Juliana não sabia ao certo o que havia acontecido entre João e Helena.Sua pergunta, feita sem intenção, causou um apagão momentâneo na mente da garota.Percebendo isso, concluiu que o melhor era dar um tempo.Levantou-se e saiu discretamente do quarto.Assim que fechou a porta, deu de cara com Joana, que vinha justamente visitar Helena.Comparada aos outros dias, ela parecia bem pior.As olheiras estavam fundas, marcadas, visíveis a olho nu.Ao vê-la, Joana tentou forçar um sorriso.— Ju, você veio ver a Helena também?— Sim. Mas, Sra. Joana, ela não está muito bem agora.Joana entendeu o recado nas entrelinhas.— Então... Vamos juntas até o quarto do Bruno?Juliana já tinha essa intenção.Caminharam lado a lado pelo corredor, até que o celular de Joana tocou. Ela atendeu prontamente.O rosto, que já não estava bom, ficou ainda pior após a ligação.Juliana percebeu tudo com atenção.Pensou um pouco e resolveu perguntar:— Aconteceu alguma coisa, dona Joana?Joana nunca foi de demonstr
Bruno fez um convite com uma sinceridade desarmante.Seus olhos escuros, intensos como um redemoinho, pareciam querer absorver tudo ao redor.Juliana ficou paralisada por alguns segundos. Depois, como se tivesse levado um choque, desviou o olhar rapidamente.Sob os longos cabelos castanho-escuros, a ponta da orelha começava a se tingir de vermelho.Ela controlou o impulso de apertar os dedos, mantendo a expressão serena, como se nada tivesse acontecido. Respondeu com naturalidade:— Vamos ver... Não sei se vou estar livre nesse dia.Dentro de dois ou três dias, Juliana voltaria à rotina puxada de trabalho.Já fazia mais de duas semanas desde que havia postado o aviso de pausa.Os fãs continuavam cobrando novas postagens, lives, atualizações, a expectativa só aumentava. E, por ética profissional, ela não podia mais continuar ignorando.Por mais que houvesse outras coisas acontecendo, sua carreira vinha em primeiro lugar.Confiar nos outros nunca seria tão seguro quanto confiar em si mes
Joana se forçou a manter a compostura e respondeu com firmeza:— Não precisa se preocupar com isso. O que você precisa agora é focar na sua recuperação. Quanto ao Lucas, vou pedir pro Guto tentar ligar pra ele de novo.Bruno não insistiu.Em vez disso, fez uma sugestão ponderada:— A Ju é profissional nesse tipo de situação, mana. Você podia conversar com ela.Joana ficou em silêncio por um momento.— Você tá mesmo completamente perdido.“Sério… Com tudo o que estava acontecendo, ele ainda arrumava tempo pra fazer propaganda da Juliana?”Bruno, por outro lado, parecia até satisfeito.Com a voz baixa e um olhar tranquilo, soltou:— Se for para me perder na Ju, que seja com gosto.Enquanto isso...Viviane tinha passado a noite inteira do lado de fora, despejando a raiva em tudo ao redor mas a fúria dentro dela ainda não dava sinal de trégua.Estava à beira da loucura.Ligara incontáveis vezes para Gustavo. No início, ele ainda atendia. Depois...[O número chamado está em ligação. Por fav
Alguns dias se passaram em total calmaria.O ferimento de Bruno já começava a cicatrizar bem e, finalmente, naquela manhã, o médico trouxe a notícia que todos esperavam: ele já podia voltar para casa e continuar a recuperação por lá.Mas, antes de liberá-lo, o médico lançou um olhar significativo para Juliana e recomendou:— Tente se controlar um pouco... Evite qualquer atividade física mais intensa, tá bom?Todos ali eram adultos. Ninguém precisava de legenda.A indireta ficou clara como o sol.Juliana ficou muda.Sério mesmo?Será que ela tinha cara de quem não sabe se controlar?Às vezes, ela achava que o problema do mundo era as pessoas terem boca.Se ninguém falasse besteira, metade dos conflitos simplesmente não existiria.Não muito longe, Rafaela observava a cena.Aquela manhã, ela aparecera sozinha. O marido, Henrique, precisou resolver algo urgente na empresa.Mas, como de costume, antes de sair, ele mandou uma mensagem:[Não esquece de almoçar direitinho. Me manda foto, hein.
A câmera do celular de Juliana ainda estava virada para trás.Mas aquela frase simples de Bruno “Amor… quero te ver” fez algo se agitar dentro dela.Como uma pedra lançada num lago tranquilo, criando pequenas ondas que se espalhavam silenciosamente.Sem responder de imediato, Juliana ouviu de novo a voz dele, agora mais baixa, mais suave:— Amor...Num impulso, ela encerrou a chamada às pressas.— Sr. Bruno, já tá tarde. Preciso dormir. Boa noite.Nem esperou resposta.Dois toques curtos.WhatsApp fechado.Bruno ficou olhando fixamente para a tela da conversa.Seus lábios se comprimiram devagar.Pensativo.“Teria exagerado?”Mas... Ele nem tinha dito nada demais.Ainda assim, registrou mentalmente:“Na próxima vez, menos intensidade. Não posso assustar a Ju.”Na manhã seguinte.Juliana dormiu até acordar naturalmente, sem despertador.Ao pegar o celular, viu uma enxurrada de mensagens não lidas.Primeiro, respondeu Isabella, perguntando em qual cidade do país A ela estava hospedada.De
Vitor levantou o queixo com arrogância e soltou um riso debochado.— Cuida da sua vida, tá legal? Comigo por perto, você não vai chegar nem a três metros da Ju!Na cabeça dele, a missão era clara: proteger Juliana daquele exemplo do que não fazer chamado Gustavo.Os pais já tinham avisado: “Gustavo era o típico cara que comia do prato... e ainda ficava de olho na panela. E olha que a tal panela já estava toda lascada! Sem gosto, sem graça, e ainda insistia. Que falta de critério!”Vitor batia no peito, orgulhoso:— Eu? Ser igual a você? Nunca!Se é para ter referência de homem, que seja o Bruno!Carisma, postura, respeito... O pacote completo.Antes de embarcar, Vitor fez questão de contar tudo para Bruno.Mensagem enviada com a moral lá em cima:[Vitor: Bruno, relaxa! Enquanto eu estiver aqui, o Gustavo não chega nem perto da Ju!][Vitor: Canalha tem que ficar no lugar dele. A Ju jamais vai reciclar lixo.]No avião, Vitor ainda fez questão de pedir à comissária um assento com vista pr
As palavras de Juliana atingiram Isabella como um raio em céu limpo, partindo sua alma em duas.Ela ficou completamente atônita, jamais imaginaria que Juliana seria capaz de dizer aquilo. — Como você sabe disso? — Escapou de seus lábios, num impulso, sem pensar.Juliana apenas assentiu, com um olhar tranquilo, quase previsível como quem já sabia o que ouviria.— Antes de virmos para o País A, fiz uma leitura de tarô para vocês dois. As cartas me revelaram essa informação.Desde o ensino médio, Juliana tinha fascínio por tarô. Era do tipo que passava horas em fóruns, estudando sozinha, aprendendo tudo que podia.Mais tarde, ao se tornar terapeuta de relacionamentos, o tarô virou uma ferramenta essencial em seu trabalho. E suas leituras eram incrivelmente precisas noventa e nove por cento de acerto.Isabella apertava os dedos com força, tentando conter a ansiedade. As sobrancelhas, antes franzidas, começaram a se suavizar aos poucos.Três minutos depois, respirou fundo e falou com calm
— Eu realmente gostava, é verdade… Mas depois desse reencontro, parece que aquele arrepio no coração, aquela emoção, simplesmente desapareceu. — Disse Isabella, com um tom leve, como se finalmente tivesse aceitado isso. Ela sorriu mais uma vez. — Talvez fosse só o orgulho da juventude. Eu não queria aceitar que tinha perdido.Juliana concordou com um aceno de cabeça.— Você resumiu bem.O que a gente não tem sempre parece mais bonito.Mas, quando a pessoa finalmente aparece de novo... Talvez o coração já tenha mudado.Ela não insistiu no assunto. Respeitava as escolhas de Isabella.Dez minutos se passaram.Vitor apareceu correndo, completamente ofegante. A neve ainda se derretia nos fios do seu cabelo, e o suor escorria leve pela testa.— Ju! — Gritou, alto, chamando a atenção de quem estava por perto.Os olhos dele brilhavam de empolgação enquanto se jogava no banco ao lado de Juliana.Isabella o viu pela primeira vez.Aquela energia contagiante, espontânea, a pegou de surpresa.Julia