Zhoe Nolan era uma mulher que não tinha medo de dar um passo à frente. O problema era que muitas vezes isso a levava a uma queda de um enorme precipício.
Por um momento teve a impressão de que sua vida tinha virado pelo avesso, que não havia nada que pudesse fazer para se reerguer, mas — palmas para ela — já estava sorrindo como uma verdadeira sobrevivente. Por mais que esse sorriso fosse o mais falso e ensaiado que pudesse conseguir externar.
Era isso ou aguentar os olhares de pena de todos, que sabiam que ela tinha sido tola e ingênua o suficiente para cair pela segunda vez na lábia de um cafajeste, para acreditar em suas promessas, só para ser abandonada que nem uma jovenzinha tola e apaixonada.
Durante alguns meses, amaldiçoou suas próprias atitudes e sua falta de sorte. Acreditou fielmente que alguma divindade invejosa estava conspirando contra ela, que aquilo tinha a ver com carma, ascendente, vidas passadas... até parar para concluir, de forma muito mais racional, que era tudo uma questão de burrice, de uma escolha errada, feita na hora errada, com a pessoa errada.
Mas estava ali, aprendendo lentamente a curar seu coração outra vez, dando a volta por cima.
Era ou não era um passo e tanto para frente?
E como o universo não só conspira contra as pessoas que acreditam em uma promessa vaga e cruel, tinha recebido sua compensação.
O nome desta compensação era “Sweet Dreams”. Tinha quarenta e cinco metros quadrados de cores e imagens lúdicas, e cheirava a bolo recém-saído do forno.
Apesar de Zhoe não ter investido um centavo sequer naquele negócio, sentia como se fosse um pouco seu também. Afinal, o acordo era que Paige O’Brien entraria com o investimento, e Zhoe entraria com o trabalho. E estava disposta a trabalhar muito. Porém, Paige não parecia estar pensando muito diferente, pois sua garra e sua disposição pareciam inabaláveis. Era como se ela estivesse descontando cada mágoa do passado naquele trabalho.
Oito meses atrás, Paige tinha chegado naquela cidade como uma fugitiva. Escapara dos maus tratos de um tio obcecado, indo parar exatamente em Green Hill.
Esse tio, chamado Geoffrey Hill, assassinou seus pais em um incêndio e tornou-se seu tutor. Para controlar sua gorda herança, ele passou a controlá-la, mantendo-a em cativeiro por sete anos. Mas depois que conseguiu fugir e que Geoffrey foi preso, ela recuperou seu dinheiro, que, para sua sorte, estava muito bem investido em propriedades e ações. O cara podia ser um louco violento, mas não desperdiçava dinheiro.
Tal dinheiro tornou-se literalmente responsável pela criação de um sonho. Como sócias, Paige e Zhoe tinham sua própria loja de cupcakes, que inauguraria naquele exato dia.
Apesar do novo trabalho, Zhoe não pretendia deixar a pensão de lado. Tratava-se de um negócio de família, algo que sua avó prezara mais do que tudo, então, sua alternativa seria deixar Darlla por lá, enquanto se concentrava na confecção dos cupcakes e outros doces.
E ela não podia dizer que não estava feliz. Green Hill em peso já estava começando a frequentar a Sweet Dreams, o que elas já esperavam, afinal, aquela cidade adorava uma boa novidade. Filas não paravam de se formar em frente ao caixa — que Paige estava operando —, e algumas pessoas, inclusive, estavam retornando por segundas e terceiras vezes. Era um verdadeiro sucesso, elas não podiam negar. Zhoe sentia-se feliz. E, pelo menos, na maior parte do tempo, sentia como se não lhe faltasse nada.
É, bem... pelo menos oito horas por dia, enquanto ficava na loja, mesmo quando estivera trabalhando na reforma. No resto do tempo sentia-se miserável.
O horário de fechamento da loja era sete horas, mas já eram quase oito quando o último cliente decidiu sair, levando os últimos dois donuts de brigadeiro e o último pedaço de torta holandesa, especialidade de Paige. Os cupcakes, no entanto, tinham acabado depois de quatro horas da loja aberta. Eram os doces mais procurados, o que significava que elas teriam que aumentar a produção.
— Meninas, que sucesso! — Cora chegou na loja pouco antes de fecharem, junto com o xerife da cidade, Jacob Barnham, namorado de Paige.
Zhoe olhou para sua sócia, sorrindo, e percebeu que ela estava apoiada no balcão, quase tentando recuperar o fôlego, depois de um dia frenético. Jacob logo aproximou-se dela e a beijou.
— Estou muito orgulhoso de você — ele falou, em um tom apaixonado e genuíno.
E ele tinha mesmo que estar. A mulher que tinha acabado de beijar era mais do que uma sobrevivente. Era uma lutadora. Tinha escapado de uma vida de terrores, de escravidão, para se tornar uma mulher de negócios. Agora ela tinha amigos, uma loja e um homem para esquentar sua cama todas as noites. Zhoe estava muito feliz por ela.
Ah, quem ela queria enganar? Claro que estava feliz pela amiga. Gostava e admirava Paige como acontecia com poucas pessoas, mas não podia deixar de invejá-la um pouco.
Era óbvio que, conhecendo o passado de Paige, não podia sequer cometer aquele disparate de invejá-la, mas não podia obrigar seu coração a ficar indiferente à situação.
Podia tentar enganar a qualquer um, menos a si mesma. Tate podia ter saído pela porta de sua casa, mas estava longe de sair de dentro dela. Estava lá ainda, enraizado firmemente, e ela temia que ele pretendesse ficar ali por um bom tempo.
— Foi sensacional. Não esperava que tivéssemos tanto movimento em um só dia — empolgada, Paige sorria sem parar. Dava gosto de ver.
— Prepare-se! Vamos fazer história nessa cidade! — começando a se sentir igualmente animada, Zhoe exclamou.
— Vamos, não. Já estamos fazendo. Com certeza nossos doces são os mais gostosos de toda Green Hill.
— Eu acho, inclusive, que temos que comemorar em grande estilo.
A ideia veio de Jacob, e Zhoe quase choramingou em resposta. Suas pernas doíam, as costas estavam quase estalando, e tudo que queria era cair na cama depois de um bom banho, aproveitando que Colin iria passar a noite com o avô. O problema era que, em hipótese nenhuma, teria coragem de negar qualquer coisa àquelas pessoas, especialmente em um dia como aquele, depois de tanta alegria. Com certeza precisavam comemorar.
Mas, ao menos, podia tornar aquela comemoração o mais preguiçosa possível.
— Pode ser lá na pensão? Estou exausta e acho que eu ficaria mais confortável. Além disso, se beberem demais, vocês podem ficar por lá mesmo.
Todos concordaram com a ideia, então, decidiram passar no mercadinho da família Baldwin para comprar algumas bebidas e guloseimas. O que, na opinião de Zhoe, foi uma péssima ideia.
Não que ela não se desse bem com Gilbert. Para falar a verdade, gostava muito dele e o achava um homem de muito caráter. Uma pena que o filho não tivesse seguido seu exemplo.
O problema com Gilbert Barlow era exatamente pensar que ele lhe proporcionava milhares de lembranças de Tate. A última pessoa em quem queria pensar. Pelo menos naquele momento, enquanto estava entre amigos, preparando-se para comemorar o sucesso de uma nova empreitada em sua vida. Até porque sabia que assim que ficasse sozinha, esse cenário mudaria e acabaria inundando seu coração com pensamentos em relação a ele.
E todas as vezes que se deixava levar por essa amarga melancolia, acabava jogando a culpa em si mesma. E o que mais odiava naquela vida era aquele estado de autocomiseração, que fazia com que tentasse sempre encontrar uma razão para explicar o que tinha acontecido. Mas, sinceramente, nem tudo tinha explicação, especialmente coisas relacionadas a Tate. Ele simplesmente fazia o que queria, sem se importar com as consequências, com as pessoas a quem poderia afetar. Para falar a verdade, ele estava pouco se fodendo para qualquer coisa que não estivesse instalada debaixo do seu nariz.
Outro motivo pelo qual não gostava muito de ficar perto de Gilbert, embora gostasse muito dele, era que ele simplesmente não conseguia olhar para ela, de tanta vergonha que sentia, desde que Tate tinha saído de Green Hill para qualquer lugar que tivesse ido.
Seria muito bom se tivesse ido para o quinto dos infernos.
Mas sentira algumas coisas boas naquela visita. Ou melhor, duas. Uma delas seria dar uma olhadinha em Colin, e, é claro, ver o brilho nos olhos, tanto de Cora quanto de Gilbert, ao verem um ao outro. Pareciam dois adolescentes.
— Ah, que bom ver vocês todos por aqui! — Gilbert parecia sempre acolhedor, sempre simpático. — Fiquei sabendo que a loja fez um enorme sucesso.
— Foi mesmo. As meninas trabalharam muito, então, foi bem merecido — Cora se intrometeu, novamente agindo como uma jovenzinha, tentando flertar com Gilbert. Uma gracinha.
— Fico feliz — afirmou com sinceridade. — No que posso ajudar vocês? — Gilbert perguntou, sempre animado.
— Queremos algumas guloseimas e umas bebidas. Pode ser cerveja mesmo, mas queremos uma boa quantidade para comemorarmos — Jacob pediu. — Enquanto Zhoe e Paige fazem mais cupcakes, eu e Cora vamos encher a cara — depois de dizer isso, Jacob ergueu a mão para que Cora o cumprimentasse com um high five.
— Pode apostar que vamos beber bem mais do que vocês! — Zhoe afirmou.
— Aliás, Gilbert, se quiser aparecer, será bem-vindo — Paige convidou.
— Ah, minha querida, eu adoraria, mas vou fechar a mercearia assim que vocês saírem e vou embarcar em um campeonato de Mario Kart com meu neto.
Assim como Cora, Gilbert era uma bênção na vida de Zhoe. Ambos sempre cuidavam de Colin com a maior boa vontade. Seu filho era sempre muito mimado quando ficava com eles, mas de uma forma muito positiva.
— Aliás, ele já deve estar me esperando lá nos fundos. Zhoe, quer me acompanhar e dar um beijinho nele? Enquanto isso os outros podem ficar escolhendo o que querem.
Claro que Zhoe queria muito ver o filho e lhe dar o rotineiro beijo de boa noite, mas algo lhe dizia que aquele convite de Gilbert tinha outras intenções. Parecia que ele queria lhe dizer algo. Sendo assim, ela o seguiu, passando pela portinhola do balcão e entrando na parte dos fundos da loja, indo em direção ao quartinho onde Colin estava.
A família Barlow tinha uma casa bonita na cidade, localizada bem perto da praia, mas desde que Tate tinha ido embora — ou melhor, fugido — de Green Hill, para não arcar com a responsabilidade de olhar na cara de Zhoe e dizer que não queria um relacionamento sério com ela, Gilbert passara a ficar por ali mesmo nos fundos da loja. Zhoe desconfiava que ele não era muito adepto à solidão, e uma casa grande e vazia iria lhe deixar deprimido.
Antes mesmo que pudessem abrir a porta para verem Colin, ainda parados na passagem, Gilbert segurou Zhoe pelo braço e a virou para si.
— Como você está, querida? Já faz tempo que não conversamos, e você andava tão abatida...
Ele era uma gracinha por se preocupar. O problema era que Zhoe sabia exatamente onde ele queria chegar. Sabia que suas perguntas tinham a ver com Tate, que queria saber como ela estava lidando com a cafajestagem que ele cometeu. Sim, porque Gilbert reconhecia que seu filho não valia nem a água que bebia.
— Estou bem, Gilbert. — A resposta tinha potencial para ser uma afirmativa, mas Zhoe sabia muito bem que o desânimo que imperava em sua voz demonstrava que ainda não tinha superado cem porcento. — Você não tem falado sobre mim para ele, não é? Não quero que ele saiba nada da minha vida. E nem de Colin.
— Eu praticamente nem falo com ele. Quando ele liga, na maioria das vezes nem atendo. Não tenho coragem depois de tudo que ele fez.
Zhoe sorriu. Não que a situação merecesse um sorriso, mas, definitivamente, ter alguém tão especial como Gilbert em sua vida, merecia. Tê-lo ao seu lado, mesmo quando se tratava de ficar contra seu filho, era algo sem preço.
— Agora vamos dar uma olhadinha em Colin.
Zhoe assentiu, e eles entraram no quartinho dos fundos, pegando o garoto no flagra assistindo o filme Atividade Paranormal.
— Filme de terror, Colin? Depois você fica cheio de medo e não dorme! — Zhoe repreendeu.
— Ah, mãe! Eu não sou mais criança! Eu tinha medo ano passado, agora estou com oito anos! — falou, cheio de confiança.
— Como se mudasse alguma coisa. Vamos, garoto, desliga essa TV. Senão depois é seu avô que não vai dormir com você fazendo vivi na cama.
— Mãe!
Gilbert gargalhava.
— Deixa ele, Zhoe... se fizer xixi na cama, vou sair contando para todo mundo e...
— Droga! — Colin interrompeu o avô, desligando a tevê e jogando o controle remoto longe, sobre o sofá. — Meu pai sempre me deixava assistir...
Zhoe e Gilbert se entreolharam. Aquela resposta do menino fez o coração de Zhoe se partir em um milhão de pedacinhos. Primeiro porque sempre que Tate era mencionado, fosse como fosse, ela sentia suas entranhas se revirando e seus neurônios queimando conforme pensava que jamais haveria um homem que mexesse tanto com ela quanto Tate Barlow. Em segundo lugar, porque doía ver seu filho com saudade do pai. Sempre precisava contar as mais variadas histórias para que o menino não pensasse que o pai não o amava, afinal, era isso que se passava por sua cabecinha. Nos primeiros dias, ele chegara a pensar que a culpa tinha sido sua, mas agora não falava mais nada. Contudo, seu silêncio não queria dizer que tinha parado de sofrer. Ele sofria, e Zhoe sentia isso em seu comportamento. De uma criança doce e obediente tornara-se implicante e respondão.
— Faça o que quiser, Colin. A escolha é sua...
Ao dizer isso, Zhoe saiu pela porta e começou a caminhar de volta para a loja. Estava desistindo, agindo com covardia, mas simplesmente sentia-se cansada.
Gilbert logo a seguiu.
— Espero que ele não te dê muito trabalho. Está passando por um fase difícil — Zhoe comentou, assim que Gilbert se aproximou, esperando que ele não percebesse que algumas lágrimas teimosas começavam a surgir em seus olhos.
— Não faz mal. Eu já tive um filho, sei bem como são essas fases. Pode ir comemorar tranquila. Ficaremos bem.
Ah, Zhoe esperava que sim. Até porque um dia que tinha começado maravilhosamente bem estava com potencial para terminar péssimo. Talvez umas cervejas a ajudassem a esquecer as nuvens negras sobre sua cabeça.
***
Não havia nada nesse mundo que um pouco de álcool e algumas gargalhadas com amigos não curasse. Ou, talvez, anestesiasse fosse a palavra mais certa. Mas Zhoe tinha tomado a decisão de parar de pensar demais no amanhã; queria viver um dia de cada vez.
Era uma pena que não pudesse usar esse lema para todos os aspectos de sua vida. Eram dez e meia da noite e estava enfurnada na cozinha, acompanhada por Paige, preparando seus produtos para o dia seguinte.
A verdade era que tinham uma boa cozinha na loja, mas Zhoe era chata ao ponto de demorar a se acostumar com outro fogão. Além disso, não tiveram tempo de sair do balcão, com tanta gente entrando e saindo. Tinham noção de que o movimento iria cair um pouco com o tempo, mas ao menos na primeira semana teriam que caprichar na produtividade com antecedência para darem conta.
— Acho que vocês vão precisar de uma funcionária o quanto antes — Cora comentou ao vê-las trabalhando com tanto afinco a uma hora daquelas.
— É provável que sim, mas por enquanto não temos dinheiro... — Zhoe se apressou em responder.
— Não temos dinheiro porque você não quer que eu nunca mexa na minha herança.
— Não quero que mexa mais nela. Não acha que já investiu demais nesse negócio? — Zhoe repreendeu.
— Não. Isso aqui é um sonho tão meu quanto seu. Eu nem sabia que ia ganhar esse dinheiro, Zhoe!
Zhoe sabia que Paige fazia aquilo de coração, que também era um sonho dela, mas, ainda assim, sentia-se mal por não poder investir um centavo, embora estivesse trabalhando com todo seu empenho.
No entanto, sabia também que insistir naquela história de não contratarem uma funcionária acabaria sendo prejudicial também para Paige, que, assim como ela, também assumia dupla função.
— Olha, Paige, você pode fazer o que quiser... estou sendo egoísta — reconheceu.
Paige abraçou a amiga, parecendo animada, e ambas voltaram ao trabalho.
Foi mais ou menos às onze da noite que os outros três sairam da pensão, deixando Zhoe sozinha.
E foi também alguns minutos depois que uma chuva considerável começou a cair.
Correu para fechar as janelas, mas quando se aproximou delas, decidiu deixar as cortinas abertas, só para contemplar as grossas e pesadas gotas que começaram a cair, batendo em seu vidro. Sentia-se hipnotizada, como se a tempestade que começava a cair estivesse prestes a lhe contar muitos segredos. Mas, apesar de apreciar aquelas tormentas da natureza, era em noites como aquela que Zhoe se sentia mais só. Então, para combater a melancolia, a melhor opção seria tomar um bom banho e deitar-se na cama, mas outra ideia lhe parecia muito mais atraente. Ainda havia algumas cervejas na geladeira, então, ela pretendia usá-las para se entorpecer.
Tomou banho, preparou um balde de pipoca e foi para a frente da televisão. Com o controle remoto nas mãos, começou a zapear pelos canais, sem encontrar nada que realmente lhe interessasse. Não estava nem um pouco na vibe de comédias românticas, nem dramas, nem filmes adolescentes. Queria um terror ou um suspense bem instigante. Qual era a dificuldade de fazerem um filme onde a protagonista levava um pé na bunda, mas acabava sozinha, feliz e bem resolvida? Por que todo mundo achava que só dava para ser feliz quando se estava apaixonada?
Finalmente, depois de procurar muito, encontrou um filme de fantasma que parecia bem assustador que era mais do que perfeito.
Alguns minutos se passaram até que, bem no meio do filme, acabou a energia.
Quanta ironia!
Mas Zhoe não tinha medo de assombração. A vida era bem mais asssustadora.
E para provar isso, ela ouviu alguém bater na porta.
Sentia-se tão cansada que não sabia nem se conseguiria levantar-se para atender. Mas seja lá quem fosse, mesmo àquela hora da noite, era insistente.
Com toda dificuldade, mexeu-se e caminhou até a entrada da pensão, torcendo para que ao menos fosse um hóspede. Um dinheirinho extra viria bem a calhar.
Contudo, quando abriu a porta, lá estava a última pessoa que sonhava encontrar.
— Oi, Zhoe!
Ah, meu Deus... era Tate!
Sem nem permitir que ele entrasse, Zhoe começou a se afastar, parecendo acuada, como se Tate fosse o portador de uma doença contagiosa. E talvez ele fosse mesmo. Principalmente porque só de vê-lo, ela já sentia o corpo formigando e as pernas bambeando, exatamente como se tivesse sido contaminada por uma infecção perigosa. — O que você está fazendo aqui? — perguntou, usando de seu tom de voz mais autoritário e confiante. Ou melhor, era uma tentativa de parecer confiante, porque, na verdade, se fosse revelar seus verdadeiros sentimentos, demonstraria que estava apavorada com aquela súbita aparição, quase fantasmagórica, especialmente se levasse em consideração o clima tempestuoso, bem propício a assombrações.&n
Os óculos escuros nem começavam a esconder as olheiras que tinha conquistado naquela noite. Elas pareciam gritar em seu rosto no momento em que se olhou no espelho. Estava péssima. E a culpa era de quem? Do principal responsável por suas noites insones. Aquele que só lhe proporcionava problemas e trazia apenas destruição consigo. Sua noite fora permeada por choro e horas em claro. Mas assim que colocou os pés no chão, pronta para se levantar e ir trabalhar, fez um pacto consigo mesma de que não iria mais se deixar abalar por Tate Barlow. Ela o amava? Por mais idiota que pudesse parecer, a resposta era sim, ainda tinha fortes sentimentos por ele. Mas teria que enterrar esse sentimento bem lá no fundo do coração e sobreviver. Seria bem mais difícil agora que ele estava de volta, porém, precisava ser mais fort
Tate estava exausto, mas tinha cumprido tudo que havia prometido ao pai. Em troca, conseguira a chave do pequeno apartamento nos fundos da loja, que era mais do que suficiente para um homem solteiro. Ele só esperava que aquela condição de solteiro fosse temporária. Queria Zhoe desesperadamente, mas do jeito certo. Queria se casar com ela, viver com ela, envelhecer com ela. Pena que tivesse percebido tão tarde. Com as costas doendo por passar tanto tempo em pé, Tate entrou no chuveiro e quase gemeu de satisfação ao sentir a água quente tocando suas costas largas. Apesar de estar cansado, depois de seu primeiro dia de trabalho verdadeiramente duro, sentia uma imensa satisfação. Sentia-se útil como há muito tempo não sentia. Durante o per&iacut
Quando Zhoe chegou na Sweet Dreams, encontrou Craig sentado na porta de entrada. Paige ainda não tinha chegado. — Acho que temos que te dar uma chave da loja. Na verdade era para eu ter chegado mais cedo, mas, para variar, o Tate surgiu. — Tate? Você está bem? — Craig levantou-se, enquanto Zhoe abria a porta. — Estou. O que posso fazer? Ele vai aparecer sempre, quando eu menos esperar. Preciso me acostumar com isso. — Talvez tenhamos que fazê-lo acreditar que você realmente está em outra. Já disse que posso ajudar com isso. O que acha de sairmos para jantar hoje de noite? Alguém vai ver e acabar contando para e
Rolar na cama era uma das piores coisas que poderiam acontecer a um ser humano. A insônia era uma verdadeira maldição. Zhoe estava acordada desde o momento derradeiro em que fora deitar na cama, sem ter sequer cochilado. Iria passar o dia inteiro com sono, bocejando, sem mencionar as olheiras. Para sua sorte, era domingo, mas simplesmente não poderia ficar na cama, porque precisava trabalhar em algumas questões burocráticas de sua vida. Já tinha problemas demais, então, estava na hora de eliminar alguns. Pensando nisso, levantou-se da cama, sentindo-se novamente com um péssimo humor. Aquele ia ser um dia de merda. E isso já era uma certeza, se levasse em consideração a forma como a n
De todas as pessoas que poderiam aparecer na pensão àquela hora, Zhoe podia jurar que não esperava que fosse Craig a bater à sua porta. A noite estava fria, então, ele vestia um casaco de couro marrom e um pullover de gola alta marfim. Céus, estava bonito! Estava, não, ele era. Tinha um porte másculo em um rosto que, sem qualquer explicação, inspirava confiança. Era o tipo de cara com quem a mãe de qualquer moça gostaria que a filha casasse. Até mesmo Zhoe estava tendo pensamentos muito obscenos em relação a ele naquele momento. — Boa noite, Zhoe. Me desculpa aparecer sem avisar, mas eu estava entediado, agora que terminei o meu livro, ent&at
O cheiro forte do hospital penetrava as narinas de Zhoe, mantendo-a consciente e ligada à realidade. Se não fosse por isso, seria capaz de jurar que estava vivendo um pesadelo. Mas ouvia as vozes abafadas ao seu redor e quase não sentia o toque da mão pequena de Paige na sua, enquanto esta rezava. Sempre se considerou uma pessoa forte, preparada para lidar com situações adversas, mas ali estava, vegetando em cima de uma cadeira, sem conseguir se mexer ou falar, sentindo-se completamente inútil. Para sua surpresa — e alívio — Tate tinha tomado as rédeas da situação. Era ele quem falava com os médicos, que fazia as perguntas e que decidia tudo. Foi ele também quem se ofereceu para doar sangue a Colin, que precisava de uma transfus&
O dia pareceu demorar mais do que o normal para amanhecer. Quando Zhoe abriu os olhos, depois de adormecer profundamente pelo que pareceu uma eternidade, o sol já raiava lá fora. O que ela não conseguia entender era o que fazia deitada com a cabeça no colo de Tate. — Que horas são? — perguntou enquanto se sentava. — Nove e meia. — Já? — ela se espreguiçou discretamente. Estava no quarto de Colin, em uma pequena cama que tinham montado para eles ali. — Como ele está? — apontou para a cama do menino. — Bem. Acordou cedo