Depois do grito de Joaquim, o saguão inteiro mergulhou num silêncio sepulcral.O que foi que ele acabou de dizer?Que Larissa só queria o divórcio pra correr atrás... De outro homem?Larissa arregalou os olhos, incrédula.— Homem?Joaquim era seu primeiro amor, desde a adolescência.Em mais de vinte anos, ele tinha sido o único homem da sua vida.E agora... Agora ele vinha insinuar que ela teve outro?Era o cúmulo da humilhação.Um tapa seco cortou o ar, a mão de Larissa acertou em cheio o rosto de Joaquim.O golpe não só virou o rosto dele como também o trouxe de volta à realidade.Quando viu as lágrimas escorrendo dos olhos da esposa, a culpa e o desespero bateram de uma vez.Joaquim se desvencilhou dos policiais que ainda o seguravam e esticou os braços, querendo abraçá-la.Mas Larissa deu dois passos pra trás.A recusa dela fez o gesto dele morrer no ar, vazio.— Lari, fui eu que falei besteira! Eu... Eu não quis dizer isso, me deixa explicar...Carolina não entendia exatamente o q
Cidade A, Hospital Aliança.— Saiam da frente! Com licença! Abram caminho!— Corram! Chamem o doutor, agora!Médicos e enfermeiros avançavam às pressas pelo corredor, empurrando uma maca direto para sala de cirurgia.Larissa vinha logo atrás, cambaleando, amparada por Juliana, que a segurava pelos ombros, tentando conter o desespero.— Calma… A Carol vai ficar bem. Ela vai sair dessa, Larissa…Tudo tinha acontecido apenas quinze minutos antes.Carolina, tomada pelo desespero, correu pra fora da delegacia… E foi atropelada.Aquela menininha tão cheia de vida agora estava ali, imóvel, olhos fechados, o corpinho coberto de sangue.Era impossível olhar para ela e lembrar da criança alegre e sorridente de poucas horas atrás.A tragédia veio como um raio. Em um segundo, tudo virou do avesso.— Carol… Meu amor… Por favor, fica bem… — Larissa mal conseguia formar palavras. A voz falhava entre os soluços.Seus olhos estavam tão inchados de tanto chorar que mal conseguiam se manter abertos.Do l
Enquanto Joaquim estava na sala de transfusão, Larissa parecia ter perdido a alma.Sentou-se no chão, sem forças nem pra chorar.O olhar vazio.A pele, pálida como papel.As palavras de Joaquim ainda ecoavam na sua cabeça, martelando sem parar:"Quer se livrar de mim logo para correr atrás daquele cara da outra noite, é isso?"Mas... Ela nunca teve outro homem!Nunca traiu Joaquim!Nem em pensamento.Em questão de minutos, mil pensamentos se atropelavam dentro dela.Todos desesperadores.Todos pesando como pedras no peito.As vozes ao redor, as tentativas de consolo, os olhares... Tudo parecia distante, abafado, sem peso, sem cor.Como se o mundo estivesse acontecendo em outra frequência.Trêmula, com a voz rouca e quase sem vida, Larissa finalmente murmurou:— Eu... Preciso ir ao banheiro um momento...Ela precisava de espaço.Precisava respirar. Pensar. Ou talvez só desabar.Maia se mexeu, pronta pra ir atrás, mas Juliana a segurou pelo braço.— Ju, ela tá péssima... — Disse Maia, o
Como se tivesse finalmente tomado uma decisão, Raul cerrou os punhos com força.Juliana vinha observando cada detalhe. Cada microexpressão.E então, sem conseguir mais segurar a pergunta que martelava na sua mente há anos, soltou:— Raul… Vocês já sabiam, né? Que eu não tenho nenhum laço de sangue com a família Rodrigues?— Sim, nós... A resposta escapou da boca de Raul sem passar pelo filtro.Instintiva. Automática.E quando percebeu o que havia dito... Já era tarde demais.Mas o olhar de Juliana não foi de surpresa.Foi de confirmação.Como se, no fundo, ela sempre soubesse.E agora, só tivesse recebido a prova final.Essa dúvida a acompanhava havia muito tempo.Mas nunca teve coragem ou espaço para colocá-la em palavras.Agora, não precisava mais adivinhar.A verdade estava ali, nua, crua... E gelada.Por fora, os Rodrigues pareciam bons pais.Sarah e Raul eram educados, sorridentes, sempre preocupados com a imagem da família.Mas esse bom só valia para quem carregava o mesmo sangu
O nome Bruno, na boca daquele grupo ali, era quase sagrado.Distante. Intocável.Acima de todos eles.E agora…O que Raul tinha acabado de ouvir?Juliana é esposa do Bruno?!Era piada.Tinha que ser.Um surto coletivo.Devia ser mais uma encenação da Juliana, cheia de orgulho, talvez com a ajuda do Paulo, tentando montar um teatrinho barato pra salvar as aparências.Raul simplesmente não conseguia aceitar.A garota que ele sempre tratou como invisível, descartável, a filha de mentira...Agora era esposa do homem mais poderoso que ele já conheceu?Era como ver uma fênix surgindo das cinzas e voando acima de todos.Um verdadeiro tapa sem mão.Maia, que tinha ficado para trás, cruzou os braços e lançou um olhar de puro desprezo na direção de Raul.— Ué… Ainda não entendeu? — Disse, com a voz carregada de ironia. — A Ju agora é nora da família Mendes.Ela se aproximou um passo e completou, com gosto:— Então faz um favor, toda vez que for falar com ela, trate com o respeito que ela merece.
— Laura, você tá tentando abusar dele enquanto ele tá inconsciente?A voz repentina fez Laura puxar a mão de volta no reflexo, um arrepio subindo pela espinha.Ela virou o rosto e viu Juliana afastando a cortina com uma das mãos, entrando no quarto.O rosto bonito e gelado trazia um sarcasmo impossível de ignorar. Cabelos negros, pele clara como neve, inconfundível.Laura mordeu os lábios, tomada pela inveja.— Não vem me caluniar! Eu só vim ver o Bruno! — E, como se não bastasse, ainda virou o jogo. — E você? O que tá fazendo escondida no quarto dele, hein?! Quem quer abusar do Bruno é você, Juliana! E ainda tem a cara de pau de me acusar!Juliana já conhecia esse tipo de teatro, gente que faz a sujeira e tenta jogar a culpa nos outros.A mesma sensação de descrença. A mesma vontade de rir.Na verdade, ela riu mesmo.Ergueu uma sobrancelha, com desdém:— Abusar do meu próprio marido? Laura, você tem certeza do que tá falando?A verdade é que Bruno estava consciente o tempo todo.Conse
Vitor achava que já tinha explicado tudo direitinho, agora o Hildo ia entender, né?Mas tudo que ouviu de volta foram duas palavras secas:— E daí?Agora foi Vitor que travou.— Ué… Como assim “e daí”? A Ju é a esposa do Bruno, então é normal ela chamar ele de marido. — Dito isso, ele deu uns passinhos pra trás, garantindo uma distância segura, e só então assumiu aquele ar de irmão mais velho entendido da vida, falando com um tom todo professoral. — Irmão, você tá sendo muito quadrado. Tem que acompanhar as tendências da galera jovem!A testa de Hildo chegou a se contrair, reflexo claro da irritação que ele tentava conter.— Vitor!O garoto saiu correndo antes que o irmão pudesse dizer mais alguma coisa.E deixou só o eco da voz no ar:— Estou indo pro hospital, tá? Te vira aí, irmão!Aquele moleque nunca dava um minuto de sossego.Enfim.Depois de resolver tudo que precisava na delegacia, Hildo pegou o carro e saiu sozinho em direção ao hospital.Ao mesmo tempo...A polícia já havia c
Ninguém sabia ao certo quando Bruno tinha acordado.O rosto seguia pálido, quase sem cor, e os olhos escuros encaravam Vitor com um olhar frio, direto... E totalmente desperto.Vitor levou um baita susto, daqueles de dar nó na espinha.— Bru... Bruno... Você tá acordado esse tempo todo e nem avisou?!Parecia cena de filme de terror!Ainda bem que ele não tinha problema no coração… Senão já estava a caminho da UTI também.Bruno baixou os olhos e tossiu duas vezes. O esforço fez a dor da ferida se intensificar, deixando-o ainda mais pálido, quase translúcido.Juliana se aproximou rapidamente e apoiou a mão com cuidado no peito dele, tentando acalmá-lo.— Tá doendo muito?A voz dela, fria como de costume, dessa vez trazia uma nota suave de preocupação.E Bruno... Simplesmente amava isso.Com a voz rouca, ele respondeu:— Um pouco. Mas não se preocupe.Juliana apertou o botão de chamada ao lado da cama. Poucos minutos depois, Paulo apareceu com a equipe médica.Ela e Vitor saíram do quarto