Capítulo 35 – “Quanto mais ele se revela, mais difícil se torna lembrar de como era minha vida antes.”Havia algo em Seatlan que me fazia respirar diferente. Como se a cidade me permitisse andar sem o peso do passado nas costas, mesmo que o passado insistisse em caminhar ao meu lado, vestindo camisas escuras e carregando silêncios profundos como os de Isaac.Desde a sessão de tatuagem, algo havia mudado. Não exatamente entre nós, mas dentro de mim. Ver Isaac se despir — não só da camisa, mas de parte do seu mistério — foi como presenciar uma fenda se abrindo numa muralha que eu já acreditava intransponível. E o que vi ali... me tocou de forma que não soube nomear.Ele não gemeu de dor. Não demonstrou incômodo. Apenas fechou os olhos como quem reza — ou talvez como quem se despede — e deixou que a máquina gravasse em sua pele as marcas que ele escolheu carregar. Fiquei ao seu lado, sentindo o zumbido da agulha pulsar dentro do meu peito como se fosse uma extensão do meu coração.Naquel
Capítulo 36 – “Há limites que, uma vez cruzados, não permitem retorno.”Isaac Aubinngétorix A aproximação entre mim e Maeve era como a construção de uma ponte entre dois abismos. Cada palavra trocada, cada silêncio compartilhado, cada olhar sustentado por segundos a mais que o aceitável, cimentava algo que, até então, ambos fingíamos não perceber. Mas fingir cansa. E eu já estava exausto.Os dias em Seatlan seguiram com o ritmo acelerado típico de pré-inauguração. As reuniões se acumulavam, os contratos finais exigiam ajustes minuciosos e, no meio de tudo isso, havia a escolha do CEO da filial.Optamos por um nome de fora. Alguém com experiência internacional, fluente em três idiomas, carismático demais para o meu gosto. E, para piorar, encantado por Maeve desde o primeiro minuto.Mateo Delgado.Jovem, inteligente, com aquele sorriso fácil e o tipo de presença que se impõe sem esforço. Era o candidato ideal, segundo todos os indicadores. Inclusive os de Helena, que praticamente o abr
Capítulo 37 – “Algumas decisões nascem em silêncio, mas transformam tudo ao redor.”Maeve Jhosef O gosto dele ainda estava na minha boca.Era um gosto difícil de descrever. Não era apenas a sensação física do beijo, mas o que ele deixou quando se afastou. Um tremor interno. Uma convulsão emocional que percorreu minhas veias como fogo e, ao mesmo tempo, como alívio. Como se, depois de meses contornando o precipício, finalmente tivéssemos pulado.Isaac me beijou.E eu desejei que aquele beijo não tivesse fim.—Você vai continuar aí, parada, com essa cara de quem viu o próprio orgasmo materializado ou vai me contar o que aconteceu? — Zola perguntou, enquanto colocava os sapatos ao lado da porta do nosso quarto no hotel.Olhei para ela, ainda em silêncio. Não por vergonha. Mas porque eu não conseguia traduzir em palavras o que aquele momento tinha feito comigo.—Você dormiu com ele?! — ela arqueou as sobrancelhas como se tivesse encontrado a resposta por conta própria.—Não. — A resposta
Capítulo 38 – “Há silêncios que gritam mais alto que palavras.”Isaac Aubinngétorix A festa passou como um borrão elegante.A música, os discursos, os sorrisos perfeitamente calculados — tudo foi um espetáculo meticulosamente montado para celebrar o novo. Mas dentro de mim, o passado ainda pulsava. Como uma ferida que insiste em não cicatrizar, mesmo quando coberta por tatuagens e bons ternos.Seatlan foi um sucesso. A filial, um marco. E Maeve… ela era um ponto fixo em meio ao caos, uma âncora em um mar que quase me engoliu.Mas mesmo com tudo dando certo, havia algo errado. Um incômodo que não se dissolvia com o aplauso dos investidores ou o brilho nos olhos dos meus pais quando os vi pela última vez por videochamada. Era como se eu estivesse vivendo duas realidades paralelas: uma, a que todos podiam ver; outra, a que só eu conhecia. A que ninguém poderia conhecer.Ezra.Ele deveria estar aqui.E às vezes, em silêncio, eu me pergunto se ele me culparia por ocupar um lugar que era d
Capítulo 39 – “Há laços que nascem no silêncio, e florescem na confiança.”Isaac Aubinngétorix Algumas semanas podem não parecer muito… Mas quando a vida decide abrandar e permitir que duas almas se encontrem, até os dias comuns se tornam extraordinários.Washington deixava escapar os últimos suspiros do inverno, e a brisa mais morna anunciava uma primavera tímida. Entre reuniões, e-mails e papéis, eu e Maeve encontrávamos pequenas frestas de tempo só nossos. Começou com cafés antes do expediente, depois almoços rápidos e, então, finais de semana com conversas sem pressa, risos baixos e toques suaves que diziam mais que qualquer palavra.**A tarde de sábado chegou com um convite improvável: um almoço na casa dos pais de Maeve. Os Jhosef estavam recebendo os Aubinngétorix para um momento de aproximação — não entre empresas, mas entre famílias. Zola, Kilian e Amanda também estariam. Segundo Maeve, seria “casual”, mas havia uma ansiedade sutil nos seus olhos enquanto arrumava o cabelo
Capítulo 40 – “Entre o desejo e a promessa, o amor aprende a arder.”Maeve JhosefA noite tinha cheiro de álcool barato, batom borrado e promessas sussurradas ao pé do ouvido. Era sábado, e eu estava com Zola — como prometido a mim mesma depois de tantas semanas vivendo uma rotina silenciosa e segura ao lado de Isaac. Mas naquela noite, o silêncio dentro de mim era diferente. Gritava.Sentei no banco do bar, sentindo o corpo quente demais e a mente flutuando entre a sobriedade e um torpor indulgente. Os olhos ardiam não pelo álcool, mas pela ausência dele. Tudo ao meu redor parecia mais lento, mais desinteressante. Eu queria ele. E só ele.Os dedos tremiam quando disquei seu número. A voz dele, rouca e grave do outro lado da linha, foi o fio de realidade que me ancorou.— Podemos ir pro nosso lugar secreto? — perguntei, quase num sussurro embriagado de coragem. — Por favor, Isaac. Eu quero muito… sentir você.O silêncio dele foi breve, mas cheio de tensão. Eu conhecia aquele silêncio.
Capítulo 41 – Isaac Aubinngétorix Duas semanas. Esse foi o tempo entre o gosto dela na minha boca e o som do seu riso ecoando pelo quarto enquanto planejávamos algo tão simples, tão banal aos olhos do mundo… mas tão grandioso para nós.Duas semanas de mensagens secretas, olhares cúmplices, e um tipo de ansiedade que eu não sentia desde que estava prestes a pular de paraquedas pela primeira vez. Mas isso era diferente. Isso não era adrenalina de combate, não era risco físico ou medo da morte. Era… vulnerabilidade. Crua. Sem armaduras. Sem farda. Sem máscaras.Eu, Isaac Aubinngétorix. Quase vinte e nove anos. Um homem feito, forjado em guerra, com cicatrizes no corpo e na alma… mas ainda virgem.Nunca imaginei que diria isso em voz alta. E muito menos para uma médica ginecologista sentada à minha frente, com um sorriso compreensivo e um tablet na mão.— Então… vocês estão me dizendo que ambos são virgens? — ela perguntou, delicadamente, os olhos alternando entre mim e Maeve.Assenti c
Capítulo 42Maeve JhosefEsperei por esse momento a vida inteira, mesmo sem saber.Esperei por ele — por Isaac — como quem espera pela primavera depois de um inverno longo demais.Foram semanas de desencontros no trabalho, de noites trocando mensagens sussurradas, de jantares interrompidos por ligações, de beijos roubados entre os corredores da empresa, como adolescentes tentando esconder um amor que já não cabia dentro da pele. Isaac, com seu cuidado imenso, sempre dizia que não queria que fosse qualquer noite. E eu entendi. Porque ele não era qualquer homem.Naquela sexta-feira chuvosa, o destino se dobrou sobre nós.A chuva lavava a cidade quando entrei na casa do campo, o nosso refúgio escondido entre as rosas. Tudo parecia respirar suavidade: o cheiro de lavanda nos lençóis, as velas acesas sobre a cômoda, a trilha instrumental que tocava baixinho como um sussurro de algo antigo e sagrado.Isaac me esperava, sentado na poltrona perto da lareira, com uma xícara de chá entre as mão