Capítulo 21 Algumas promessas não morrem — elas apenas aprendem a doer em silêncio. — Marjorye Sandalo — Isaac Algumas memórias não morrem. Elas hibernam sob a pele, esperando a hora certa para despertar.Hoje, elas despertaram.A cidade de Seatlan cintilava do lado de fora como se fingisse paz. Luzes penduradas nas árvores, vitrines acesas, gente sorrindo por hábito ou esperança. Mas dentro de mim, o que havia era o som abafado de passos ao lado dos meus. Os passos dela.Maeve.Andávamos lado a lado como dois desconhecidos que fingem se conhecer.Ou dois amantes que fingem se odiar.Não tocávamos um no outro, mas o silêncio entre nós era quase íntimo. Um silêncio cheio de tudo o que ainda não dissemos — e talvez nunca diremos.Ela parou diante de uma livraria antiga, seus olhos presos a uma vitrine que exibia clássicos de filosofia e romances góticos.Sorri. Era tão ela.— Você ainda lê Poe antes de dormir? — perguntei, com a voz baixa demais.Ela se virou devagar, surpresa com a
Capítulo 22“Nem toda volta é um recomeço — às vezes, é apenas um lembrete do que ficou por dizer.” — Marjorye SandaloMaeveO céu de Washington parecia o mesmo, mas eu não era.Voltamos como dois desconhecidos que aprenderam a respirar no mesmo ritmo, como quem compartilhou silêncios e cicatrizes sem prometer absolutamente nada. O carro nos levou do aeroporto até a casa dos meus pais, e durante todo o trajeto, Isaac manteve os olhos fixos na estrada, como se ela ainda pudesse oferecer algum tipo de fuga.Talvez oferecesse. Mas eu não queria fugir mais.— Está pronta? — ele perguntou quando paramos diante da casa que sempre me pareceu grande demais depois que Ezra se foi.Assenti, mesmo sem saber ao certo o que estava sentindo.O almoço foi servido com a pompa de sempre — porcelana fina, talheres alinhados e guardanapos dobrados como se dissessem mais do que palavras. Meus pais estavam especialmente animados, orgulhosos dos frutos do congresso, e os pais de Isaac não demoraram a chega
Capítulo 23Certas verdades não precisam ser arrancadas. Elas escorrem por entre os sorrisos, quando os muros finalmente se racham. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef As luzes âmbar do bar recortavam sombras tênues nas paredes de tijolos expostos. Havia algo de reconfortante naquele lugar escondido entre esquinas de Seatlan, como se ele também guardasse segredos demais para serem julgados. Zola, Kilian e Amanda conversavam animadamente sobre algo que eu mal escutava. Meu olhar, inquieto, escaneava o ambiente sempre que a porta rangia com mais um cliente chegando.— Ele não vem — Zola murmurou ao meu lado, cutucando minha costela com o cotovelo. — Você precisa parar de olhar toda vez que alguém entra.— Não estou olhando — menti, virando o rosto em direção ao copo de gin, onde a fatia de laranja boiava como um sol afogado.— Tá bom — ela disse, com aquela risadinha irônica que só uma melhor amiga é capaz de usar sem ser insuportável. — Só acho curioso que você passou a se importar se el
Capítulo 24"Alguns silêncios gritam mais alto que palavras." — Marjorye Sandalo Isaac Aubinngétorix O som dos copos tilintando, as conversas atravessadas e a música baixa de fundo compunham uma atmosfera quase aconchegante no bar de Seatlan, mas para mim, tudo parecia abafado, distorcido. Ainda estava digerindo o que um de meus melhores amigos acabara de dizer. Eu me sentei no canto do estofado de couro escuro, passando as mãos pelo cabelo enquanto via Maeve desaparecer pelo corredor em direção ao banheiro.— Sério, cara... você precisava MESMO soltar isso? - encarei Logan com um olhar seco, mas o leve toque de desespero na minha voz era inevitável.Ele ergueu as mãos em rendição, ainda rindo. — Como eu ia saber que ELA era a tal Maeve? Já ouvi você repetir esse nome tantas vezes na base que pensei que era um delírio de campo.Fletcher, ao lado dele, deu um tapa em seu ombro. — Burro. Agora a menina sabe que tu quer casar com ela desde antes de perder o cabaço.— Fletcher!- rosne
Capítulo 25 — “Alguns sentimentos não pedem licença para nascer, apenas se instalam no silêncio.” — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef — Então… é verdade?A pergunta de Zola cortou o ar como uma lâmina lenta. Ficou suspensa entre nós, entre uma taça de vinho esquecida e o estofado gasto do sofá onde meus dedos buscavam se esconder.Não respondi de imediato. Só continuei girando a taça entre os dedos, como se o movimento pudesse hipnotizar a parte de mim que gritava.— Não sei do que você está falando. — Minha voz saiu firme, mas arrastada. E mentirosa.Zola bufou, cruzando os braços como quem não tem mais paciência para jogos.— Ele disse que te ama, Maeve. Disse com palavras. Disse quase morrendo. E você tá aí... fingindo que nada aconteceu.Minha garganta apertou. Olhei para ela, mas não vi acusação. Vi dor. Vi uma amiga que sabia demais e, ainda assim, respeitava o espaço que meu luto ainda exigia.— Você sente alguma coisa por ele?Engoli em seco. Sentia. Sentia tudo e mais um pouco.
Capítulo 26 — “Algumas respostas não curam, mas abrem espaço para a dor respirar.” — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef O quarto parecia menor naquela noite.Não pelas paredes ou pelo teto que sempre estiveram ali, imóveis, mas pela presença do que não era dito, do que pairava entre a tela inacabada, o carvão nos dedos e a carta que tremia entre minhas mãos.Isaac me observava em silêncio do retrato inacabado. Seu olhar cravado em mim era uma mistura de desafio e súplica. Não era só um esboço; era uma confissão feita à força, um sussurro que minhas mãos libertaram antes que minha mente tivesse tempo de recusar.O envelope repousava como um peso antigo entre os dedos. Azul, desbotado nas bordas, com aquela caligrafia que ainda me fazia doer o peito: “Para Maeve, quando estiver pronta”.Mas quando, Ezra? Quando a gente está realmente pronta pra ouvir o que pode destruir tudo que restou de pé?Encostei a carta contra o peito e fechei os olhos. O retrato de Isaac continuava ali. Firme. Terno
Capítulo 27 — “Às vezes, o recomeço não grita; ele apenas respira diferente.”Maeve Jhosef Acordei com o coração mais leve do que nos últimos meses.Sem pesadelos. Sem o peso de um nome ecoando na cabeça. Só o som morno da vida acontecendo do lado de fora da janela. Carros passando. Pássaros discutindo nos galhos. Um sol tímido espiando pelas frestas da cortina.Talvez fosse só um bom dia.Ou talvez fosse o começo de algo novo.Levantei com calma. Tomei banho ouvindo uma playlist antiga, daquelas que costumávamos usar para pintar paredes ou terminar trabalhos da faculdade às três da manhã. Vesti um conjunto simples, elegante. Terno claro, camisa azul celeste. Delicado, firme. A maquiagem foi suave, os lábios num tom natural. Pela primeira vez em semanas, gostei do que vi no espelho.Eu parecia… viva.Na mesa da cozinha, Zola me olhou com a testa franzida.— O que foi? — perguntei, pegando uma maçã.— Você parece… legal. Feliz, até. — Ela estreitou os olhos. — Isso é suspeito.Sorri e
Capítulo 28 — “Há silêncios que desarmam mais do que mil palavras.”Isaac Aubinngétorix Ela apareceu com luz nos olhos.E eu… não soube o que fazer com aquilo.Maeve entrou na sala de reuniões como se tivesse deixado para trás um peso invisível. Como se, de alguma forma, tivessem lhe devolvido o fôlego que a dor lhe roubara por meses. O jeito como olhou ao redor, como disse “bom dia”, até mesmo o modo como se sentou… tudo nela parecia diferente. Mas não era uma diferença ruidosa — era a serenidade de quem, depois da tempestade, aprendeu a andar entre os destroços sem cortar os pés.E eu fiquei ali, sentado, tentando fingir que não a observava.Mas observava.Cada gesto, cada palavra, cada ausência de provocação. Esperava que a qualquer momento viesse o sarcasmo, o olhar afiado, a ironia cruel que ela vinha usando como escudo desde que voltou. Mas nada disso aconteceu. Maeve foi gentil. Cordial. Quase doce.E isso me desestabilizou.Durante toda a reunião, lutei para manter a expressã