"Caralho! Não acredito que vou me atrasar logo hoje." Ouço o despertador e tateio a mesa procurando o maldito celular. Quase tenho um troço quando vejo a hora. Nesses sete anos de trabalho, nunca me atrasei, mas justo hoje que o meu chefe vai anunciar sua aposentadoria e nos apresentar seu filho como novo chefe, eu dou um mole desses. Culpa da m*****a tequila e daquele... Como era mesmo o nome do cara? Isis... Isis... Você dormiu com um cara e nem ao menos consegue lembrar o nome dele.
Meu subconsciente, como sempre, fazendo-me sentir pior do que já estou. Nunca dormi com um desconhecido, mas quem pode me culpar? Não é nada fácil pegar a pessoa com quem você se casaria dormindo com outro homem em sua cama, depois discutir com sua mãe que resolveu arrumar um namorado vinte anos mais novo, e no final de tudo, ter o carro assaltado e, para completar, descobrir que o seguro havia sido cancelado por falta de pagamento. Não sei como pude me esquecer de pagar a m*****a fatura. Em um único dia, tive uma série de acontecimentos catastróficos que resultaram em muita tequila, um desconhecido com uma linda tatuagem de tigre nas costas e acordar em um quarto de motel. Será que ele ficou chateado por eu ter ido embora e deixado cem reais no travesseiro? É uma pena não lembrar do rosto dele, só sei que ele era gostoso.
Resolvo empurrar meus problemas para debaixo do tapete e corro para fazer minhas higienes e vestir uma roupa rapidamente. Faço tudo em tempo recorde e finalizo com uma maquiagem básica. Assim que termino, desço as escadas e vejo minha cunhada e sua "bola de futebol", quer dizer, barriga enorme colada no fogão.
— Bom dia, cunhadinha linda! Como você está?
— Mile, meu amor, estou nada bem. – Viro a minha cabeça e sinto uma forte pontada, m*****a ressaca.
— Eu sei, sua cabeça está doendo. Por isso eu deixei separado o comprimido do Grey e um copo de suco de laranja fresquinho para você. – Depois de Cinquenta Tons de Cinza, só chamamos Advil de remédio do Grey. — Sua mão e sua perna ainda estão doendo? Esse corte na sua mão foi profundo, deveria ir ao hospital levar ponto.
— Mile, você não existe! Obrigada! Não preciso ir ao hospital, sei que vou ficar bem. E esse meninão anda chutando muito? – ela sorri, alisando sua barriga.
— Ele decidiu que não terá horário para treinar.
— Oh, Nathani! Pare de ser sapequinha e dê descanso para sua mãe. – falei, alisando sua barriga, e ele chuta.
— Viu? Espero que ele seja uma criança bem calma e tranquila. – Ela diz com um sorriso bobo, e presumo que as mães devem ser assim.
— Ele é filho do Ravi, nunca vai ser quieto. Teve uma vez quando nós dois éramos crianças que...
— Pare de ficar contando os meus podres de infância, mana. – Meu irmão desce as escadas de cara amarrada.
— Eu queria muito saber o final da história, Isis. – Minha cunhada diz, com curiosidade.
— Não tem final nenhum. – Ele diz seco, olhando para mim.
— Ravizinho! Me deixe contar, vai. – Faço beicinho na tentativa de fazê-lo me deixar contar algumas de nossas traquinagens, porém não obtive sucesso. Ele cisma que as nossas histórias malucas podem influenciar seus filhos, coisas de pai coruja.
— Pode contar, irmãzinha, mas aí você vai ter que estar disposta a andar uma quadra e pegar um ônibus e o metrô.
— Você é ridículo. – Mostro a língua para ele, que sorri.
— Eu te amo. – Ele continua sorrindo vitorioso.
— Nossa, essa relação fraternal de vocês é muito estranha. Espero que Amélie e Nathan não fiquem desse jeito.
— Às vezes eu queria ser filho único, mas aí olho para essa praga aqui e vejo que minha vida sem ela não teria sentido.
— Own! Eu te amo, Ravito. – Jogo um beijinho no ar e ele pega.
— Retiro o que acabei de dizer, quero que a relação deles seja igual à de vocês.
— E vai ser, meu amor, você verá. Os dois começam a se beijar e minha cabeça começa a doer novamente e mais uma vez amaldiçoo aquelas doses de tequila.
— A pegação tá bacana, mas precisamos ir.
— Tá bom, sua chata, nessas horas eu queria ser filho único.
— E você perderia toda a luz que eu trouxe à sua vida. – Digo sarcasticamente.
— Nada convencida. Nós só vamos depois que você se alimentar.
— Mas não quero comer. – Cruzo os braços igual uma criança birrenta.
— Mas vai, nem que seja uma torrada e uma xícara de café.
— Me ajuda, Mile. – Olho para a minha cunhada em súplica pedindo apoio.
— Você está sozinha nessa. Eu preciso da tia favorita dos meus filhos, viva.
— Eu sou a única tia que eles têm.
— Exatamente. – Ela sorri carinhosamente e me irrita.
Depois de comer, obrigada pelos dois chatos, me despeço da minha cunhada e entramos no carro. Já no meio do trajeto, olho para o meu irmão e fico pensando em como é bonito ver o amor dele pela esposa.
— O que você está pensando, pequena? – ele me dá uma rápida olhada e volta a atenção para a estrada.
— Estava pensando em você e na Camile. Meu irmão, você é um sortudo, é uma pena que outros membros da família não tenham a mesma sorte.
— Isis, eu não sei o que de fato aconteceu entre você e Pietro, mas seja lá o que tenha sido, foi muito melhor ter descoberto agora do que depois de casada com ele.
— Nisso você tem razão, mas todos da nossa família estão felizes. Mamãe foi feliz com o papai e agora está toda alegrinha com o Homero, por mais que eu não aprove, e você encontrou a Camile. Eu achei que tinha encontrado a metade da minha laranja e...
— A metade estava podre. – Ele começa a rir, mas se controla assim que o olho torto.
— Desculpa, pequena, não deu para controlar. Mas pense que agora você está de volta ao mercado e pode sair, namorar, enfim, conhecer pessoas novas e interessantes.
— Mas Ravi, estou prestes a fazer trinta anos. Daqui a pouco vai ser impossível ter filhos.
— Não pense assim! E outra, você é nova e está voltando a ser saudável. Relaxe e pare de bobagem.
— Será que um dia eu vou voltar a ser feliz e amada? – uma lágrima escorre por meus olhos e a seco rapidamente, torcendo para que ele não tenha visto.
— Com toda a certeza. – Ele sorri para mim, me dando forças.
— Obrigada, mano! Não sei o que faria sem vocês.
— A nossa família pode ser louca e muitas vezes disfuncional, mas sempre estaremos juntos para apoiar uns aos outros, isso é o legado deixado pelo nosso pai.
Ravi me deixou em frente à empresa onde trabalho e seguiu para o seu próprio escritório de contabilidade que fica quase em frente ao meu. Meu irmão tem trinta e cinco anos, é casado com a Camile, a quem carinhosamente chamo de Mile, e juntos eles têm a Amélie e agora estão esperando o pequeno Nathan. Eu trabalho como gerente comercial de propaganda na StarWood Cosméticos, uma empresa que antes se concentrava apenas na estética feminina, mas que agora se expandiu para o mercado de produtos masculinos, o que significa ainda mais trabalho para mim. Temos um chefe muito legal que é amado por todos na empresa, e somos tratados como uma grande família. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer do seu filho, que assumirá seu cargo. Os rumores na empresa são que Sebastian Roux é linha dura e um babaca, fico torcendo para que isso seja apenas uma invenção, pois caso contrário, prevejo problemas.
Ao me ver passando apressada Lidiane me aborda dizendo que estou atrasada, como se eu já não soubesse, ela perguntou o que aconteceu e apenas lhe digo que tive um final de semana infernal e que lhes contaria minhas desventuras no horário do almoço, minha amiga se mostrou muito curiosa e eu sabia que hoje seria a atração principal, Yan apareceu desesperado e olhei para ele tentando entender o motivo. — Gata, onde você estava? O nosso novo chefinho chegou e já está se achando. Ele foi rude com a Veronica. Tinha que ver,a menina quase fez xixi nas calças, deu até pena – Joana chegou correndo parecendo que havia corrido uma maratona. — Gente, andem logo, recebi uma mensagem da Luciana e ela disse que o cara está gritando mandando todos irem para a sala de reunião – Yan me olha e faz sinal de cabeça sendo degolada. Pergunto a ele se as coisas já estão nesse nível e balança a cabeça fazendo sinal de positivo, Joana faz uma piada dizendo que o inferno de Dante nos aguardava e nossos amigos
Ao sair da sala de Sebastian, respirei fundo para me acalmar e, ao me ver, o pessoal que estava próximo me perguntou o que havia acontecido lá dentro. Eles estavam visivelmente preocupados, e eu os tranquilizei. — Vocês querem saber o que aconteceu entre o filhote de capeta e eu? – Eles assentiram. — Nada demais, tivemos algumas divergências, somente isso. – Disse, não querendo que eles soubessem o que realmente aconteceu lá dentro, mas pelos seus semblantes, tenho certeza de que eles sabem da discussão. — Isis, ouvimos os gritos de vocês e depois ficou tudo silencioso, pensamos que um tinha matado o outro. – Vanderson disse, me analisando para ter certeza de que estou bem. — Fiquei tentada a entrar para interferir. – Maria emendou. — Calma, pessoal! E só para deixar bem claro, não matei o meu chefe. – Todos riram e a tensão se dissipou. Voltei para a minha sala, liguei o computador e comecei a rascunhar o novo design do rótulo para o shampoo. Ainda tenho que criar a nova embalage
Meus amigos me olham e ficam esperando que eu conte o que aconteceu, eles ficam preocupados por eu estar conversando em um momento e depois de receber a mensagem sair correndo chorando. Estava trêmula quando segurei o copo de água com açúcar que dona Lica trouxe, tomei todo o líquido em um só gole e depois de estar calma, conto aos meus amigos sobre a mensagem de Pietro, eles ficam sem reação ao saber que meu ex-noivo quer morar em nossa casa com seu amante.— Eu arrancarei o pau daquele desgraçado com as mãos. – Joana falou irritada e recebeu apoio dos demais.— Eu te ajudarei — Lidi emenda.Dona Lica que estava apenas observando pede permissão para falar. Ela puxa uma cadeira e se senta ao meu lado.— Minha querida, sei que deve estar sofrendo nesse momento, mas há coisas que vem para o bem e pode ter certeza que foi bom ter acontecido agora do que depois de casada. Sei que você não se abrirá para um novo relacionamento por um tempo, mas quando o amor chegar o deixe entrar.— Acho
— Nós sabemos como você é certinha dona Isis. Você está morando onde? – Yan me pergunta.— Nesse momento estou na casa do meu irmão, minha cunhada e ele insistiram para que eu morasse com eles pelo o tempo que precisasse, mas já avisei que hoje começo a procurar um apartamento para me mudar.— Princess, meu apartamento é espaçoso demais para um cara só. Por que você não vem morar comigo assim rachamos as despesas e fazemos companhia um para o outro? – Meu amigo diz.— Mas não quero te incomodar, porque eu sei que você adora sua vida de liberdade e eu na sua casa só te atrapalharia.— Quem disse que você me atrapalha? Pode parar de bobeira e aceitar, eu te amo e lá vou poder ficar de olho em você.Penso por alguns instantes e recebo olhares de anda logo aceita e por fim acabo me decidindo.— Eu só aceito se você me der certeza que não irei te atrapalhar? – Ele revira os olhos, retira uma mão do volante e pega a minha.— Se me fizer essa pergunta mais uma vez vou me irritar conti
Já dentro do carro Yan e Joana não calavam a boca enquanto Lidiane estava soluçando parecendo um urso panda e eu calada, inerte em meus próprios pensamentos.O que Pietro fez comigo foi terrível, mas nem se compara ao que Tómas faz a Lidi, ele não consegue entender que o namoro dos dois acabou.— O que foi aquilo bonequinha? Você pisando nas bolas do Tomás foi tudo. – Joana diz sorridente.— Isis me perdoe pelo o que Tomás fez com você, seu olho vai ficar roxo e tudo por minha culpa. – Ela volta a chorar.— Para de chorar, Lidi a culpa não foi sua, eu sabia que ele estava alterado e faltava pouco para ele bater em você, foi por esse motivo que a quis tirar do braço dele.— Amiga, você podia ser uma lutadora de MMA.— Meninas o melhor você não sabe, Isis estava prestes a transar com um cara quando entrei na sala e a tirei de lá, para poder me ajudar a defender Lidi.— Faria isso por qualquer um de vocês. Agora se puderem, por favor não toque no assunto e nem no assunto sobre o que acont
— E ai amiga, está pronta para fazer a mudança? – Yan diz animado.— Estou sim, mas temos que esperar Joana e Lidiane sairem para poder irmos buscar as suas coisas.— E ai pessoal! Chegamos, nosso chefinho nos liberou mais cedo. – Lidiane se aproxima de nós sorrindo.— Pois é! Agora vamos para a casa do Ravi e buscar as suas coisas logo – Joana se anima — Amiga você comeu? – Olho para ela e digo que sim torcendo para que ela acreditasse, mas parece que acreditou porque ela apenas me olhou e bufou.Chegamos a casa do meu irmão e eles ficam revoltados quando vêem o estado do meu rosto, minha amiga Lidiane pede perdão ao meu irmão e ele diz que se Tomás não estivesse preso ele acabaria com a raça dele, acho fofo quando meu irmão tenta me defender, logo em seguida eles se lamentam quando digo que irei morar com meu amigo, por mais que goste de estar na presença deles sei que ter uma outra pessoa em casa tira a privacidade e não queria que isso acontecesse.— Eu não quero que vá. – Minha c
No dia seguinte acordo cedo e me arrumo rapidamente, olho no espelho e meu olho está bem menos inchado e a maquiagem cobriu bem, pelo menos as pessoas não ficarão olhando para mim. Yan me dá uma carona e percebo que preciso economizar um pouco mais e comprar um carro, bom com o dinheiro que vou receber pelo apartamento já irá me dar um bom adianto. Antes de ir para minha sala vou até a sala de Sebastian, bato em sua porta e recebo permissão para entrar.— Aqui está como prometido e antes das nove horas, cinco opções de logo e com algumas sugestões de embalagens que combinam.Ele pega a pasta das minhas mãos e antes olha dentro dos meus olhos me deixando constrangida e rapidamente desvio meu olhar. Depois de analisar bem os conteúdos ele separa duas folhas e me entrega e assim que as vejo disfarço uma risada que não passa despercebido por ele.— Por acaso está rindo de mim? – Sebastian olha para mim esperando minha resposta.Percebo que ele está irritado, e prefiro evitar uma briga,
O dia transcorreu tranquilo, chego em casa com Yan e vou direto para o banheiro dar uma relaxada, meu amigo me avisa que ele irá dar uma saída e me pergunto de onde ele tira tanta energia. Como não quero cozinhar e nem pedi comida, faço um miojo para mim e me sento na sala para comer, meu celular vibra com uma mensagem e sorrio para a tela.“Maninha te espero para o churrasco no Sábado, por favor, traga linguiça.” – Meu irmão me envia uma mensagem e não perco a chance de mexer com ele.“Você prefere a linguiça, fina ou grossa? rs” – A mensagem demora um pouco e sei que ele deve estar envergonhado.“Que modos são esses Isis Hathor? Essa não é a educação que nossos pais lhe deram.” – Ixi! Ele ficou zangado, o que aumenta mais ainda o meu humor.“Maninho, eu só perguntei a respeito da grossura da linguiça.”“Sei! Quer saber? Trás drumet.”“Você quem manda.” – Tenho certeza que ele revirou os olhos.“Tá…tá… Agora vá se alimentar e coma coisas saudáveis, nada de miojo, pois você quase n