Tatiane Martins foi a primeira a se levantar, chamando-o com entusiasmo.Estava prestes a puxar conversa com Vitor quando viu Juliana entrando logo atrás. O sorriso radiante em seus lábios se desfez instantaneamente.Vinícius acenou com a cabeça em direção a ela, cumprimentando-a de maneira breve.Antes que ele tivesse a chance de puxar a cadeira, Vitor foi mais rápido e, com toda a educação, fez um gesto para que Juliana se sentasse primeiro.— Ju, se senta aqui!O entusiasmo do garoto era contagiante. Tatiane observou a cena por alguns segundos, até que seu sorriso voltou, embora mais contido, quase forçado.Vinícius acomodou-se ao lado dela.Por um momento, o ambiente ficou silencioso. Quase solene.Tatiane quebrou o gelo:— Prazer, eu sou a Tatiane, amiga do seu irmão. Ouço ele falar de você o tempo todo.Vitor, sempre espontâneo, respondeu com um sorriso largo:— Tatiane, nada de formalidade! Pode me chamar só de Vitor!Tatiane então apresentou a jovem ao seu lado:— Essa é a Sabr
Foi como acordar de um sonho profundo.As palavras de Vinícius mexeram com algo dentro de Vitor, um coração antes tranquilo como um lago, agora em ondas agitadas.De repente, tudo fazia sentido…Não era à toa que, sempre que olhava para Sabrina, aquela sensação de familiaridade o incomodava. Os olhos, o nariz, o jeito delicado… Havia nela algo que lembrava demais os traços da família Moreira.— Mas isso também não prova nada. — Vitor retrucou, tentando organizar os pensamentos que vinham todos de uma vez.E, com sua lógica direta de sempre, completou:— A Ju também se parece com a gente. Por que você não desconfia dela, então?No fundo, Vitor sempre teve um carinho especial por Juliana. Se fosse pra escolher alguém como irmã perdida, ele preferia que fosse ela.Juliana, ali ao lado, só conseguiu pensar:"Garoto… Você realmente fala tudo o que passa na cabeça, né?"Sentindo o olhar de Vinícius sobre si, Juliana ergueu os olhos e o encarou de volta, com naturalidade. A troca de olhares d
— Ju! Bora, tá quase começando...À direita deles, ficava a entrada para a conferência dos ingressos.Juliana e os outros estavam no fim da fila, rodeados por rostos desconhecidos.Vitor tagarelava empolgado, explicando cada detalhe sobre as equipes de corrida. Quanto mais falava, mais animado ficava, parecia uma enciclopédia ambulante.Juliana ouvia em silêncio, soltando uma ou outra palavra de vez em quando. Esse jeito dela fez o garoto sentir que, finalmente, tinha encontrado uma alma gêmea!Depois de passarem pelo portão, seguiram por um corredor escuro.As paredes laterais exibiam retratos em preto e branco dos campeões das corridas de antigamente.Exclamações encantadas ecoavam ao redor. Juliana observava tudo sem muito foco, até que, de repente, algo prendeu seu olhar.Entre tantas fotos, uma em especial chamou sua atenção: uma garota de cabelo curto, segurando um capacete com firmeza, o olhar confiante e determinado.Abaixo da imagem, estava o nome: Sabrina Martins.Mas o rosto
A mão que segurava o pulso dela estava fria, suada, suor gelado, típico de quem está no limite.Antes mesmo de Juliana conseguir franzir a testa e se virar, uma voz grave, carregada de tensão, caiu sobre ela como um peso:— Srta. Juliana, cinco milhões. Preciso de um favor.Cinco milhões? Caídos do céu?Juliana arqueou uma sobrancelha, sem dizer nada. Vasculhou a memória, tentando reconhecer aquela voz familiar. E então lembrou.Era Lorenzo, meio-irmão por parte de pai de Alexandre, o ex-marido da Maia.Os dois quase nunca se viam. Já fazia tanto tempo desde o último encontro que parecia outra vida.Vê-lo ali, do nada, foi realmente um choque.Mas... Um negócio de cinco milhões?Bom, nada que ela não pudesse considerar.— Pode ser. — Disse Juliana, com calma. — Mas solte meu pulso. E mantenha uma distância segura.Homem e mulher sozinhos assim, em público? Melhor evitar mal-entendidos. Vai que algum fofoqueiro de plantão tirar uma foto? Bastava isso para virar escândalo nas redes.Lore
— Sr. Lorenzo, coloca o cinto.Lorenzo já tinha pesquisado o histórico de Juliana.Nada indicava que ela tivesse qualquer experiência com corridas. Na verdade, mal se lembrava de tê-la visto ao volante alguma vez.“Confiar sua vida a ela, naquele momento... Era puro desespero.Só podia torcer para que...”Nem teve tempo de terminar o pensamento. O carro arrancou feito uma flecha, deixando pra trás um rastro de poeira e gritos confusos.Os perseguidores chegaram correndo, ofegantes, só pra ver o carro sumindo na distância.— Chefe, e aí? Vamos atrás?— É óbvio! Tá maluco?! Vai buscar o carro agora! A gente tá falando de cem milhões! Se a gente conseguir essa... Nunca mais vai faltar nada na vida!— Vida ou morte, dane-se! Quem trouxer o Lorenzo, garante o maior pedaço do bolo!Dentro do carro, Lorenzo segurava firme a alça acima da janela. Os dedos estavam brancos de tanta força.O rosto, sério e frio. Mas o coração? Batia tão forte que parecia martelar por dentro do peito.Juliana não
Gustavo vestia apenas uma blusa fina de lã azul-marinho.O frio subia dos pés até a espinha, tomando o corpo inteiro. Seu rosto, pálido, mesclava gelo e fúria.Os nós dos dedos estavam vermelhos, marcados de tanto socar a janela do carro.Os golpes vinham descompassados, guiados só pela raiva.Ele estava furioso.A noite seguia tranquila ia para o hotel, tudo sob controle até que um carro surgiu do nada, como um míssil fora de rota.A freada brusca do motorista o jogou contra a lateral do veículo, abrindo um corte na testa.O sangue escorrera quente. Agora, seco e espesso, manchava a pele ao redor. A imagem era brutal.— Eu mandei descer. Não ouviu, não? Você...As palavras morreram na garganta.O vidro foi abaixando lentamente, revelando um rosto que ele conhecia bem.Juliana.À luz dos faróis, ela parecia ainda mais pálida do que o normal. Os olhos, escuros e levemente puxados, lembravam pétalas de flor de cerejeira, frios, vazios, sem nenhuma emoção.Os cabelos escuros, desgrenhados
Todos os meses, Gustavo depositava uma mesada fixa para Juliana.Além disso, tinha dado a ela um cartão black sem limite.Mas, quando terminaram, Juliana devolveu tudo. Cada centavo. Sem sequer tocar no dinheiro.Aquilo deixou Gustavo inquieto por muito tempo.E agora... Justo agora...Será que ela estava tentando arrancar grana?— Se não quer pagar, volta pro teu carro. — Disse ela, com o mesmo tom frio de sempre. — Só que um aviso: você não vai conseguir chegar lá de novo.“E essa frase ajudou exatamente em quê?”— Um milhão. — Disse ele, seco.— Três milhões. — Rebateu Juliana, sem piscar.Gustavo franziu o cenho.— Dois milhões.Juliana destravou a porta com um “clique” satisfeito.— Fechado.Lorenzo, assistindo tudo de camarote: ...“Essa mulher não tem limites.”Gustavo entrou no banco de trás. Juliana, por consideração ao pagamento adiantado, lançou uma dica:— Coloca o cinto.Depois da performance anterior dela ao volante, ele não precisou de segunda chamada.Apertou o cinto e
O celular de Juliana estava no modo silencioso.Quando o aparelho começou a vibrar em sua mão, Gustavo lançou um olhar rápido para ela, que dirigia com foco total na estrada.Com o coração apertado, ele recusou a chamada discretamente.— A senha são seis meia.Só então Juliana percebeu que ainda não tinha contado a senha para Gustavo. Quando falou os números, foi como se cravasse uma estaca gelada direto no coração dele.Era como se milhares de agulhas de prata, finas e frias, atravessassem cada centímetro do seu peito.A dor apertava o peito dele de um jeito sufocante.Antes, todas as senhas de Juliana tinham a ver com ele.Ou era a data de nascimento dele, ou o dia em que começaram a namorar.E mais: Gustavo sempre teve acesso total ao celular dela. A senha da tela, os aplicativos, as contas, tudo ficava ao alcance dele, sem precisar pedir.Juliana nunca teve segredos com ele.Mas agora...Ela tinha mudado a senha.No passado, ele achava essas coisas bobas demais. Chegou a brigar com