Já dentro do carro, ainda tomada pela irritação, Maia suspirou fundo e comentou em tom de desabafo:— Meu Deus, não existe nada mais assustador do que alguém completamente cego de amor.Ela sempre achou que, no passado, também tivesse sido ingênua e impulsiva ao se apaixonar.Mas agora, comparando com Camila, percebeu claramente que o seu caso nem se aproximava daquele nível absurdo.Juliana concordava em silêncio, balançando a cabeça com um suspiro discreto.Mas, lá no fundo, nenhuma das duas tinha muita moral para falar mal de Camila pelas costas.Especialmente Juliana.Ela sabia muito bem o papel de boba que tinha feito quando estava com Gustavo.Tudo o que Camila fazia agora, ela já tinha feito, e talvez muito pior.Além da típica mente de apaixonada, Juliana ainda somava o papel de cachorrinha fiel, sempre correndo atrás, sem um pingo de orgulho.A única diferença entre ela e Camila era o homem que cada uma escolheu.Gustavo, pelo menos, era alguém que, mesmo aos olhos dos outros,
Essa lógica se aplicava a todos os apaixonados.Juliana não respondeu.— Então, vou te fazer outra pergunta. Quando o Bruno encosta em você, seu coração dispara ou não? — Continuou Maia.Juliana rebateu, num tom defensivo:— E quando algum outro cara encosta em você, seu coração acelera?— Se for alguém de quem eu gosto, claro que sim! — Maia respondeu, firme. — Agora, se for qualquer outro homem, pode ficar tranquila, porque eles nem chegam perto o suficiente para isso acontecer!Maia falava com uma certeza inabalável.Ela era assim: amava ou odiava com a mesma intensidade.Sabia exatamente a linha que separava quem ela gostava de quem não fazia a menor diferença.E mesmo que, por acaso, houvesse algum contato físico, se não fosse com alguém que realmente mexesse com ela, seu coração continuaria calmo, como a superfície de um lago sem vento.Juliana preferiu o silêncio.Como ela poderia admitir que, toda vez que Bruno a tocava, era como se pegasse fogo por dentro?Impossível confessar
Os passos atrás dela se aproximavam, cada vez mais perto.Logo, uma sombra escura se sobrepôs à dela, projetada no chão à sua frente.No instante em que o som dos passos cessou, Juliana girou o corpo de repente, sem dar a menor chance de reação.Num movimento rápido e preciso, aplicou um golpe de judô e derrubou a pessoa com um baque seco no chão.Um gemido abafado escapou dos lábios do homem.A luz de presença se apagou e acendeu novamente, iluminando a cena.Quando Juliana finalmente conseguiu enxergar quem estava estirado no chão, seu rosto se encheu de espanto, incapaz de esconder o choque.— Sr. Bruno?! — Exclamou, os olhos arregalados.Ela já tinha preparado mentalmente todo o passo a passo para chamar a polícia.Mas o que ela pensava ser um assaltante... Era o Bruno?!Bruno, por sua vez, jamais imaginaria passar por uma situação daquelas, ser derrubado no chão por um golpe certeiro.E, diga-se de passagem, Juliana tinha uma força impressionante.Pela rapidez e firmeza com que se
— Sr. Bruno, eu tenho um remédio para contusões aqui em casa... Se deite, vou passar um pouco. — Disse Juliana, com um tom meio hesitante, mas firme.Bruno já esperava algo assim.Recusou de leve, como se quisesse manter a formalidade, mas no fim acabou cedendo, como quem faz um favor a ela.Na sala, com toda calma do mundo, Bruno tirou o casaco, ficando apenas com uma camisa social preta que realçava ainda mais seu porte elegante.O celular dele não parava de vibrar com notificações, mas ele colocou no silencioso sem nem olhar quem era.Naquele momento, nada mais importava.Deixou o casaco jogado no braço do sofá, num gesto despreocupado.Assim que se sentou, viu Juliana se aproximar com o frasco do remédio nas mãos.O vidro transparente deixava ver o líquido escuro lá dentro, parecia que só restava um terço.— Sr. Bruno, talvez seja um pouco invasivo, mas... Vai precisar tirar a camisa toda. — Falou ela, se esforçando para soar tranquila.Por fora, mantinha a postura séria, quase pro
Do lado de fora, Maia estava ocupada enviando uma mensagem para Juliana.Assim que apertou "enviar", a porta do apartamento se abriu de repente.— Ju... — Chamou ela, sorrindo, mas a palavra morreu na garganta no instante em que viu quem estava ali.Era Bruno.— Desculpa, acho que bati na porta errada... — Disse rapidamente, quase tropeçando nas próprias palavras.Deu um passo para trás, franziu o cenho e olhou para o número do apartamento bem acima da porta: 1102.Não… Estava certo. Era ali mesmo.Mas então...Por que Bruno estava atendendo a porta?Maia precisou se segurar para não soltar um grito esganiçado de esquilo assustado. Com o coração acelerado, respirou fundo e forçou a voz a sair firme:— Ju! Ju!Bruno franziu a testa, incomodado com a gritaria.— Para de chamar, ela tá no banheiro. Maia ficou em silêncio por um instante, analisando-o com desconfiança.No banheiro?A essa hora, com Bruno aqui?De repente, todos os alarmes em sua cabeça dispararam.Seu olhar começou a exam
— Como assim eu não penso de forma pura? — Rebateu Maia, indignada, mas com um brilho travesso nos olhos. — Me diz, Ju, fala sério… Sozinhos, no meio da noite, um homem e uma mulher num apartamento, e não acontece nada? Isso sim que é um desperdício!Juliana respirou fundo, rolando os olhos.— Eu e ele não fizemos nada, tá bom? Se for para dizer que aconteceu alguma coisa, o máximo foi que eu… Dei uma surra nele. Serve?— Você o quê? — Maia arregalou os olhos, como se sua mente tivesse travado de tanto tentar processar a informação.Ela olhou Juliana de cima a baixo, com uma mistura de espanto e admiração.— Ju… Eu não imaginava que você fosse tão… Ousada assim…Juliana revirou os olhos de novo, sem paciência.— Quando eu disse que bati nele, é bater de verdade, Maia. Literalmente.Com poucas palavras, contou o que havia acontecido, como Bruno a assustou e como, por reflexo, ela o derrubou no chão.Maia, agora sentada ao lado dela, balançou a cabeça.— Ju, posso te falar uma coisa? Eu
O lustre pesado no hall de entrada balançava levemente com a força das batidas na porta.Juliana foi arrancada de um sono profundo.Irritada, sentou-se na cama, acendeu o abajur e desceu até a porta. No visor do interfone, apareceu a silhueta de um homem alto.Ele estava encostado na porta, com o punho cerrado, batendo com força.Juliana não conseguia enxergar o rosto dele com clareza.Sem hesitar, pegou o telefone e ligou para a administração do prédio.Enquanto aguardava a chegada dos seguranças, o homem continuava esmurrando a porta. Parecia incansável: a intensidade das batidas ia de fraca a forte, diminuía, e então recomeçava com ainda mais força.Aquela insistência quase fez Juliana admirar a perseverança dele.Cinco minutos depois, o pessoal da administração chegou, acompanhado por dois seguranças. Eles tentaram imobilizar o homem, mas, antes mesmo de encostar nele, levaram um soco inesperado.De repente, o corredor virou um cenário de confusão.Dois seguranças fortes e treinado
O amor na juventude era sincero e intenso.Naquela época, para conquistar Maia, ele insistiu sem parar, com toda a cara de pau e foi exatamente essa persistência que o fez conquistar o coração dela.Ele mesmo prometeu: “Jamais faria Maia se arrepender.”Disse que ela seria a mulher da sua vida. Para sempre.Mas a realidade foi outra.Com o tempo, aquela paixão avassaladora foi esfriando. A rotina, sempre igual, o deixou entediado. As tentações do lado de fora começaram a sussurrar em seus ouvidos, seduzindo-o, balançando seu coração.Ele tinha vontade... Mas não coragem suficiente.Até que, depois de muitas conversas com Viviane, tudo mudou.Foi Viviane quem o fez enxergar: ele não tinha deixado de amar Maia.Ele só precisava de algo para apimentar a monotonia, um escape, um tempero na vida.O casamento deles havia se tornado um ciclo repetitivo e sufocante.Se continuasse daquele jeito, Alexandre tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, acabaria se transformando em um zumbi emoc