Lúcia, de imediato, pensou que ele ia aprontar com ela de novo. Já estava com a recusa na ponta da língua. Depois de um dia cheio de altos e baixos, sentia como se todas as suas forças tivessem sido drenadas. Ainda precisava preparar os ingredientes para o café da manhã de amanhã. Ela queria pedir um dia de descanso para recuperar o fôlego!Mas logo se deu conta de que discutir direitos com Sílvio era um sonho impossível. Para ele, ela era apenas a filha do inimigo. Tinha muitos pecados a expiar.— Ok. Vou trocar de roupa.Obedecer sem questionar era a única forma de evitar mais sofrimento. Amanhã de manhã, ela ainda teria que ir ao hospital para fazer um aborto.Lúcia se trocou e viu que ele também havia mudado para um casaco bege, com uma camisa e suéter por baixo, calça jeans larga e botas de couro. Ela ficou surpresa, raramente o via usando roupas tão casuais, mas ele ainda parecia elegante e atraente.Assim que saíram do elevador, Sílvio percebeu sua silhueta frágil, carregando
Nem uma alma viva. Lúcia se perdeu em pensamentos, ela lembrava que, naquela época, era a presidente do grêmio estudantil, responsável pela recepção dos calouros. Vestia um casaco vermelho, maquiada com esmero, quando viu Giovana trazendo Sílvio para se apresentar.Sem querer, levantou os olhos e viu Sílvio usando uma jaqueta jeans desbotada. Apesar do frio intenso e da neve caindo, ele estava com pouca roupa, mas mantinha a postura ereta. O mais marcante era o olhar dele, cheio de desdém e ironia.Naquele tempo, ela não entendia por que Sílvio não tentava agradá-la como os outros, com aquele comportamento frio e distante. Agora, sabia que foi por causa das duas vidas que foram perdidas antes de se encontrarem.Pensando no passado, o coração de Lúcia se encheu de sentimentos contraditórios. Nenhum dos dois falou enquanto davam uma volta completa pelo campus. No campo de esportes, havia jovens correndo e estudantes dedicados recitando em voz alta. Sob a luz do luar, casais se beijav
Lúcia terminou de fazer seu pedido e abriu os olhos, vendo que ele também estava de olhos fechados, fazendo um pedido. Ela ficou um pouco surpresa, pois em sua mente, ele não acreditava nessas coisas. Ela levantou a cabeça, olhando para as estrelas cadentes iluminando o céu, uma após a outra. Quando Sílvio terminou, eles finalmente deixaram a cidade universitária de carro. Ela olhava para fora da janela, observando a paisagem e as árvores passarem, sem dizer uma palavra. Ele dirigia em silêncio, com uma expressão impassível no rosto, enquanto a luz verde das árvores passava por seu rosto bonito, tornando-o ainda mais enigmático.Lúcia avistou um supermercado e disse que precisava comprar os ingredientes para o café da manhã do dia seguinte. Sílvio encostou o carro na calçada e começou a soltar o cinto de segurança. Lúcia franziu a testa:— Eu vou sozinha. Você pode voltar. Depois eu pego um táxi.A mão dele parou no meio do caminho para soltar o cinto. Lúcia estava sendo gentil,
— Vai custar duzentos reais. — Disse o menino, com seriedade.Sílvio deu um sorriso. Vendo-o sorrir, Lúcia e a avó do menino respiraram aliviadas. A avó apressou-se em desculpar-se:— Senhor, ele é só uma criança, não entende muito bem as coisas.— Eu não estou mentindo, é caro mesmo. Duzentos reais é o que meu pai ganha em um dia de trabalho sem comer nem beber.A sinceridade e a seriedade do menino fizeram Sílvio rir ainda mais:— Eu te perdoo, mas é melhor você não correr por aí em lugares públicos como o supermercado. Se quebrar algo, o prejuízo é o de menos. Se machucar, vai doer em você e deixar sua família triste.— Tá bom, vou lembrar disso. Você é um homem legal.O menino, com um sorriso radiante, deu um beijo estalado na bochecha de Sílvio. Sílvio ficou um pouco surpreso. Era a primeira vez que alguém o chamava de "homem legal". No mundo dos negócios, ele era conhecido por ser astuto e imprevisível; mas, para aquela criança, ele era apenas um bom homem. O olhar simples e p
Lúcia apertou os lábios. Ele estava encostado no batente da porta, com um sorriso discreto nos lábios, claramente de bom humor. Só de ouvir que ela realizaria seu desejo, ele já parecia tão feliz?— Enfim, não vou te decepcionar. — Disse Lúcia, desviando o olhar para a batata que estava descascando. Sua saúde estava se deteriorando rapidamente, não demoraria muito para que ela desaparecesse completamente deste mundo. No seu funeral, ele provavelmente riria de satisfação, finalmente conseguindo o que tanto desejava.— Qual foi o desejo que você fez? — Sílvio perguntou, satisfeito com a resposta dela, mas ainda curioso.Lúcia piscou os olhos:— Se eu contar, não vai se realizar.“Sílvio, meu desejo é que minha família seja feliz e saudável. Espero que você viva muitos anos, que deixe o ódio de lado e que nunca mais franza a testa. Você quer que eu morra, mas eu não quero que você morra, mesmo que você me torture, mande Olga me matar, ou prepare meu caixão. Porque, apesar de tudo, eu ai
Sílvio não disse mais nada. Terminou o café da manhã, trocou o pijama por um terno executivo, colocou o relógio de pulso e, sentado no banco do hall, calçou os sapatos pretos que Lúcia havia polido até brilharem. Pegou a pasta e desceu para o trabalho.Lúcia, após o café, foi à cozinha lavar a louça. Depois de limpar a casa, desceu para jogar o lixo fora e pegou um táxi para o hospital. Antes de ir ao hospital, preparou uma mochila com uma garrafa de água, toalha e roupas de troca, pois precisaria ficar internada após o aborto. Precisava encontrar uma desculpa para enganar Sílvio.Ao chegar ao hospital, o médico a viu e suspirou de alívio:— Srta. Lúcia, finalmente você chegou. Pensei que não viria hoje.— Como eu poderia não vir? Meu corpo não aguenta mais esperar, né? — Lúcia sorriu amargamente.O médico lhe deu uma guia para a cirurgia e a instruiu a pagar na recepção do térreo.Lúcia pegou o elevador e desceu. A fila no guichê de pagamento era longa, esperou por vinte minutos até
O celular tocou algumas vezes, mas logo foi desligado.Estava claro que Sílvio não queria atender a ligação dela.Giovana saiu do hospital com os dentes cerrados, cada vez mais irritada. Ela havia ajudado Sílvio financeiramente, poderia até dizer que ele devia a vida a ela!Mas o comportamento dele estava cada vez mais indiferente, mais frio. Como ela poderia aceitar isso?Giovana dirigiu até o Grupo Baptista.Com passos firmes em seus saltos altos, ela pegou o elevador e chegou à sala do presidente com ares de superioridade.A sala do presidente estava vazia.Giovana perguntou a uma funcionária do escritório do lado de fora da sala do presidente e soube que Sílvio estava em uma reunião na sala de conferências.Ela foi até a porta da sala de conferências, mas Leopoldo a impediu: — Srta. Giovana, o presidente não pode vê-la agora.— Leopoldo, sei que você tem suas reservas comigo, mas pense bem, isso envolve Lúcia. Você ousa me impedir? — Giovana falou com firmeza.Leopoldo, ao ouvir q
Sílvio lançou um olhar furioso para Leopoldo:— Você não precisa me seguir.— Sim, Presidente Sílvio. — Leopoldo estava confuso, mas não ousava desobedecer sua ordem.Leopoldo informou Basílio sobre o adiamento da reunião.Basílio não parecia surpreso e voltou à sala de conferências para pegar seu casaco.Ao entrar na sala, viu Giovana com um espelhinho na mão, retocando o batom e cantarolando.— Você está de bom humor, hein? — Basílio disse, com uma mão no bolso, enquanto se aproximava.Giovana pressionou os lábios vermelhos, tampou o batom e respondeu:— Quem diria que um simples policial agora virou presidente do Grupo Araújo. Não entendo como vocês homens escolhem suas mulheres. Lúcia não passa de uma herdeira falida, ela nunca mais vai recuperar seu antigo prestígio e status. Por que vocês estão todos disputando por ela? Será que não existem mais mulheres no mundo? Ou todos vocês estão cegos? — Giovana lançou um olhar sarcástico para Basílio, que estava com uma xícara de café na m