Ao ouvir o nome de Sílvio, Lúcia sentiu um frio na espinha, e seus dedos começaram a tremer.Uma sensação de repulsa percorreu seu corpo, mas, por causa de seu pai, ela engoliu o desconforto e pegou o telefone da mão de Sandra.O telefone chamou várias vezes, mas logo a mensagem automática informou que o número estava fora de área.Lúcia desligou.Sandra, em desespero, começou a chorar. Lúcia enxugou suas lágrimas:— Mãe, não se preocupe, vou atrás dele. O papai vai ficar bem, ele vai ficar bem.Dizendo isso, Lúcia virou-se para sair.Com o que conhecia de Sílvio, ele provavelmente estaria trabalhando no Grupo Baptista. Era o típico workaholic, um robô que só se importava com lucro e jamais descansava!— Lúcia. — Sandra chamou-a de repente.Ela se virou, confusa. Sandra se aproximou e segurou suas mãos:— Onde você esteve esses dias? Aconteceu alguma coisa com você?Lúcia hesitou. De fato, algo terrível havia acontecido. Ela quase morreu, e o bebê em seu ventre foi perdido por causa de
Lúcia soltou uma risada amarga. Fugir? Será que foi ela que fugiu?Tudo isso não foi planejado por Sílvio? Ele realmente era um ótimo ator. Mas o que ele ganhava mantendo essa fachada de homem apaixonado?Sentindo-se sufocada, Lúcia acariciou as penas do papagaio e saiu da varanda.Nesse instante, o telefone tocou.Ela pensou que pudesse ser Sílvio, mas ao ver o visor, sentiu uma pontada de decepção.Atendeu, e a voz profunda do médico ressoou do outro lado da linha:— Srta. Lúcia, como está se sentindo?— Na mesma. — Lúcia não quis dizer a verdade. Desde o aborto, seu corpo estava cada vez mais frágil.Os médicos em Viana haviam sido claros: ela tinha, no máximo, mais duas semanas de vida, e isso se mantivesse um bom estado de espírito e seguisse o tratamento. Caso contrário, poderia morrer a qualquer momento.O médico continuou:— E quanto ao bebê? Eu ainda recomendo que você o retire o quanto antes. Se esperar demais, pode ser tarde demais para agir.— O bebê não resistiu. Estou me
Sílvio, com expressão fechada, atirou as chaves do carro no aparador com força, fazendo um barulho seco e forte.Lúcia, que ainda estava ao telefone, sobressaltou-se com o som e levantou os olhos, vendo Sílvio se aproximar com passos firmes, o rosto sombrio, envolto em um casaco preto que destacava sua figura imponente.Basílio percebeu a tensão na voz de Lúcia e, preocupado, perguntou o que havia acontecido. Forçando um sorriso, ela disse que tinha surgido um imprevisto e encerrou a ligação rapidamente.Com o celular ainda apertado nas mãos, Lúcia fitou o homem que se aproximava, enquanto as palavras de Giovana ecoavam em sua mente como um alarme estridente: "Você acha que fui eu que quis te matar? Foi o Sílvio que não aguentou mais esperar! Ele quer ver você morta! Como você ainda não percebeu o quanto ele deseja sua morte?"A voz cortante de Giovana reverberava na cabeça de Lúcia, como se quisesse enlouquecê-la.Essa não era a primeira vez que ele tentava matá-la. Agora ela entendi
Sílvio sentiu o cheiro de outro homem nas roupas dela. Reconheceu imediatamente o aroma do perfume de Basílio.Lúcia, no entanto, estava mais preocupada com a urgência da situação, mordendo os lábios enquanto implorava:— Sílvio, por favor, retome o tratamento do meu pai!Ela usou a palavra “por favor”.— Você não entende o que eu digo? Vai trocar de roupa agora! — Sílvio gritou, perdendo a paciência.Foi nesse momento que Lúcia percebeu o quanto ele já estava farto dela. Não era de se admirar que tivesse mandado alguém tentar matá-la.Sentindo-se humilhada, as lágrimas começaram a encher seus olhos, mas ela não queria se mostrar tão vulnerável na frente dele. Lutando contra o choro, Lúcia correu para o closet.Assim que fechou a porta, ela encostou-se no painel rígido e frio, tapando a boca com as mãos enquanto soluçava baixinho.“Sílvio, eu sou sua esposa... Você tem ideia de que quase morri nesses últimos dias? Será que é pedir demais que você me trate com um mínimo de carinho? Mesm
Apenas com aquela frase, Lúcia se acalmou instantaneamente. Não lutou mais, não insistiu e nem se fez de teimosa. Sempre que ele ficava insatisfeito, usava a saúde do pai dela como arma para forçá-la a se submeter. Sem falhar uma única vez.Ela achava que já estava acostumada, mas seu coração ainda se apertava dolorosamente.Ao ver que ela obedecia, a raiva de Sílvio começou a diminuir.Toc-toc… A porta do apartamento foi batida.Sílvio a soltou.E seu celular começou a tocar.Ele atendeu e, virando-se, desceu as escadas enquanto dizia:— Giovana...O coração de Lúcia acelerou. Giovana estava ligando para ele? Ele mal tinha chegado e já estava indo encontrar-se com ela?Sílvio desceu as escadas ao telefone.— Sílvio... — Lúcia o chamou, querendo saber quando o tratamento do pai seria retomado.Ele nem se deu ao trabalho de responder e simplesmente continuou a descer.Antes que ela pudesse se afundar na tristeza, recebeu uma ligação de Sandra.— Filha, você viu o Sílvio? — A voz da mã
Ele só sabia que havia um filho dele crescendo dentro dela. E por isso, precisava garantir que ela estivesse bem alimentada. Assim que a criança nascesse, todo o foco dela estaria voltado para o bebê.Que ironia. Aquela relação que antes era tão forte agora precisava de um filho para se sustentar.Lúcia estava à beira das lágrimas, mas não podia irritá-lo. Sem escolha, puxou uma cadeira, sentou-se e começou a comer o mais rápido que pôde.As lágrimas, incontroláveis e desesperadas, escorriam pelo rosto. Seu pai estava entre a vida e a morte, e ela ali, obrigada a comer com ele!Um nó de chumbo parecia obstruir sua garganta, tornando cada momento ainda mais insuportável.Sílvio, ao vê-la soluçar, instintivamente pegou um lenço de papel, quase oferecendo a ela. Mas então lembrou-se de que ela havia sumido por causa de Basílio, e que os dois chegaram a morar juntos por alguns dias.Seu rosto voltou a se endurecer, e ele amassou o lenço na mão:— Pra que esse choro todo? Guarda as lágrima
Sílvio ficou ainda mais irritado ao ver a expressão desafiadora de Lúcia. Como ela ousava fazer birra depois do que tinha feito? Quem lhe dava tanta coragem?Sílvio bateu com força na mesa e gritou:— Você está me ameaçando? Ficou maluca?Lúcia tremeu de medo e levantou o rosto pálido e doentio, forçando um sorriso:— Não é ameaça, só estou dizendo a verdade. Já que você preparou um caixão pra mim, pode providenciar outro pro meu pai também.— Acabou de comer? Vem comigo agora. — Sílvio falou, tentando controlar o impulso de estrangulá-la.Lúcia não se intimidou:— Não quero ir a lugar nenhum.— Se você realmente quer ver seu pai morto, é só continuar me desobedecendo. — Sílvio respondeu, furioso com a atitude dela. Como ela podia desafiar cada palavra sua?Ela deveria estar tentando agradá-lo, já que era quem estava em dívida e precisava dele. Mas não, nem uma palavra de gentileza, nem uma atitude submissa.Ao ouvir isso, Lúcia se acalmou instantaneamente e perguntou, surpresa:— Pr
Lúcia estava tão fraca que seus lábios estavam sem cor, gelados. Sílvio ligou o aquecedor e ajustou a saída de ar. Ela sentiu o calor envolver seus dedos, e finalmente começou a relaxar.— Giovana foi diagnosticada com depressão. — Disse Sílvio, com a voz fria e sombria.Ela não se importava nem um pouco, e respondeu de forma indiferente:— Ah.— "Ah" o quê? Não tem nada a dizer? — Ele retrucou com sarcasmo.Lúcia não sabia se ele estava apenas tentando provocar ou se realmente precisava descarregar sua frustração nela. Giovana era sua rival, a mulher que havia destruído sua família, a assassina que quase tirou sua vida em Viana. Giovana ter sido diagnosticada com depressão era nada mais que merecido! Era a justiça divina!E ele ainda tinha a ousadia de perguntar o que ela tinha a dizer sobre isso?Lúcia soltou uma risada amarga:— Não tenho nada a dizer.— Mas eu quero que você diga! — Ele insistiu, teimando em pressioná-la.— Então só posso dizer que o universo é justo. O que vai,