Capítulo 38 – “Há silêncios que gritam mais alto que palavras.”Isaac Aubinngétorix A festa passou como um borrão elegante.A música, os discursos, os sorrisos perfeitamente calculados — tudo foi um espetáculo meticulosamente montado para celebrar o novo. Mas dentro de mim, o passado ainda pulsava. Como uma ferida que insiste em não cicatrizar, mesmo quando coberta por tatuagens e bons ternos.Seatlan foi um sucesso. A filial, um marco. E Maeve… ela era um ponto fixo em meio ao caos, uma âncora em um mar que quase me engoliu.Mas mesmo com tudo dando certo, havia algo errado. Um incômodo que não se dissolvia com o aplauso dos investidores ou o brilho nos olhos dos meus pais quando os vi pela última vez por videochamada. Era como se eu estivesse vivendo duas realidades paralelas: uma, a que todos podiam ver; outra, a que só eu conhecia. A que ninguém poderia conhecer.Ezra.Ele deveria estar aqui.E às vezes, em silêncio, eu me pergunto se ele me culparia por ocupar um lugar que era d
Capítulo 39 – “Há laços que nascem no silêncio, e florescem na confiança.”Isaac Aubinngétorix Algumas semanas podem não parecer muito… Mas quando a vida decide abrandar e permitir que duas almas se encontrem, até os dias comuns se tornam extraordinários.Washington deixava escapar os últimos suspiros do inverno, e a brisa mais morna anunciava uma primavera tímida. Entre reuniões, e-mails e papéis, eu e Maeve encontrávamos pequenas frestas de tempo só nossos. Começou com cafés antes do expediente, depois almoços rápidos e, então, finais de semana com conversas sem pressa, risos baixos e toques suaves que diziam mais que qualquer palavra.**A tarde de sábado chegou com um convite improvável: um almoço na casa dos pais de Maeve. Os Jhosef estavam recebendo os Aubinngétorix para um momento de aproximação — não entre empresas, mas entre famílias. Zola, Kilian e Amanda também estariam. Segundo Maeve, seria “casual”, mas havia uma ansiedade sutil nos seus olhos enquanto arrumava o cabelo
Capítulo 40 – “Entre o desejo e a promessa, o amor aprende a arder.”Maeve JhosefA noite tinha cheiro de álcool barato, batom borrado e promessas sussurradas ao pé do ouvido. Era sábado, e eu estava com Zola — como prometido a mim mesma depois de tantas semanas vivendo uma rotina silenciosa e segura ao lado de Isaac. Mas naquela noite, o silêncio dentro de mim era diferente. Gritava.Sentei no banco do bar, sentindo o corpo quente demais e a mente flutuando entre a sobriedade e um torpor indulgente. Os olhos ardiam não pelo álcool, mas pela ausência dele. Tudo ao meu redor parecia mais lento, mais desinteressante. Eu queria ele. E só ele.Os dedos tremiam quando disquei seu número. A voz dele, rouca e grave do outro lado da linha, foi o fio de realidade que me ancorou.— Podemos ir pro nosso lugar secreto? — perguntei, quase num sussurro embriagado de coragem. — Por favor, Isaac. Eu quero muito… sentir você.O silêncio dele foi breve, mas cheio de tensão. Eu conhecia aquele silêncio.
Capítulo 41 – Isaac Aubinngétorix Duas semanas. Esse foi o tempo entre o gosto dela na minha boca e o som do seu riso ecoando pelo quarto enquanto planejávamos algo tão simples, tão banal aos olhos do mundo… mas tão grandioso para nós.Duas semanas de mensagens secretas, olhares cúmplices, e um tipo de ansiedade que eu não sentia desde que estava prestes a pular de paraquedas pela primeira vez. Mas isso era diferente. Isso não era adrenalina de combate, não era risco físico ou medo da morte. Era… vulnerabilidade. Crua. Sem armaduras. Sem farda. Sem máscaras.Eu, Isaac Aubinngétorix. Quase vinte e nove anos. Um homem feito, forjado em guerra, com cicatrizes no corpo e na alma… mas ainda virgem.Nunca imaginei que diria isso em voz alta. E muito menos para uma médica ginecologista sentada à minha frente, com um sorriso compreensivo e um tablet na mão.— Então… vocês estão me dizendo que ambos são virgens? — ela perguntou, delicadamente, os olhos alternando entre mim e Maeve.Assenti c
Capítulo 42Maeve JhosefEsperei por esse momento a vida inteira, mesmo sem saber.Esperei por ele — por Isaac — como quem espera pela primavera depois de um inverno longo demais.Foram semanas de desencontros no trabalho, de noites trocando mensagens sussurradas, de jantares interrompidos por ligações, de beijos roubados entre os corredores da empresa, como adolescentes tentando esconder um amor que já não cabia dentro da pele. Isaac, com seu cuidado imenso, sempre dizia que não queria que fosse qualquer noite. E eu entendi. Porque ele não era qualquer homem.Naquela sexta-feira chuvosa, o destino se dobrou sobre nós.A chuva lavava a cidade quando entrei na casa do campo, o nosso refúgio escondido entre as rosas. Tudo parecia respirar suavidade: o cheiro de lavanda nos lençóis, as velas acesas sobre a cômoda, a trilha instrumental que tocava baixinho como um sussurro de algo antigo e sagrado.Isaac me esperava, sentado na poltrona perto da lareira, com uma xícara de chá entre as mão
Capítulo 43Isaac Aubinngétorix O silêncio do meu escritório nunca pareceu tão cheio de som.A luz da manhã atravessava as cortinas pesadas como uma promessa adiada. Sentado à mesa, com a porta trancada e o telefone desligado, eu observava o pequeno estojo de veludo azul-marinho repousar sobre a madeira escura. Um pedaço de céu noturno dentro de um mundo de aço e papéis.Abri com cuidado, como quem abre algo sagrado. E lá estava ele.O anel.Não era extravagante. Não era o tipo de joia que alguém encontraria em vitrines comuns. Era exclusivo. Delicado, mas com força. Como ela.Mandado fazer por um ourives francês, moldado em platina escurecida, com um pequeno diamante negro no centro, rodeado por finos traços de ouro branco trançado — como raízes que se entrelaçam e crescem juntas, fortes, inquebráveis.Era um símbolo.De tudo que eu queria construir com ela.Tinha comprado naquela semana em que começamos a planejar nossa primeira vez. Porque mesmo antes de tocá-la, eu já sabia.Maev
Capítulo 44Maeve Jhosef O amor não me pediu permissão.Ele apenas se sentou ao meu lado, tocou minha mão, e ficou.Era estranho — e bonito — como as coisas não mudaram por fora, mas tudo dentro de mim já não era mais o mesmo. O ar que eu respirava parecia mais leve. Ou talvez eu apenas tivesse aprendido a respirar diferente desde que Isaac passou a ocupar espaços que nem eu sabia que existiam em mim.Trabalhávamos lado a lado como sempre.Olhares trocados no corredor. Toques acidentais nas pranchetas. Reuniões longas em silêncio produtivo.Ninguém imaginava o que se escondia por trás da nossa neutralidade impecável.E ainda assim, às vezes, quando eu o via falar com alguém, parte de mim queria gritar ao mundo: eu conheço o coração que ele tenta esconder. Eu toquei onde ninguém jamais tocou.Mas não dizia.E ele também não.Era nosso.---No final da semana, escapei sozinha até a parte mais discreta da cidade.Um pequeno ateliê que vendia peças feitas à mão. Um lugar que Zola recomen
Capítulo 45 Isaac AubinngétorixExistem momentos que marcam. Não por serem extraordinários aos olhos do mundo, mas por serem o grito mais íntimo da alma.Aquele era um deles.O convite veio numa mensagem curta, quase despretensiosa: “Hoje. A cabana.”Três palavras. E um mundo inteiro implodiu dentro de mim.Fazia dias que eu andava no limite — entre querer dizer e temer dizer.Entre admitir que o amor já me habitava… e aceitar que ele poderia me destruir.Porque amar, do jeito que eu amava Maeve, exigia mais coragem do que qualquer campo de batalha que já pisei.Peguei o anel. O que comprei na mesma semana em que começamos a planejar a nossa primeira vez.Um anel que não existia em vitrine alguma — feito sob medida, como o que ela representa:maior que a lógica, maior que o tempo, maior que tudo o que achei que merecia.O céu pesava de um azul profundo quando cheguei. As janelas da cabana filtravam o dourado do fim de tarde como um abraço antigo. O ar cheirava a madeira e promessas.