Lúcia apertou os lábios. Ele estava encostado no batente da porta, com um sorriso discreto nos lábios, claramente de bom humor. Só de ouvir que ela realizaria seu desejo, ele já parecia tão feliz?— Enfim, não vou te decepcionar. — Disse Lúcia, desviando o olhar para a batata que estava descascando. Sua saúde estava se deteriorando rapidamente, não demoraria muito para que ela desaparecesse completamente deste mundo. No seu funeral, ele provavelmente riria de satisfação, finalmente conseguindo o que tanto desejava.— Qual foi o desejo que você fez? — Sílvio perguntou, satisfeito com a resposta dela, mas ainda curioso.Lúcia piscou os olhos:— Se eu contar, não vai se realizar.“Sílvio, meu desejo é que minha família seja feliz e saudável. Espero que você viva muitos anos, que deixe o ódio de lado e que nunca mais franza a testa. Você quer que eu morra, mas eu não quero que você morra, mesmo que você me torture, mande Olga me matar, ou prepare meu caixão. Porque, apesar de tudo, eu ai
Sílvio não disse mais nada. Terminou o café da manhã, trocou o pijama por um terno executivo, colocou o relógio de pulso e, sentado no banco do hall, calçou os sapatos pretos que Lúcia havia polido até brilharem. Pegou a pasta e desceu para o trabalho.Lúcia, após o café, foi à cozinha lavar a louça. Depois de limpar a casa, desceu para jogar o lixo fora e pegou um táxi para o hospital. Antes de ir ao hospital, preparou uma mochila com uma garrafa de água, toalha e roupas de troca, pois precisaria ficar internada após o aborto. Precisava encontrar uma desculpa para enganar Sílvio.Ao chegar ao hospital, o médico a viu e suspirou de alívio:— Srta. Lúcia, finalmente você chegou. Pensei que não viria hoje.— Como eu poderia não vir? Meu corpo não aguenta mais esperar, né? — Lúcia sorriu amargamente.O médico lhe deu uma guia para a cirurgia e a instruiu a pagar na recepção do térreo.Lúcia pegou o elevador e desceu. A fila no guichê de pagamento era longa, esperou por vinte minutos até
O celular tocou algumas vezes, mas logo foi desligado.Estava claro que Sílvio não queria atender a ligação dela.Giovana saiu do hospital com os dentes cerrados, cada vez mais irritada. Ela havia ajudado Sílvio financeiramente, poderia até dizer que ele devia a vida a ela!Mas o comportamento dele estava cada vez mais indiferente, mais frio. Como ela poderia aceitar isso?Giovana dirigiu até o Grupo Baptista.Com passos firmes em seus saltos altos, ela pegou o elevador e chegou à sala do presidente com ares de superioridade.A sala do presidente estava vazia.Giovana perguntou a uma funcionária do escritório do lado de fora da sala do presidente e soube que Sílvio estava em uma reunião na sala de conferências.Ela foi até a porta da sala de conferências, mas Leopoldo a impediu: — Srta. Giovana, o presidente não pode vê-la agora.— Leopoldo, sei que você tem suas reservas comigo, mas pense bem, isso envolve Lúcia. Você ousa me impedir? — Giovana falou com firmeza.Leopoldo, ao ouvir q
Sílvio lançou um olhar furioso para Leopoldo:— Você não precisa me seguir.— Sim, Presidente Sílvio. — Leopoldo estava confuso, mas não ousava desobedecer sua ordem.Leopoldo informou Basílio sobre o adiamento da reunião.Basílio não parecia surpreso e voltou à sala de conferências para pegar seu casaco.Ao entrar na sala, viu Giovana com um espelhinho na mão, retocando o batom e cantarolando.— Você está de bom humor, hein? — Basílio disse, com uma mão no bolso, enquanto se aproximava.Giovana pressionou os lábios vermelhos, tampou o batom e respondeu:— Quem diria que um simples policial agora virou presidente do Grupo Araújo. Não entendo como vocês homens escolhem suas mulheres. Lúcia não passa de uma herdeira falida, ela nunca mais vai recuperar seu antigo prestígio e status. Por que vocês estão todos disputando por ela? Será que não existem mais mulheres no mundo? Ou todos vocês estão cegos? — Giovana lançou um olhar sarcástico para Basílio, que estava com uma xícara de café na m
O médico mudou de expressão e apressou Lúcia.— Desliga o telefone. — Olhando para os instrumentos frios, o médico continuou. — Tire a calça e deite-se, vamos começar o procedimento.Lúcia olhou para a tela do celular que não parava de vibrar. Agora não era a hora de atender o telefone, para não levantar suspeitas e alertar Sílvio, o que seria problemático.Ela desligou o telefone e mandou uma mensagem rápida no WhatsApp para Sílvio: [Ocupada.]Depois, fechou o celular, tirou a calça e deitou-se na máquina.O bebê, talvez pressentindo o perigo, fez com que seu ventre começasse a doer em ondas, como se silenciosamente protestasse contra seu destino de se transformar em uma poça de sangue antes mesmo de nascer.Lúcia mordeu os lábios, acariciando a barriga, murmurando para si mesma: "Bebê, não tenha medo, eu estou com você, não vai doer. Logo estarei contigo, meu amor."Com esse pensamento, a dor no coração de Lúcia tornou-se quase insuportável.Ninguém é indiferente ao seu próprio filh
O médico, com lágrimas nos olhos, abraçou a cabeça e encolheu o corpo, olhando para Sílvio com medo:— A gente nem começou a cirurgia ainda! O bebê ainda está...Sílvio imediatamente recolheu o punho, aliviado. O rosto dele relaxou um pouco. Ainda não tinham feito o aborto!Seu filho ainda estava ali, e isso era um alívio!Sílvio arrastou Lúcia para fora da sala de aborto.Ela segurava firmemente o batente da porta, sem soltar: — Sílvio, eu quero abortar! Esse filho não pode nascer!Sílvio riu de raiva ao ouvir isso. Como assim, seu filho não podia nascer?Ele começou a tirar as mãos dela do batente, uma por uma, de forma rude, arrastando-a para fora.O médico se levantou do chão, tentando impedir a passagem deles: — Ela não pode ter esse bebê, ela já tem...— Saia da minha frente! — Sílvio, em fúria, não queria ouvir nada do médico.Ele sabia que aquele médico estava do lado de Lúcia!A presença dominante de Sílvio fez o médico calar-se e abrir caminho.Sílvio segurou Lúcia pelo bra
Lúcia soltou uma risada amarga. Ela já estava acostumada com as acusações dele.Se o mal-entendido pudesse fazer com que ele abortasse o bebê, ela não se importaria. Ela só queria viver mais alguns dias.— Presidente Sílvio, o que você achar que é, será. — Lúcia sorriu com desdém. — Então, quando você pretende tirar o bebê do meu ventre?Sílvio estava furioso. Diziam que nem um tigre devorava seus próprios filhotes, mas ela parecia ansiosa para se livrar da criança.Ele se lembrava de quando começaram a namorar, ela queria desesperadamente ter um filho dele. E agora que estava grávida, não queria mais.As veias saltavam nas mãos de Sílvio enquanto ele apertava o pescoço dela. Pelas coisas sujas que Abelardo havia feito, estrangular Lúcia cem vezes seria pouco.Mas agora, com a oportunidade bem diante dele, ele não conseguia. Mesmo pegando ela tentando abortar seu filho, não conseguia matá-la!Porque Lúcia era única. Se a matasse, ela não estaria mais ali.Finalmente, com os olhos verme
Lúcia ouviu aquelas palavras e sentiu-se profundamente irônica. Ele dizia que ela ainda era sua esposa, mas qual homem trataria sua própria esposa com tanto desprezo e zombaria? Quem desejaria que sua esposa morresse o mais rápido possível?Ele nunca quis que ela fosse sua esposa, nunca mesmo! Quando começaram a namorar, ele já tinha planos, e agora não era diferente!— Sílvio, no seu coração, algum dia, você me tratou verdadeiramente como sua esposa? Nunca, nem por um dia, você só me odiou, me desprezou! — Lúcia chorava enquanto murmurava. — Agora que eu não tenho mais valor para você, por que dizer essas palavras vazias?Os olhos de Sílvio se estreitaram de raiva. Ela considerava suas palavras uma hipocrisia.Mas ele não pretendia explicar. Ela estava certa, eram inimigos, e ele deveria odiá-la.Com um olhar de desprezo, ele soltou o pescoço dela e deu um sorriso frio: — Sim, você não veio até mim para fazer um acordo? Quanto mais você não quiser ter esse filho, mais eu vou insisti