Justin olhou para mim, muito sério, dizendo que precisava conversar comigo. Eu sabia que este fato tinha algo a ver com os últimos acontecimentos em Seattle: até então, não tínhamos conversado. E eu não entendi porque ao invés de ele trocar para sua forma angélica, eu que tive que trocar para a minha forma humana para conversarmos. Será que ele precisava que eu não tivesse a capacidade de ouvir os anjos da guarda dele?- Oi, tudo bem? – perguntei para Justin, cínica. Ele nem havia me cumprimentado.- Não tenho tempo para isso, estou com meus dias contados aqui no plano terreno.- O que houve?Justin passou a mão nos cabelos pretos, apressadamente, e disse, tão baixo que eu quase não teria ouvido se a frase não contivesse um absurdo tamanho:- Eu sinto muito, mas minha tarefa no show do Palante era não deixar que você salvasse o Jayden.- O que!? – eu perguntei, pasma, também falando no mesmo tom baixo de Justin. – Seu trabalho era me sabotar?- Eu tentei parar você para conversar no m
No outro dia de manhã, bem cedo, eu e minha mãe nos surpreendemos com a velocidade com que minhas feridas se curaram. Nós fomos ao médico tirar os pontos enquanto Jayden dormia, totalmente apagado. Tentamos, mas, sinceramente, nem um trator conseguiria tirá-lo do lugar. Não demorou muito e voltei para casa, pronta para colocar meu primeiro plano em ação. Entrei no meu quarto e me preparei. Em alguns momentos, eu estava na sala de estar, pronta para sair. Vestia o meu vestido lindo e maravilhoso que eu estava guardando para um momento especial, carregava uma sacola de praia com toalhas e usei o perfume que eu também guardava para um momento especial. Como eu disse: nenhum momento é mais especial do que hoje, ainda mais nas circunstâncias em que eu me encontrava. Bati com os dedos no relógio e gritei, olhando lá pro alto da escada: - Jayden, vamos! Estamos atrasados! Minha mãe percebeu uma mudança clara em mim. Ela parecia feliz e muito satisfeita com isso. E eu estava animada. No fim
Cheguei em casa naquela noite, bem chateada. Comer comida gostosa estava na minha lista, portanto, fui até a cozinha preparar algo para comer. Surpreendentemente, minha mãe apareceu e pegou o telefone para pedir o jantar.- Oi minha filha, como foi na piscina da cidade hoje?- Foi ótimo – eu menti, tentando parecer animada. – O Jayden ficou por lá! – sim, isso era um motivo de ficar feliz.Finalmente Jayden me deixara um pouco em paz. Tê-lo correndo atrás de mim o dia inteiro e recitando versinhos que compunha aos montes já estava enfadonho. Era legal ele me chamando de musa e dizendo que eu era toda a inspiração dele, que ele estava amando ainda mais a vida por eu tê-lo salvo e etecetera, mas uma hora aquilo tudo me cansava e eu tinha vontade de jogar Jayden pela janela do segundo andar da casa.- Pode deixar que eu vou cozinhar hoje – eu disse para minha mãe, pegando o macarrão na despensa.Minha mãe sentou-se do outro lado da bancada da cozinha estilo americana e apoiou o rosto em
Pela manhã, após tomar o café “em família” – se é que minha mãe, Jayden e eu podíamos ser considerados uma família –, fui fazer uma corrida rápida para me exercitar, conforme o médico havia recomendado. Não que eu precisasse disso no momento, pelo contrário, em breve eu não estaria mais em minha versão mortal, porém, como Jayden era muito preguiçoso e nunca estava disposto a ir comigo, esse era o único momento que eu tinha para ficar sozinha com meus próprios pensamentos.Enquanto eu corria, lembrava das palavras de minha mãe. Ela dissera que não fazia bem engatar um namoro atrás do outro. Eu queria muito escutar as palavras dela e seguir o tal do conselho, mas meus sentimentos no momento estavam muito confusos para isso. Como eu mesma costumava dizer, quem está dentro do furacão não tem uma visão tão clara das coisas quanto quem está do lado de fora. E era a minha vez de estar no olho. Mesmo sem enxergar. Enfim, deu pra entender!Eu pensava no quão eu gostava de Jayden antes de conhe
- Achei que você tinha um plano! – eu disse, bem indignada, tanto pelo fato da falta do plano quanto pelo fato da falta do abraço.- Eu tinha, sim, mas Luviah e Mobahel sabiam de tudo. Essa informação nova muda toda a perspectiva da resistência. E não vou ter tempo de avisar ninguém. Estão todos a postos para executar um plano que vai dar errado, pois será sabotado por dentro pelos anjos da guarda de Justin. Quer dizer... – ela parou para pensar um pouco – em partes. O que mais Justin te disse?- Ele disse que já estava morto, que caiu em uma água e bateu a cabeça numa festa, estava bêbado.- Sim. O que mais ele disse? – comentou Dan, parecendo que já sabia há muito daquela parte da história, que eu desconhecia há pouco.- Ele disse pra mim que ele achava que Abaddon queria a gente destruindo um ao outro.- Gar
Eu estava nervosa demais para conseguir viver em paz meus últimos sete dias de vida mortal. Enquanto eu visitava locais que eu queria na cidade e fazia as coisas que eu queria fazer, como terminar de ler alguns livros por exemplo, Jayden e eu estávamos organizando a festa do final de semana. Entretanto, ele estava muito irritado porque não conseguia fazer um mega show. Ele precisava da sua equipe para contratar tudo o que era necessário, palco e tudo o mais. Quanto ao resto da banda, os integrantes deram uma resposta muito desanimada, não queriam vir fazer um show gratuito numa cidade pequena como Colville. Jayden entrou em uma profusão de ódio que se tornou uma cólera irremediável. - Sabia que valorizar o comércio local é uma estratégia maravilhosa para conseguirmos fazer essa festa? – eu disse a ele, tentando acalmá-lo enquanto o vocalista estava prestes a arrancar todos os seus cabelos longos da cabeça. Determinado a fazer o show, ele mesmo foi contatando umas pessoas e até as lí
- Justin? – eu disse, no escuro. Minha voz ecoou. Não ouvi resposta. - Justin! – eu disse mais alto. Naquele breu todo, resolvi sacudir minhas asas cinzentas para ver se a escuridão sumia. Obviamente, não sumiu. Mas sabe como é, coisas estranhas acontecem quando estamos diante de uma situação dessas, então acaba que as ideias mais esquisitas podem acabar funcionando. Imaginei que Justin também iria me chamar, mas eu não ouvi nada. Comecei a andar devagar para frente, com os braços esticados diante de mim. Andei e andei, parecia que nunca chegaria a lugar nenhum, até que me senti segura para, finalmente, abrir minhas asas e voar. Possivelmente eu bateria no teto, fui devagar, mas logo percebi que não havia nada em cima de mim. - Ótimo – eu reclamei. – Daniel? Elemiah? – gritei o mais alto que eu pude. – Adnachiel? Eu estava voando e fiquei com medo de descer, pois eu não sabia o quão longe do chão eu estava e podia acabar machucando meus pés descalços. Então, tive uma ideia. Igual
- Você sabe sim, sabe porque está aqui. Pode me contar... – Adnachiel disse, me batendo de novo.- Parem com isso! – tentei me soltar. – Não sei do que estão falando!- Vocês estão contra o poder de Abaddon, não estão? – disse Adnachiel, com a voz afável.- O quê? – eu disse, perdida. Achei que o assunto ali era eu e meu teste para virar anjo ou até mesmo o incidente com o Dr. Austin, que aparentemente ninguém estava se lembrando naquele momento. Menti. – Não! Claro que não! Eu estou chegando agora, não sei de nada!- Sabe sim – disse o outro anjo, que era, na verdade, Abaddon com um feitiço de glamour, escondendo dos outros a sua verdadeira identidade de anjo caído.Foi nessa hora em que eu comecei a sentir a dificuldade daquilo tudo: eu vi Abaddon pegar um chicote idêntico ao de Adnach