Capítulo 6

Capítulo 6

Ao fechar a porta atrás de si, Jussara encostou-se, deixando finalmente as lágrimas rolarem livres. Ela se amaldiçoava por ter cedido tão fácil, se entregando àquele completo idiota. Mas, apesar de tudo, ela não podia negar: tinha sido bom. Talvez o melhor que já tivera. Ainda assim, decidiu que seria a primeira e última vez com ele.

Com passos lentos, seguiu até o banheiro, onde lavou os vestígios do tempo que passaram juntos, como se quisesse apagar as lembranças daquela noite. Seus olhos estavam vermelhos, ardendo pela tristeza e raiva que borbulhava dentro dela.

No final do dia, Jussara levou o remédio até o escritório de Gabriel. Ele parecia relaxado, mas sua expressão ainda era séria. Ao entregar o medicamento, ele a encarou e disse, com um tom provocativo:

— Me encontre mais tarde no meu quarto.

Ela sorriu, mas sua resposta foi firme.

— Só nos seus sonhos.

Virando-se para sair, Jussara mal percebeu a surpresa em seu rosto quando ele perguntou:

— Você não gostou?

Ela preferiu mentir, tentando esconder a confusão que sentia.

— Não.

A resposta dela o atingiram como um soco. Gabriel se sentiu ofendido, especialmente porque não podia mostrar toda sua agilidade e experiência devido ao acidente. Contudo, uma dúvida começou a se formar em sua mente.

— Mesmo assim, você conseguiu chegar ao êxtase...

Jussara hesitou, mas não ia deixar que ele visse sua vulnerabilidade.

— Eu fingi...

Gabriel ficou paralisado por um momento, a incredulidade estampada em seu rosto.

— O quê? — perguntou, nervoso, enquanto ela saia, deixando-o irado e confuso com o que acabara de ouvir.

Gabriel ficou paralisado por um momento, a incredulidade estampada em seu rosto. Aquelas palavras ecoavam em sua mente, inflamando sua ira. “Eu fingi...” Ele não conseguia acreditar que ela havia mentido sobre o que tinham vivido. O sentimento de frustração rapidamente se transformou em uma raiva explosiva.

— Porcaria! — gritou, e a fúria tomou conta dele.

Ele derrubou alguns papéis da mesa com um movimento brusco. O coração dele disparou ainda mais, fazendo sentir um pouco de falta de ar.

Depois de alguns minutos, enquanto o escritório estava em um estado de desordem, Gabriel parou para recuperar o fôlego.

Ele não sabia como lidar com o que sentia por Jussara. Ele tentava lutar contra o desejo e a raiva, por mais que tentasse ignorar, a verdade o assombrava, Jussara não era apenas uma garota de programa; ela havia despertado algo que ele mesmo não conseguia entender.

Os dias se arrastavam em uma rotina tensa e desconfortável para Gabriel e Jussara. A tensão no ar era palpável. Cada vez que se viam pareciam entrar num campo de batalha. Jussara deixava os remédios cuidadosamente ao lado de sua cadeira de rodas, sem trocar mais do que algumas palavras necessárias. Era como se um abismo tivesse se formado entre eles, e cada um tentava ignorar a profundidade do vazio que os separava.

Gabriel não conseguia compreender por que Jussara estava agindo daquela maneira. Se ela foi contratada para distraí-lo, por que não se aproximava mais? O que havia mudado entre eles? Sua mente girava em torno dessas perguntas, e a frustração crescia dentro dele. Por mais que tentasse se concentrar em sua recuperação, não conseguia ignorar a atração que sentia por ela.

— Droga! — ele resmungou, batendo a bengala no chão. Era um movimento involuntário, mas que revelava sua inquietação. Cada dia que passava, a excitação aumentava e o autocontrole diminuía. Ele queria se aproximar dela, mas a confusão que sentia o impedia. Ele pensava em Jussara e em como ela o fazia sentir-se vivo de novo, mesmo em meio à dor e à dificuldade.

Certa manhã, enquanto refletia sobre suas frustrações, Gabriel riu de si mesmo. Ele se lembrou de que poderia usar o celular para lembrar os horários dos remédios, algo que parecia tão simples, mas que ele havia esquecido em meio ao turbilhão de sentimentos e acontecimentos.

— Eu sou um idiota — disse para si mesmo, sacudindo a cabeça enquanto pegava o telefone. Era um alívio descobrir uma solução para um problema que o havia atormentado por dias.

Após a fisioterapia, Gabriel se sentia mais forte do que nunca. Ele tinha feito progresso, e, mesmo que a bengala o fizesse parecer dependente, ele sabia que logo estaria andando sem ajuda. Quando saiu da clínica, um novo senso de determinação tomou conta dele.

Caminhando lentamente pelo corredor, Gabriel chegou à sala de estar e avistou Jussara sentada no sofá, os olhos fixos no chão. Assim que percebeu sua presença, levantou o olhar, mas logo desviou a atenção. Aquela atitude o incomodou, mas ele não estava mais disposto a continuar com isso.

— Jussara — ele a chamou, com a voz firme. Ela hesitou, mas não respondeu. — Olhe para mim — insistiu, aproximando-se mais. — Precisamos conversar.

Finalmente, ela o encarou. Gabriel andou devagar até uma poltrona e se sentou, suspirando pesadamente.

— Eu... eu não preciso mais dos seus serviços — começou ele, o tom sério. Jussara ficou imóvel, os olhos fixos em sua expressão. — Estou me sentindo muito melhor, e pretendo seguir em frente sozinho a partir daqui.

As palavras dele caíram como uma bomba entre eles. Jussara sentiu seu coração apertar. Não tinha chegado a cumprir um mês de trabalho e já via seus planos desmoronarem. Ela havia imaginado que ficaria, no mínimo, três meses; o dinheiro seria suficiente para pagar suas contas atrasadas e adiantar o aluguel durante uns meses.

Ela baixou a cabeça, lutando contra a onda de emoções que a invadia. O que poderia dizer? Ele estava decidido. O silêncio se instalou, pesado e desconfortável.

Gabriel observou Jussara, notando como seus ombros estavam curvados e a expressão dela estava de uma tristeza profunda. O que ele tinha dito deveria libertá-lo, mas, em vez disso, apenas trouxe uma sensação de vazio.

— Eu realmente apreciei tudo o que você fez por mim — ele continuou, quebrando o silêncio. — Você fez bem o seu trabalho... mas preciso me encontrar novamente, sem depender de ninguém.

A frase soou como um adeus para Jussara. Ela sentiu uma dor aguda no peito, como se estivesse perdendo algo que nunca realmente teve. Levantou o olhar, e suas emoções estavam à flor da pele.

Ela fechou os olhos por um momento, respirando fundo para conter as lágrimas que deixavam suas vistas embaçadas.

— Olha, eu vou te pagar pelo tempo que você esteve aqui. Não precisa se preocupar com isso — ele ofereceu, tentando aliviar um pouco a situação.

Mas as palavras dele pareciam vazias. Jussara apenas assentiu, um gesto sem vida. Ela se levantou lentamente, como se cada movimento fosse um peso.

— Se isso é o que você deseja... — ela disse, a voz quase um sussurro.

Ela se aproximou da porta e parou, o coração acelerando. Um desespero crescente a envolvia; não era tão fácil assim encontrar um emprego. Queria fazer qualquer coisa para ajudá-lo e continuar trabalhando. Precisava, a qualquer custo, pagar o aluguel, a água e a luz antes que as contas se acumulassem e virassem uma bola de neve.

Antes que pudesse se virar e sair, uma presença a fez congelar. Sentiu Gabriel atrás dela, e sua respiração ficou pesada. O que ele faria agora?

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