Capítulo 46 Maeve JhosefAlgumas decisões não precisam ser ditas em voz alta para existirem.Elas nascem no silêncio entre dois olhares, crescem na delicadeza de mãos entrelaçadas e se perpetuam na respiração entrecortada depois do amor.Foi assim que dissemos sim.Não ao mundo — mas um ao outro.Ainda sinto o gosto dele na minha boca, mesmo dias depois.Ainda carrego nas coxas as marcas suaves de sua presença, como uma tatuagem invisível que ninguém mais vê, mas que me pertence, algo tão íntimo que parece até mesmo um sonho.Ainda acordo no meio da madrugada e olho para a aliança que agora guardo no fundo da minha gaveta como quem esconde um relicário precioso — algo tão poderoso que seria perigoso expor. Ainda não era momento de usá-la de forma tão abertas.O mundo não pode saber.Ainda não.Nos corredores da empresa, continuamos sendo colegas. Olhares furtivos. Sorrisos contidos.Mas há algo que mudou em nós. Algo que arde. Que pulsa.No segundo dia após o pedido, levei o anel del
Capítulo 47 Isaac AubinngétorixA mentira mais elegante é aquela vestida de boas intenções.E minha mãe era especialista nisso.Naquela noite, enquanto os cristais tilintavam e os sorrisos falsos se multiplicavam no salão de mármore da elite farmacêutica, eu me sentia dentro de um teatro onde ninguém encenava melhor do que ela.Sempre firme, sempre calculada.— Isaac, querido — disse ela, segurando meu braço como se me moldasse para o que viria. — Quero que passe um tempo com Arlène esta noite. A família dela é influente, e eles estão interessados em um possível arranjo.Arranjo.Como se meu coração fosse um móvel que ela pudesse reposicionar de acordo com os interesses da dinastia Jhosef-Aubinngétorix.— Mãe, não acho apropriado — murmurei, mantendo o tom diplomático, embora meus dedos se fechassem num punho invisível. — Não é o momento.Ela sorriu, como quem ignora uma criança teimosa.— É exatamente o momento. Você está em evidência. Nosso projeto está se expandindo. E Arlène é um
Capítulo 48 Maeve JhosefNão era ciúmes.Era o medo de ser invisível.Mesmo depois de tudo — das promessas sussurradas entre beijos, dos toques desesperados que diziam mais do que qualquer palavra — eu ainda me sentia como se houvesse uma linha invisível separando quem eu era quando estávamos sozinhos... e quem ele precisava fingir que eu era diante do mundo.Aquela noite, no salão dourado, eu sentia cada parede se estreitar ao meu redor.Isaac parecia diferente. Um pouco mais tenso. Mais calado. Até que percebi: ele estava com a aliança. A que eu havia dado.Simples, de prata escurecida, com uma gravação dentro que só ele conhecia.E ele girava o anel discretamente no dedo, como se se ancorasse nele. Como se, mesmo envolto de mentiras e aparências, aquilo ainda fosse real.Nossos olhos se cruzaram por um segundo.Ele sorriu.Mas o sorriso morreu assim que sua mãe se aproximou, como uma tempestade trajando seda e perfume caro.— Maeve. — O tom era gentil. Gentil demais. — Que bom que
Capítulo 49 Isaac Aubinngétorix O salão ainda pulsava com música e taças tilintando, mas meu mundo havia silenciado.Ela se foi.O rastro do perfume de Maeve ainda pairava no ar quando dei dois passos na direção oposta ao da minha mãe - mas já era tarde. Maeve sumira como um fantasma ferido, sem olhar para trás. E eu fiquei ali, entre luzes cintilantes e pessoas que nada significavam para mim, sentindo o coração latejar de raiva e impotência.A aliança no meu dedo queimava como um lembrete. Maeve a havia escolhido com tanto cuidado... e eu a havia escondido com vergonha. Escondido dela. Escondido do mundo."Isaac." A voz fria da minha mãe se insinuou atrás de mim. "Onde está indo? Arlène queria conversar mais um pouco com você."Virei-me devagar, o maxilar travado."Arlène não é nada minha, mãe."Ela arqueou uma sobrancelha. Elegante, precisa como um bisturi."Não seja dramático. É só uma possibilidade. Uma aliança de sangue entre duas famílias que comandam quase metade da indústria
Capítulo 50Maeve Jhosef A cidade ainda estava acordada quando saí do carro, mas eu não. Dentro de mim, tudo parecia suspenso — como se algo tivesse quebrado, e eu tentasse colar os cacos com a ponta dos dedos.Não fui para casa. Não quis olhar para aquele sofá onde dividimos risos depois de longas reuniões, nem para o lençol que ainda guardava os vestígios do amor que fizemos na manhã anterior. A dor pulsava muito perto da superfície e, pela primeira vez em muito tempo, minha alma clamava por colo.Pelo colo da minha mãe.— Maeve?A voz dela soou surpresa quando abri a porta da antiga casa. Era tarde, eu sabia. Mas minha mãe sempre teve o sono leve — como se, mesmo dormindo, estivesse pronta para me acolher.— Mãe... — murmurei, a garganta apertada.Ela não perguntou nada. Apenas abriu os braços. E eu desabei.Me aninhei contra seu peito, como fazia quando era criança, e chorei. Chorei sem explicar, sem justificar. E ela apenas me segurou, acariciando meus cabelos com aquela calma s
Capítulo 51 Maeve Jhosef As luzes frias da sala de reuniões pareciam refletir o que eu tentava esconder: um desconforto que me escorria pelas veias feito chumbo derretido. Estávamos todos reunidos para revisar os relatórios do primeiro trimestre e discutir os rumos do novo projeto de expansão — rostos alinhados, frases precisas, e números voando pela mesa como lâminas.Mas nada — nada — conseguiu prender minha atenção quando ele entrou.Isaac.Impecável em sua camisa branca dobrada até os cotovelos, o blazer pendurado despreocupadamente no antebraço, o olhar firme e calculado que tantos admiravam e temiam. Mas o que capturou a sala inteira — inclusive a minha respiração — foi o brilho discreto, porém inegável, em sua mão esquerda.A aliança.A aliança que eu comprei. Que eu escondi como um segredo precioso, como um sussurro eterno entre nós dois.E ele a usava agora, sob as luzes duras do conselho, diante de todos.Os cochichos começaram antes mesmo que ele se sentasse.— “É uma ali
Capítulo 52 Isaac Aubinngétorix A noite caiu com lentidão sobre Washington, mas dentro de mim, tudo parecia urgência.Aquela conversa entre Maeve e minha mãe - ainda que ela não tivesse me contado os detalhes - pairava entre nós como uma nuvem carregada prestes a desabar. Eu sentia. Pelos olhos dela. Pelo silêncio que vinha desde a reunião. Pela ausência de suas perguntas, que antes chegavam como flechas precisas e agora me evitavam com uma diplomacia que doía mais do que confronto direto.Decidi que não podia deixar aquilo apodrecer.Mandei uma mensagem curta."Cabana. Hoje. 20h. Só nós dois. Precisamos conversar."Ela demorou a responder, o que me fez andar em círculos pelo apartamento como se estivesse novamente em campo, prestes a entrar numa missão sem mapa. Quando finalmente apareceu um "ok", meu corpo relaxou só o suficiente para que a ansiedade fosse substituída por uma tensão diferente: a de saber que, naquela noite, eu não podia mais me esconder.A cabana estava silenciosa
Capítulo 53 – Maeve Jhosef Fazia um mês desde a noite em que Isaac me amou com delicadeza pela primeira vez.Um mês desde que, no sussurro de um "ainda não", ele me prometeu um "um dia".Desde então, o mundo seguiu girando com sua violência sutil, mas Isaac…Isaac não tirou a aliança do dedo.Por mais que tentasse agir como se nada houvesse mudado, o anel que eu dei a ele parecia cravado em sua pele como um segredo sagrado. E era estranho — deliciosamente estranho — ver como o homem mais reservado que já conheci se recusava a escondê-la.Ele não a tocava. Não a ajeitava. Não a exibia.Mas ela estava ali, firme, visível, constante.E todo mundo começou a notar.Inclusive Arlene.Ela apareceu na empresa duas vezes naquela semana.Na terceira, foi barrada pela segurança.Isaac não autorizava mais que ela subisse. E embora não dissesse isso abertamente, todos os corredores da Jhosef Industries começaram a ecoar com a novidade: Isaac Aubinngétorix não estava mais disponível.— Você não e