— Lúcia, você precisa contar a ele que está com câncer de fígado em estágio terminal. Ele pode ser irresponsável, mas você não pode segui-lo nessa loucura.As palavras de Basílio fizeram Lúcia se sentir sufocada, oprimida. Além de seguir Sílvio em suas decisões impensadas, parecia que ela não tinha outra escolha.Ela apertou os lábios e, sorrindo levemente, respondeu:— Sr. Basílio, não se preocupe comigo, estou bem. Você não me disse uma vez que não devemos nos intrometer no destino dos outros, senão acabamos carregando o peso das suas vidas?O destino dela, ela sabia, era esperar silenciosamente pela chegada do fim.— Estou tentando encontrar um fígado compatível para você, não desista. Srta. Lúcia, também te disse que a vida é preciosa, que só temos uma chance. Não seja como Olga, não vale a pena. — Basílio aconselhou pacientemente.Ela se lembrava de quando Basílio havia mencionado que buscaria um fígado compatível, e como isso a havia emocionado profundamente, pois naquele momento
Lúcia estava prestes a afastar a mão dele, mas de repente congelou.Naquele instante, sua mente clareou, e ela percebeu que afastá-lo teria um preço alto demais, um que ela não estava disposta a pagar.Ela respirou fundo, piscando para aliviar os olhos ressecados e doloridos, e deixou cair a mão que havia tocado a camisa cinza dele.Basílio, que observava tudo, franziu as sobrancelhas:— Sílvio, você não percebe que ela não quer isso?— E quem disse que ela não quer? — Sílvio soltou uma risada sarcástica, virando-se para Lúcia com um sorriso malicioso. — Amor, diga ao Sr. Basílio que você gosta de ser tratada assim, né?Lúcia notou o olhar preocupado de Basílio voltando a se fixar nela.Ela não gostava, é claro que não. Ela não era masoquista.A atmosfera na loja ficou pesada, talvez pela falta de circulação de ar. A sensação de sufocamento fez com que sua respiração se acelerasse.Era engraçado como, quando estavam felizes, até o ar parecia mais leve, mais doce. Mas, quando estavam tr
— Não. — Lúcia apressou-se a negar.Ela sabia que Sílvio era um homem extremamente ciumento. Se ela hesitasse nem que fosse um segundo, ele provavelmente descarregaria sua raiva em Basílio.Sílvio, sendo astuto como era, percebeu rapidamente o que ela estava pensando e, irritado, falou:— Então, ainda está aqui?— Srta. Lúcia, não se preocupe. O Presidente Sílvio é um homem civilizado. Além disso, estamos em um lugar público, não vai acontecer nada de ruim. — Basílio disse com um tom suave.Lúcia apertou a chave do carro em sua mão e se virou para pegar o elevador e sair do shopping.Basílio a observou por um bom tempo, e quanto mais olhava, mais sentia que a vida dela estava se esvaindo lentamente. O corpo dela não parecia normal, estava desprovido de vitalidade, como uma flor prestes a apodrecer. Mesmo que as pétalas ainda parecessem frescas, o caule já estava cheio de vermes.Basílio franziu a testa. Será que Sílvio realmente não notava o estado de saúde de Lúcia? Ele realmente não
Quando a voz caiu, a perna longa de Sílvio, que já estava prestes a entrar no elevador, parou de imediato. Ele se virou e voltou a passos rápidos até Basílio.Ele agarrou com força a jaqueta preta de Basílio:— O que você disse?Ele certamente tinha ouvido errado. Lúcia não podia estar com câncer de fígado em estágio terminal.Ao ver o nervosismo de Sílvio, Basílio suspirou aliviado por dentro. Pelo visto, Sílvio ainda se importava com Lúcia. Isso significava que convencê-lo a ajudar Lúcia a aceitar o transplante de fígado seria possível.— Fala logo! — Sílvio exigiu, impaciente.Basílio o encarou e, sem rodeios, repetiu:— Lúcia tem câncer de fígado. As células cancerígenas já se espalharam por dois terços do corpo dela. Estar grávida agora só acelera o processo. Sílvio, se você realmente se importa com ela, se não quer vê-la morrer, você não pode forçá-la a ter esse bebê.Sílvio piscou seus olhos alongados, sentindo sua mente explodir. Lúcia, com câncer de fígado? E em estágio termin
Depois de desligar o telefone, Sílvio ficou com uma sensação incômoda de que algo estava errado, mas não conseguia apontar exatamente o quê.Afinal, o Dr. Arthur era alguém de sua confiança, que o servia há tantos anos. Não se atreveria a falsificar relatórios médicos, certo?Será que era Lúcia quem estava mentindo? No fim das contas, ela já não se importava com ele há muito tempo. Vivia trocando olhares com Basílio. E as palavras de Basílio? Quanta verdade poderia haver nelas?Com o rosto fechado, Sílvio atravessou a rua, caminhou até o Bentley preto estacionado e abriu a porta.Lúcia estava aproveitando o aquecimento do carro, mas assim que a porta se abriu, uma rajada de vento forte invadiu o interior, bagunçando seus longos cabelos. As mechas se grudaram em seu rosto, e sua respiração ficou descompassada.Ela ainda estava preocupada, pensando se Sílvio tinha feito algo contra Basílio. E, de repente, lá estava ele, de volta.Sílvio lançou um olhar rápido para o rosto pálido e sem vi
Lúcia estava prestes a colocar os sapatos no armário quando ouviu aquelas palavras. Seus dedos se apertaram em volta dos sapatos de couro, suas pestanas tremeram, e as pálpebras baixas ocultaram qualquer emoção em seu olhar.Por que ele de repente estava lhe perguntando isso? Se ela tinha ou não câncer, ele sabia muito bem. Os outros podiam duvidar, mas ele?De repente, Lúcia sentiu um cansaço enorme. Não queria mais participar desse jogo de faz de conta. Era desgastante e sem sentido.Colocou os sapatos no armário, trocou-os por chinelos de algodão e ignorou Sílvio, como se ele fosse invisível. Em seguida, virou-se e subiu a escada em espiral.Os degraus eram feitos de mármore branco, cada um deles custando uma fortuna. Ao pisar neles, Lúcia sentiu um frio que, mesmo através dos chinelos, parecia subir por seu corpo inteiro.Quando estava prestes a entrar no closet para se trocar, o homem a segurou pelo pulso com uma força excessiva. Ela franziu o cenho e o encarou.Ele usava um sobre
— Agora nem o direito de fazer amigos eu tenho? — Lúcia apertou o celular com tanta força que os dedos ficaram brancos, seus olhos fixos nele.— Ele não quer nada de bom pra você. Fique longe dele. — Sílvio deu uma risada sarcástica.— E desde quando você lê mentes?— Sou homem, Lúcia. Acha que eu não sei o que se passa na cabeça dele? — Sílvio a encarou com raiva crescente.Que mulher tola! Como podia ser tão ingênua? Nenhum homem se daria ao trabalho de ser tão atencioso sem algum interesse por trás. Basílio claramente se aproveitava do desgaste no casamento deles para se aproximar e tentar afastá-la.Mas, mesmo com a tentativa de alerta de Sílvio, Lúcia não mostrou nenhum sinal de gratidão. Pelo contrário, retrucou:— Você é só um oportunista. Ficou rico às minhas custas. E ainda tem coragem de se chamar de homem?Oportunista. Enriquecer às custas dela.Essas palavras atingiram Sílvio em cheio, como punhaladas. Eram tão amargas quanto verdadeiras.Cheio de raiva, ele estava prestes
Lúcia ficou momentaneamente perdida em pensamentos, lembrando-se de como era no começo, quando ainda estavam juntos. Ele acordava cedo todos os dias, preparava as refeições para ela, sempre variando os pratos com carinho.Então, seu pai sofreu um acidente, e, depois que ele propôs o divórcio de maneira fria e distante, as refeições preparadas por ele se tornaram raras.Nas poucas vezes em que ele ainda cozinhava, era só para pressioná-la a ter um filho, e o gesto já não tinha o mesmo significado.A comida que ele preparava era rica em nutrientes, com uma apresentação impecável e atraente. Parecia deliciosa, mas, ao colocá-la na boca, ela não conseguia sentir nenhum sabor.Durante essa gravidez, Lúcia mal conseguia comer. Enjoava o tempo todo. Depois de duas colheradas, correu para o banheiro para vomitar.Quando voltou para a mesa de jantar, sentou-se novamente e ele insistiu:— É normal na gravidez. Quando o bebê nascer, você vai se sentir melhor.Lúcia só queria rir. Ele sempre falav