As palavras de Juliana atingiram Isabella como um raio em céu limpo, partindo sua alma em duas.Ela ficou completamente atônita, jamais imaginaria que Juliana seria capaz de dizer aquilo. — Como você sabe disso? — Escapou de seus lábios, num impulso, sem pensar.Juliana apenas assentiu, com um olhar tranquilo, quase previsível como quem já sabia o que ouviria.— Antes de virmos para o País A, fiz uma leitura de tarô para vocês dois. As cartas me revelaram essa informação.Desde o ensino médio, Juliana tinha fascínio por tarô. Era do tipo que passava horas em fóruns, estudando sozinha, aprendendo tudo que podia.Mais tarde, ao se tornar terapeuta de relacionamentos, o tarô virou uma ferramenta essencial em seu trabalho. E suas leituras eram incrivelmente precisas noventa e nove por cento de acerto.Isabella apertava os dedos com força, tentando conter a ansiedade. As sobrancelhas, antes franzidas, começaram a se suavizar aos poucos.Três minutos depois, respirou fundo e falou com calm
— Eu realmente gostava, é verdade… Mas depois desse reencontro, parece que aquele arrepio no coração, aquela emoção, simplesmente desapareceu. — Disse Isabella, com um tom leve, como se finalmente tivesse aceitado isso. Ela sorriu mais uma vez. — Talvez fosse só o orgulho da juventude. Eu não queria aceitar que tinha perdido.Juliana concordou com um aceno de cabeça.— Você resumiu bem.O que a gente não tem sempre parece mais bonito.Mas, quando a pessoa finalmente aparece de novo... Talvez o coração já tenha mudado.Ela não insistiu no assunto. Respeitava as escolhas de Isabella.Dez minutos se passaram.Vitor apareceu correndo, completamente ofegante. A neve ainda se derretia nos fios do seu cabelo, e o suor escorria leve pela testa.— Ju! — Gritou, alto, chamando a atenção de quem estava por perto.Os olhos dele brilhavam de empolgação enquanto se jogava no banco ao lado de Juliana.Isabella o viu pela primeira vez.Aquela energia contagiante, espontânea, a pegou de surpresa.Julia
Sob a neve que caía sem trégua, um homem desceu do banco traseiro do carro, vestindo um sobretudo preto que contrastava com o branco ao redor.Alto, imponente, sua simples presença impunha uma pressão silenciosa, quase palpável.Vitor saiu correndo como um foguete.— Irmão! — Gritou, cheio de entusiasmo.Apesar de terem quase a mesma altura e feições com uns 70 ou 80% de semelhança, as auras deles não poderiam ser mais diferentes.Vitor ainda carregava a leveza da juventude. Perto de Vinícius, parecia apenas um garoto brincando de ser adulto.— Sim. — Respondeu Vinícius, com um leve aceno de cabeça, enquanto seus olhos passavam por Vitor e pousavam em Juliana, que se aproximava a passos firmes.O rosto dela, familiar, o fez ficar atônito por um instante.Juliana tomou a iniciativa, mantendo a educação de sempre:— Sr. Vinícius.Ele então despertou do breve transe. Seus olhos, escuros e profundos, esconderam qualquer traço de emoção nas sombras de um olhar indecifrável.— Srta. Juliana,
Tatiane Martins foi a primeira a se levantar, chamando-o com entusiasmo.Estava prestes a puxar conversa com Vitor quando viu Juliana entrando logo atrás. O sorriso radiante em seus lábios se desfez instantaneamente.Vinícius acenou com a cabeça em direção a ela, cumprimentando-a de maneira breve.Antes que ele tivesse a chance de puxar a cadeira, Vitor foi mais rápido e, com toda a educação, fez um gesto para que Juliana se sentasse primeiro.— Ju, se senta aqui!O entusiasmo do garoto era contagiante. Tatiane observou a cena por alguns segundos, até que seu sorriso voltou, embora mais contido, quase forçado.Vinícius acomodou-se ao lado dela.Por um momento, o ambiente ficou silencioso. Quase solene.Tatiane quebrou o gelo:— Prazer, eu sou a Tatiane, amiga do seu irmão. Ouço ele falar de você o tempo todo.Vitor, sempre espontâneo, respondeu com um sorriso largo:— Tatiane, nada de formalidade! Pode me chamar só de Vitor!Tatiane então apresentou a jovem ao seu lado:— Essa é a Sabr
Foi como acordar de um sonho profundo.As palavras de Vinícius mexeram com algo dentro de Vitor, um coração antes tranquilo como um lago, agora em ondas agitadas.De repente, tudo fazia sentido…Não era à toa que, sempre que olhava para Sabrina, aquela sensação de familiaridade o incomodava. Os olhos, o nariz, o jeito delicado… Havia nela algo que lembrava demais os traços da família Moreira.— Mas isso também não prova nada. — Vitor retrucou, tentando organizar os pensamentos que vinham todos de uma vez.E, com sua lógica direta de sempre, completou:— A Ju também se parece com a gente. Por que você não desconfia dela, então?No fundo, Vitor sempre teve um carinho especial por Juliana. Se fosse pra escolher alguém como irmã perdida, ele preferia que fosse ela.Juliana, ali ao lado, só conseguiu pensar:"Garoto… Você realmente fala tudo o que passa na cabeça, né?"Sentindo o olhar de Vinícius sobre si, Juliana ergueu os olhos e o encarou de volta, com naturalidade. A troca de olhares d
— Ju! Bora, tá quase começando...À direita deles, ficava a entrada para a conferência dos ingressos.Juliana e os outros estavam no fim da fila, rodeados por rostos desconhecidos.Vitor tagarelava empolgado, explicando cada detalhe sobre as equipes de corrida. Quanto mais falava, mais animado ficava, parecia uma enciclopédia ambulante.Juliana ouvia em silêncio, soltando uma ou outra palavra de vez em quando. Esse jeito dela fez o garoto sentir que, finalmente, tinha encontrado uma alma gêmea!Depois de passarem pelo portão, seguiram por um corredor escuro.As paredes laterais exibiam retratos em preto e branco dos campeões das corridas de antigamente.Exclamações encantadas ecoavam ao redor. Juliana observava tudo sem muito foco, até que, de repente, algo prendeu seu olhar.Entre tantas fotos, uma em especial chamou sua atenção: uma garota de cabelo curto, segurando um capacete com firmeza, o olhar confiante e determinado.Abaixo da imagem, estava o nome: Sabrina Martins.Mas o rosto
A mão que segurava o pulso dela estava fria, suada, suor gelado, típico de quem está no limite.Antes mesmo de Juliana conseguir franzir a testa e se virar, uma voz grave, carregada de tensão, caiu sobre ela como um peso:— Srta. Juliana, cinco milhões. Preciso de um favor.Cinco milhões? Caídos do céu?Juliana arqueou uma sobrancelha, sem dizer nada. Vasculhou a memória, tentando reconhecer aquela voz familiar. E então lembrou.Era Lorenzo, meio-irmão por parte de pai de Alexandre, o ex-marido da Maia.Os dois quase nunca se viam. Já fazia tanto tempo desde o último encontro que parecia outra vida.Vê-lo ali, do nada, foi realmente um choque.Mas... Um negócio de cinco milhões?Bom, nada que ela não pudesse considerar.— Pode ser. — Disse Juliana, com calma. — Mas solte meu pulso. E mantenha uma distância segura.Homem e mulher sozinhos assim, em público? Melhor evitar mal-entendidos. Vai que algum fofoqueiro de plantão tirar uma foto? Bastava isso para virar escândalo nas redes.Lore
— Sr. Lorenzo, coloca o cinto.Lorenzo já tinha pesquisado o histórico de Juliana.Nada indicava que ela tivesse qualquer experiência com corridas. Na verdade, mal se lembrava de tê-la visto ao volante alguma vez.“Confiar sua vida a ela, naquele momento... Era puro desespero.Só podia torcer para que...”Nem teve tempo de terminar o pensamento. O carro arrancou feito uma flecha, deixando pra trás um rastro de poeira e gritos confusos.Os perseguidores chegaram correndo, ofegantes, só pra ver o carro sumindo na distância.— Chefe, e aí? Vamos atrás?— É óbvio! Tá maluco?! Vai buscar o carro agora! A gente tá falando de cem milhões! Se a gente conseguir essa... Nunca mais vai faltar nada na vida!— Vida ou morte, dane-se! Quem trouxer o Lorenzo, garante o maior pedaço do bolo!Dentro do carro, Lorenzo segurava firme a alça acima da janela. Os dedos estavam brancos de tanta força.O rosto, sério e frio. Mas o coração? Batia tão forte que parecia martelar por dentro do peito.Juliana não