Sílvio levantou os olhos, semicerrando-os enquanto observava o crachá retangular preso ao jaleco do médico que dizia “Médico Chefe”.Sílvio então avaliou o médico: um homem alto e magro, de traços delicados e aparência agradável. Muitas jovens atualmente apreciavam esse tipo de homem.O médico também estudava Sílvio com curiosidade. Vestindo um terno preto e óculos de armação dourada apoiados em seu nariz aristocrático, ele tinha lábios finos e, mesmo sem falar, sua presença imponente deixava claro que não era uma pessoa comum. Ele e Lúcia realmente pareciam um casal.- O senhor deve ser o marido da Lúcia, certo? - O médico perguntou novamente, apertando os lábios.- Não! - Sílvio negou friamente.- Então você é um parente dela?O médico não queria perder a oportunidade, pois a condição de Lúcia era realmente grave, e era essencial informar a família.- Você está interessado nela? - Sílvio sorriu friamente.O médico sentiu um calafrio nas costas com aquele sorriso e acenou com a mão:
- Sr. Sílvio disse que está muito ocupado e não virá. - Marina parecia constrangida.Será que ele não havia transferido o dinheiro para sua mãe? E seu pai, como estaria?Lúcia olhou em volta, levantou as cobertas e os travesseiros, mas algo estava faltando.- Sra. Lúcia, o que está procurando? - Marina colocou a canja de galinha no criado-mudo, olhando para ela sem entender. - Me diga, eu ajudo a procurar.- Meu celular! Onde vocês esconderam meu celular? - Perguntou Lúcia.- O celular foi levado pelo Sr. Sílvio. - Respondeu Marina.Sílvio realmente pegou seu celular? Por isso sua mãe não conseguia entrar em contato com ela.Lúcia entrou em pânico, segurou a mão de Marina e suplicou: - Marina, posso usar seu celular? É uma emergência.- Sra. Lúcia, não é que eu não queira emprestar, mas o Sr. Sílvio disse que, se eu quisesse continuar trabalhando aqui, teria que entregar meu celular até que você se recuperasse completamente. Então, eu também estou sem celular.Marina balançou a cabeça
- Como é que eu vou saber como está seu pai? Pergunta pra sua mãe. - Sílvio riu friamente, sem nem ao menos considerar responder diretamente.Ela ficou ainda mais furiosa, reprimindo a chama dentro de si: - Você confiscou meu celular, não consigo contatá-los. Você deu dinheiro para minha mãe ou não deu?Ela esperava ver alguma reação no rosto de Sílvio, qualquer sinal.Já fazia dias desde que não tinham notícias do pai dela, ela precisava saber se ele estava vivo ou morto, se Sílvio havia transferido o dinheiro para ele!Mas a expressão inexpressiva dele a deixou cada vez mais inquieta.- Você não transferiu o dinheiro, certo? - Lúcia perguntou ansiosamente.- Começa bebendo a canja de galinha que a Marina fez pra você. - Sílvio olhou friamente para ela.Seu coração se apertou com a forma como ele desviou o assunto. Ela se sentiu cada vez mais angustiada.O que estava acontecendo afinal? Ele realmente não transferiu o dinheiro? Então, seu pai...- Sílvio, me diz! Você cumpriu sua prom
- Repete isso! Sílvio, repete o que você disse! Lúcia, ao ouvir o sussurro dele, ficou furiosa, seus olhos ardendo de raiva enquanto ela o encarava e rugia.Seu corpo tremia de raiva...- Lúcia, você ainda é jovem, mas já está com problemas de audição? Não importa quantas vezes eu diga, a resposta será sempre a mesma! - Sílvio sorriu levemente.Esse desgraçado ainda tinha a coragem de sorrir. Aquele era o seu sogro, afinal.Lúcia tentou agarrar o colarinho dele, mas seu pulso foi imediatamente segurado por ele: - Sra. Lúcia, pessoas civilizadas usam palavras, não violência.- Como meu pai morreu? Me diga, Sílvio, por que ele morreu? - Lúcia perguntou com os olhos cheios de ira e lágrimas.Seus lábios frios e desdenhosos formaram um sorriso: - Por que ele morreu? Sra. Lúcia, você não sabe? Porque você foi uma filha ingrata e não conseguiu arrecadar os cinco milhões para a cirurgia!Ele não tinha transferido o dinheiro!Sílvio realmente não havia transferido o dinheiro, esse desgraçad
- Calar a boca? Por que eu faria isso? Seu pai era mesmo um canalha! Ele morreu sem receber tratamento, do lado de fora da sala de cirurgia! Foi o castigo dele!Sílvio estava satisfeito com a reação desolada de Lúcia e soltou a mão dela com um movimento brusco. Lúcia caiu sobre a colcha cinza. Deitada, ela formava punhos com os dedos, batendo repetidamente no tecido. Ela sempre achou que Sílvio era um ingrato, mas nunca imaginou que ele fosse tão cruel.Ele a forçou a se divorciar usando abuso emocional, deixou seu pai morrer sem ajuda, e agora havia internado sua mãe em um hospício. Raiva, ódio, frustração e ressentimento inundaram o coração de Lúcia.- Agora você pode sentir a dor que eu senti por perder minha família todos esses anos? Isso é o seu merecido castigo! - Sílvio curvou os lábios em um sorriso frio, desviou o olhar e se virou para sair.O olhar de Lúcia se fixou na tesoura deixada na mesa de cabeceira. Esse desgraçado, ela estava determinada a acabar com ele de uma vez p
No quarto, Marina havia retirado todas as tesouras, facas, garfos e objetos pontiagudos. Lúcia parecia uma boneca de pano, cumprindo mecanicamente sua rotina diária de comer, tomar remédios, receber soro e ser examinada pelas enfermeiras. Seus olhos estavam sem vida.Durante três dias, ela refletiu, sem conseguir entender como havia se apaixonado por Sílvio. Seu celular ainda não tinha sido devolvido. Observando pela janela, ela via mais de vinte seguranças bloqueando todas as saídas da Mansão do Baptista. Câmeras estavam espalhadas por todos os cantos da casa, inclusive em seu quarto. Sílvio era um verdadeiro maníaco, monitorando cada movimento dela sem nenhuma privacidade.Ela não chorava nem fazia escândalos, sabendo que seria inútil. A situação já estava selada. Nos primeiros dois dias e meio, a comida parecia deliciosa, com aparência e aroma irresistíveis. Mas seu estômago doía, e ela não conseguia comer.Marina, preocupada, tentou convencê-la: - Sra. Lúcia, é melhor a senh
- Já notifiquei os familiares do paciente. Eles estão a caminho.- Que venham logo buscar o corpo, para não obstruir o caminho.Dois profissionais de saúde uniformizados e mascarados conversavam em voz baixa, como se a morte de alguém no hospital fosse a coisa mais normal do mundo.Lúcia virou o rosto, seu olhar fixo na maca coberta por um lençol branco. O tamanho do corpo era semelhante ao de Abelardo. Abelardo tinha ficado no quarto 1502, ela mesma havia feito a internação, não havia como se enganar.Sílvio não mentiu para ela! Seu pai estava realmente morto, realmente morto.Lágrimas grossas caíram, molhando o lençol da maca.Os dois profissionais de saúde notaram a reação de Lúcia e olharam para ela com sobrancelhas franzidas: - Você é parente do paciente?Lúcia assentiu.- Então leve o paciente embora o mais rápido possível e não se esqueça de pagar as contas médicas. Ele deixou uma dívida considerável. - Um dos profissionais disse, antes de se dirigir a outro quarto com seu co
Sílvio vestia um terno preto, luvas de couro preto, um cachecol preto e óculos de armação preta sobre o nariz alto e bem definido. Ele estava impassível, observando Lúcia a distância.Sílvio sempre preferiu o preto. Desde que ela o conheceu, ele nunca usou roupas de cores vivas. Mesmo com um estilo simples e tradicional, nele, as roupas ganhavam uma aura de sofisticação e imponência.Quando Lúcia o conheceu, ele sempre olhava para baixo, com um olhar tímido. Não havia sinal da autoridade que ele exibia agora. De fato, as pessoas mudavam. E ela também não era mais a mesma...Sandra ainda usava o mesmo vestido vinho e o colete de pele de raposa. Em uma noite, seus cabelos haviam embranquecido bastante. Ela andou rapidamente até Lúcia, que estava sentada no chão, e a ajudou a se levantar, com o olhar preocupado fixo no rosto pálido e sem cor de Lúcia: - Filha, ouvi do Sílvio que você não estava se sentindo bem. Por que não ficou em casa descansando? Eu estou aqui para cuidar do seu pai,