Mesmo sem o aviso do motorista, Lúcia já estava sentindo que havia algo errado. O lugar era tão remoto que parecia o fim do mundo. Ela também pensou em voltar, mas ao lembrar que sua vida estava chegando ao fim e que finalmente havia uma pista sobre o paradeiro de pequeno mudo, decidiu que não podia perder essa chance. Se desistisse agora, se arrependeria para o resto da vida.Diziam que quando alguém estivesse prestes a morrer, desejava encontrar pessoas que não via há muito tempo ou realizar antigos sonhos. Ela queria saber como pequeno mudo estava. Talvez fosse ele quem a chamara para este encontro.Lúcia abafou a inquietação e sorriu para o motorista:— Não se preocupe, apenas siga o GPS. Eu não vou deixar de pagar a corrida.O motorista, sem dizer mais nada, acelerou o carro e seguiu o GPS.Meia hora depois, o táxi parou ao lado de uma colina verdejante. O motorista virou-se para ela, constrangido:— Moça, o lugar onde você precisa ir não está longe. Dá para chegar a pé em uns de
Mas ela temia que o misterioso desconhecido fosse embora se esperasse muito tempo, então não ousou parar por muito tempo. Quando já tinha percorrido dois terços do caminho, uma dor repentina no fígado a atingiu, e o bebê em seu ventre, como se pressentisse o perigo, começou a chutá-la com força.Com a testa coberta de suor frio, Lúcia tomou meia cartela de analgésicos, tentando controlar a dor no fígado com os remédios, mas o bebê não parava de se mexer. Enquanto continuava andando, acariciava a barriga e sussurrava:— Calma, meu amor, só mais um pouquinho. Estamos quase lá. Não se preocupe, vai ficar tudo bem.Era raro o bebê se mexer tanto, mas, por mais que ela tentasse acalmá-lo, ele continuava lutando e resistindo, como se também estivesse enfrentando um destino cruel.Seguindo as instruções do GPS, Lúcia chegou à margem de um lago profundo. A dor na barriga estava se intensificando, e ela teve que encontrar uma pedra para sentar-se lentamente. Olhou ao redor, o cenário, que de
Dentro da suíte presidencial do hotel, Sílvio não conseguia dormir direito. Assim que pegou no sono, teve um pesadelo, sonhou que algo ruim acontecia com Lúcia, e acordou sobressaltado. Ele olhou para o relógio, ainda eram oito e quarenta. Desde a noite anterior, ele só havia dormido por duas horas.Depois de se levantar do sofá, Sílvio lavou o rosto, tomou um copo de água e acendeu um cigarro. Ele havia planejado o dia com várias atividades. Lúcia adorava tirar fotos, ele se lembrava de como, naquela época, ela elogiava o trabalho da fotógrafa que fazia as fotos com flores, dizendo que as fotos saíam tão bonitas que nem precisavam de retoques.Sílvio, na verdade, sabia o verdadeiro motivo: não era só a habilidade da fotógrafa, mas a beleza natural de Lúcia, com sua pele macia e traços delicados, que fazia as fotos ficarem incríveis. Quando a pessoa era bonita, qualquer foto ficava boa; mas quando era feia, não adiantava nem caprichar, porque o resultado não mudava. Mas ele nunca
Ele era muito esperto e tinha uma memória excelente. Bastou assistir ao vídeo uma vez para aprender tudo. Meia hora depois, uma refeição nutritiva, embora um pouco pegajosa, mas com uma aparência excelente, estava pronta. O aroma agradável se espalhava pelo ar.Sílvio ficou satisfeito. Ele pensou que, quando Lúcia acordasse e visse aquilo, provavelmente ficaria feliz. Para ele, não tinha problema ceder um pouco, desde que ela decidisse ter o filho.O que Sílvio não sabia, naquele momento, era que Lúcia já não estava mais no hotel e se encontrava em uma situação de vida ou morte!Ele colocou a refeição em duas tigelas de porcelana branca e as levou até a mesa de jantar. Depois, bateu na porta do quarto principal.— Hora de acordar!Não houve resposta.Lúcia vinha sendo fria e distante com ele, mas ele já estava acostumado e não deu muita importância, achando que ela ainda estava dormindo. Pensou que, como ela finalmente havia conseguido dormir, seria bom deixá-la descansar mais um pou
Mas a razão rapidamente voltou à tona: se ela atendesse o telefone, o que diria? Antes, ela era ingênua, não sabia de nada, por isso amava sem reservas. Ela não sabia que Sílvio só a usava e desprezava!Agora, ela entendia tudo. Seu pai havia tirado a vida dos pais dele, e agora ele estava paralisado, incapaz de acordar! Ela sabia que tinha uma doença terminal e que carregava um filho no ventre. E, mesmo assim, ele a forçava a tomar remédios proibidos!Não havia mais volta, tudo já estava perdido há muito tempo!Lúcia, que estava prestes a atender, retirou o dedo da tela e desligou o telefone. Em seguida, bloqueou o número de Sílvio. Ela não queria vê-lo, muito menos ouvir sua voz. Nada disso.Depois de esperar um bom tempo, a pessoa misteriosa não apareceu.Lúcia achou estranho. Os corvos voavam em círculos no céu, soltando gritos cada vez mais tristes.Ela encontrou a mensagem anônima e ligou novamente para o misterioso contato. Desta vez, a chamada foi atendida!— Você chegou? Eu
Lúcia não conseguiu conter sua raiva, tremia de ódio, e levantou a mão para desferir outro golpe:— Eu te considerei minha melhor amiga! Não me importei com a sua pobreza, comprei roupas pra você, paguei suas mensalidades! Você prometeu me retribuir! E é assim que você me agradece? Seduzindo meu marido! Tirando fotos de casamento com ele! Destruindo minha família! Mandando a Olga me matar! Giovana, você é um monstro!— Então você já sabe sobre a Olga? Aquela vadia... Eu mandei ela te matar, mas ela se jogou da ponte e se suicidou! — Giovana agarrou o pulso de Lúcia com força, seus olhos injetados de sangue, o rosto deformado pelo ciúme. — Quer saber por quê? Ótimo, eu vou te contar! Lúcia, você não faz ideia do quanto você é insuportável! Você acha que eu não sei por que você me ajudou a estudar, por que quis ser minha amiga? Só queria alguém que te fizesse parecer ainda mais bonita e rica! Estar ao seu lado era ser invisível! Eu era o palhaço, a sombra! Por quê? Só porque eu nasci em
Lúcia não queria morrer! Ela não podia morrer! Seu pai ainda estava no hospital, entre a vida e a morte, sem ter acordado! Sua mãe tinha dito que, se algo acontecesse com ela, a família Baptista estaria completamente destruída!Lúcia se arrependia tanto, se sentia tão estúpida por não ter ouvido o conselho do taxista, que havia insistido para ela não ir sozinha para aquele lugar! E Ela não deveria ter desligado o telefone na cara de Sílvio!A água do lago tinha um cheiro nauseante de peixe podre, que invadia seu nariz, seus olhos, seus lábios. Seu estômago e seu corpo foram forçados a engolir aquela água fétida.Lúcia lutava desesperadamente com todas as forças que tinha!— Lúcia, para de lutar! Você já não está em estágio terminal de câncer no fígado? Não vai demorar muito pra você morrer de qualquer jeito! Viver mais alguns dias ou menos, que diferença faz? Hoje ninguém vai te salvar! Você continuar nesse mundo só traz desgraça! Se eu não te matar hoje, vai ser seu marido que vai
A resposta de Sílvio surgiu diante dos seus olhos: “No seu enterro, vou soltar fogos de artifício por dias e noites inteiras, te desejando um caminho rápido para o além! Tudo será rosa, porque sei que você adora essa cor. Seu retrato, as flores, e até o caixão serão do jeito que você gosta! Farei do seu funeral o mais grandioso de todos, sem igual! Vou te dar o destaque que você merece! Lúcia, vai pro inferno! Lúcia, você merece morrer mil vezes! Vá se ajoelhar e pedir perdão aos meus pais, implore por suas almas, sua desgraçada!”Lúcia sentia a cabeça cada vez mais pesada, e o corpo estava exausto. A imagem de Sílvio, com aquele sorriso desprezível, preenchia sua visão. Será que estava delirando? De repente, ela viu o Sílvio de quando se conheceram pela primeira vez.Ele usava uma jaqueta jeans desbotada e carregava uma mochila preta sobre o ombro. Simples, quase sem destaque, mas com uma presença inegável. Na época, Lúcia era a presidente do grêmio estudantil e estava responsável