- Você sabe sim, sabe porque está aqui. Pode me contar... – Adnachiel disse, me batendo de novo.
- Parem com isso! – tentei me soltar. – Não sei do que estão falando!
- Vocês estão contra o poder de Abaddon, não estão? – disse Adnachiel, com a voz afável.
- O quê? – eu disse, perdida. Achei que o assunto ali era eu e meu teste para virar anjo ou até mesmo o incidente com o Dr. Austin, que aparentemente ninguém estava se lembrando naquele momento. Menti. – Não! Claro que não! Eu estou chegando agora, não sei de nada!
- Sabe sim – disse o outro anjo, que era, na verdade, Abaddon com um feitiço de glamour, escondendo dos outros a sua verdadeira identidade de anjo caído.
Foi nessa hora em que eu comecei a sentir a dificuldade daquilo tudo: eu vi Abaddon pegar um chicote idêntico ao de Adnach
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. https://www.cvv.org.br/ LIGUE 188 ---------- Ele terminou comigo. E eu? Bom, enquanto dirigia perdida para o norte, eu só pensava em me matar... Apesar de sempre ouvir mentalmente a voz dele, me dizendo que não era para eu fazer aquilo. Cortar os pulsos com uma tesoura ou entupir-me de remédios? Pareciam opções realmente sedutoras. Lá estava eu, próxima do fim, sentada na beira do lago May, olhando as opções de materiais com os quais eu terminaria minha jornada na terra. Era o final do verão. Isso combinava comigo: o fim da minha vida num fim de verão. Poético. Olhando pelo lado bom, eu não precisaria mais ir à aula, nem precisaria aguentar meu irmão indiferente ou meus pais me dizendo o que fazer. Não que eles me dissessem o que fazer, já há b
Enrolada em um cobertor grosso, eu estava na sala de estar da minha casa quando meu padrasto trancou a porta. As luzes da ambulância e do carro do xerife foram embora enquanto minha mãe me deu um beijo no rosto e foi até a cozinha buscar algo quente para que eu bebesse. Eu ainda sentia minhas vias respiratórias arderem da água que entrara e a garganta muito esquisita com a força da água que saíra dos meus pulmões quando o xerife terminara de me reanimar. Meu irmão acompanhou-me pelas escadas até o banheiro para que eu tomasse um banho enquanto ele separava roupas secas para mim. Ele também me deu um beijo na bochecha e me abraçou, como se a última vez que ele tivesse me visto fosse há uns trinta anos. Sozinha no banheiro, andei como se meus pés não estivessem firmes no chão. Curvei-me e abri o chuveiro para que ele pudesse ajudar a encher a banheira. Retirei a calça e a jaqueta molhadas e olhei-me refletida no espelho, de corpo inteiro. Imaginei-me com minhas asas e abracei meus próp
Novamente, eu acordei atrasada. Para variar, Carl entrara no banheiro de cima antes de mim, de modo que eu tive que usar o de baixo, cuja água era um tanto fria. Me arrumei. Jeans normal, jaqueta amarela normal e camiseta branca, como sempre. All Star no pé, caminhei até a cozinha e engoli um bolinho que minha mãe tinha feito ontem. Ela não estava ali, portanto não tive ninguém para me despedir. Abri a porta e, quando achei que tudo não passara de um sonho, lá estavam eles, me ladeando – Elemiah e Daniel, meus anjos da guarda. Achei melhor me acostumar com isso. Infelizmente, eu estava sem o Peugeot e tive que ir a pé para a escola. Não que eu não gostasse de uma boa caminhada pela manhã, mas eu estava cansada pela minha morte de ontem e tal. Os anjos estavam silenciosos caminhando ao meu lado, quando eu tive aquela divina ideia... - O que quer que esteja tramando, a resposta é não – disse Daniel. Ele sempre estava carrancudo quando falava, parecia estar constantemente com uma pedra
Naquela manhã eu senti um cheiro bom no ar. Era comida feita em casa? Eu estava deitada em minha cama, com o sol da manhã batendo em meu rosto. Mas o cheiro era de almoço. Agora sim eu estava em apuros: atrasadíssima para a escola. Ainda bem que o primeiro horário era matemática e o professor não estava. Quem sabe eu conseguiria chegar a tempo das aulas após o almoço? Eram dez da manhã. Peguei minha mochila, ajeitei mais ou menos meu cabelo e percebi que eu estava com uma camisola. Soltei a mochila, peguei uma calça e uma blusa de frio de moletom, correndo para a sala. Minha mãe me olhou, abismada: - Kate? - Mãe! Você não tem que trabalhar? Eu estou atrasada para a escola! - Kate, você está de atestado até a semana que vem. Você está com febre ainda, volte para a cama! - Mãe, o que aconteceu!? – quando ela disse aquilo, eu realmente me senti mal. - Você teve uma crise nervosa. No meio dos exames, você desmaiou de sono e acordou só agora. O médico fez perguntas e disse que foi devi
- Sabe, eu queria mesmo aprender a voar, mas eu não levo jeito pra coisa – eu disse, tentando desesperadamente fazer com que Dan parasse de me jogar do céu ao chão. Melhor dizendo, do céu à água, no meu segundo dia de treinamento. Nenhuma desculpa adiantava. Eu tentei dizer que ficaria gripada ou que poderia romper algum órgão interno no impacto com a água, mas não consegui tocar o coração daqueles anjos, que agora eram demônios para mim. Quando eu disse pela milésima vez que eu estava cansada, eles ficaram atentos a algo que eu não consegui saber o que era. - Temos que ir – disse Dan, em tom de urgência, me carregando para longe. - Já não era sem tempo – eu não fiz mais perguntas: estava cansada demais para querer saber sobre o estranho comportamento deles de pararem o treino duas horas antes do que combinamos. Finalmente eu tive um pouco de paz à noite em casa e fui olhar meus e-mails. Após passar pelos SPAMs, notei um e-mail em particular que me chamou a atenção. Era sobre o sho
Eu acordei na enfermaria da escola. Daniel e Elemiah estavam ao meu lado e se debruçaram sobre mim rapidamente. Ambos perguntavam coisas aleatoriamente, eu não estava entendendo nada que eles falavam. Mas eu estava com sede. Com muita sede. - Água... – balbuciei. Nenhuma enfermeira estava ali no momento para me atender. Só estávamos eu, Daniel e Elemiah no recinto. - Água... – falei novamente. Ninguém me ouviu. E demorou um pouco para que eu conseguisse montar as frases que os meus anjos refletiam em meus pensamentos. Eles pareciam discutir alguma coisa. - Precisamos explicar para ela imediatamente – disse Daniel, algo que finalmente eu consegui entender. - Água... O que disse? – engoli em seco, olhando para Dan e, depois, para Miah. – O que têm que me explicar? Daniel e Elemiah estavam com espadas em punho, olhando para os lados e para mim, alternadamente. Havia um barulho esquisito de... coisas quebrando...? - Precisamos sair daqui – disse Elemiah, com urgência. De repente,
- Você está em um sonho – disse Miah, para mim. - Eu estou em um sonho... – eu disse, meio tonta, olhando para os lados e tentando me situar. Eu estava de pé, no meu quarto. Mas estava tudo esquisito... A mobília, o piso e – quem diria! – aquelas paredes que não eram pintadas nunca estavam totalmente brancos. Com certeza eu estava em um sonho. - Eu preciso te dizer algo muito importante – disse Miah, num tom grave que eu nunca tinha escutado antes. Tombei a cabeça, duvidando se era Elemiah interferindo de verdade ou se minha cabeça estava inventando aquilo tudo num sonho. - Não precisa ficar confusa. Sou eu, sim. E tudo o que eu te disser aqui é estritamente proibido que repita para mim no mundo terreno – existia grande urgência em sua voz. - Onde está Daniel? - Daniel só consegue aparecer em seus pesadelos. Finalmente você teve um sonho para que pudéssemos conversar com tranquilidade. - Isso é muito louco – comentei, rindo. – Eu quase nunca sonho. - Então precisamos aproveita
Eu estava correndo como uma desesperada. Tentei fazer com que minhas asas saíssem para que eu voasse, mas não estava funcionando. Olhei para trás e o Dr. Austin estava em meu encalço, com aqueles olhos de fogo horríveis fitando para mim e a boca abrindo revelando dentes amarelos e afiados enquanto ele gritava:- Muito esperta. Só que eu sou mais rápido que isso!Com um salto, ele parou na minha frente e veio me atacar com garras enormes! Derrapei e caí aos pés dele. Virei para trás. Havia uma porta preta atrás de mim. Levantei rapidamente e corri. Abri a porta e atravessei para o outro lado, sem nem saber para onde eu estava indo.Bati a porta atrás de mim mesma com força e joguei-me contra ela, com medo do Dr. Austin tentar derrubá-la em meio à perseguição. No susto, derrubei o gancho de toalhas vazio atrás dela, que bateu bem no meio da minha cabeça e caiu na minha frente, dando uma volta de meia lua ao rolar no chão. Após alguns momentos, nada aconteceu.Meio tonta, fiquei olhando