Na memória de Gustavo, Juliana e Bruno não tinham sequer como se cruzar na vida.Por causa do noivado arranjado entre a família Rodrigues e a família Costa, ele e Juliana tinham crescido juntos desde pequenos.Ele sabia exatamente com quem ela se encontrava, quem eram seus amigos, com quem conversava.Bruno, por outro lado, passou anos no exterior, mergulhado em pesquisa científica.Raramente voltava ao país.E mesmo quando aparecia, era sempre algo tão breve e corrido que logo partia de novo.Juliana simplesmente não teria tido a chance de se aproximar dele.Mas…De repente, um clarão cortou os pensamentos de Gustavo, como se uma lembrança esquecida viesse à tona.Durante a faculdade, Juliana havia feito um intercâmbio.E, se ele não estava enganado, o destino era justamente o país A, o mesmo onde Bruno morava na época.André continuou:— Antes de sair do instituto, cheguei a ir ao escritório do Bruno. Na mesa dele, tinha uma moldura com a foto de uma garota. Só percebi quando voltei
Na manhã seguinte, bem cedo.Juliana, já arrumada, seguiu direto para o hospital.Os arranhões em seu corpo já começavam a cicatrizar, formando pequenas casquinhas. Os pontos da sutura haviam sido removidos, e a recuperação seguia seu curso naturalmente.Bruno também estava melhorando. A maioria dos ferimentos era superficial.A lesão mais séria ficava na região lombar e abdominal.Durante o capotamento, um estilhaço afiado o atingiu bem ali. Por sorte, não chegou a perfurar nenhum órgão vital.Se tivesse sido um pouco mais profundo... Poderia ter sido fatal.Quando Juliana entrou no quarto, Joana estava conversando com Bruno sobre o caso de André.A polícia havia passado a noite inteira interrogando o homem, mas ele se manteve firme. Não cedeu um milímetro.Continuava jurando que não conhecia o motorista responsável pelo acidente e negava, com todas as forças, ter mandado matar alguém.Aquela cara de pau já não surpreendia mais Bruno.Recostado na cama, ele mantinha o semblante pálido
Juliana acompanhou Paulo até o corredor, logo do lado de fora do quarto.A enfermeira que vinha logo atrás percebeu o clima e, com discrição, seguiu para o próximo paciente, deixando os dois a sós.— Sabe, cunhada… Eu estou com uma questão amorosa e queria te pedir um conselho. — Começou Paulo, meio sem jeito, coçando a nuca.Já fazia um ou dois meses que a relação dele com Isabella vinha degringolando. A cada dia, parecia piorar um pouco mais.Do lado do hospital, ela tinha usado todas as férias acumuladas.E pelo IP que Paulo conseguiu rastrear, as últimas conexões dela vinham do exterior.Aquilo mexeu com ele.Ficou abatido por um bom tempo.Se não fosse o acidente de Bruno, talvez nem tivesse voltado ao trabalho tão cedo.Mas agora, de volta à rotina... Foi recebido por uma avalanche de responsabilidades. Era tanta coisa acumulada que mal dava tempo de comer alguma coisa quente, quem dirá, tentar reconquistar alguém.Juliana ouviu com atenção, atenta aos detalhes.Analisava em silê
A expressão de Catarina se contraiu na hora.Seus olhos estreitaram como se tivesse levado um golpe seco, daqueles que pegam desprevenido.Jamais esperava ouvir aquele nome, o nome que ela tanto detestava, vindo justamente da boca da mãe de Bruno.Depois de ter saído perdendo em tantos embates com Juliana, o simples som do nome já causava a ela quase uma reação física.Náusea.Um mal-estar involuntário.No mesmo instante, seu rosto perdeu a cor.Ficou pálida, abatida.Rafaela percebeu a mudança e a encarou, preocupada:— Está tudo bem, Catarina? Está se sentindo mal?Catarina fechou a mão com força, as unhas pressionando a palma. Inspirou fundo, tentando recuperar o controle.Então forçou um sorriso contido.Fria. Elegante. No comando de si mesma, como sempre.— Está tudo bem, Sra. Rafaela. Na verdade... Tenho uma amiga que conhece bem a Juliana.Uma resposta que pegou de surpresa.Rafaela virou-se e trocou um olhar com o marido, Henrique.— É mesmo?— É… Mas não sei se vale a pena com
Catarina conhecia bem os hábitos de Bruno. Ele sempre teve uma aversão silenciosa à sujeira, quase um TOC disfarçado.Então... Por que, com olhos cheios de veneno, ela se perguntava, por que ele não via Juliana como suja?Por que aquilo não o incomodava?E mais, olhando para o futuro, com uma família como os Mendes, tão tradicional, quase antiquada, será que eles realmente aceitariam esse casamento?No fundo, Catarina desejava com todas as forças ver Juliana sendo rejeitada, humilhada, atacada por todos da família Mendes.Como alguém como Juliana, tão inferior a ela em todos os aspectos, podia conquistar com tanta facilidade aquilo que ela, Catarina, nunca conseguiu?Juliana não merecia.Ela simplesmente não era digna.— Rick, você acha que, se a gente chamasse a Ju para conversar a sós, o Bruno ficaria bravo? — Perguntou Rafaela, com aquele tom aparentemente inocente.— Bravo? Que engula essa raiva! — respondeu Henrique, sem hesitar. — Se ele vier reclamar, eu dou a ele uma verdadeira
A postura de Juliana era impecável, firme, porém respeitosa.Não se mostrava submissa, nem forçava simpatia por conta da posição que os dois ocupavam.Mantinha o equilíbrio exato entre educação e dignidade.Rafaela e Henrique trocaram um olhar discreto.Ambos reconheceram, no outro, o mesmo brilho de aprovação.Se o filho realmente gostava de Juliana… Talvez não fosse uma má ideia.No fim das contas, todo pai e mãe só quer ver o filho feliz, construindo a própria vida.Bruno era o caçula tardio, o filho surpreso, nascido quando o casal já achava que tinha encerrado a fase de criação.Desde pequeno, Bruno nunca soube o que era passar vontade.Tudo o que desejava, tinha.Mas, mesmo com tudo isso... Havia algo fora do lugar.Sempre foi um garoto reservado, frio até certo ponto, mantendo distância das pessoas.Maduro, responsável, nunca deu trabalho algum.Bom... Com exceção da vida amorosa.Já perto dos trinta anos, e nunca havia apresentado ninguém.Quando perguntavam, respondia sempre o
Catarina forçou um sorriso.Ela pousou cuidadosamente a tigela e a colher, virou-se apenas depois de um longo silêncio e encarou os olhos frios de Bruno.— Bru... Sr. Bruno.Dessa vez, ela se corrigiu a tempo.Não tinha dúvidas de que, se ainda ousasse chamá-lo de "Bru", ele não hesitaria em ir atrás da família Moreira.— Quando cheguei, vi o Sr. Henrique e a Sra. Rafaela. Eles levaram a Juliana com eles.Ao terminar a frase, Catarina percebeu claramente a mudança na expressão de Bruno.Seu coração se apertou, como se fosse perfurado por mil agulhas finas.Ela ficou ali, atônita, enquanto ele arrancava a agulha do soro do dorso da mão e jogava o cobertor de lado. Saiu da cama com uma impetuosidade que Catarina jamais tinha presenciado.Seu corpo estremeceu por um instante.— Sr. Bruno, eu realmente queria entender... P que é que o senhor vê na Juliana?Ela simplesmente não conseguia entender. Nem nesta vida, nem em outra.Juliana era só uma órfã. O que, afinal, ela tinha de especial?
No dia em que Viviane retornou para a família Rodrigues, a verdade veio à tona: Juliana não passava de uma impostora.Uma falsa herdeira, sem pai nem mãe, que havia roubado o lugar de outra.Foram mais de vinte anos vivendo em meio à riqueza e prestígio, tudo às custas de uma vida que deveria ter sido de outra pessoa.Como se tivesse cometido um crime imperdoável.Antigos amigos fizeram questão de virar as costas, e alguns ainda aproveitaram para jogar pedras.Juliana virou piada. Motivo de fofoca em roda de café da tarde.Uma órfã sem origem, sem sobrenome... Nem para engraxar os sapatos dos outros ela servia.Se não fosse pelo antigo título de noiva de Gustavo, a humilhação teria sido ainda maior naquela época.Ao ouvir Rafaela perguntar sobre seus pais biológicos, a expressão de Juliana vacilou por apenas alguns segundos antes de se recompor.— Procurar ou não, dá na mesma. Eu não gosto de perder tempo com coisa inútil.Mesmo dentro da família Rodrigues, Juliana nunca havia sentido