A expressão de Catarina se contraiu na hora.Seus olhos estreitaram como se tivesse levado um golpe seco, daqueles que pegam desprevenido.Jamais esperava ouvir aquele nome, o nome que ela tanto detestava, vindo justamente da boca da mãe de Bruno.Depois de ter saído perdendo em tantos embates com Juliana, o simples som do nome já causava a ela quase uma reação física.Náusea.Um mal-estar involuntário.No mesmo instante, seu rosto perdeu a cor.Ficou pálida, abatida.Rafaela percebeu a mudança e a encarou, preocupada:— Está tudo bem, Catarina? Está se sentindo mal?Catarina fechou a mão com força, as unhas pressionando a palma. Inspirou fundo, tentando recuperar o controle.Então forçou um sorriso contido.Fria. Elegante. No comando de si mesma, como sempre.— Está tudo bem, Sra. Rafaela. Na verdade... Tenho uma amiga que conhece bem a Juliana.Uma resposta que pegou de surpresa.Rafaela virou-se e trocou um olhar com o marido, Henrique.— É mesmo?— É… Mas não sei se vale a pena com
Catarina conhecia bem os hábitos de Bruno. Ele sempre teve uma aversão silenciosa à sujeira, quase um TOC disfarçado.Então... Por que, com olhos cheios de veneno, ela se perguntava, por que ele não via Juliana como suja?Por que aquilo não o incomodava?E mais, olhando para o futuro, com uma família como os Mendes, tão tradicional, quase antiquada, será que eles realmente aceitariam esse casamento?No fundo, Catarina desejava com todas as forças ver Juliana sendo rejeitada, humilhada, atacada por todos da família Mendes.Como alguém como Juliana, tão inferior a ela em todos os aspectos, podia conquistar com tanta facilidade aquilo que ela, Catarina, nunca conseguiu?Juliana não merecia.Ela simplesmente não era digna.— Rick, você acha que, se a gente chamasse a Ju para conversar a sós, o Bruno ficaria bravo? — Perguntou Rafaela, com aquele tom aparentemente inocente.— Bravo? Que engula essa raiva! — respondeu Henrique, sem hesitar. — Se ele vier reclamar, eu dou a ele uma verdadeira
A postura de Juliana era impecável, firme, porém respeitosa.Não se mostrava submissa, nem forçava simpatia por conta da posição que os dois ocupavam.Mantinha o equilíbrio exato entre educação e dignidade.Rafaela e Henrique trocaram um olhar discreto.Ambos reconheceram, no outro, o mesmo brilho de aprovação.Se o filho realmente gostava de Juliana… Talvez não fosse uma má ideia.No fim das contas, todo pai e mãe só quer ver o filho feliz, construindo a própria vida.Bruno era o caçula tardio, o filho surpreso, nascido quando o casal já achava que tinha encerrado a fase de criação.Desde pequeno, Bruno nunca soube o que era passar vontade.Tudo o que desejava, tinha.Mas, mesmo com tudo isso... Havia algo fora do lugar.Sempre foi um garoto reservado, frio até certo ponto, mantendo distância das pessoas.Maduro, responsável, nunca deu trabalho algum.Bom... Com exceção da vida amorosa.Já perto dos trinta anos, e nunca havia apresentado ninguém.Quando perguntavam, respondia sempre o
Catarina forçou um sorriso.Ela pousou cuidadosamente a tigela e a colher, virou-se apenas depois de um longo silêncio e encarou os olhos frios de Bruno.— Bru... Sr. Bruno.Dessa vez, ela se corrigiu a tempo.Não tinha dúvidas de que, se ainda ousasse chamá-lo de "Bru", ele não hesitaria em ir atrás da família Moreira.— Quando cheguei, vi o Sr. Henrique e a Sra. Rafaela. Eles levaram a Juliana com eles.Ao terminar a frase, Catarina percebeu claramente a mudança na expressão de Bruno.Seu coração se apertou, como se fosse perfurado por mil agulhas finas.Ela ficou ali, atônita, enquanto ele arrancava a agulha do soro do dorso da mão e jogava o cobertor de lado. Saiu da cama com uma impetuosidade que Catarina jamais tinha presenciado.Seu corpo estremeceu por um instante.— Sr. Bruno, eu realmente queria entender... P que é que o senhor vê na Juliana?Ela simplesmente não conseguia entender. Nem nesta vida, nem em outra.Juliana era só uma órfã. O que, afinal, ela tinha de especial?
No dia em que Viviane retornou para a família Rodrigues, a verdade veio à tona: Juliana não passava de uma impostora.Uma falsa herdeira, sem pai nem mãe, que havia roubado o lugar de outra.Foram mais de vinte anos vivendo em meio à riqueza e prestígio, tudo às custas de uma vida que deveria ter sido de outra pessoa.Como se tivesse cometido um crime imperdoável.Antigos amigos fizeram questão de virar as costas, e alguns ainda aproveitaram para jogar pedras.Juliana virou piada. Motivo de fofoca em roda de café da tarde.Uma órfã sem origem, sem sobrenome... Nem para engraxar os sapatos dos outros ela servia.Se não fosse pelo antigo título de noiva de Gustavo, a humilhação teria sido ainda maior naquela época.Ao ouvir Rafaela perguntar sobre seus pais biológicos, a expressão de Juliana vacilou por apenas alguns segundos antes de se recompor.— Procurar ou não, dá na mesma. Eu não gosto de perder tempo com coisa inútil.Mesmo dentro da família Rodrigues, Juliana nunca havia sentido
— Você ligou? Foi mal, eu estava tão focada conversando com a Ju que nem percebi.Diante da desculpa esfarrapada dos pais, Bruno apenas arqueou uma sobrancelha, em silêncio.Ao lado dele, Juliana estendeu a mão.A palma quente e macia repousou sobre o dorso da mão dele, como um gesto instintivo.No mesmo instante, o corpo de Bruno enrijeceu.Ele baixou os olhos rapidamente, escondendo qualquer emoção que pudesse escapar no olhar.— Por que saiu sem casaco?Na voz calma dela, havia uma bronca velada, sutil, mas certeira.Do outro lado da mesa, Paulo observava a cena como quem assiste a um espetáculo imperdível.— Cunhada, você tem que puxar a orelha do Bruno! Eu fui atrás, mas não consegui alcançar. Tá fazendo seis graus hoje! Você precisava ver a cara das pessoas na rua, olhavam pra ele como se fosse maluco!E Paulo não estava exagerando.Era como ver alguém de regata em pleno inverno.Bruno lançou um olhar de advertência para ele.Mas Paulo, com Juliana por perto, estava se sentindo i
Juliana chegou às pressas ao hotel onde Larissa estava hospedada.Assim que entrou no quarto, viu que Maia já estava lá.Carolina, com os olhinhos vermelhos de tanto chorar, estava encolhida no colo dela. Ao ver Juliana, a menina se agitou imediatamente, querendo descer.Maia se abaixou com cuidado e a colocou no chão.Mal os pezinhos tocaram o carpete, Carolina saiu correndo na direção de Juliana.— Titia! — Chamou ela, levantando o rostinho ainda molhado de lágrimas. A vozinha infantil vinha embargada pelo choro. — Tem gente má machucando a mamãe!Meia hora antes...Um grupo de brutamontes havia invadido o quarto do hotel sem nem bater na porta. Sem dar explicações, começaram a quebrar tudo que viam pela frente.No meio da confusão, Larissa levou uma cotovelada no rosto, ferindo o nariz. Agora estava trancada no banheiro, tentando estancar o sangue e se recompor.Maia, que tinha ido até lá apenas para conversar com Larissa e entender melhor a situação, acabou presenciando o caos.Por
— Por que não seria necessário? — Juliana franziu o cenho, visivelmente contrariada. Ela olhou diretamente para Larissa, séria. — O que aconteceu hoje não é um problema entre você e a Carol. Vocês ainda não se divorciaram oficialmente. No papel, ele continua sendo seu marido… E o pai da sua filha. Se vocês foram atacadas, ele tem o direito de saber e a obrigação de agir.Mesmo que já estivessem divorciados, a responsabilidade ainda seria dele.Afinal, foi Joaquim quem se envolveu com pessoas perigosas.Por que as consequências deveriam recair sobre a esposa e a filha?Era absurdo demais para aceitar calada.Larissa permaneceu em silêncio.As mãos entrelaçadas denunciavam o nervosismo, enquanto um turbilhão se formava dentro dela.Depois de alguns segundos, as palavras de Juliana começaram a fazer sentido.Ela respirou fundo, pegou o celular e fez a primeira ligação para Joaquim depois de dias de distância.O telefone tocou por mais de trinta segundos antes de ser atendido.— Mudou de i