afiado, frio como uma camada de gelo milenar, impossível de quebrar. Como alguém podia ser tão ingrato?Lúcia, no entanto, não sentia que havia dito nada de errado. Ela sorriu, com o canto dos lábios arqueado:— Parece que você está mesmo planejando voltar atrás, né? Falei algo que te incomodou e agora está bravo?— Onde você viu que eu fiquei bravo? — Sílvio bateu a tigela na mesa com força, olhando-a com irritação, o tom claramente tenso.Lúcia deu uma risadinha:— E essa sua reação não é exatamente o que eu disse, Sílvio? Ficar bravo porque falei a verdade?Ele não respondeu. Saiu para a varanda, fumou alguns cigarros e deixou o vento frio bater no rosto, tentando esfriar a cabeça. Só depois voltou para
— Você realmente sabe qual é o meu desejo? — Sílvio perguntou com os olhos semicerrados, observando Lúcia no sofá com um olhar enigmático.Seu maior desejo era que Lúcia tivesse um filho deles. Ele queria tentar deixar o ódio para trás e voltar ao que tinham no passado.Desde o começo, esse era seu único desejo. Na última vez em que levou Lúcia ao campus da universidade, eles viram uma estrela cadente, e seu pedido foi o mesmo.Até quando visitava o túmulo dos pais, ele pedia que eles abençoassem mais duas pessoas: o filho que ele sonhava e Lúcia.Se ela realmente soubesse disso, ele ficaria contente.Quando seus olhares se encontraram, Lúcia sentiu uma tristeza profunda invadir seu peito.O desejo dele não era vê-la morrer logo para poder se casar oficialmente com sua melhor amiga, Giovana?Essa intenção estava tão clara, por que ele continuava reforçando? Ele tinha tanto medo de que ela se esquecesse? Até onde ia o ódio de Sílvio por ela?Talvez ela já estivesse acostumada com sua fr
— Eu não me sinto à vontade em te deixar sozinha...— Sílvio, eu não quero te ver agora. Na verdade, você me irrita. Você realmente não percebe isso ou está fingindo? Por favor, vai embora. Eu te imploro. Só de te olhar, já sinto dor de cabeça. — Lúcia falou, franzindo a testa, impaciente.É claro que Sílvio sabia o quanto ela o rejeitava. Ela não suportava estar com ele, e o pouco de preocupação que ele ainda demonstrava não era mais bem-vindo. Mas o que mais ele poderia fazer além de fingir que não via?Sílvio também estava começando a se irritar. Sabia que, se ficasse ali por mais tempo, eles acabariam discutindo de novo.— Qualquer coisa, me liga. A Marina virá à noite para fazer o jantar e cuidar de você. — Disse Sílvio, virando-se em direção à escada.Lúcia o observou se afastar, sentindo um nó na garganta. Lágrimas começaram a se formar, mas ela as segurou.— Sílvio, se você não cumprir sua promessa, eu vou te atormentar mesmo depois de morta! Juro que você e Giovana nunca terão
Os dedos de Lúcia apertavam com força a borda de seu casaco sobre o colo, amassando o tecido.— Você está completamente fora de si! Srta. Lúcia, você é a paciente mais teimosa que já vi! Eu já te disse inúmeras vezes que sua condição é grave. Pacientes com câncer não podem engravidar! A gravidez só piora a propagação da doença. Por que você nunca me escuta? Na primeira vez que engravidou, você adiou o aborto, e depois que perdeu o bebê, seu corpo ficou ainda mais fraco. Agora está grávida de novo. Por que não me consultou antes de tentar engravidar? Eu realmente não sei mais o que dizer. Você está brincando com a própria vida? — O médico falou, indignado, pegando seu copo na mesa e tomando um gole de água para tentar se acalmar.Lúcia não se importou com o tom ríspido. Na verdade, ela sabia que ele estava certo.— Doutor, não adianta me convencer a interromper a gravidez. Vou deixar as coisas seguirem seu curso. — Disse ela suavemente, depois de um longo silêncio.O médico soltou uma r