Ao pensar em Basílio, Lúcia não conseguia evitar o aperto no peito. Ele era um verdadeiro cavalheiro, um homem bom como poucos. Lembrou-se do dia em que, sob uma nevasca implacável, ela havia se ajoelhado diante do prédio do Grupo Baptista. Foi ele, em uma de suas missões, quem lhe entregou uma pomada para aliviar sua dor. Quando Olga tentou atropelá-la, foi Basílio quem chegou a tempo de salvá-la. Durante o transplante de fígado, foi ele quem encontrou Daulo para ajudá-la. Por dez anos, ele a protegeu em silêncio. Dez anos... Quantas décadas dessas a vida pode oferecer a alguém? Lúcia sabia que nunca conseguiria retribuir a profundidade desse sentimento. Ele sempre dizia que o que sentia por ela não era amor. Mas Lúcia não era ingênua. Sabia que ele dizia isso de propósito, para empurrá-la de volta para Sílvio, para ajudá-los a se reconciliarem. O nariz de Lúcia ficou apertado, e os olhos começaram a se encher de lágrimas. Ela já havia chorado tantas vezes, mas, dessa vez, era dif
— Não fale assim. Eu ainda espero que você seja feliz. Uma pessoa tão incrível como você não pode terminar a vida sozinho. — Lúcia não gostou do que ouviu e respondeu com firmeza. Apesar do tom de leve repreensão, Basílio apenas sorriu. Ele sabia que aquilo era a forma dela de demonstrar preocupação, algo raro vindo dela. E, por isso, ele valorizava. De repente, a música romântica preencheu o salão. O mestre de cerimônias, com o microfone em mãos, anunciou solenemente: — Convidamos agora a entrada da noiva!Os holofotes se voltaram para Lúcia e Basílio. De braço dado com ele, Lúcia começou a caminhar pelo corredor coberto de pétalas de flores, em direção ao centro do palco, onde o mestre de cerimônias e Sílvio a aguardavam. Sob o vestido branco de noiva, ela usava sapatos baixos. Lúcia havia pensado em usar salto alto, mas Sílvio insistiu que ela escolhesse algo confortável, pensando no bebê que ela carregava. Ele sempre cuidava dela, com atenção aos mínimos detalhes, e ela aceita
Sílvio a envolveu em um abraço apertado, acariciando suas costas, tentando acalmá-la. Depois de alguns instantes, ele se afastou delicadamente, segurou o microfone e, com os olhos marejados, começou a falar:— Lúcia, obrigado. Obrigado por me dar uma segunda chance, por permitir que eu me redimisse, por me dar a oportunidade de envelhecer ao seu lado. Eu cometi muitos erros no passado, não enxerguei o que realmente sentia, te machuquei e disse coisas que nunca deveria ter dito. Mas hoje, quero que você saiba algo. Você me ama, e isso eu já sei. Mas e o quanto eu te amo? Você tem ideia disso?Lúcia olhou para ele, sem dizer nada, apenas escutando.— Na verdade, desde o primeiro momento em que te vi... Lembra da recepção aos calouros na universidade? Você estava lá, organizando tudo. Entre tantas pessoas naquele campus, bastou um olhar para que eu me lembrasse de você. Naquele instante, você já tinha tomado um lugar no meu coração, marcado minha memória para sempre. Ou seja, Lúcia, mesmo
— Basílio, você precisa ser feliz. Prometa que vai ser. Caso contrário, Sílvio e eu nunca teremos paz de espírito. — Lúcia disse, mordendo levemente o lábio, reafirmando o pedido.Um homem tão bom como ele não podia passar a vida sozinho. Ele merecia encontrar alguém tão incrível quanto ele, alguém com quem pudesse construir uma vida e compartilhar o futuro.Basílio manteve seu sorriso habitual, aquele que exalava gentileza e elegância. Com um leve aceno de cabeça, respondeu que sim. Hoje, o vinho da festa deveria estar delicioso, mas ele nem se atreveu a beber. Tinha medo de perder o controle das emoções. A comida, que em qualquer outra circunstância seria saborosa, parecia sem gosto. Ele mal conseguiu comer algumas garfadas antes de deixar o prato de lado.Pouco tempo depois, Lúcia reapareceu, agora com um vestido mais leve, ao lado de Sílvio. Juntos, começaram a circular entre as mesas, brindando com os convidados. Basílio se levantou, pegou uma taça de suco de laranja e ergueu-a pa
Portanto, o registro da ligação durou apenas dois segundos.O garçom não fazia ideia das complicações envolvidas ao discar aquele número.Enquanto isso, Ivone Garcia, vestindo um elegante vestido no estilo Chanel, passeava pelo shopping com sua melhor amiga. O shopping, por acaso, era propriedade de Gabriel, pai de Ivone. Com um ar despreocupado e generoso, ela comentou com a amiga:— Para agradecer por você ter conseguido aquele contrato para o Grupo Araújo, escolha o que quiser. Eu pago.— Então eu não vou me fazer de rogada! — Respondeu a amiga com um sorriso, dirigindo-se a uma vitrine de artigos de luxo. Pouco depois, escolheu uma bolsa que custava nada menos que dois milhões de reais.Ivone chamou a vendedora e pediu que colocasse a conta no nome dela. A funcionária ficou boquiaberta. Nunca tinha visto alguém gastar tanto dinheiro com tanta facilidade.— E então, Ivone? Como está indo com o seu “príncipe encantado”? — Perguntou a amiga, curiosa.— Ah, nem me fale. Tá do mesmo jei
Não houve resposta. Depois de terminar de ajustar o próprio cinto de segurança, Ivone levantou o olhar e viu Basílio inclinado contra o encosto do banco do passageiro, com as sobrancelhas franzidas. Ele mantinha os olhos fechados e suas longas e grossas pestanas projetavam pequenas sombras sob a luz fraca. O terno estava levemente desalinhado, revelando o contorno refinado de sua clavícula.Ivone pensou que ele tinha adormecido e tentou, com cuidado, perguntar:— Quer que eu te ajude a colocar o cinto?Ainda assim, nada. Ele não respondeu. Ela suspirou discretamente, inclinou o corpo e decidiu ajudá-lo. Aproximou-se para puxar o cinto de segurança. Os dois ficaram tão próximos que ela podia sentir o ritmo suave e profundo da respiração dele.Seu coração acelerou. Ivone mordeu os lábios, tentando disfarçar o nervosismo, enquanto ajustava o cinto sobre ele. Sentiu a respiração quente de Basílio roçar em seu pescoço, e, por um instante, os lábios dele tocaram levemente sua pele, causando
Basílio não ouvia nada do que Ivone dizia. Para ele, naquele momento, só existia Lúcia. Ele a apertou ainda mais forte em seus braços e murmurou, com uma voz carregada de tristeza:— Não me empurre. Eu estou péssimo. Fica comigo, por favor.Ivone, perdida na situação, não fazia ideia de que estava mergulhando cada vez mais fundo no papel de substituta. Seus olhos se arregalaram em surpresa enquanto olhava para ele.— Você... você sabe quem eu sou?— Eu gosto de você. Não me rejeite. — Respondeu Basílio, com uma voz que parecia ter o poder de hipnotizar.O tom dele era tão intenso, tão envolvente, que Ivone mal conseguia pensar. Seu coração começou a derreter, consumido pela alegria de ouvir uma confissão do homem dos seus sonhos. As lágrimas brotaram em seus olhos, e ela não conseguiu resistir. Com um impulso, retribuiu o beijo com paixão.Os dedos deles se entrelaçaram. Enquanto a beijava de forma ardente, Basílio começou a tirar a gravata, a camisa e o paletó, deixando cada peça cair
A amiga de Ivone, que trabalhava como gerente de clientes do hotel, recebeu um pedido incomum naquela manhã. Ivone ligou para ela com urgência e pediu que apagasse as gravações das câmeras de segurança referentes à noite anterior. A amiga sorriu do outro lado da linha e respondeu:— Isso é moleza! Depois de você ter me dado aquela bolsa, claro que eu resolvo. Fica tranquila, Basílio não vai conseguir descobrir nada sobre o que aconteceu ontem.Após encerrar a ligação, Ivone terminou de se arrumar às pressas. Vestiu as roupas que estavam espalhadas pelo chão, de maneira um pouco desajeitada, e, com o coração acelerado, pegou a bolsa e saiu do quarto na ponta dos pés.Na manhã seguinte, ao amanhecer.Basílio abriu os olhos lentamente, revelando o brilho âmbar de suas íris. Ainda deitado, virou o rosto para o lado e percebeu que a cama ao seu lado estava vazia. Franziu as sobrancelhas, confuso. A lembrança da noite passada veio à tona como um borrão: em seu sonho, ele havia visto Lúcia so