Angels Crying
Angels Crying
Por: Priscilla Tôrres
Capítulo I

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. https://www.cvv.org.br/

LIGUE 188

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Ele terminou comigo. E eu? Bom, enquanto dirigia perdida para o norte, eu só pensava em me matar... Apesar de sempre ouvir mentalmente a voz dele, me dizendo que não era para eu fazer aquilo. Cortar os pulsos com uma tesoura ou entupir-me de remédios? Pareciam opções realmente sedutoras. Lá estava eu, próxima do fim, sentada na beira do lago May, olhando as opções de materiais com os quais eu terminaria minha jornada na terra. Era o final do verão. Isso combinava comigo: o fim da minha vida num fim de verão. Poético.

Olhando pelo lado bom, eu não precisaria mais ir à aula, nem precisaria aguentar meu irmão indiferente ou meus pais me dizendo o que fazer. Não que eles me dissessem o que fazer, já há bastante tempo. Mas eu simplesmente não suportaria viver sem a pessoa na qual me apoiei durante tantos anos. Tanto tempo de amizade e quase um ano de namoro e sonhos juntos, jogados fora.

Quando alguém terminava o namoro e me contava que “foi para o bem dos dois”, eu não conseguia entender. Agora, ele terminou comigo dizendo exatamente isso e, ainda assim, não consigo entender. Pelo meu próprio bem? Porque ele não quer mais me ver triste com ele? Porque estamos só fazendo um ao outro sofrer? Ainda podemos continuar amigos!

Se eu não tivesse tanta certeza de que ele me amava, eu acharia que isso não passava de um conjunto de desculpas maldadas. Era completamente incompreensível... nós dois combinamos até que iríamos para a mesma faculdade e que depois nos casaríamos. Tantas vezes me vi mentalmente em um vestido lindo e branco ao lado dele, vestido como um príncipe, e, agora, eu nem conseguia ver a mim mesma no reflexo da lagoa. Também, não importava. Não queria mais ver a minha própria imagem, porque eu sabia que não estava mais viva. Eu não estava mais ali.

Sempre fui uma pessoa estranha. Às vezes me olhava no espelho para ter certeza de que eu estava ali, ter certeza de que eu existia. Havia um peso e uma dor nas minhas costas que eram definitivamente muito esquisitos. Nenhum médico jamais encontrou qualquer problema em minhas costas e todos os exames tiveram resultados normais. A dor podia ser psicológica, portanto, minha mãe me levou a psicólogos e psiquiatras, mas nada adiantou. Com o tempo, parei de reclamar das dores e do peso em minhas costas. Parei só de reclamar, porém a dor sempre continuou a mesma.

E agora, iria aliviar-me dessa dor para sempre. Morta, me livraria da dor nas costas – o que era algo realmente bom, no fim das contas. Olhei para a tesoura sobre a terra da beira do lago e fiquei pensando o quão aquilo seria chocante para os meus pais. Ainda poderiam pensar que pessoas aleatórias me mataram e me desovaram no lago May. Seria um transtorno. Eu não queria causar rebuliço. Ou pelo menos queria causar o mínimo possível.

Novamente olhei a passagem para Seattle. Nós compramos as passagens e as entradas para o show de nossa banda favorita de metal melódico: Palante. Íamos juntos neste sábado. No término do namoro, ele ainda pediu a passagem e o ingresso dele de volta. Tudo bem, ele que tinha comprado mesmo. Mas só devolvi o dele. Fiquei com o meu. O que importa é que eu poderia ir ao show e, depois, longe de Colville, eu poderia simular uma queda no mar, bater com a cabeça numa pedra, algo assim. Beberia bastante rum e saltaria. Ninguém iria desconfiar de suicídio, pareceria mais como um pequeno acidente.

Ao lado da passagem, havia um pote de calmantes da mamãe. Eu havia buscado na farmácia antes de me encontrar com o maldito traidor. Ele não exatamente me traiu com outra, é claro, mas traiu meus sentimentos. Tudo bem: quem em sã consciência ficaria comigo? Quer dizer, eu era a psicopata com dor nas costas e ele era o Don Juan da cidade. Até hoje desconfio que ele ficou comigo inicialmente por causa de alguma aposta entre amigos ou coisa do tipo.

De toda forma, ela precisava dos calmantes. E precisaria de uns extras quando me encontrasse morta. Tomar aqueles comprimidos não era uma opção. No carro que me aguardava na estrada havia um cinto de segurança. Pessoas costumavam matar outras estranguladas em cintos de segurança, mas iria ser difícil puxar o cinto contra meu próprio pescoço, eu o soltaria assim que desmaiasse e continuaria viva. Talvez com lesões no cérebro por falta de oxigênio, o que era bem pior. Meu pai também não iria querer ver o Peugeot dele todo ensanguentado ou, no mínimo, cheio de baba.

Resolvi, portanto, pegar uma corda e amarrá-la a uma pedra pesada. Morrer afogada. Pois muito bem. Era justo, considerando as outras dolorosas opções. Guardei todas as outras opções na mochila, segui até o carro e busquei a corda que meu pai usava para amarrar as bicicletas quando íamos passear.

Obviamente, meu conhecimento náutico não era suficiente para amarrar tudo tão bem assim, mas fiz o que pude. Atei minha perna à corda e, a corda, à pedra mais pesada que encontrei ao redor. Era tão pesada que tive que ir a arrastando até a água. Novamente, fiz meu “super” nó de tênis e dei mais algumas voltas na corda. É impressionante como não conseguimos embolar fios quando queremos. Algo sempre dava errado e eu não conseguia prender direito a pedra, quando finalmente consegui. Fui arrastando a pedra para dentro d’água.

Meu corpo arrepiou-se quando entrei aos poucos no lago. Não era frio, a água estava até morna, pois o sol a aquecera durante todo o dia e a noite mal havia começado. Era um arrepio de nervosismo mesmo. Molhei os tênis, minha mãe me mataria. Claro, se me encontrasse viva. Com a água nas canelas, tive que começar a submergir o rosto se quisesse continuar empurrando a pedra com as mãos. Agora sim, mais para o fundo, a água estava fria. Com as pernas, continuei empurrando o pedregulho.

Levei um susto. De repente, o peso caiu em um buraco puxando minha perna com força e fiquei completamente submersa. Automaticamente, prendi a respiração. Ri amargamente, soltando bolhas ao fazê-lo. Meus instintos me contrariaram.

Na hora da morte, eu sempre pensei que veria pessoas e momentos especiais da minha vida... foi muito pelo contrário. Desesperada para subir, minhas mãos se sacudiram para cima, meus pés tentaram se soltar da corda, eu não conseguia simplesmente desistir. As lágrimas, antes insistentes, imediatamente pararam de querer sair, mesmo porque eu estava debaixo d’água afinal. A única coisa em que meu corpo pensava era em respirar um pouco de ar. Segurei o ar pelo máximo que eu pude e, quanto mais me sacudia, de mais oxigênio eu precisava...

Senti as últimas bolhas saírem da minha boca quando eu já achei que não tinha mais ar dentro de mim. Minhas narinas puxaram água, ardidas, crentes que o líquido sairia pelas minhas brânquias... senti meu corpo amolecendo aos poucos...

Olhos e cabelos negros. Barba por fazer. Foi o que eu vi debaixo da água quando senti meu corpo fazendo um movimento involuntário.

De repente, abri os olhos. Eu estava trêmula, mas fora da água. E viva. Reclamei mentalmente. Com as sobrancelhas trêmulas, abri os olhos para a luz da lua e me deparei com a estrelada abóbada celeste. Eu estava deitada no meio de uma clareira e aquele homem de cabelos negros olhava para mim, segurando meu queixo, aparentemente fizera respiração boca a boca. Olhando para o outro lado, vi uma mulher estonteante, loira, de cabelos longos encaracolados e uma roupa alvíssima, que segurava minha mão. Eles tinham me salvado. Normalmente, balbuciaria algum agradecimento, mas dessa vez eu só consegui amaldiçoá-los.

- Isso é normal – disse a angelical voz da mulher. – Agora, acalme-se. Vamos, sente-se. Você passou por muita coisa hoje.

Eu olhei para a mulher, agora eu conseguia enxergar melhor. Seus olhos eram muito azuis e sua pele muito clara. Sentei-me, ela me ajudou e, quando me virei, agradeci a Deus. Ela tinha asas. Asas maravilhosas, cheias de plumas para todos os lados, eram duas vezes o tamanho dela e saíam das suas costas delicadamente, estavam retas horizontalmente, como se ela estivesse preocupada ou tensa por alguma coisa. Do mesmo modo estavam as asas do rapaz, negras, embora saíssem de suas costas de uma forma muito mais agressiva. As penas eram lustrosas, muito negras e tinham uma aparência mais rija do que as plumas macias e volumosas da mulher.

- Então, quando Deus vem me buscar? – eu disse, olhando as asas dela.

Eles se entreolharam e riram de mim. Ela se aproximou e era incrível como a roupa dela não sujava, mesmo molhada e ajoelhada na terra da clareira.

- Querida, Deus não vai te buscar.

Confesso que meus olhos se encheram de lágrimas. Como eu poderia pensar em Deus numa hora dessas? Eu cometi suicídio! Ele não iria me perdoar... Bom, talvez se eu pedisse para Ele, mas eu sempre achei Deus muito ocupado para ficar ouvindo minhas asneiras. Tanta gente pedindo para curar doenças, ganhar na loteria ou outras coisas mais importantes. Eu não costumava pedir. Geralmente, agradecia. Talvez esse fosse o momento daquele pedido especial pelo qual eu sempre estive esperando para fazer.

- Não, você não está morta, graças a mim – disse o homem. Achei muito rude. Sua voz era grave e eximiamente encantadora.

- Se está buscando... – eu comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

- Não. Não busco agradecimentos de sua parte. Estou só fazendo meu trabalho.

Eu ri, incrédula e nervosa. Ele se levantou e ficou de costas. Sacudindo a roupa negra e requintada, disse:

- Vamos, Miah, vista-a. Não quero ficar vendo estes melões a noite inteira.

E foi quando percebi: eu estava... nua! Tudo bem, morta eu não precisaria ficar com roupas, eu acho, mas ainda assim era vergonhoso. Eu levaria séculos para me acostumar a isso. Pensando bem, eu estava com frio e... agora notara que minha camisa estava... completamente destruída no chão. Era uma camisa do Palante, minha banda favorita. Lágrimas vieram aos meus olhos ao ver a camisa destruída ali no chão, rasgada na parte de trás. Era uma camisa oficial!

Chorando, abracei minha camisa destruída. E pensar que aquela era apenas a primeira dolorosa pegadinha que o demônio tinha preparado para mim...

- Já dissemos, você não vai para o céu. Nem vai pro inferno. Você está viva! – disse Miah, sorrindo.

- Viva, bom, em termos. E graças a mim – resmungou o anjo negro.

Eu tinha certeza absoluta de que ainda não existia espécie alada de homo sapiens. Aquilo não fazia sentido para mim. Miah movimentou as mãos e surgiu ali, do nada, uma blusa parecida com a dela, porém cinza, um top curtinho bem angelical, cheio de tecidos leves e soltos na base. Eu peguei a roupa, tranquilamente, e fui vesti-la normalmente, quando Miah deu uma risadinha leve escondida por trás dos dedos.

- Não vista por cima, agarra nas asas.

- Asas? – minhas palavras refletiram meus pensamentos e, não sei por quê, tentei levantar, mas minha nova envergadura me fez cair no chão novamente.

Era simplesmente impossível. Eu tinha... asas?

Só podia ser alguma espécie de brincadeira. Asas... Asas! Com certeza absoluta, eu estava morta. E, de algum modo, virei um anjo. Fiquei deitada de barriga para cima, sobre minhas asas, que se esticaram no chão automaticamente. Olhei para o lado e as vi. Elas eram... cinzentas. Era estranho ter asas naquela cor. Não que eu estivesse reclamando. Pensando bem... minha loucura, definitivamente, chegara ao extremo. Eu olhava para Miah, boquiaberta.

- Vou te ajudar – ela disse, e levantou-se com tal maestria que eu achei que nunca seria capaz de fazer igual.

Com um pouco de custo, consegui vestir a blusa como se colocasse uma saia. Eu nunca tinha feito isso antes. Obviamente, não havia motivos comuns para se colocar uma blusa pelas pernas! Eu não estava entendendo nada, mas, aos poucos, consegui me adaptar às asas, não ao peso delas, mas à existência das mesmas. Agora, estava conseguindo usá-las para manter-me sentada, apoiada nelas. Era estranho. Imaginei-me um lobisomem... Só que ao invés de um rabo, eu tinha asas.

Enquanto Miah me ajudava, o anjo negro apenas observava. Aquilo estava me irritando. Ele não podia simplesmente dizer alguma coisa?

- Eu poderia passar o dia todo olhando para você – disse ele, e eu mal tinha terminado meu pensamento sobre ele ficar só observando. Ele parecia impaciente, apesar do que belamente havia dito. – Eu já faço isso o dia inteiro mesmo.

- Olha aqui, eu não sei o que está acontecendo, eu quero saber logo quem vai me levar, se é a loira aqui ou se é você. Bom, acho que é você, já que ela disse que Deus não vem me buscar – ralhei. Ele ouviu o que eu tinha a dizer, encostando-se em uma árvore próxima. Ele era... um tanto descolado.

- Escute, eu não vou dizer mais que uma vez, então preste bastante atenção.

Ele parecia tenso. Seu rosto estava de olhos fechados. Claramente, ele estava com medo da minha reação quando ele dissesse o que quer que estava prestes a dizer. Quando eu pensei isso, ele abriu os olhos, irritado. Tentei não pensar em mais nada... aparentemente, ele lia meus pensamentos.

O anjo negro se aproximou de mim, abaixando-se para me ver melhor. Eu pisquei, ele piscou de volta. Eu engoli em seco. Ali, ele deixou muito claro para mim quem estava realmente com medo. E não era ele, definitivamente.

- Você é uma pessoa muito especial. Você nasceu dia doze de agosto, um dia muito importante: é um dos dias em que as próximas gerações de anjos nascem. Há cinco datas como esta por ano e você nasceu em uma delas.

Eu me senti acuada. Aquilo era uma brincadeira?

- Não fique assustada – disse Miah, acariciando meus cabelos castanhos. Sem pensar, eu a abracei. Ela me abraçou de volta, firmemente. – Nós somos seus anjos da guarda.

Eu comecei a chorar de novo. Apertei minhas unhas contra minha cabeça e fiquei estática, o olhar amedrontado perdido na grama queimada pelo sol forte do verão.

- Ela está triste? – disse Miah.

- Não, ela está confusa – o anjo negro falou.

- Nervosa, eu diria.

- Não, confusa, definitivamente.

- Ela está...

- Chega! – gritei. – Parem! Parem de me dizer como eu me sinto!

Meu grito ecoou pela floresta e eu saí correndo. Neste momento, não sei como, as asas entraram novamente em meu corpo. A dor foi lacerante e eu caí de cara numa poça de lama, mas logo me levantei e continuei correndo. Saí saltando as raízes das árvores da floresta e finalmente alcancei a orla do lago.

As luzes de um carro de polícia lampejavam de azul e vermelho, intercaladamente, no meio da noite. Na beira do lago, estava meu corpo. Quanta movimentação! Quanto tempo se passara afinal? Cinco minutos? Com certeza muito mais que isso. Eles já estavam tentando me reanimar. Foi estranho ver a mim mesma deitada no chão. Morta. Eu estava estatelada ali, fria, meu irmão segurava minha mãe, que gritava desesperada pelo meu nome. Me senti horrível ao vê-la chorar por minha morte.

Habilmente, os anjos desceram do alto, surgindo ao meu lado: Miah do meu lado direito; o anjo negro, do esquerdo.

- Eu... estou morta?

Miah olhou para baixo, em siêncio, entretanto o anjo negro disse:

- Ainda não. Não completamente.

Dei um passo à frente. Minhas palavras imediatamente refletiram meus pensamentos:

- Então, ainda há esperança?

Eu olhava meu peito morto enchendo-se de ar através da respiração boca a boca que o xerife fazia em mim. Eu queria me aproximar, mas Miah me segurava pelo braço.

- Kate, quando você nasce nessas datas... Kate! – o anjo negro gritou comigo e parou bem na minha frente, segurando-me pelo rosto. – Você não acredita que isso seja verdade, certo?

Movimentei a cabeça positivamente. Ele estava certo.

- Mas é verdade. Não é um sonho. Você não vai acordar amanhã e ver que tudo se resolveu. Você? Você é uma pessoa de sorte!

- Uma pessoa de sorte? Eles estão sacudindo meu corpo morto ali na beirada daquela lagoa! Eu não acredito em você, você é um anjo negro, nada de bom pode vir de você! – eu disse, desesperada.

Miah, então, interveio, tomando o lugar das mãos do anjo negro em meu queixo.

- Então, você acreditaria se um anjo branco dissesse o mesmo para você?

A voz delicada de Miah me desarmou, mas eu ainda não acreditava. Eu só ouvia os gritos da minha mãe, abraçada pelo meu irmão, que também chorava, quieto e silencioso.

- Você tem o dom de curar as pessoas, não tem?

No momento em que ela disse isso, um arrepio inebriante correu por todo o meu corpo. Aquilo era... era a mais pura verdade. Eu não sabia como, mas eu conseguia curar as pessoas. Não sabia o que era, se era minha presença, ou o que poderia ser...

- E essa dor nas suas costas? A vida inteira você a teve – ela continuou a falar, antes que eu conseguisse digerir a informação anterior. – Nada resolve esse seu problema. Sabe o que é isso? São suas asas, Kate! São suas asas! Elas querem sair e levar você para o alto!

Agora, sim, eu acreditava. A minha dor nas costas era inexplicável e palpável o suficiente para que eu aceitasse os argumentos dela.

- Kate, você pode fazer uma escolha. Ser um anjo na terra ou um anjo no céu.

- E... Eu realmente preciso escolher isso logo agora? – virei meu olhar ao anjo negro, pedindo piedade.

Eles entreolharam-se e, concordando um com o outro em uma troca de olhares muito breve e enigmática, abriram caminho. Passei por eles correndo e não tive paciência para entrar no meu corpo devagar, me deitando por cima dele, como nos filmes.

A primeira coisa que fiz foi tocar a mim mesma, segurando-me pelo braço, e o que aconteceu na sequência foi extremamente doloroso. Se por acaso essa situação me acontecer mais uma vez, prefiro deitar certinho em cima do meu corpo morto, porque naquele momento pareceu que fui dobrada e retorcida em milhões de partes até que cada célula da minha alma se acoplasse no lugar certo de cada célula do meu corpo. E almas têm células, afinal? Eu tossi forte, um monte de água saiu pela minha boca bem quando todos tinham desistido de mim.

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