— Liga pra polícia. Agora. — Disse Juliana, firme, ignorando a pergunta de Fábio.— O Bruno já ligou. — Respondeu ele rapidamente. — E ainda chamou reforços por conta própria.Tomara que Helena aguentasse até a ajuda chegar.Mas… Por que justo aquele lugar?Fábio conhecia bem aquela fábrica.Foi lá que, anos atrás, seu irmão mais velho teve o pior destino possível.Naquele dia, ele foi atacado com uma barra de ferro.Perfuraram o peito dele.Mesmo sendo levado ao hospital às pressas… Não resistiu.Aquele foi o dia em que o céu desabou sobre a família Gomes.Enquanto o irmão estava vivo, Fábio podia levar a vida do jeito que quisesse. Sem pressa, sem pressão.Mas, com a morte dele, tudo mudou. Os pais envelheceram da noite pro dia.A família precisava de alguém para assumir o comando.E esse alguém… Só podia ser ele.Fábio abandonou os próprios sonhos e mergulhou de cabeça nos negócios da família.Helena estava naquele galpão.O que exatamente estava acontecendo, ninguém sabia ao certo
Fábio levantou as mãos, com a expressão mais inocente possível, e sussurrou com os lábios:— Não fui eu.Ele nem tinha se mexido.— Quem... Quem tá aí?! — Gritou uma voz hostil, cheia de ameaça. — Sua pirralha! Quero ver até quando vai conseguir se esconder! Aqui, pode gritar à vontade que ninguém vai vir te salvar!Juliana afastou lentamente os olhos da fresta, o coração batendo forte.Apertou com mais força a barra de ferro em sua mão.Fábio fez o mesmo.Ambos prenderam a respiração.Os feixes das lanternas começaram a varrer a direção onde estavam escondidos.As sombras projetadas no chão vinham se aproximando.Fábio respirou fundo. A palma da mão já estava úmida de suor.No momento em que pensava em atacar, o grito de um dos capangas ecoou pelo galpão:— Chefe! Achei ela! Tá escondida aqui dentro!O som de um baque metálico estrondou no ar, fazendo o couro cabeludo arrepiar.Helena estava encolhida dentro de um tubo de aço enorme.As pernas dobradas, o corpo inteiro comprimido, ten
Com o ronco do motor, a paisagem do lado de fora parecia correr em alta velocidade, como se o tempo quisesse escapar pelas janelas.Fábio virou ligeiramente o rosto em direção à janela. Seu semblante estava visivelmente perturbado.Juliana conectou o celular no carregador e perguntou:— E sobre a Helena... Você sabe de alguma coisa?Desde o momento em que entrou na fábrica, Juliana percebeu de cara que havia algo estranho com Fábio.Os dedos dele se fecharam devagar, os nós brancos pela tensão.Ele forçou um sorriso, tentando parecer despreocupado.— Na verdade, não é nada demais. É que... Meu irmão. Ele foi assassinado aqui.A imagem de João sendo esfaqueado por um criminoso era um pesadelo que ainda assombrava Fábio.Durante aquele ano, ele só conseguiu seguir em frente à base de remédios.Quando o sono não vinha, recorria a comprimidos, melatonina...Levou tempo até começar a melhorar um pouco.Juliana apenas disse um “sinto muito”, sem insistir no assunto.Quando a gente toca, sem
Bianca e Helena eram o que se chamava de amigas de plástico.Desde a última vez que se viram no hospital, algo entre elas havia mudado de forma sutil, mas definitiva.Mesmo estudando na mesma turma, as duas passaram a se evitar num acordo silencioso, quase involuntário.A verdade é que Bianca não queria perder Helena como amiga.Dentro do círculo social em que viviam, só Helena era alguém com quem ela conseguia se abrir de verdade. E, o mais importante: Helena gostava de garotas!Com orientações sexuais diferentes, nunca correriam o risco de se apaixonar pelo mesmo cara e isso era um alívio.Foi por isso que, ao saber que Helena tinha se machucado e estava internada, Bianca nem passou pela escola no dia seguinte. Foi direto ao hospital.Levava uma cesta de frutas e alguns presentes nas mãos. No começo, o clima estava até agradável, mas uma frase dita sem maldade acabou virando o estopim.Helena explodiu.Bianca encarou os cacos de vidro espalhados aos seus pés, o rosto rígido.Como fil
— Bianca, seu irmão não conseguiu te manter na coleira e agora você sai por aí mordendo os outros?A frase vinha cheia de veneno, disfarçada de ironia. Mas o insulto era claro como o dia: chamava Bianca de cachorra.O ódio que ela já sentia por Juliana ganhou novas camadas.Na hora, toda a raiva que tinha de Helena foi redirecionada e com força para Juliana. O olhar que lançou sobre ela era puro veneno.— Juliana! Você não cansa de aparecer na minha vida, né? Pois pode falar o que quiser! Você nunca vai entrar para nossa família Costa!Bianca estava tão obcecada com o comportamento estranho de Juliana que chegou a contratar um especialista só para analisar aquilo.O diagnóstico? Que Juliana estava usando charme com desdém, aquele famoso finge que não quer para chamar atenção.Depois disso, Bianca passou a observar tudo com mais atenção... E, na cabeça dela, tudo fazia sentido.Ninguém muda de personalidade da noite pro dia. A menos que estivesse fingindo esse tempo todo!E, claro, Bian
— Cof, cof! — Juliana tossiu forte duas vezes, tentando disfarçar o desconforto.Ser pressionada a casar por uma menina de dezoito anos, por mais bem-intencionada que fosse, ainda deixava ela um pouco sem jeito.Juliana achava que o que rolava entre ela e Bruno era algo discreto... Mas, na prática, parecia que já era assunto público.Gustavo? Isso era passado.Bruno era o presente.— Mesmo sem ele... Ninguém teria coragem de mexer comigo.Juliana já tinha entendido o jogo há muito tempo.No mundo de hoje, quem dita as regras são o dinheiro e o poder.Ela podia até não ser imbatível, mas enfrentaria qualquer coisa sem medo.E, se tudo desse errado, que todos caíssem junto com ela.Na internet dizem que o pior erro é provocar um louco e isso tem lá sua verdade.Helena, no fundo, não acreditava que Juliana estivesse completamente indiferente a Bruno.Podia ser nova, mas sua maturidade emocional estava muito além da idade.Quando se tratava de amor, Helena enxergava tudo com clareza.Que B
Juliana não sabia ao certo o que havia acontecido entre João e Helena.Sua pergunta, feita sem intenção, causou um apagão momentâneo na mente da garota.Percebendo isso, concluiu que o melhor era dar um tempo.Levantou-se e saiu discretamente do quarto.Assim que fechou a porta, deu de cara com Joana, que vinha justamente visitar Helena.Comparada aos outros dias, ela parecia bem pior.As olheiras estavam fundas, marcadas, visíveis a olho nu.Ao vê-la, Joana tentou forçar um sorriso.— Ju, você veio ver a Helena também?— Sim. Mas, Sra. Joana, ela não está muito bem agora.Joana entendeu o recado nas entrelinhas.— Então... Vamos juntas até o quarto do Bruno?Juliana já tinha essa intenção.Caminharam lado a lado pelo corredor, até que o celular de Joana tocou. Ela atendeu prontamente.O rosto, que já não estava bom, ficou ainda pior após a ligação.Juliana percebeu tudo com atenção.Pensou um pouco e resolveu perguntar:— Aconteceu alguma coisa, dona Joana?Joana nunca foi de demonstr
Bruno fez um convite com uma sinceridade desarmante.Seus olhos escuros, intensos como um redemoinho, pareciam querer absorver tudo ao redor.Juliana ficou paralisada por alguns segundos. Depois, como se tivesse levado um choque, desviou o olhar rapidamente.Sob os longos cabelos castanho-escuros, a ponta da orelha começava a se tingir de vermelho.Ela controlou o impulso de apertar os dedos, mantendo a expressão serena, como se nada tivesse acontecido. Respondeu com naturalidade:— Vamos ver... Não sei se vou estar livre nesse dia.Dentro de dois ou três dias, Juliana voltaria à rotina puxada de trabalho.Já fazia mais de duas semanas desde que havia postado o aviso de pausa.Os fãs continuavam cobrando novas postagens, lives, atualizações, a expectativa só aumentava. E, por ética profissional, ela não podia mais continuar ignorando.Por mais que houvesse outras coisas acontecendo, sua carreira vinha em primeiro lugar.Confiar nos outros nunca seria tão seguro quanto confiar em si mes